quinta-feira, 5 de julho de 2012

MEDIUNIDADE DE PSICOMETRIA - PARTE 5

ENIGMAS DA PSICOMETRIA 
ERNESTO BOZZANO 

V Caso - Eis um episódio tomado na série dos da Srta. Edith Hawtharne ( Light, 1904, pág. 197 ) . 

Desta feita à relação se estabelece com seres ínfimos da escala animal, tanto quanto com a essência íntima de uma planta. 

Aos 25 de março de 1904 o Sr. Jones enviava de Dudley um pequeno galho de árvore e a Srta. Edith o recebia no dia seguinte, à noite, para psicometrar na manhã de domingo 27, cerca de 11 horas. Logo que tomou às mãos o pequenino galho, diz: Que significa toda esta agitação? Por que assim vibra o solo sem cessar? 

Também as raízes desta árvore estão tremendo e vibrando! As minhocas espantadas correm ao longo das raízes e se esforçam para atingir a superfície do solo, através das suas galerias... Toupeiras e insetos outros como que percebem todas estas comoções e estão, também eles, estranhamente agitados! 

Um vago sentimento de pavor os empolga a todos, porém eles não dispõem de inteligência nem de meios precisos para de si mesmos escaparem ao invisível quanto indefinível perigo que os ameaça. Contudo, as toupeiras tudo envidam para se afastarem, na impossibilidade de conjurar o destino que sobre elas pesa. 

Por sua vez, a árvore, da qual foi destacado este galho, percebe os tremores do terreno. Não experimenta, porém, qualquer impressão consciente de temor, como acontece com as toupeiras, minhocas e outros vermes. 

(A propósito, escreve o Sr. Jones: Estas observações são curiosíssimas, porque, no domingo, 27 de março, às 16 horas, se verificou um desmoronamento do solo a 300 ou 400 jardas distante da árvore em apreço, isto devido a trabalhos subterrâneos dos mineiros. E portanto provável que os pequeninos animais referidos tenham experimentado os choques do terreno, oriundos das perfurações executadas no subsolo. Dai se colige que a sensitiva chegou a conhecer os fatos e o perigo cinco horas antes que o desmoronamento se verificasse e o público tivesse dele conhecimento.) 

Este pequeno galho contém, em si, um como sentido de turgescência que chega a atingir quase ao estado externo da gestação, mas não no sentido de gestação qual a entendemos. Também noto nele a impressão da seiva, que, dificilmente, consegue subir por pequenos canais imperceptíveis, e lobrigo em toda a árvore um sentido de trabalho penoso. 

(A árvore está realmente viçosa e começa a deitar os primeiros rebentos. - S. Jones) 

Não é muito alta nem muito copada, essa árvore. Tenho agora a intuição de frutos, estou num pomar. 

(Tudo absolutamente conforme. - S. Jones) 

O galho parece-me agitado, tremulento; a árvore afigura-se-me envolvida em atmosfera glacial, assomada por uma sensação de frio; as próprias raízes estão transidas, geladas. O terreno não é bastante quente nem restaurador, e, ao invés de facilitar as forças vitais que remontam do tronco aos galhos, antes se lhe torna em obstáculo. Solo frio e úmido retarda, assim, o crescimento da planta. 

(Efetivamente esse terreno não pode ser havido como favorável. É árido, frio, úmido. As raízes se estendem até à vizinhança de um poço cuja água está congelada durante a estação invernosa e faz tiritar a quem dele se aproxima. É claro que a água desse poço deve saturar todo o subsolo no qual se desenvolve a árvore em questão. - S. Jones) 

O interesse teórico suscitado por este caso não é menor que o precedente. 

Em primeiro lugar, notarei que a maneira por que a sensitiva começa expondo as impressões psicométrica é a melhor prova de que a sugestão e a auto-sugestão nada têm a ver com essas impressões. 

De fato, um galho de árvore não poderia sugerir, antes de tudo, a idéia de um solo agitado por tremores contínuos e o conseqüente espanto dos animais nele envolvidos. 

Detalhe estranho, cujo fundamento só se verificou 5 horas depois da observação psicométrica, é força concluirmos que a sensitiva entrara em relação com a árvore cujo pequeno galho se destacara, e, assim, igualmente com o ambiente dessa árvore, inclusive animais do subsolo. 

Esta indução se confirma pelo fato de não poder o Sr. Jones imaginar os estremecimentos do solo em correspondência com o galho remetido a psicômetra, e menos ainda as sensações dos bichos, em conseqüência de inusitadas vibrações. 

Tampouco poderia o Sr. Jones se identificar com a essência íntima de uma árvore, a respeito do seu vernal desenvolvimento, nem saber que ela crescia atrofiada em virtude da proximidade de fonte que lhe enregelava as raízes. 

Uma vez admitida à possibilidade de relações psicométricas, à distância, com as plantas e os animais, não seria mais admissível negar a possibilidade das mesmas relações com a matéria inanimada, ou, por melhor dizer: - com auxílio da matéria inanimada, de sorte a poder o sensitivo experimentar em si mesmo os estados diversos pelos quais passou essa matéria, tal como se dá com as vicissitudes funcionais de uma planta ou com as obscuras sensações de ínfimos animais. 

Digo relações psicométrica com auxílio da matéria inanimada e não que o objeto psicometrado conta a sua história, fazendo notar que existe entre as duas fórmulas teóricas uma diferença radical. 

Efetivamente, de acordo com a primeira, tratar-se-ia, ainda e sempre, de relações, ou seja que o objeto teria a virtude de estabelecer a relação psicométrica com o ambiente de origem, ou com um meio transcendental, análogo aos clichês astrais dos ocultistas, ou com as impressões no atrasa dos teósofos; ao passo que, conforme a segunda fórmula, teríamos de admitir, pelo contrário, e completamente, a hipótese dos professores Buchanan e Denton, da possibilidade de registrar a matéria constituinte do objeto a sua própria história e reproduzi-la, hipótese esta que peca por demasiado simplista e suscita retificação que a transforme em hipótese enunciada. 

Não quero, para o momento, senão de leve tocar neste árduo problema, para procurar desenvolvê-lo nos comentários do caso a seguir: 



VI Caso - Depois destes primeiros episódios cujos relatos psicométricos incidem em plantas e animais, chega à vez de relatar alguns exemplos de experiências feitas com a matéria inanimada. 

O caso seguinte foi extraído da obra do professor William Denton: Nature's Secrets (Segredos da Natureza) ou Psychometric Researches (Pesquisas Psicométricas), pág. 153, e intitula-se: A autobiografia de uma pedra. 

O valor probante deste episódio está em que a sensitiva, Sra. Elisabeth Denton, falou de certas condições de formação geológica que o professor Denton ignorava e cuja veracidade foi por ele posteriormente verificada. 

Por conseqüência, os fatos não se poderiam explicar pela hipótese dos romances subliminais, improvisados inconscientemente pelos médiuns psicômetras. 

Eis o que escreve Denton: 

Encontrando-me em Jaynesville, apanhei num monte de cascalho uma pedra escura, de aspecto característico e do peso de quatro libras, mais ou menos. Tirei dela uma lasca e apresentei-a a sensitiva, que tudo ignorava a respeito e nada podia adivinhar ou presumir pelo tato. 

Começou ela por dizer: Meu Deus! quantas convulsões da matéria aqui se ocultam! Não posso compreendê-lo... Tenho como a impressão de ser vomitada por um vulcão, envolta numa onda de lodo! Vejo a meu lado fragmentos outros de rocha bem maiores, posto que me sinta eu mesma bastante volumosa. Na verdade é a sensação mais estranha que tenho experimentado! Levada pelos ares em movimentos rotatórios, em torrentes de Iodo, sobrecarregada de enormes pedras... 

Apenas isto não se verifica de jato contínuo, mas, por séries; e assim vou com a massa, que comigo vai, espantosamente rolando... 

Estou agora depositada em qualquer parte, imota, mas os rugidos do vulcão repercutem mais formidáveis do que antes e cada um deles corresponde à emissão de novas torrentes de lavas candentes, que se espalham violentas por fora da cratera, até que uma onda de retorno me empurra no abismo... Oh! as fúrias infernais que al dentro se desentranham! Mas, eu não resvalo muito profundamente, de vez que outro ronco e nova avalancha eruptiva me arremessam às alturas... 

Em torno, tudo referve... Não sinto, contudo, os efeitos dessa combustão; fogo não vejo, e sim, unicamente, muita fumaça e fortes exalações gasosas. 

Eis-me agora depositada embaixo, no flanco da montanha. Transida! Ouço ainda os bramidos da erupção, o solo treme. Ai fico longo tempo; depois mergulho em profunda, tenebrosa cavidade! Envolvem-me a água e a umidade, estou como que enterrada neste abismo... Quando sairei dele? As águas se espalham, agora, com grande violência, e fazem-me rodar vertiginosamente. Agora, lenta, me desloco e avanço durante longo período de tempo... (Preciso abreviar o depoimento, de vez que abrange uma série interminável de séculos...) 

Enfim, vejo luz! Há uma extensa costa abrupta, que pende suavemente para as águas e eu sou nela lançada por formidável vaga, que se retira e me deixa em seco. Invade-me estranha sensação de passividade, uma disposição para deixar seguir as coisas a bel-prazer. Parece-me tudo tão estranho! alias, sinto que era, então, muito maior que agora... Depois, estou depositada no leito de um lago, não muito profundamente, porque distingo outras rochas acima de mim. Como são frias estas águas! O leito do lago entulha-se lentamente, devido a grandes pedras que para ele rolam. Esse lago está situado em região frigidíssima, pois que me sinto enregelada. 

(A sensitiva tirita violentamente de frio.) 

Sinto acima de mim alguma coisa que não é água, mas não consigo compreender o que seja. 

(Apesar de estar a alcova bem aquecida, a sensitiva aproxima-se do fogão.) 

Singular a minha falta de vista! Tenho algumas sensações... A partir do local em que me encontro, em direção à margem, a bacia é pouco profunda. Percebo agora que deve ser gelo o que sobre mim se encontra, por isso que deixa coar a luz. Vejo-me prisioneira desse gelo, e essa circunstancia, que me liga à massa infindável de minha clausura, confere-me a faculdade de ver a distancia de algumas milhas. 

A espessura do gelo é enorme, estende-se, compacta a perder de vista. Como é estranho tudo isto! O gelo move-se e eu com ele me movo, descendo lentamente para o Sul e parando de tempos a tempos. 

A camada superior tende, em sua marcha, a ultrapassar a camada inferior. Fato estranho para mim, que não posso compreender como, em massa de gelo assim compacta, a parte inferior desande mais lentamente que a superior. 

E uma coisa impossível e, todavia, não há como negar que assim seja, realmente. Mas, que frio horrível! E que estrépito horríssono, este da geleira em marcha! São estalos de rochas que se fendem, resvalamentos sobre areia, que só deveriam ser ouvidos de muito longe... 

Agora, sente-se que a temperatura suaviza-se rapidamente... Aumenta o calor, como que provindo de baixo. E funde-se o gelo, esgota-se, forma riachos... E funde-se verdadeiramente pelas camadas inferiores! É um fato que não posso compreender. Por outro lado, sinto que não descemos bastante ao Sul, para justificar esta mudança de temperatura. Parece que o gelo tende a libertar-me... Sim. Eis-me finalmente livre! Daqui descubro a geleira em toda a sua amplitude e confesso-me estupefata. Dir-se-ia uma série de colinas aprumadas a pique! Prossegue a fusão rápida e, à medida que se funde, a massa se desloca com maior rapidez. Estou, enfim, segregada desse movimento e já me não desloco senão ocasionalmente. . . 

Nesta altura o professor Denton adverte : - A sensitiva estava muito fatigada para prosseguir na experiência. Fora possível continuar e teríamos muitos outros detalhes. Todavia, o que aí fica é assaz interessante. 

Demonstra, a seguir, o professor Denton, que as declarações da sensitiva correspondem aos caracteres geológicos da região em que a pedra foi colhida, região literalmente coalhada de blocos erráticos, deslocados e depositados no local por descongelação de antiqüíssimas geleiras provindas do Norte. 

E não deixa de sublinhar também a autenticidade científica, do detalhe concernente à desigualdade de deslocamento das camadas glaciárias. Depois, acrescenta: Há uma passagem da análise psicométrica, que merece atenção especial: é aquela que se refere ao calor que, desprendendo-se de baixo para cima, provoca a fusão glaciária. O sítio no qual recolhi a pedra demora nos limites da região do chumbo... (Illinois, Wisconsin e Iowa). Hoje estou convencido de que o chumbo aí se inseriu de baixo para cima, no estado de vapor, atravessando camadas porosas e pedregosas, para depositar-se finalmente nos leitos de calcário magnesiano, onde se fixou. Tratar-se-ia, portanto, de depósitos formados por sublimação, numa época em que as rochas ainda se conservavam tépidas. Os indícios do fato são copiosos nessa região e o fato deve ter ocorrido num período em que os blocos erráticos aí se acumularam. As geleiras descidas do Norte e do Nordeste fundiram-se logo ao atingirem essa região geologicamente quente, nela deixando os seus detritos rochosos. E assim se formou esse montão de blocos erráticos ainda hoje existentes no Wisconsin, ao Norte da zona do chumbo.

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