O Terço dos Òrìsàs.
Na busca da disseminação do conhecimento não classificado como “Awo” (o mistério que só pode ser revelado aos iniciados), explicamos hoje, a razão de confeccionarmos aquilo que muitos chamam de o “Terço dos Òrìsàs”. Esse “terço” elaborado a partir de Ikó e de determinadas partes dos Eranko ofertados aos Deuses, surgiu por conta da prova de amor de Ejiogbe pelo seu Pai Orunmilá
.
Uma antiga história Nàgó conta que Orunmilá estava em dúvidas de qual filho ele escolheria para ser o primeiro a lhe representar no seu oráculo sagrado. Orunmilá chamou todos os seus filhos e disse: “Vocês irão me representar em uma festa que haverá no palácio do Oni (Rei de Ifé). Cada um de vocês terá que provar que durante a festa estavam se lembrando de mim, mostrando que são meus filhos e que me amam verdadeiramente”.
Todos os irmãos caminharam durante 7 dias rumo à Ifé, para a grande festa. Ejiogbe era o mais desprezado dos irmãos e logo no inicio foi deixado de lado. Todos os demais irmãos caminharam rapidamente para chegar brevemente a Ifé.
No dia da grande festa, os irmãos de Ejiogbe já estavam lá, comendo e bebendo de um tudo, do bom e do melhor, sem sequer lembrar do seu Pai. Ejiogbe chegou ao final da festa, muito cansado e com fome por conta da viagem longa que fez.
Quando seus irmãos viram que ele estava lá, trataram de lhe dar às costas, ignorando-o. Ejiogbe se apresentou ao Oni, dizendo que era o filho de Orunmilá e que estava ali para lhe representar. O Oni disse que era um prazer receber o filho do Testemunha do Destino. Faminto, Ejiogbe foi à mesa para comer algo, no entanto, por ser o final da festa, só encontrou ossos, patas, asas e cabeça.
Ejiogbe comeu um pouco e pegou o restante, colocando em um saco de pano que trazia consigo. No caminho de volta à casa de Orunmilá, todos os irmãos começaram a maltratar Ejiogbe, dizendo que ele era vergonha de Orunmilá e que ainda por cima, estava carregando um saco com restos de comidas. Ao longo dois dias, o cheiro provindo do saco ficava mais forte e, novamente, os irmãos de Ejiogbe largou ele sozinho.
Quando os irmãos de Ejiogbe chegaram à Casa de Orunmilá eles foram logo dizendo que a festa estava muito boa. Ejioko disse que havia mostrado a todos suas habilidades, Ogundameji também, Osá, Okanran e todos seguidamente falaram suas histórias, todas enaltecendo a si mesmo.
Orunmilá então disse como vocês me provam que se lembraram de mim? Todos se entreolharam e ficaram mudos. Nesse tempo, chegou Ejiogbe que foi logo indagado por Orunmilá. E você Ejiogbe, o que fez na festa?
Ejiogbe ajoelhou-se diante de Orunmilá e lhe disse: Meu Pai, o grande senhor do destino, aquele que senta ao lado de Olodunmare, a sua bênção. A primeira pessoa com quem eu falei foi com o Oni, dizendo que estava lá pra representar o grande Orunmilá. Quando fui comer, a comida já havia acabado, mas mesmo assim, lhe trouxe esses ossos, para provar ao senhor que, mesmo quando estava com fome, jamais deixei de pensar no senhor. Quando Ejiogbe abriu o saco, estavam alguns ossos selecionados por Ejiogbe, cuidadosamente amarrados com o Iko (a palha da costa).
Orunmilá pegou aquela espécie de terço e pendurou em uma árvore na frente de sua Casa e disse: Todos que passarem por aqui, saberão que Ejiogbe foi o único que se lembrou do seu Pai, mesmo quando estava com fome. A partir de hoje, quando as pessoas desejarem saber aquilo que eu tenho para falar, louvaram primeiramente Ejiogbe e, a partir de hoje, sempre que haver uma oferenda dos Eranko que Ejiogbe me trouxe os ossos, os iniciados na religião dos Òrìsàs deverão pegar esses mesmos ossos e confeccioná-los da mesma forma que Ejiogbe o fez, lembrando dessa passagem...
Nós do Terreiro de Òsùmàrè, uma vez mais, esperamos ter contribuído para o esclarecimento de mais um ritual da linda religião dos Òrìsàs.
Que Òsùmàrè Aràká continue sempre olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè
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