Na postagem anterior da série “O Preconceito Velado”, falamos sobre a associação indevida do arquétipo da Deusa Yemoja, com a personagem Carminha da novela Avenida Brasil (associação essa, realizada pelos adeptos do Candomblé e não pela emissora, vale destacar).
Na ocasião, mencionamos que iríamos discorrer desta feita, sobre personagens que ridicularizam a imagem do Candomblé e que muitas vezes,
são aplaudidos por nós mesmos. Nesse âmbito referíamo-nos aos tantos e recorrentes casos que sempre emergem na televisão brasileira, deturpando e caracterizando de forma pejorativa a imagem dos adeptos das religiões de matriz africana.
Numa breve revisitação, por exemplo, aos programas de humor, lembramos do personagem Painho, vivido por Chico Anysio, dentre muitos.
Via de regra, são três os estereótipos mais impresso nessas tramas, a saber: O Babalòrìsà homossexual que assedia os filhos de santo e adeptos. As Ìyálòrìsàs charlatonas que usurpam os bens de seus clientes, ludibriando sua fé de forma grosseira e; o Omo Òrìsà, geralmente problemático com distúrbios de caráter que sempre leva consigo um fio de contas de Èsù, “mostrando assim a origem dos seus problemas”.
Há dessa forma, além do ataque torpe ao nosso povo, o preconceito maculado e pouco velado, diga-se de passagem. Vejamos. No caso dos personagens representando Babalòrìsàs homossexuais, em todas as situações o Babalòrìsà assedia os seus filhos, induzindo indevidamente os telespectadores de que os homossexuais são promíscuos, não respeitando sequer um fiel que lhe recorre em um momento de dificuldade. Além disso, induz o telespectador à acreditar que o sacerdócio masculino no Candomblé é reservado única e exclusivamente aos homossexuais, vez que não há personagens Babalòrìsàs heteros. Há nesse aspecto, o claro e evidente preconceito ao homossexual e o pré conceito estabelecido de que todos os sacerdotes do Candomblé são homossexuais. Sobre isso, é muito importante destacarmos. A Religião dos Òrìsàs abraça em seu seio todos os povos, de todas etnias e de qualquer opção sexual, ricos e pobres, não valorando nenhum mais do que outro. Para nós, todos são oriundos da mesma argila, do mesmo sopro divino que nos deu a vida.
A segunda imagem transparecida é da Ìyálòrìsà charlatona, que invariavelmente está à espera de um “Cliente” inocente para cair em suas artimanhas quimeras. Sempre acompanhada de um fiel escudeiro que lhe ajuda a impressionar o “Cliente”, com barulhos, fumaças e, muitas vezes investigando a vida do consulente, para depois subsidiar a “Ìyálòrìsà” em seu falso oráculo. Nesse caso, não vemos personagens que ilustram o contrário, uma Ìyálòrìsà com conhecimento, que aconselha seus filhos e orientando-os o caminho correto a percorrer. Novamente, é evidente a obscena caracterização do nosso povo.
Por fim, há o preconceito relacionado ao filho de santo, esse sim mais disfarçado/maculado. Sempre que há um personagem com problemas de caráter, drogas, etc... ele carrega consigo um fio de contas. Muitas vezes, a trama não faz menção alguma ao Candomblé, entretanto, está lá, no pescoço do personagem envolvido com a escória, o fio de contas – na grande maioria preto e vermelho, aludinho o Òrìsà Èsù.
Mas como evitar/extirpar esse tipo de imagem com a qual nos associam? Para isso é fundamental nos unirmos verdadeiramente – sair da teoria e entrar na prática. Na Internet, por exemplo, há centenas de correntes originadas pelo nosso povo, mas será que um dia vamos conseguir unir todas essas pessoas em um único objetivo, presencialmente? Será que um dia verdadeiramente vamos conseguir enaltecer a nossa Religião nas ruas com o nosso povo? Bom, isso será tema para uma futura postagem!
Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó
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