quinta-feira, 5 de julho de 2012

DESENVOLVIMENTO MEDIUNICO - RISCOS E ABUSOS - PARTE 2

Perda e suspensão da faculdade mediúnica

Todas as criaturas possuem a faculdade mediúnica, em maior ou menor grau, todavia, considera-se médium aquele que traz consigo uma tarefa a desempenhar no campo da mediunidade.

A mediunidade qualquer que ela seja deve ser encarada como uma missão que Deus oferece à criatura. Os que empregam a sua faculdade de modo errôneo ou de má vontade, são médiuns imperfeitos que desconhecem o valor da graça que receberam. 

A mediunidade não e um privilégio, por isso, geralmente, os que mais necessitam são os que a possuem. Ela é concedida porque precisamos dela para nos melhorar, para ficarmos em condições de recebermos bons ensinamentos.

A suspensão da mediunidade é motivada por três causas:

1. Advertência - Objetiva provar ao médium que ele é um simples instrumento e que sem o concurso dos Espíritos nada faria. Geralmente ocorre quando o médium não está correspondendo às instruções dos Espíritos Superiores do ponto de vista moral e doutrinário.

2. Benevolência - Ocorre como um verdadeiro benefício ao médium por que evita que ele, quando debilitado por doença física, fique a mercê das entidades inferiores. Assim que volte ao seu estado normal e possa exercitá-la com eficiência a mediunidade retornará. Sendo assim, a interrupção da faculdade nem sempre é uma punição porque demonstra a afeição e solicitude do Espírito para com o médium.

3. Provação - O objetivo é o de desenvolver a paciência, a resignação e forçar o médium a meditar sobre o conteúdo das comunicações recebidas. Deve-se notar que a finalidade das comunicações é a de instruir as criaturas humanas de como devem se comportar na vida, a fim de evitar os percalços e deles saber tirar o bom resultado quando são inevitáveis. 
No caso de não mais funcionar a faculdade mediúnica, não significa que o médium encerrou sua missão, porque toda missão encerrada com sucesso é prenuncio para nova tarefa.

Ä História de um médium

As observações interessantes sobre a Doutrina dos Espíritos sucediam-se umas às outras, quando um amigo nosso, velho lidador do Espiritismo, no Rio de Janeiro, acentuou, gravemente:

"— Em Espiritismo, uma das questões mais sérias é o problema do médium...

— Sob que prisma? – indagou um dos circunstantes.

— Quanto ao da necessidade de sua própria edificação para vencer o meio.

— Para esclarecer a minha observação — continuou o nosso amigo —, contar-lhes-ei a história de um companheiro dedicado, que desencarnou, há poucos anos, sob os efeitos de uma obsessão terrível e dolorosa

Todo o grupo, lembrando os hábitos antigos, como se ainda estacionássemos num ambiente terrestre, aguçou os ouvidos, colocando-se à escuta:

— Azarias Pacheco – começou o narrador – era um operário despreocupado e humilde do meu bairro, quando as forças do Alto chamaram o seu coração ao sacerdócio mediúnico. Moço e inteligente, trabalhava na administração dos serviços de uma oficina de consertos, ganhando, honradamente, a remuneração mensal de quatrocentos mil réis....

Em vista do seu espírito de compreensão geral da vida, o Espiritismo e a mediunidade lhe abriram um novo campo de estudos, a cujas atividades se entregou sob uma fascinação crescente e singular.

Azarias dedicou-se amorosamente à sua tarefa, e, nas horas de folga, atendia aos seus deveres mediúnicos com irrepreensível dedicação. Elevados mentores do Alto forneciam lições proveitosas, através de suas mãos. Médicos desencarnados atendiam, por ele, a volumoso receituário.

E não tardou que o seu nome fosse objeto de geral admiração.

Algumas notas de imprensa evidenciaram ainda mais os seus valores medianímicos e, em pouco tempo, sua residência humilde povoava-se de caçadores de anotações e de mensagens. Muitos deles diziam-se Espíritas confessos, outros eram crentes de meia-convicção ou curiosos do campo doutrinário.

O rapaz, que guardava sob a sua responsabilidade pessoal numerosas obrigações de família, começou a sacrificar primeiramente os deveres de ordem sentimental, subtraindo à esposa e aos filhinhos as horas que habitualmente lhes consagrava, na intimidade doméstica.

Quase sempre cercado de companheiros, restavam-lhe apenas as horas dedicadas à conquista de seu pão cotidiano, com vistas aos que o seguiam carinhosamente pelos caminhos da vida.

Havia muito tempo que perdurava semelhante situação, em fase de sua preciosa resistência espiritual, no cumprimento de seus deveres.

Dentro de sua relativa educação medianímica, Azarias encontrava facilidade para identificar a palavra de seu sábio e incansável guia, sempre a lhe advertir quanto à necessidade de oração e de vigilância. 

Acontece, porém, que cada triunfo multiplicava as suas preocupações e os seus trabalhos.

Os seus admiradores não queriam saber das circunstâncias especiais de sua vida.

Grande parte exigia as suas vigílias pela noite adentro, em longas narrativas dispensáveis. Outros alegavam os seus direitos às exclusivas atenções do médium. Alguns acusavam-no de preferências injustas, manifestando o gracioso egoísmo de sua amizade, expressando o ciúme que lhes ia n’alma, em palavras carinhosas e alegres. Os grupos doutrinários disputavam-no.

Azarias verificou que a sua existência tomava um rumo diverso, mas os testemunhos de tantos afetos lhe eram sumamente agradáveis ao coração.

Sua fama corria sempre. Cada dia era portador de novas relações e novos conhecimentos.

Os centros importantes começaram a reclamar a sua presença e, de vez em quando, surpreendiam-no as oportunidades das viagens pelos caminhos de ferro, em face da generosidade dos amigos, com grandes reuniões de homenagens, no ponto de destino.

A cada instante, um admirador o assaltava:

— Azarias, onde trabalha você?...

— Numa oficina de consertos.

— Oh! Oh!... quanto ganha por mês?.

— Quatrocentos mil réis.

— Oh! Mais isso é um absurdo... Você não é criatura para um salário como esse! Isso é uma miséria!... .

Em seguida outros ajuntavam:

— O Azarias não pode ficar nessa situação. Precisamos arranjar-lhe coisa melhor no centro da cidade, com uma remuneração à altura de seus méritos, ou, então, podemos tentar-lhe uma colocação no serviço público, onde encontrará mais possibilidade de tempo para dedicar-se à missão... .

O pobre médium, todavia, dentro de sua capacidade de resistência, respondia:

— Ora, meus amigos, tudo está bem. Cada qual tem na vida o que mereceu da Providência Divina e, além de tudo precisamos considerar que o Espiritismo tem de ser propagado, antes do mais, pelos Espíritos e não pelos homens!... . 

Azarias, contudo, se era médium, não deixava de ser humano.

Requisitado pelas exigências dos companheiros, já nem pensava no lar e começava a assinalar na sua ficha de serviços faltas numerosas.

A principio, algumas raras dedicações começaram a defendê-lo na oficina, considerando que, aos olhos dos chefes, suas faltas eram sempre mais graves que a dos outros colegas, em virtudes do renome que o cercava; mas, um dia, foi ele chamado ao gabinete de seu diretor, que o despediu nestes termos:

— Azarias, infelizmente não me é possível conservá-lo aqui, por mais tempo. Suas faltas no trabalho atingiram o máximo e a administração central resolveu eliminá-lo do quadro de nossos companheiros.

O interpelado saiu com certo desapontamento, mas lembrou-se das numerosas promessas dos amigos.

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