quarta-feira, 4 de julho de 2012

MEDIUNIDADE DE PSICOMETRIA - PARTE 4

ENIGMAS DA PSICOMETRIA 

ERNESTO BOZZANO 



III Caso - Extraído de Light (1903, pág. 365), em seguimento das experiências da Srta. Hawthorne, eis o que ela mesma escreve ao diretor dessa revista: 

Remeto-lhe a narrativa das impressões derivadas de um objeto ao acaso tomado entre vários outros enviados pelo Sr. Jones, e, tal como fiz com as narrativas precedentes, coloco entre parênteses os comentários do mesmo senhor. 

Este pequeno objeto, cuja natureza não posso conhecer, visto achar-se envolto em algodão, comporta pensamentos de luto e de morte, orientando-me para uma senhora angustiada ante a perda de alguém que lhe fora profundamente ligada e que, após dolorosa agonia, entrou serenamente no repouso eterno, antes por si ardentemente desejado. 

(Trata-se do anel que uma senhora paralítica usara por espaço de mais de vinte e cinco anos e a quem, um ano antes, falecera a mãe idolatrada. Esta, antes de expirar, ficara longo tempo deitada junto da filha. - S. Jones) 

Agora, vem-me à idéia de mão muito amada, que procuro aquecer carinhosamente entre as minhas. 

(É justamente o que costumava fazer a moça inválida, retendo, entre as suas, a mão álgida da genitora moribunda. - S. Jones) 

Enquanto assim procedo, tenho a impressão de que a mão afagada perdeu, de longa data, a sua frescura juvenil. Mão de mulher bastante idosa... 

(Tal e qual! Essa senhora faleceu em idade muito avançada. - S. Jones) 

Olhos rasos de lágrimas, retiro um anel, ou anéis, dessa mão inerte e fria... 

(Refere-se à mão da mãe, falecida ao lado da filha paralítica. Esta, efetivamente, foi quem retirou e transferiu aos próprios dedos os anéis que estavam nos da falecida. O anel que lhe enviei pertence á filha, mas esteve longo tempo em contacto com a mãe. - S. Jones) 

Chorando, dirijo um derradeiro olhar a um corpo idolatrado e estendido num caixão. 

(A filha paralítica fez questão de ver o corpo materno no ataúde. - S. Jones.) 

As influências afetivas e o sentimento doloroso que saturam este objeto fazem pensar que se trata da mãe e da filha. Tenho impressão que a sobrevivente deplora esse evento. 

(Perfeitamente: a sobrevivente ainda não pode resignar-se com a perda. - S. Jones) 

De fato, ouço uma voz que parece dizer: por que assim te lastimas, minha filha? Não estou tão longe de ti quanto imaginas: a barreira que nos separa não é tão grande nem tão intransponível quanto supões. Quererias tu que eu retornasse a Terra para aí reencetar os longos anos de amargura que aí passei e acabando por esgotar-te em novas vigílias e cuidados? 

(Esta mensagem do Além - assim a considero -, expressiva, de tão afetuoso interesse por aquela que lhe sobreviveu, há de balsamizar a chaga da saúde que a atormenta. - S. Jones.) 

Agora, percebo descarnada mão a folhear um velho exemplar da Bíblia... O ambiente da alcova dá-me a impressão de doloroso sofrimento. 

(Esta passagem refere-se à paralítica, que utiliza uma Bíblia muito usada, pertencente á falecida. - S. Jones) 

À medida que essa mão vai virando as páginas, percebo um sinal bordado e destinado a marcá-las. E um sinal desconhecido e gasto. 

(Este marcador ainda se encontra no volume em questão. Quando escrevi á senhora paralítica neste sentido, ela cortou dele um pedaço e mo remeteu, como prova convincente, e eu lho envio por minha vez. - S. Jones) 

Esta Bíblia é utilizada constantemente. (Sim, sempre. - S. Jones) 

Digo-o, porque diviso um semblante triste, de mulher que está lendo, enquanto a forma etérea de sua mãe permanece ao lado. 

(Esta particularidade encheu de júbilo o coração da filha, que me escreveu dizendo que doravante e mais que nunca, manuseará a sua Bíblia. - S. Jones) 

Haverá gerânios florentes no quarto? É que experimento uma emanação, assaz forte, desse perfume... 

(De fato, há no quarto da paralítica um pé de gerânio depositado sobre a mesma cadeira outrora utilizada pela falecida. - S. Jones) 

Transcrevo as percepções recolhidas sem a preocupação de as interpretar, e a impressão a seguir me ocorre fraca, mas persistente. Não sei se ela terá ligação com os fatos precedentes. Encontro-me perto de uma igreja, lobrigo um semblante lacrimoso de mulher, a inclinar-se sobre uma campa florida. 

Estas impressões se ligam, indubitavelmente, às precedentes e refere-se a uma outra filha da morta. Esta foi, efetivamente, sepultada perto de uma igreja e a irmã da paralítica freqüenta amiúde a campa, para lhe cuidar das flores. - S. Jones.) 

Ao lado da pessoa que se inclina para a sepultura, distingo duas formas etéreas: uma, sei, é de sua mãe; quanto à outra não consigo distingui-la nitidamente. Tenho como um pressentimento de estar à falecida preocupada com esta filha que lhe chora sobre a sepultura, assim como a desejar, ansiosa, qualquer transformação na sua vida, que assaz a desgosta. 

(Certo. Essa segunda filha tem urgente necessidade de distrair-se. - S. Jones.) 

A influencia deste objeto é puramente feminina. 

(Também isto é muito verdadeiro, as suas associações são puramente femininas. - S. Jones.) 

O Sr. Jones enviou-me a cópia de uma carta que lhe escrevera a paralítica, na qual lhe diz: 

Falemos agora da experiência psicométrica. Não sei como lhe traduzir a minha emoção ao ler as revelações, todas escrupulosamente verídicas. Elas trouxeram-me uma espécie de alegria nova e inesperada, que me conforta mais que os sermões de todo o ano. Se a minha adorada mãe estivesse entre os vivos, as suas palavras de consolo não seriam outras que as advindas por intermédio da sua amiga. De fato, são as expressões exatas da sua linguagem, dos seus sentimentos. Fala da sua felicidade, diz que não deseja volver a Terra: pois também eu não desejaria que tal sucedesse. Quanto ao episódio, tão espontâneo quanto expressivo, da Bíblia, cheguei a estremecer de júbilo quando o li. A sua amiga também há de sentir-se feliz ao ter conhecimento dos benefícios que me proporcionou com essas revelações, sobretudo quando receber o pedaço de fita do marcador de páginas. Por que recusar a possibilidade de termos junto a nós os que se foram? Por mim, devo-lhe enorme gratidão, por haver remetido o anel à sua amiga; e agora lhe peço transmita-lhe os meus mais vivos agradecimentos, visto que, graças ao seu trabalho, me encontro hoje perfeitamente conformada com a vontade de Deus. 

Este caso é realmente admirável, dado a veracidade irrepreensível de todas as impressões da sensitiva. Por pouco que meditemos, que prodígio? E esse prodígio subsiste integral, mesmo diante da hipótese de os sensitivos nada apreenderem fora da influência pessoal, indispensável ao estabelecimento da relação telepática com o vivente ou com o defunto, possuidor do objeto psicometrado; ou ainda para estabelecer a relação telestésica com o meio ambiente de que provém esse objeto; ou para estabelecê-la por meio outro, misterioso, correspondente aos clichês astrais dos ocultistas, ou às impressões do atrasa dos teósofos. 

Estes últimos meios não passam de hipóteses puramente metafísicas, impossíveis de se eliminarem, em virtude de alguns episódios obscuros, de que trataremos mais adiante. 

Neste caso que acabamos de expor, a presunção favorável a uma relação telepática entre a sensitiva, a velha desencarnada e a filha paralítica, se não pode figurar como definitiva, pode, contudo, considerar-se como fundamentada. 

Contrariamente, neste mesmo exemplo, a presunção favorável à hipótese da sensitiva haurir diretamente dos objetos as impressões reveladas, não resiste à análise dos fatos. 

Assim, por exemplo, quando ela, a sensitiva, percebe a irmã da paralítica acurvada e lacrimosa sobre a sepultura, por lhe cuidar das flores, concebe-se facilmente que a visão dessa ocorrência não podia estar registrada no anel da irmã, que o trazia. permanentemente consigo; ao passo que poderia ser tomada na memória subconsciente dessa senhora, tanto quanto poderia ter sido transmitida telepaticamente pelo Espírito da morta, cuja, intervenção na experiência se pode admitir, autorizada por alguns de seus detalhes. 

IV Caso - Com este caso que figura no relatório da Srta. Edith Hawthorne (Light, 1904, pág. 197), abordamos uma nova categoria de experiências, ainda mais misteriosas, de vez que o objeto psicometrado coloca a sensitiva em relação com a mentalidade animal. 

Entre os espécimes remetidos pelo Sr. Jones à dita senhorita, achava-se uma pena arrancada à asa de um pombo-correio, no momento justo do seu retorno ao pombal, depois de haver feito um longo vôo. 

A sensitiva apreende logo: 

Esta pena esteve encerrada num ambiente muito apertado - um cesto! O pequeno corpo de seu dono é qual feixe de nervos, cujas vibrações o fazem parecer tremulo; mas, a verdade é que ele não treme de medo. E se bem que esteja encerrado no cesto, parece ter a compreensão de que será sem demora libertado. Viaja por caminho de ferro, pois estou sentindo as trepidações do comboio. 

(O Sr. Jones anota: Trata-se da pena de um pombo que, para servir a estas experiências, foi metido num cesto e despachado para Fernhill Heath, Worcester. Para regressar a Gornal Wood, devia ele percorrer vinte milhas em linha reta, o que fez no tempo previsto. A pena foi-lhe arrancada logo após a volta.) 

Livre do cárcere, ei-lo que voa agora, alto, descrevendo inúmeros círculos. Toda à vontade como que se lhe concentram nas asas, acionadas por grandes nervos propulsores e todos -eles dirigidos por seu pequenino cérebro. E sobe, e sobe... tanto, que parece encaminhar-se para o Sol. 

(É um traço bem característico deste pombo, que de outros se distingue pela altura do vôo. - S. Jones) 

A voar sempre mais alto, não sabe ainda onde paira, e tudo que o rodeia parece-lhe novidade. 

(De fato, trata-se de localidade absolutamente desconhecida desse pombo, jamais lançado para aquelas bandas. - S. Jones.) 

Nessa trepidação nervosa, vai ele subindo sempre, até entrar de repente em contacto com uma força sutil, ou corrente magnética, que o põe em correspondência com o seu pombal. 

E nesse instante a sensitiva percebe, com a mentalidade do animal, um meio dos mais minúsculos: - o interior do pombal, onde se encontram um punhado de ervilhas e uma tigela com água. Ela, sente que essa imagem pictográfica, da casinhola., distante, se integrou no pombo naquele momento. 

Ele percebe a corrente magnética, mas, enquanto não se julga seguro do contacto dessas vibrações sutis, parece experimentar como que uma ansiedade nervosa. Desde, porém, que o contacto se estabeleceu, vai aquela ansiedade, readquire confiança, executa algumas evoluções e voa em flecha na direção do pombal. Parece que se despreocupa de fixar os pontos de referencia na paisagem que lhe fica por baixo, e concentra-se todo no propósito de guardara zona sulcada pela corrente magnética. Todavia, ao pairar sobre uma cidade, as diretivas no percurso se lhe tornam mais dificultosas, porque ai as vibrações magnéticas se confundem com as vibrações sônicas, que se elevam da cidade. 

Daí resulta que, não podendo fiar-se inteiramente no magnetismo terrestre, ele procura pontos de referencia, tais como as setas das torres, os cata-ventos, as chaminés das fábricas, de que possui visão assaz nítida (como o mais belo dos negativos fotográficos) - o que demonstra a esplendida objetiva natural, constituída pelos olhos das aves. Agora o pombo atravessa nuvem espessa, não de fumaça, e instintivamente acelera o vôo, porque a friagem do ar rarefeito lhe torna mais difícil à respiração. 

(E exato: nessa manhã o tempo não era bom, o céu se coalhava intermitentemente de grossas nuvens, que corriam em sentido contrário ao vôo. - S. Jones.) 

Ao aproximar-se do pouso, o pombo torna-se como indeciso, porque ouvem apitos agudos de ledos os lados e não consegue distinguir o do seu pombeiro. Por outro lado, é como se estivesse agora atemorizado e cauteloso, devido a alguns meninos que o espreitam com intuito de o capturarem. Não há dúvida de que isso já lhe tenha acontecido, pois de outra forma não se explicaria esse temor de ser enclausurado noutra casinha que não a sua. 

(Está certo: esse pombo foi uma vez capturado por um criador, que o manteve prisioneiro algumas semanas. Aqui, os criadores são legião e todos mais ou menos se empenham em capturar os pombos dos colegas. - S. Jones.) 

Haverá, nas proximidades do pombal, dois gatos, um de pelo rajado e outro de focinho preto com malhas brancas? É que ambos infundem grande ansiedade ao pobre pombo. 

(Pormenor autentico: existem aqui um gato rajado, cinzento, e outro preto e branco, ambos vivendo da pilhagem em torno dos pombais. Estes felinos não preocupam só os pombos, mas também os donos destes. - S, Jones.) 

No caso aqui exposto, notamos em primeiro lugar a revelação assaz interessante de uma zona sulcada por uma corrente magnética terrena, com a qual entrariam em contacto os pombos-correios, a fim de se orientarem e regularem o regresso; contacto que, tão logo estabelecido, faria surgir-lhes à visão subjetiva imagens representativas e pictográficas da moradia distante, indicativas da direção própria para atingi-la. 

Fenômeno idêntico se verifica com os sensitivos psicometras que tateando qualquer objeto saturado do fluido pessoal de alguma ausente entram em relação com este alguém e vêem formar a sua visão subjetiva toda uma serie de imagens pictóricas mediante as quais se orientam em busca dessa pessoa ou esclarecem a seu respeito 

A observação inerente à corrente de magnetismo terrestre, que se perturbava ao atravessar uma cidade e constrangia o pombo a se orientar por sinais de referência, corrobora as suas próprias afirmativas, da existência dessa corrente magnética. 

Efetivamente, é o que deve suceder, sempre que uma corrente dessa natureza atravesse uma, zona de vibrações heterogêneas, perturbadoras, tais as que deve desprender-se de uma cidade industrial. 

Notarei, também, que, na iminência de um temporal, análoga perturbação deve produzir-se na corrente magnética, por força da saturação elétrica da atmosfera. 

Ora, como temos observado que grande número de pombos-correios se transviam nessas circunstâncias, todos estes dados mais não fazem que robustecer a afirmação da sensitiva, segundo a qual os pombos se orientam à custa de uma corrente magnética. 

Pudesse este fato ser cientificamente comprovado e teríamos, pela mesma lei, explicada a migração das aves, o maravilhoso instinto do ganso selvagem que, sem medir distâncias, larga-se em vôo reto das regiões africanas para as estepes siberianas, a fim de aí trançar o ninho. 

Dir-se-ia que, tal como faz o pombo-correio, esse ganso entra em contacto com uma corrente do magnetismo terrestre e veria, desse modo, surgir-lhe, à visão subjetiva, a imagem pictográfica da região que o espera e cuja imagem serviria para orientá-lo na direção conveniente. 

Maravilhosa solução de um dos principais mistérios do instinto animal, e ao mesmo tempo solução relativamente concebível, sobretudo aceitável, por causa da analogia que apresenta com o fenômeno incontestavelmente autêntico, do registro psicométrico, à distância, que suscita, também ele, visões pictográficas, a informarem o sensitivo do ambiente e das pessoas ausentes e distantes. 

Daí resultaria que o instinto migratório das aves poderia ser provocado por uma corrente nervosa e peculiar às mesmas, e que, em determinadas estações, despertasse para vibrar em consonância com as correntes magnéticas da Terra, tal como se dá com o instinto psicômetra, suscitado por uma corrente nervosa especial, que desperta em dadas circunstâncias, para vibrar em consonância com os fluidos vitais de outros indivíduos, vivos ou mortos ; ou ainda, talvez, com os traços dos acontecimentos a gravados num ambiente transcendental, que denominaremos com Myera - ambiente metaetérico. 

Encarando agora, sob outro aspecto, o fato aqui relatado, importa notar que na supradita análise psicométrica tudo quanto por sua natureza pôde ser controlado confirmativamente aos dizeres da sensitiva - a viagem do pombo por caminho de ferro, dentro de um cesto; seu traço característico de voar alto; o desvio conseqüente à circunstância de região a ele estranha; o fato de já ter sido capturado; o estado nebuloso do céu e até a existência dos dois gatos rondastes do pombal -; tudo se verificou com a mais perfeita exatidão. 

Somos, pois, levados a deduzir logicamente que as outras impressões psicométricas insuscetíveis de controle sejam igualmente verdadeiras. E ficamos confundidos ante o caso misterioso dessa sensitiva que se identifica com a débil mentalidade de um pombo, a ponto de viver da sua vida e experimentar as sensações, percepções e sentimentos emocionais ou afetivos, que angustiavam aquela minúscula personalidade na trajetória do seu retorno ao pombal. 

Mas este fenômeno da identificação completa dos psicômetras, com tudo aquilo que constitui para eles um objeto de relação, não se limita apenas aos seres vivos eu mortos, porque se estende às plantas e até a própria matéria inanimada. 

E ai que o mistério ai que torna mais desconcertante. Teremos ocasião de voltar ao assunto quando houvermos de comentar a experiência n° 8.

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