segunda-feira, 9 de julho de 2012

MEDIUNIDADE DE CURA POR RAMATIS - PARTE 8

Os impedimentos que prejudicam os
efeitos das medicações espíritas 


PERGUNTA: - Em nossas pesquisas sobre o serviço mediúnico intuitivo na seara espírita, por vezes chegamos ao desânimo, tal a incerteza e a improdutividade de certos trabalhos, que não ultrapassam o nível comum dos próprios médiuns. Que dizeis disso? 

RAMATÍS: - Os médiuns, já o dissemos, atualmente ainda significam a cota de sacrifício atuando na vanguarda da divulgação da imortalidade da alma e do intercâmbio entre vivos e mortos. No futuro, o animismo improdutivo, as confusões freudianas, a associação de idéias, o histerismo, o automatismo psicológico e outros óbices indesejáveis, ainda existentes no intercâmbio mediúnico atual, hão de desaparecer em face do treino e da pesquisa dos próprios cientistas simpatizantes da doutrina. 

A mediunidade evoluiu e aperfeiçoa-se, possuindo um roteiro definido para os desideratos superiores, tal qual a inteligência do homem também progride pelo exercício e o esforço incessante nos diversos setores da ciência do mundo. Inúmeras realizações técnicas e científicas que hoje deslumbram o vosso mundo, também requereram centenas de experimentos para corrigir os hiatos e as imprevisões, que existiam antes dos admiráveis padrões modernos. 

Que seria da medicina terrena, caso os seus abnegados líderes, ante os seus equívocos iniciais, desistissem de prosseguir no estudo de tal ciência? Portanto, o pessimismo, a dúvida e a indiferença prejudicam o serviço dos médiuns incipientes. 

PERGUNTA: - Quais são as dificuldades mais comuns que os espíritos terapeutas enfrentam para atender ao receituário mediúnico sob a responsabilidade do Espiritismo? 

RAMATÍS: - Em geral, o público amontoa centenas de papeletas com consultas e pedidos, na mesa do centro espírita, à última hora; sua maior porcentagem, no entanto, só indaga coisas e doenças as mais triviais. O médium receitista então fica obrigado a um trabalho árduo e ininterrupto, que o esgota na sua resistência mental-física, como ainda lhe impede perfeita sintonia psíquica com o Além. O êxito do receituário mediúnico, em massa e em horário curto, exige rapidez de ação por parte do espírito terapeuta e do seu ajuste instantâneo e harmônico ao cérebro perispiritual do médium receitista. Qualquer vacilação ou interferência imprevista entre ambos pode resultar em alteração na prescrição das receitas. 

Malgrado a tradição terrena ensinar que os espíritos desencarnados possuem o dom da ubiqüidade e podem transladar-se facilmente no mundo espiritual, superando também os obstáculos da própria matéria e visitando, ao mesmo tempo, inúmeros enfermos eqüidistantes, eles não estão aptos para prever as surpresas espirituais ou as dificuldades magnéticas durante o exame psíquico, provocados pelos próprios consultantes. Sem dúvida, os médiuns criteriosos, sob o amparo dos espíritos terapeutas e experimentados no socorro dos encarnados, chegam a cumprir um receituário mediúnico útil e compensativo. 

Mas há casos em que os enfermos a serem examinados encontram-se tão fortemente impregnados de fluidos ruinosos, resultantes de sua emotividade descontrolada ou dos seus pensamentos nocivos, que os espíritos terapeutas não logram êxito na formulação do diagnóstico perispiritual e também falham na prescrição do medicamento. Também, infelizmente, às vezes, os médiuns cercam-se de influências tão perturbadoras, que isolam completamente a faixa vibratória dos seus guias terapeutas; então receitam medicamentos inócuos, remédios exóticos ou panacéias ridículas, pois ficam sob o forte domínio do animismo incontrolável, ou então podem sintonizar-se com as entidades do baixo astral. 

Acresce, ainda, que o seu subconsciente interfere, de modo vigoroso, durante o nosso labor e intercâmbio com os encarnados, obedecendo ao próprio automatismo de defesa da personalidade humana contra a intromissão de uma vontade alheia no seu comando pessoal. E se o médium for criatura bastante onerada com dívidas pretéritas, enfrentando constantemente as vicissitudes de ordem moral e física no mundo terreno, crescem essas dificuldades, pois há médiuns que ainda bebem alcoólicos, fumam, abusam da alimentação carnívora e movimentam-se à caça de prazeres fáceis! Malgrado a sua tarefa de divulgar a realidade da vida imortal, há também os que temem a morte tal qual o homem comum. 

A fim de atender na mesma noite a centenas de receitas e aos pedidos formulados nos centros espíritas, o médium receitista precisa escrever às pressas e se fatiga facilmente no desempenho dessa tarefa incomum. 

Qualquer demora na recepção espiritual ou preocupação íntima é suficiente para o desajuste vibratório com o seu guia. E os espíritos desencarnados, por sua vez, ante os numerosos pedidos, vêem-se obrigados a cuidar com mais atenção dos apelos dos casos mais graves, enquanto se limitam a prescrever medicação contemporativa aos demais consulentes, atendendo-os apenas com o fito de não lhes causar desânimo. 

Deste modo, quase sempre predominam no receituário mediúnico as indicações de remédios de ação geral ou paliativa, tais como os reconstituintes do sangue, extratos hepáticos, xaropes, vitaminas, fortificantes dos nervos ou recalcificantes comuns, que são prescritos para os casos menos importantes, dentro do horário premente e da capacidade física do médium. E quanto às inquietações psíquicas, os espíritos restringem-se a dar conselhos confortadores e advertência espiritual ou à promessa de breve socorro. 

No entanto, apesar de os adeptos e médiuns espíritas saberem que todos os fenômenos da Criação são disciplinados por leis sensatas e imutáveis, eles parecem admitir que os desencarnados são seres miraculosos, pois exigem que eles atendam a um receituário medi único vultoso e atropelado, no tempo limitado de uma sessão espírita. 

PERGUNTA: - Quais são essas dificuldades mais comuns, que os próprios consulentes opõem aos espíritos encarregados dos diagnósticos e das prescrições de medicamentos? 

RAMATÍS: - Muitas vezes, durante o exame perispiritual, as suas poses mentais descontroladas ou censuráveis dificultam aos espíritos terapeutas conseguirem um diagnóstico correto para prescreverem a medicação adequada. 

Envoltos por fluidos, às vezes detestáveis, de vícios desregrados, eles destroem as possibilidades de êxito do socorro do Além. 

Como decorrência, os espíritos terapeutas terão de fracassar ao tentarem formular o diagnóstico do enfermo através de um perispírito sujo e oleoso, cujos fluidos grosseiros formam uma espécie de cortina opaca, intransponível. É difícil, portanto, o êxito do receituário mediúnico para beneficiar criaturas viciadas e descontroladas, cujo perispírito se apresenta escurecido e perturbado na sua fisiologia "etereoastral", delicadíssima. E caso elas não purifiquem a sua atitude mental controlando as suas emoções indisciplinadas, tornam-se completamente impermeabilizadas aos passes espíritas, à água fluidificada, à homeopatia, logrando pouco êxito até no uso de medicamentos como xaropes, injeções, comprimidos ou antibióticos. 

A medicação mais recomendável é ainda o conselho espiritual dado a esses pacientes desgovernados no seu psiquismo. Mas isso os decepciona, pois eles aguardam dos espíritos a prescrição de medicamentos miraculosos, visto não se convencerem de que os males são oriundos de seus desequilíbrios psíquicos. Alguns deles, acostumados aos fluidos enfermiços, parecem agarrar-se à doença como recurso para fugirem de suas próprias responsabilidades na vida material. 

Aborrecem-se ante qualquer admoestação do Além, desatendem a todos os convites para refletirem seriamente sobre os seus deslizes morais; e por sua culpa retardam o seu reajuste espiritual e também a própria saúde física. Convencidos de que os espíritos desencarnados devem saber tudo e disporem de poderes ilimitados para lograr sucesso terapêutico, eles não admitem qualquer dúvida ou laconismo nas respostas às suas solicitações. A melhor falha do médium ou evasiva dos espíritos serve-lhes de motivo de crítica ferrenha ao fenômeno mediúnico e de comentários desairosos sobre os postulados do Espiritismo. Ignoram que o receituário mediúnico é apenas uma contribuição secundária da doutrina espírita, uma vez que, ajudando a manter a saúde física dos seus adeptos e simpatizantes, ela busca atraí-los para se integrarem aos seus postulados sublimes de redenção espiritual. 

Decerto, também há os que são resignados e otimistas, pois alguns chegam a demonstrar heroísmo ante a doença ou a perspectiva da morte, sem qualquer revolta ou desespero. 

PERGUNTA: - Poderíeis explicar-nos melhor o caso dessas criaturas paradoxais, que não se apavoram ante as enfermidades e se resignam ante a iminência da morte? 

RAMATÍS: - É um acontecimento resultante da interferência da "voz oculta" do espírito imortal, ou seja, de sua consciência espiritual a sobrepor-se à consciência humana e fazendo o homem pressentir as vantagens e o proveito do sofrimento ou da doença grave que o acomete. 

Malgrado não poder compreender a origem do fenômeno ou justificá-lo satisfatoriamente, algo, em sua intimidade, assegura-lhe certa purificação dos seus pecados pregressos e da sua breve ventura espiritual. Há leprosos que, embora vítimas de enfermidade tão trágica, são mais resignados e pacientes do que outros enfermos de moléstias menos graves, porque eles sentem no âmago de sua alma tratar-se de um processo redentor que os aperfeiçoa para a angelitude eterna. 

Apesar de esse fugaz pressentimento ocorrer apenas em alguns segundos da existência, ou quando o espírito deixa o corpo físico, à noite, durante o sono, fica-lhe na intimidade a lembrança inapagável dos. propósitos benfeitores da vida criada por Deus. As almas pacientes e dóceis, embora sejam incultas ou' desafortunadas, sentem mais facilmente a mensagem de que o sofrimento purifica, que as vicissitudes educam e os fracassos advertem, melhorando o discernimento da consciência. 

Depois da desencarnação física, invertem-se os conceitos tradicionais da significação da vida humana, pois a morte física, que tanto apavora os encarnados, significa a jubilosa "porta aberta" para os espíritos que do "lado de cá" aguardam ansiosamente o retorno dos seus familiares queridos. Daí o paradoxo de algumas criaturas traírem a estranha satisfação que lhes vai no imo da alma, mesmo quando gravemente enfermas ou às vésperas da morte, embora ignorem que é o espírito imortal obedecendo à sua natural tendência de "fuga" do aprisionamento incômodo da carne. Algumas chegam a censurar-se por esse estranho masoquismo, em que se sentem inexplicavelmente alegres ante semelhante "infelicidade". 

Mesmo que o homem se afunde no charco da animalidade e se acorrente às paixões carnais inferiores, o seu espírito nunca cessa de forçar os liames que o prendem à carne e o impedem de atuar livremente no plano sideral. À semelhança do que acontece ao imigrante saudoso, ele rejubila-se toda vez que surge a perspectiva de regresso à pátria dos espíritos. 

Não opomos dúvida ao fato de que os homens, em sua maior porcentagem, ainda preferem fechar os ouvidos aos apelos de sua consciência espiritual, no sentido de se libertarem dos gozos efêmeros da vida instintiva animal e do culto vicioso aos tesouros do mundo de César. Mas nenhum deixa de ouvir, em sua intimidade, a voz silenciosa do espírito imortal. Mesmo aqueles que descrêem de Deus ou da alma eterna não ficam surdos ao chamamento oculto da entidade angélica. 

PERGUNTA: - Porventura esse desejo oculto de libertação espiritual não deveria existir apenas naqueles que se recordam de suas existências anteriores, ou que possuem cultura espiritual suficiente para se reconhecerem imortais? 

RAMATÍS: - Embora os encarnados não consigam recordar os acontecimentos de suas vidas passadas, devido à forte interferência dos complexos biológicos da carne sobre a memória sideral, nunca se extingue neles a ansiedade pela libertação do seu espírito. 

Assim como o exilado compulsório não trocaria todas as comodidades e distrações no seu desterro, pelas maiores contrariedades em sua pátria querida, o espírito imortal também sente-se infeliz sob o domínio estúpido das paixões da carne. 

Há momentos em que o tédio, a melancolia, o desespero e até a revolta abatem o homem de tal forma, embora ele participe de todos os prazeres da vida, que, na sua angústia insolúvel, ele recorre ao suicídio, causando espanto àqueles que o julgavam plenamente venturoso. Na verdade, em face de qualquer descuido ou invigilância da personalidade humana, a consciência espiritual reage, no sentido de sua integração na vida superior do espírito imortal. 

Muitas vezes, esse "chamado" oculto e incessante traduz-se numa angústia indefinível, que é a luta rude entre o homem-espírito e o homem-animal; luta que, nos caracteres mais fracos, pode arrastar o homem ao suicídio. Inúmeros poetas, intelectuais, filósofos, escritores, cientistas e mulheres de elevada posição social fugiram do mundo pela porta falsa dessa tragédia, justamente por faltar-lhes a firmeza na espiritualidade consciente, que então lhes compensaria o amargor de suas decepções e angústias, por maiores que elas fossem. 

Mas, assim como o balão cativo não cessa de forçar as amarras que o prendem ao solo, o espírito também emprega todos os seus esforços para libertar-se dos grilhões da matéria. Embora a consciência humana não identifique esse oculto instinto moral do espírito para ajustar-se ao padrão superior de sua vida imortal, em certas criaturas o fenômeno se traduz por uma estranha satisfação íntima, que pode manifestar-se mesmo durante a dor ou até quando se aproxima a morte física. 

PERGUNTA: - E quais são os indícios que comprovam a ansiedade ou o esforço subjetivo do nosso espírito tentando abandonar o corpo carnal e, ao mesmo tempo, angustiando-se ante a perspectiva de breve libertação da matéria? 

RAMATÍS: - Essa ansiedade espiritual raramente é certificada pela consciência humana, ou seja, pelo homem encarnado. Às vezes, ele sublima-se mesmo em face da doença ou da morte, mergulhando na saudade dos momentos felizes que passou na infância, na mocidade e também nos estados de alma que o afastaram da vida material. Nessa associação de emoções diversas, o espírito sensibiliza-se de modo incomum e mistura a alegria à tristeza, o prazer à dor e a renúncia ao apego do mundo material. Algo estranho o influi; - a melancolia ou o júbilo oculto e incompreensível, que o domina, tece-lhe na intimidade o sonho de um mundo venturoso, em que ele recorda ter vivido ou pressente que existe e tornará a reviver. 

É uma saudade indefinível, que se sobrepõe aos maiores prazeres e gozos dos sentidos físicos do homem, e, em alguns, chega a manifestar-se num verdadeiro estado de êxtase, que extingue as barreiras egocêntricas da personalidade humana. Em tais momentos, processa-se vigorosa competição entre a mente em vigi1ia, que tenta heroicamente manter o seu comando diretor no organismo carnal, enquanto a consciência espiritual forceja por fugir da matéria e retomar ao seu mundo eletivo. 

PERGUNTA: - Mas, acaso não existem certas criaturas pessimistas que, durante sua doença, mal suportam seus sofrimentos e mantêm-se sob a mais extrema irritação e rebeldia? E ainda, outras, tão rebeldes à sua purgação cármica de aperfeiçoamento espiritual, que se tornam refratárias a qualquer esperança futura? 

RAMATÍS: - Sim. Há criaturas que se requintam no apego às minúcias mórbidas que lhes dramatizam exageradamente as enfermidades de pouca importância e as vicissitudes comuns da vida humana. 

Ante o primeiro sintoma enfermiço, elas esvaziam dúzias de frascos de remédios, friccionam-se com as pomadas mais excêntricas ou viciam-se aos medicamentos injetáveis, transformando o corpo em paliteiro de agulhas hipodérmicas. Escravizadas ao relógio, vivem atentas ao curso das horas a fim de engolir, em hora exata, o comprimido contra o defluxo ou a pílula para a boa digestão. Mesmo quando em completo repouso, recorrem à injeção antiespasmódica, ao tônico cardíaco ou ao controle da pressão sanguínea. 

Ante a sua imaginação mórbida desfila o cortejo de doenças modernas da civilização. O diabetes, o enfarte cardíaco, o câncer, as úlceras ou o artritismo, transformam-se em sombras a impressionar-lhes a mente angustiada. 

Habituam-se aos exames clínicos, às chapas radiográficas, às pesquisas de laboratório e revisão periódica do corpo físico. Trocam de médicos assim como as mulheres trocam de modas, enquanto exercem a função de cobaias para o experimento de todas as drogas farmacêuticas recém-fabricadas. 

Compungidas e ingênuas, comovem-se ao descrever suas próprias desditas e lances melodramáticos do socorro médico, que à última hora salvou-as do perigoso distúrbio estomacal, da grave intoxicação hepática ou de infeccioso surto intestinal. Movimentam-se pela superfície da Terra transportando vultosa bagagem de medicamentos destinados a atender a todos os eventuais sintomas enfermiços. 

A mentalização incessante da doença estigmatiza-lhes o senso estético e o gosto pela vida; ficam apáticas e insensíveis às belezas do mundo e aos fenômenos poéticos da Natureza. Sisudas, melancólicas e introvertidas, não se animam ante a clareira de luz solar na mata agreste, nem as emociona o vôo das aves ruflando suas asas coloridas no azul transparente do céu, nem as alegram as pétalas de flores silvestres que lhes caem sobre os ombros e os cabelos. 

Nada as dissuade do seu pessimismo pertinaz e do seu infortúnio excessivamente dramatizado. Olhos baços, fisionomia compungida e lábios contraídos num ríctus de perene amargura, esses infelizes doentes da alma gostariam de transformar o mundo num vasto hospital sem fim. Não ouse alguém subestimar ou duvidar do seu drama compungido, que considera digno da pena de um Victor Hugo ou Dostoiewski. Dramatizam, transformam a mais insignificante verruga, numa excrescência cancerosa, o espirro banal e inofensivo, em prenúncio da grave pneumonia, e o simples incômodo digestivo, em uma úlcera gástrica. Enfim, cultivam a doença assim como o jardineiro cultiva a flor. 

Infelizmente, a vossa humanidade ainda ignora que a maior parte das doenças do corpo tem sua origem em distúrbios agudos de ordem psíquica; pois, na realidade, a cupidez, a avareza, o ódio, a vingança, o ciúme, a ambição, o orgulho e outros tóxicos de ordem moral são a matriz das moléstias perigosas que resultam em cânceres, morféia, tuberculose e outras, de aspectos e conseqüências fatais. 

PERGUNTA: - Naturalmente, essas pessoas agravam os seus menores males porque pensam neles incessantemente e, então, dificultam a sua cura. Não é assim? 

RAMATÍS: - "Namora a doença e te casarás com ela", diz certo provérbio do vosso mundo, aludindo a esses enfermos que fazem da doença e da morte a única preocupação da vida. Eles ignoram os postulados sadios do espiritualismo emancipado, que explicam a função purificadora da enfermidade e que o fatalismo da morte física é indispensável para desatar as algemas carnais do espírito. Muitos deles transformam-se em assíduos consultantes das sessões espíritas, à cata de pormenores minuciosos de "sua doença", pois consideram que é muito mais grave a sua dispepsia comum, do que a tuberculose da vizinha. Facilmente tornam-se adversários gratuitos do Espiritismo, quando os espíritos só se limitam a dar-lhes conselhos de ânimo espiritual, em vez de atendê-los com a prescrição de remédios miraculosos ou diagnósticos exatos de sua doença. 

Certo é que, dia mais ou dia menos, algum espírito leviano ou médium anímico e imprudente acaba por fazer-lhes o diagnóstico certo ou errado, mas perturbador e trágico; o qual, então, se constitui na derradeira gota de água a entornar o copo de simples conjetura. 

O medo, o desespero, a amargura e os pensamentos negativos gerados pelo pessimismo aniquilam as forças defensivas da mente e perturbam o sistema endocrínico, alterando o quimismo hormonal responsável pelo equilíbrio fisiológico. A perturbação mental constante atinge o sistema nervoso vago-simpático, alterando-lhe o ritmo de comando orgânico e interferindo perniciosamente na rede de neurônios sensibilíssimos, que se entranham desde o encéfalo, por lodos os tecidos e vísceras do corpo humano. Estabelecido o clima negativo, favorável à enfermidade estigmatizada pela mente, em breve se materializa na carne indefesa a doença, que ainda não passava de simples conjetura. 

PERGUNTA: - Que dizeis de certos consulentes que, abusando do tempo precioso dos médiuns, depois atiram fora a receita espírita que lhes foi doada? 

RAMATÍS: - Realmente, certos consultantes depois de agraciados com o diagnóstico mediúnico ou favorecidos com a prescrição medicamentosa capaz de curá-los de grave enfermidade ou mesmo prorrogar-lhes a vida periclitante, põem "de molho" a receita espírita para só usarem-na em caso de falharem os recursos médicos que ainda pretendem experimentar. Alguns deles agem assim porque temem o ridículo de serem curados pelos "mortos" e depois tachados de ingênuos ante os demais companheiros. Outros são desconfiados, curiosos ou negligentes; existem ainda aqueles que subestimam a receita dos espíritos, porque esperavam um diagnóstico espetacular ou medicação miraculosa. Em caso contrário, eles a deixam esquecida na gaveta de qualquer móvel para usarem-na se falharem todos os recursos da medicina acadêmica. 

Quando se convencem de que estão realmente liquidados e a medicina do mundo se confessa impotente para curá-los, então se apegam à velha receita mediúnica ou consultam novamente os espíritos como derradeira tábua de salvação. Infelizmente, já deixaram de aproveitar o ensejo da hora psicológica oportuna do tratamento espírita pois, enquanto seriam curados fisicamente, também se devotariam em tempo ao estudo e conhecimento dos postulados salvadores do Espiritismo. Mesmo a prescrição dos espíritos não pode exorbitar das leis comuns da vida, nem produzir o milagre extemporâneo ou a cura espetacular, quando já está ultrapassado o prazo em que o remédio produziria seus efeitos benéficos. O enfermo que já esgotou todas as suas reservas vitais e intoxicou o seu organismo com o excesso da medicação alopata não deve exigir da receita espírita o "milagre" capaz de restituir-lhe a saúde completamente abalada. 

PERGUNTA: - Deduzimos das vossas palavras que a receita espírita não pode produzir o efeito desejado, caso os doentes deixem de usar a medicação logo em seguida à sua prescrição. Não é assim? 

RAMATÍS: - Evidentemente, os espíritos receitistas não podem ser responsáveis pelos fracassos terapêuticos de suas prescrições quando os pacientes demoram ou negligenciam o uso da medicação prescrita. O remédio prescrito mediunicamente deixa de produzir os resultados vaticinados pelos terapeutas do Espaço, caso não seja utilizado, no máximo, em dez dias, pois além desse prazo podem ocorrer reações orgânicas inesperadas, de efeitos mórbidos imprevistos. 

Os espíritos desencarnados não só auxiliam a cura dos enfermos, receitando-lhes os medicamentos apropriados, como também dinamizam-lhes as reservas vitais e as forças "etereoastrais" que circulam pelo perispírito. Esse reajuste dinâmico do perispírito às vezes é processado no momento em que fazem o diagnóstico. Mas a mente do próprio enfermo, em atuação descontrolada, pode alterar posteriormente a tonalidade do metabolismo e estabelecer novas condições mórbidas, que então desaconselham o uso do medicamento alguns dias depois. 

É evidente que os espíritos não podem prever nos enfermos desconfiados ou negligentes, que lhes subestimam o tratamento prescrito, as diversas mutações emotivas e suas atitudes mentais futuras, que os tornam impermeáveis ao tipo da medicação já receitada. A receita mediúnica não é panacéia tipo "cura tudo", que pode ser usada em qualquer condição ou a qualquer momento. 

Aliás, quer os consultantes cumpram religiosamente as prescrições medicamentos as que lhes fornecem os desencarnados, ou então as subestimem de modo leviano, o Alto sempre credita ao médium correto e serviçal o que lhe for devido pelo trabalho benfeitor realizado por ele. 

PERGUNTA: - No princípio de vossa explicação fizestes referência a uma consciência humana e a uma consciência espiritual. Tratando-se de um problema algo complexo, desejaríamos esclarecimentos mais amplos a tal respeito. Podereis atender-nos? 

RAMATÍS: - A consciência humana compreende o estado de vigília do espírito quando ele se encontra ligado ou imerso no corpo físico. A consciência espiritual, no entanto, age diretamente no mundo divino do espírito como entidade eterna, ou seja, no seu plano "real" e definitivo. É a consciência imutável do ser que preexiste além do tempo "vida humana"; e manifesta-se independente das limitações acanhadas do "eu" ou do "mim", que constituem a personalidade do "ego" deslocado do seio do Cosmo onde "espaço e tempo" são infinitos. 

A mente do homem não é a sua consciência eterna, mas, sim uma espécie de "estação receptora e emissora", de amplitude restrita ou limitada aos conhecimentos, fenômenos e fatos dos mundos planetários, nos quais ela exercita o seu discernimento mediante o processo mental de raciocinar, atendo-se às contingências ou fases da infância, mocidade e velhice no ambiente de um mundo provisório ou irreal, pois se transforma e desaparece num prazo determinado. 

Em tais condições, a consciência humana amplia-se, desenvolve-se pelo acúmulo das memórias daquilo que "ela vê, analisa e considera", em contado com os ambientes dos mundos planetários onde o indivíduo ingressa nas suas reencarnações. Conseqüentemente, as lembranças do que vai sendo averbado na tela mental não significam a "realidade" espiritual imutável, mas apenas um "acervo" mental de caráter transitório, pois as idéias ou conhecimentos "mais perfeitos", que vão surgindo na mente, apagam as suas antecedentes, "menos perfeitas". 

A mente humana raciocina à parte, sob uma condição relativa e transitória, muitíssimo pessoal em face da Consciência Infinita e Onisciente do Criador. Deste modo, ela, então, cria inibições, desejos, ansiedades, preconceitos, ideais, medos, concepções individualistas, que constituem o seu equipo próprio no desenrolar da sua existência. 

A sua personalidade é conformada à sua experiência pessoal no ambiente em que se encontra; mas, de nenhum modo, isso é o real. Assim, a capacidade e o entendimento de cada criatura que se move numa direção simpática a si mesma fortalecem e alimentam o "ego" inferior como uma consciência separada do Ego Espiritual. 

Assim se forja a consciência humana, pelo acúmulo de experiências e lembranças captadas pela mente em atuação no mundo material transitório e irreal. Lembra o perfume da flor, mas não é a própria flor. 

PERGUNTA: - Como compreendermos o sentido íntimo e exato da consciência humana, qual perfume e não como a própria flor? 

RAMATÍS: - A consciência de idéias, crenças, especulações ou desejos realizados não define, não é a realidade espiritual, pois o real, "no seu todo" não pode ser configurado por um seu efeito, que é apenas um reflexo limitado do mesmo todo. 

A mente humana pode conceituar em razão do seu próprio condicionamento e de sua sabedoria decalcada no ambiente do mundo planetário; mas não pode criar a realidade espiritual, que independe dela, pois o perfume (sendo um efeito) não pode gerar ou produzir a flor (a causa) que o gerou. Para melhor elucidação tomemos este exemplo: Admitindo-se que uma lâmpada de 50 watts pudesse conceituar mentalmente a figura da usina que lhe transmite a energia elétrica, naturalmente ela só poderia imaginá-la com os recursos que lhe fossem conhecidos; ou seja: só poderia configurar a usina comparando-a a uma outra lâmpada similar, porém, gigantesca e mais poderosa, de uns 500.000 watts, por exemplo; mas essa concepção imaginária não define o que, de fato, é a usina em sua realidade. Assim é, pois, a consciência humana, como personalidade forjada e configurada através dos elementos conhecidos da própria mente. Ao passo que a consciência espiritual e preexistente no homem é que constitui a consciência definitiva, o imutável, enfim - o real! 

Ao homem encarnado não é possível descrever o real que independe das formas do mundo físico e da mente humana, pois ele só conta com os conhecimentos que a sua própria mente assimila através de sua presença no mundo das formas materiais provisórias, do mundo irreal.

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