segunda-feira, 2 de julho de 2012

MEDIUNIDADE DE PSICOMETRIA - PARTE 2

ENIGMAS DA PSICOMETRIA 
ERNESTO BOZZANO 


Pois que a psicometria não passa de uma das modalidades da clarividência, a esta pertencem, também, os seus enigmas. É natural, portanto, que, ao falarmos nesta obra de uma, levado sejamos a tratar da outra. 

De qualquer modo, para não ampliar demasiado o assunto, limitar a versar exclusivamente o tema da psicometria, que contém os principais enigmas a resolver. De resto, as suas modalidades próprias lhe conferem um caráter especial, que permitem considerar à parte. 

As modalidades segundo as quais se estabelece à conexão entre o sensitivo e a pessoa ou meio concernente ao objeto psicometrado, distinguem, efetivamente, a psicometria das outras formas de clarividência. No sonambulismo provocado, é o próprio operador que estabelece a relação entre o sensitivo e a pessoa ou o meio colimador. 

Na ausência de operador, é o consulente que, por sua presença, faculta a ligação entre o sensitivo e ele próprio consulente ou a pessoa e o meio distantes. Na clarividência utilizada por quiromancia, cartomancia, visão do cristal, os diversos objetos ou processos empregados podem considerar-se como simples estimulantes, próprios para suscitar o estado psicológico favorável ao desembaraço das faculdades subconscientes. 

Na psicometria, muito pelo contrário, parece evidente que os objetos apresentados ao sensitivo, longe de atuarem como simples estimulantes, constituem verdadeiros intermediários adequados, que, à falta de condições experimentais favoráveis, servem para estabelecer a relação entre a pessoa ou meio distantes, mercê de uma influência real, impregnada no objeto, pelo seu possuidor. 

Esta influência, de conformidade com a hipótese psicométrica, consistiria em tal ou qual propriedade da matéria inanimada para receber e reter, potencialmente, toda espécie de vibrações e emanações físicas, psíquicas e vitais, assim como se dá com a substância cerebral, que tem a propriedade de receber e conservar em latência as vibrações do pensamento. 

Após as experiências recentes e decisivas de Edmond Duchatel e do Doutor Osty nos domínios da psicometria, não é mais possível duvidar da realidade dessa influência pessoal, absorvida pelos objetos e percebida pelos sensitivos. 

O que ainda se não sabe é se a influência em apreço contém virtualmente a história do dono do objeto - história suscetível de ser psicometricamente evocada pelos sensitivos em seus mínimos pormenores, tal como afirmam alguns experimentadores. 

Sem embargo, ao menos no que diz com a influência de pessoas vivas, tudo concorre para demonstrar que tal latitude de poderes é, em grande parte, imaginária. A influência pessoal registrada pelos objetos não exerce, realmente, outro papel que o de estabelecer a relação com a pessoa ou meio distantes, que se tenha vista psicometrar. Essa influência fornece lhe permite segui-la. 

Daí resultaria que as descrições e revelações verídicas, obtidas graças à relação psicométrica, longe de serem diretamente extraídas da influência contida nos objetos psicometrado, seriam alcançadas por meio das faculdades clarividentes e telepáticas do sensitivo e orientadas, isto sim, pela influência persistente nos objetos. 

Todavia, apresso a acrescentar que esta limitação de poderes da psicometria (dos quais acabo de tratar unicamente do ponto de vista das influências de natureza humana registradas pelos objetos), não eliminaria a hipótese dos professores Buchanan e Denton, mediante a qual o objeto seria, por si mesmo, capaz de revelar minuciosamente a sua própria história. 

Não. A minha observação tende apenas à limitação da hipótese, modificando-lhe a significação. Os informes obtidos, graças à análise psicometria, constituiriam, em todo o caso, uma questão de relações estabelecidas por um meio que não seria material propriamente dito, tal como provaremos depois. 

Aqui, assenta o problema mais importante da fenomenologia psicométrica. O fato de penetrar os segredos biográficos da matéria, inanimada, permaneceria bem mais misterioso, mesmo que se operasse com o concurso das relações com um meio que não fosse matéria, precisamente. 

Em torno deste enigma maior, outros enigmas surgem não menos perturbadores. Porque, de fato, tudo parece demonstrar que os sensitivos entram, às vezes, em relação com os reinos vegetal e animal, a tal ponto se identificando com a influencia contida no objeto psicometrado, que dir-se-ia apropriarem-se das sensações, dos entendimentos, das vibrações e sensações rudimentares dos organismos ou substâncias estudados. 

Assim, da mesma forma por que a influência deixada num objeto por pessoa viva tem a virtude de pôr o sensitivo em relação com a subconsciência dessa. pessoa, assim também a mesma influência'', deixada nos objetos por uma pessoa falecida, teria o poder de pôr o sensitivo em relação com o Espírito do falecido. 

Esta última suposição parecerá bem menos inconcebível que as até agora enunciadas, pois é uma premissa menor, conseqüência lógica da premissa maior. Outras modalidades, não menos enigmáticas, apresentam-se na fenomenologia psicométrica e haveremos de as examinar, à proporção que ressaltarem dos respectivos fatos. 

Antes de entrar propriamente no assunto, importa consagrar alguns parágrafos para estabelecer a solidez da assertiva que acabamos de formular e segundo a qual provado está, que os objetos presentes ao sensitivo não atuam unicamente à maneira de simples estimulantes, mas contêm, de fato, uma influência pessoal humana, capaz de colocar o sensitivo em relação com o dono do objeto. 

Neste propósito, assinalaremos que o objeto apresentado ao sensitivo não serve praticamente para evocar a história de uma personalidade humana, senão quando tenha sido tocado e utilizado por essa personalidade ; do contrário, deixaria de provocar no sensitivo qualquer associação de natureza humana e poderia, ao invés, provocar outras, concernentes ao objeto material em si, e como tal. 

Daí resulta que essa diferença de associações não poderia realizar-se, se realmente não existisse uma impregnação fluídico-humana dos objetos. No caso de objeto utilizado por diversas pessoas, facultado fica ao sensitivo poder exercer sucessivamente a sua influência sobre cada uma dessas pessoas, inclusive o ambiente em que elas viveram.

Mas, o grande caso é que não suscita, jamais, qualquer evocação de pessoas absolutamente estranhas ao objeto, o que constitui um índice probante de que os fluidos humanos, absorvidos pela matéria inanimada, são geralmente os agentes invocadores das impressões psicométrica. 

Quando o objeto tenha pertencido a diversas pessoas, nota-se, por vezes, erros de orientação, muito instrutivos. Assim, por exemplo, num caso citado por Duchatel, o consulente apresenta ao sensitivo uma carta, propondo-se obter esclarecimentos a respeito do remetente e obtém, ao invés, informações precisas e abundantes sobre o destinatário. 

Este fato pode, talvez, ser atribuído à existência de uma lei de afinidade eletiva, em virtude da qual o fluido do destinatário se evidenciasse mais ativo em relação com o sensitivo, do que o fluido do remetente. 

Daí, o seguir-se que, para explicar os fatos, somos levados em todos os casos a admitir a existência de um fluido pessoal humano ligando-se aos objetos. É uma conclusão esta corroborada por tantas circunstâncias, tendentes toda a demonstrá-la, que a podemos considerar como definitivamente adquirida pela ciência. 

Penso não ser necessário estribar em longos argumentos a outra afirmativa concernente à real função das influências humanas contidas nos objetos, isto é: estabelecer a correlação do sensitivo e do dono do objeto. 

E uma conclusão inconteste, que resulta dos fatos, pois, do contrário, o sensitivo deveria tirar do objeto apontamentos exclusivamente concernentes ao período durante o qual o consulente estivesse de posse do mesmo objeto. 

Entretanto, muito pelo contrário, o que acontece é que o sensitivo freqüentemente revela incidentes ocorridos antes é depois de haver o consulente usado o objeto; e vai mesmo mais longe às vezes, isto é: - ultrapassa o passado e o presente, para aventurar-se pelo futuro. 

E daí, uma prova indiscutível de que em tais circunstâncias ele, sensitivo, utiliza as faculdades de sua clarividência no subconsciente da pessoa presente ou ausente, com a qual se acha em relação psicométrica, e não no objeto psicometrado. 

Tudo quanto vimos de dizer refere-se aos casos de influência humana, registrada pelos objetos. Por legítimas, até certo ponto, poderíamos haver estas mesmas conclusões, nos casos de objetos ligados a influências animais. 

Já quando se trata de organismos vegetais, desprovidos de uma subconsciência suscetível de serem exploradas, elas são menos admissíveis por outro lado, impossível fora concluir do mesmo modo, em se tratando de objetos estremes de toda influência humana, animal ou vegetal e que, não obstante, revelassem ao sensitivos acontecimentos mais ou menos genéricos de sua história geológica, paleozóica e arqueológica 

Efetivamente, nestes casos, não há como fugir a esta interrogação : onde poderia o sensitivo haurir as suas informações, senão no próprio objeto ou em um meio transcendental relacionado ao objeto? 

O problema permanece assaz misterioso e de solução duvidosa, como evidenciaremos no momento dado. Agora, para elucidar o assunto, compete-nos apresentar exemplos, prevenindo o leitor de que não nos é possível classificá-los, pois muitas vezes os incidentes contidos num caso particular pertencem a diferentes categorias de fatos. 

Forçoso é pois resignarmo-nos a dispô-los da melhor forma possível, negligenciando os métodos normais da classificação científica. Entre os exemplos dignos de interesse, notar-se-á, mais especialmente, os obtidos por intermédio da Srta. Edith Hawthorne, há tempos já falecida, na idade de 39 anos. 

Criatura bexigosa e enfermiça, o seu precário estado de saúde não a impedia de se dedicar a obras de caridade e filantropia. Animada de uma compassividade extrema para com as crianças abandonadas, tinha ela fundado um instituto (The Tiny Tim Guild), destinado a crianças atrofiadas e raquíticas, ao qual consagrava todo o tempo disponível nos últimos anos de sua existência. 

Do seu admirável espírito de sacrifício, eis como depõe uma testemunha: 

Genial, a sua intuição nos cuidados para vivificar uma laringe ou uma língua atrofiada. Nesses trabalhos, era de uma paciência sem limites, a fim de conseguir um tratamento eficaz, e tão suave, e tão carinhoso, a ponto de o transformar em distração alegre para os pequeninos enfermos. 

E a Srta. Hawthorne estava firmemente convencida de que as influencia do mundo espiritual assistiam-na em sua tarefa. A seu ver, os processos engenhosos que imaginava, e mediante os quais cada utensílio se adaptava expressamente a cada paciente, eram-lhe sugeridos pelos Invisíveis. 

Esta presunção não é inverossímil, tendo-se em vista as faculdades mediúnicas notáveis, que ela revelou nesse período de sua vida. Em suas experiências psicométrica a Srta. Hawthorne deu provas de uma capacidade de investigação realmente científica. 

No intuito de eliminar toda a possibilidade de sugestão involuntária ou de leitura do pensamento, procurava obter de lugares longínquos objetos desconhecidos para os psicometrar, registrando logo de seguida à impressão que lhe dava cada objeto e comunicando-se com o seu remetente, a fim de consignar este as próprias observações, de confronto com o documento psicométrico. 

Algumas destas notícias biográficas permitirão apreciar melhor o valor científico da série de experiências feitas por seu intermédio e publicadas, em parte, na revista inglesa Light, de 1903 a 1904. 

I Caso - Extraído de Light (1903, pág. 214). Edith Hawthorne escreve: 

A experiência, a seguir, foi feita com o Sr. Samuel Jones (16. Askew Bridge-road, Dudley, Worcestershires), com quem mantenho correspondência bastante assídua. 

Dei-lhe preferência porque todas as pessoas de minha intimidade sabem que eu e o Sr. Jones nunca nos vimos, e que jamais pisei no condado em que ele reside. 

Pedi a esse senhor que me enviasse amostras diversas, de qualquer natureza, das quais eu tudo deveria ignorar, exceto o número de ordem que me habilitasse a distingui-Ias. 

Ao receber essas amostras, impunha-me anotar imediatamente as impressões que cada uma me suscitava, à proporção que as ia segurando entre as mãos, a fim de expedir, de seguida, essas impressões escritas ao Sr. Jones, que lhes aditaria o respectivo comentário, atinente à autenticidade das minhas notas psicométrica. No memorial a seguir, as observações d:; Sr. Jones vão registradas entre parênteses.

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