Ekodidé
Ekodidé, akodide ou okodide como é chamado pelo povo do santo é uma pena vermelha, extraida da cauda de um tipo de papagaio africano, chamado no Brasil de (papagaio do Gabão) ou papagaio-cinzento.
Pertence à espécie psittacus erithacus, denominado pelo povo Yorùbá como Odíde. Esta pena é utilizada nos ritos de passagem, na feitura de santo e por todos eleguns, que carregam em sua testa ou no centro da cabeça, simbolizando a realeza, honra, status adquirido pelo fato dele ter se iniciado para ser um novo sacerdote dedicado ao culto daquele Orixá, possibilitando a este individuo o dom da palavra e sabedoria no novo aprendizado desta cultura chamada de candomblé.
Lenda do uso do Ekodidé
“Uma sacerdotisa cujo nome era Omo Òsum (filha ou descendente de Oxum) servia a Òxàlá e estava encarregada de zelar por seus paramentos e particularmente por sua coroa.
Alguns dias antes do festival anual, umas seguidoras de Òxàlá , invejosas da posição de Omo Òsum, decidiram roubar a coroa e joga-la nas águas. Quando Omo Òsum descobriu o furto, seu desespero foi profundo.
Uma menina que ela criava aconselhou-a a comprar, no dia seguinte de manhã, o primeiro peixe que encontrasse no mercado. No dia seguinte, Omo Òsum não conseguiu encontrar nenhum peixe e foi somente na sua volta que encontrou um rapaz que trazia um grande peixe à cabeça.
Chegando à sua casa, Omo Òsum não conseguia abrir o peixe. A garota apanhou um pedaço de faca muito usado – cacumbu – e facilmente conseguiu fender a barriga do peixe no interior da qual luzia a coroa.
Chegando o dia da grande cerimônia, as invejosas sabendo que Omo Òsum havia miraculosamente encontrado a coroa, decidiram recorrer a trabalho mágico para desprestigiar Omo Òsum em frente a Òxàlá.
Elas colocaram um preparado na cadeira de Omo Òsum , situada ao lado do trono de Òxàlá.
Todo mundo estava reunido e esperava em pé a chegada do grande Oba. Quando chegou, sentou-se e fez sentar-se todos os presentes. Em seguida pediu a Omo Òsum que lhe desse os paramentos.
Quando ela quis levantar, foi incapaz de fazê-lo. Tentou veementemente várias vezes a conseguir, enfim, mas o preço do grande esforço foi desgarrar as partes baixas de seu corpo que começaram a sangrar copiosamente, manchando tudo de vermelho.
Òxàlá, cujo tabu é o vermelho, levantou-se inquieto, e Omo Òsum, aturdida e envergonhada, fugiu. Segue-se uma longa odisséia durante a qual Omo Òsum foi bater à porta de todos os Orixás e nenhum deles quis recebê-la.
Enfim, ela foi implorar ajuda de Oxum, que a recebeu afetuosamente e transformou o corrimento sangüíneo em penas vermelhas do pássaro odide, chamadas ekódidé ou ikóóde, que iam caindo dentro de uma cabaça, colocada para recebê-las.
Diante desse mistério – awo – a transformação do corrimento de sangue em ekódidé, todos regozijaram-se, começando os tambores a rufar e a correrem de todas as partes para assistir ao acontecimento: Yèyè sawo: Mãe fez mistério (Mãe conhece segredo, é mistério).
A festa se organizou e todas as noites Oxum abria as portas para receber os visitantes que, entrando, apanhavam um ekódidé e colocavam cauris (dinheiro) na cuia colocada ao lado. Todos os Orixás vieram tomar parte no acontecimento.
Finalmente, o próprio Òsàlá foi atraído pelas festividades. Apresentou-se em casa de Oxum e, como os outros, saudou-a fazendo o dòdòbálè, apanhou um ekódidé e o prendeu em seus cabelos.
Um cântico relembra para sempre essa circunstância: Òdòfin dòdòbálè k’obinrin – Òdòfin (Òrinsàlà) saúda prostrando-se frente à mulher. Mesmo o grande Orixá Funfun faz o dòdòbálè – alongando-se no solo, tocando-o com o peito em sinal de respeito e de submissão – diante do poder de gestação”.
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