ENIGMAS DA PSICOMETRIA
ERNESTO BOZZANO
Pela mente não me passava a idéia de tal teoria, quando se processava a análise psicométrica, e destarte é forçoso convir que foi a análise mesmo que sugeriu a teoria. Admitida esta, os sucessos descritos pela sensitiva deveriam ter ocorrido, efetivamente, não distante do lugar onde apanhei a pedra psicometrada.
Reconheçamos, por nossa vez, que as observações supra conferem valor científico à análise psicométrica da pedra.
Como os episódios verificáveis, análogos ao precedente, abundam no livro de Denton e em publicações outras do mesmo gênero, somos levados a deferir-lhes o valor de fatos, tanto mais quanto esses episódios não constituem senão um desdobramento racional de outros não menos maravilhosos, anteriormente relatados e rigorosamente autênticos.
Ora, se as noções registradas constituem fatos sempre que o controle se faz possível, não é lícito considerá-las sistematicamente como romances subliminais, todas as vezes que se verifiquem incontroláveis, e menos ainda quando os fatos não controláveis se mesclam de incidentes verificáveis e verificados, como sucede no caso precedente.
Como explicar esses fatos? Será verdade que o objeto conte a sua própria história ? Bem sei que a maneira dos sensitivos se expressarem e o desdobramento dos episódios provocam essa hipótese, mas, ajuntarei: há fatores que nos levam a formular reservas sobre este ponto. Esses fatores não são de molde a eliminá-la, mas levam-nos a retificá-la, tal como passamos a fazer.
As nossas reservas podem resumir-se em uma só objeção : se a hipótese mediante a qual a sensitiva haure diretamente nos objetos psicometrados os acontecimentos que revela é insustentável sempre que se trate de acontecimentos humanos, deverá então, e por isso mesmo, insustentável ser quando se trate de acontecimentos geológicos, paleozóicos, arqueológicos, verificados com o dito objeto.
Em suma : se no primeiro caso a hipótese é errônea, no segundo não poderia ser verdadeira; ou por outra: se os fatos naturais imprimem na matéria a sua própria história, o mesmo deveria dar-se com os fatos humanos.
Daí se segue que, se devêssemos considerar como demonstrado que este último fenômeno jamais se verifica,, teríamos conseqüentemente de opinar pela sua impossibilidade, em relação aos fenômenos de ordem material.
Impossível libertar-nos das duas pontas deste dilema, a não ser admitindo, ao menos parcialmente, que os acontecimentos humanos também registram a própria história na matéria, ou seja, que há igualmente circunstâncias nas quais o sensitivo extrai, da aura, do objeto psicometrado, uma parte dos acontecimentos humanos revelados, enquanto a outra parte (a inexplicável por esta hipótese, por atinente a acontecimentos anteriores à posse do objeto) seria tirada da subconsciência do consulente, graças à relação telepática estabelecida por intermédio do mesmo objeto.
Assim me exprimindo, não ignoro que este expediente, de recorrer a duas hipóteses para explicar um grupo homogêneo de fatos, aberra dos métodos de investigação científica; mas, confesso não ver como, de outro modo, evitar o inconveniente, quando as circunstâncias se apresentam, como neste caso, confusas e misteriosas, a mais não poderem ser.
Ao demais, não é impossível que as duas hipóteses possam, em última análise, reduzir-se a uma só hipótese, tal como demonstrarei dentro em breve.
Para o momento, não é ocioso perguntar a que outra hipótese se poderia recorrer, para não admitir a possibilidade do registro da própria história pelo objeto.
Neste caso, a única hipótese plausível e aplicável aos fatos de que nos ocupamos, seria aquela apelada para os fatos precedentemente expostos, mediante a qual, em todas as circunstâncias nos defrontaríamos com um fenômeno de relação telepática ou telestésica, à distância.
Apenas, com relação aos episódios precedentes, era sempre mais lícito imaginar que a relação se verificou, algumas vezes, com entidades falecidas, ou ainda com animais e organismos vegetais, ao passo que, no caso vertente, importaria supor que essa relação se estabeleceu por um processo supranormal de informações.
Pois que o seja. Mas, que processo, ou por que meio? Com que ambiência transcendental se verificaria, nesse caso, a suposta relação?
Evidente que, em tais circunstâncias, o enigma dessa relação surge infinitamente mais misterioso do que nos casos precedentes.
Nem deles se poderia fornecer explicação qualquer, senão utilizando as hipóteses por ocultistas e teósofos forjadas, os primeiros insinuando o postulado dos clichês astrais e os segundos o das impressões do akasa ; hipóteses audaciosas, sem dúvida, mas únicas capazes de explicar o mistério, de qualquer forma.
E como estas denominações correspondem, em suma, ao que Myers chama ambiente metaetérico, talvez fosse melhor nos atermos a esta última fórmula, que nos parece cientificamente mais aceitável.
Isto posta, vale a pena perguntar se não devemos encarar quase como uma necessidade metafísica esse postulado da existência de um ambiente metaetérico, receptor e conservador de todas as vibrações constitutivas da atividade universal.
Por mim, sou levado a responder afirmativamente, notando que, da mesma forma por que os físicos e astrônomos são levados a admitir que as vibrações luminosas percorrem o espaço infinito sem jamais se extinguirem, assim também se poderia admitir a persistência virtual de toda a forma de vibrações cósmicas.
E como, além de tudo, os estados da matéria e as vicissitudes dos organismos vivos se resumem numa sucessão de vibrações sui generis do éter, conclui-se que eles devem continuar a existir no estado virtual ou potencial, em uma ambiência qualquer - a chamada por Myers metaetérica - de onde os sensitivos poderiam extraí-los e interpretá-los, graças à relação estabelecida entre eles e a ambiência receptora.
Para nos servirmos de uma comparação, deveríamos dizer: assim como os imperceptíveis sinais impressos pela voz humana em discos fonográficos têm a virtude de evocar integralmente a voz que os produziu, logo que a agulha estabelece a relação entre o disco e o mecanismo motor, assim também as vibrações infinitesimais, impressas no ambiente metaetérico pelos adventos, teriam a virtude de evocar os mesmos adventos, desde que o objeta psicometrável estabelecesse a relação entre a subconsciência do sensitivo e o ambiente metaetérico.
Do ponto de vista científico e filosófico, esta hipótese nada teria de ilegítima.
Do ponto de vista metapsíquico, seria ela de natureza a explicar, até certo ponto, os fenômenos psicométricos da ordem dos que nos ocupam, sem que haja necessidade de recorrer àquela outra mediante a qual os objetas contêm a sua própria história.
Eu disse : - até certo ponto, de vez que, ainda assim, uns tantos detalhes ficariam em meia penumbra, assaz embaraçosa.
Não conseguiríamos avizinhar-nos da solução do enigma senão fazendo uma retificação a essa mesma hipótese; retificação que, aparentemente ligeira, não deixa de acarretar conseqüências teóricas imensuráveis, tanto do ponto de vista científico, quanto do filosófico. Consistiria essa retificação em supormos que o meio pelo qual os sensitivos entram em relação, ao invés de ser uma ambiência metaetérica, mais ou menos hipotética, seja o próprio éter.
Vejamos a que deduções nos levaria esta variante.
Sabe-se que o éter (que não é mais matéria, na acepção vulgar da palavra, de vez que não é atômico, não oferece resistência qualquer à translação dos astros nem está sujeito à lei de gravitação) ocupa os espaços interplanetários do Universo e interpenetra a matéria inanimada quanto os organismos vivos, o que vale admiti-lo como Onipresente. Ora, esta noção não pode deixar de impressionar a quantos tenham uma mentalidade filosófica, visto ser a Onipresença o primeiro atributo da Divindade.
Se houvermos de reconhecer, depois, que o éter tem a propriedade de receber e conservar todas as vibrações constitutivas da atividade universal, tê-lo-emos, assim, revelado Onisciente.
E a Onisciência é o segundo atributo da Divindade. Quanto ao terceiro atributo divino, que é a Onipotência, não é mais que uma conseqüência necessária dos outros dois, o que leva a pensar que o éter integraria em si todos os atributos da Divindade.
Uma vez chegados a este ponto, não nos restaria mais que deferir, logicamente, ao éter a Auto-onisciência, para que ele se tornasse Deus. E, na verdade, como recusar essa Autoconsciência a um Ser infinito, imaterial, portanto Espiritual, Onipresente, Onisciente, Onipotente? Não estão aí os atributos que filosófica e necessariamente se subentendem numa Inteligência infinita?
Daí se concluiria que os sensitivos-psicômetras entram em relação com um estado, com um aspecto, ou manifestação da atividade divina; conclusão que não deve ser havida por irreverente, pois se o éter interpenetra - como indubitavelmente sucede - todos os organismos vivos, Deus está, então, já imanente nas suas criaturas, ou, em outros termos, nós estamos em comunhão permanente com a Divindade. Seja como for, a teoria do Eter-Deus não é nova, pois remonta aos estóicos.
Os professores Lodge, Dolbear e o Doutor Cooney a ela se referiram recentemente, enquanto um escolástico anglicano, o Revmo. John Page Hopp, desenvolveu magistralmente o assunto com todas as suas conseqüências filosóficas e religiosas.
A aceitação dessa teoria teria como primeira conseqüência à conciliação dos sistemas materialistas e espiritualistas entre si, tornando inteligível e mesmo teísta a concepção de Hartmann sobre o Inconsciente Universal.
Mas, acima de tudo, ela traria o complemento necessário à grandiosa concepção monística, do Universo.
Reviveria, descarte, o sistema filosófico de Haeckel, sem que fosse preciso retocá-lo, a não ser para adicionar-lhe esta simples fórmula : - O ATER É DEUS.
Nestas condições, entre a hipótese em questão -, que, uma vez retificada, não deixaria de ser a que considera o objeto capaz de reconstituir a sua história - e a outra -, mediante a qual esse objeto nada revelaria, mas, tão-somente serviria para estabelecer a relação entre o sensitivo e as pessoas vivas ou mortas, ou ainda com a ambiência metaetérica. informadora -, a conciliação e a unificação se possibilitariam sobre a base comum da relação necessária à percepção e interpretação dos sistemas vibratórios, que interessam ao consulente.
De fato, assim como para evocar a história de uma pessoa viva é necessário apresentar ao sensitivo um objeto que houvesse pertencido a essa pessoa, sob pena de se não verificar o fenômeno, assim também, para evocar a história de uma pessoa morta é preciso um objeto que lhe houvesse pertencido, sob pena de não se verificar a relação com o Espírito desencarnado.
Do mesmo modo, para conhecer a história de um bloco de pedra, faz-se necessário um fragmento desse bloco, sob pena de não se poder estabelecer a relação entre o sensitivo e o meio etérico que registrou o sistema vibratório correspondente aos fatos perquiridos.
Resumindo: a conciliação e unificação das duas hipóteses consistiria no seguinte : que, no caso de objetos reveladores da própria história, não se trata, absolutamente, de matéria inanimada a revelar vicissitudes, mas sempre de um fenômeno de Relação telestésica, que se daria com o éter onipresente, e, por conseqüência, imanente no objeto psicometrado, o que é uma solução muito diferente da outra, posto não mude a manifestação aparente dos fatos.
Socorrendo-nos desta interpretação para aplicá-lo aos fenômenos aqui examinados, seria fácil conceber que, quando o sensitivo extrai do objeto o conhecimento das vicissitudes humanas, pode comportar-se de duas diferentes maneiras
- Retirando uma parte dos apontamentos da ambiência etérica contida no objeto, e
- Haurindo a outra parte na subconsciência do consulente.
Então, toda vez que o sensitivo revela incidentes produzidos durante o período em que o objeto esteve em poder do consulente, é força supor que não houve relação com a subconsciência do consulente, mas, tão-somente percepção e interpretação das vibrações etéricas, latentes no objeto; ao contrário, toda vez que o sensitivo revela episódios anteriores ou posteriores à posse do consulente, devemos pensar que uma relação telepática se produziu entre sensitivo e consulente.
Dito isto, parece-me haver nitidamente traçado as modalidades de uma manifestação fenomênica capaz de unificar as duas hipóteses concorrentes, isto é, que em todos os casos não deixa de haver uma relação telepática ou telestésica estabelecida, seja com a subconsciência de um vivo, com a entidade de um morto, com individualidades animais, com organismos vegetais, ou seja, finalmente, com o éter receptor e conservador dos sistemas de vibrações cósmico-psíquicas, que constituem a essência do Universo.
VII Caso - Este, respigamo-lo na obra já citada do professor Denton (pág. 169). O exemplo que ele nos faculta é análogo ao precedente, no qual o objeto conta sua própria história, com a só diferença das primeiras impressões da sensitiva se referirem às atuais condições da localidade de onde provinha o objeto psicometrado, para reportar-se depois a épocas mais prístinas, da sua história geológica.
Eis como se exprime o Senhor Denton
Juntei numa caixa vinte e quatro objetos diferentes, todos embrulhados em papel idêntico, de sorte que não pudessem ser distinguidos uns dos outros, ao menos pela visão normal.
A Senhora Denton tomou de um desses embrulhos, cujo conteúdo ninguém pudera adivinhar, e começou a descrever assim o que via e sentia:
Difícil me seria dizer se estou à superfície ou abaixo do solo. Parece que me encontro em uma caverna, mas a verdade é que não experimento arrepios de frio, próprios de tais lugares.
E se estou, de fato, em uma caverna, ela é bem espaçosa. Sim... Agora vejo que é precisamente uma caverna, posto que a denominação não se adapte muito bem ao nosso caso, ainda porque a luz solar aí penetra por larga fenda.
O que não compreendo bem é como pude aí penetrar, uma vez que me não sinto firmada no solo, antes tenho a impressão de flutuar na água. Em água também me parecem envolvidas as rochas circundantes. Agora, percebo, pouco a pouco, que o mar penetra pela fenda. Há, por dois lados, altas colunas de pedra. Caminhando para o interior, maior sombra...
Na entrada, as colunas eram curtas, não atingiam a abóbada. Que prazer o explorá-la num barco! Somos como que empolgados por uma sensação de grandeza e beleza que poucos sítios poderão, como este, oferecer.
A fenda é assaz larga e o mar a inunda inteiramente. As colunas não estão regularmente dispostas, mas também não são desiguais e de formas irregulares, como geralmente se dá com as rochas. Estas colunas lembram uma fotografia da gruta de Fingal (Escócia)
Diviso agora uma grande ave e ouço agudos gritos de outras muitas... Que poderão elas procurar sobre estas rochas nuas, onde não há traço de vegetação? Ah! vêm repousar sobre as colunas... Suponho que estas imensas abóbadas foram bem maiores e parece-me ouvir o terrível estrondo de sua queda no mar! A gruta curvava-se para a direita, até encontrar uma outra terra.
Era, então, de uma magnificência extraordinária e esta atual beleza mal se compara à do passado. Duas vezes mais ampla, então, o que aqui resta não é mais que o primitivo fundo.
Nas águas do mar, a certa distancia da costa, elevam-se ainda várias colunas que pertenceram à primitiva gruta. Nessa época, ao derredor, era tudo terra firme e acima dela se prolongava à gruta posterior e parcialmente desmoronada no mar. Conforme as minhas impressões, não foi ela coberta pelas águas e, sim, precipitada, posto que pudesse desagregar-se, em parte diminuta, pela ação corrosiva das vagas.
Os tremores de terra sacudiram terrivelmente e por longo tempo este solo agora estabilizado.
Eu como que o vejo emergir e submergir em toda uma vasta extensão.
Não sei como este fenômeno se me torna concebível, mas o caso é que o percebo.
Em torno da gruta existem várias ilhas, que são os últimos restos de um grande trato de terras agora submersas.
Algumas destas ilhas são picos de antigas montanhas... - Aberto o embrulho, verificou-se conter uma lasca de basalto, retirada da gruta de Fingal. (Ilha de Stafa.)
O professor Dentou, que jamais visitara essa gruta, houve de recorrer a obras especiais para certificar-se da identidade dos apontamentos e verificar que, se a sensitiva houvesse visitado em pessoa tais lugares, deles não daria mais exata descrição. Por outro lado, ele consultou uma monografia geológica sobre a ilha de Stafa e aí reconheceu que os sedimentos aluvianos existentes nas Hébridas, bem como a orientação de antigos restos de rochas, deixavam presumir que em épocas remotíssimas todas as ilhas do arquipélago deviam formar um corpo único, ligado ao continente, qual revelara a sensitiva.
Todavia, a opinião do autor da monografia diverge da expressa pela sensitiva quanto à causa da imersão dessas terras, atribuída pelo geólogo à ação corrosiva das ondas e não a cataclismo telúrico.
Para esclarecimento teórico deste caso, eu remeto o leitor aos comentários aditados ao caso precedente, que é da mesma índole, salvo a circunstância de ter tido o objeto psicometrado o efeito inicial de provocar na sensitiva a relação - por conseqüência à visão telestésica - com a região de sua proveniência.
Do ponto de vista probatório, é oportuno insistir na particularidade de estar o objeto psicometrado devidamente embrulhado em papel, e de haver sido tomado num grupo de vinte e quatro embrulhos idênticos.
Nem a sensitiva nem as pessoas presentes poderiam, portanto, adivinhar-lhe o conteúdo. O só fato de haver identificado imediatamente o objeto, é por si mesmo assaz notável.
Além disso, a descrição da sensitiva comportava informes ignorados do marido, e, entretanto, verídicos.
Quanto ao desacordo de opinião entre o geólogo e a sensitiva, no concernente à causa provável da imersão do terreno, confessarei que a mim me parece mais verossímil a hipótese da sensitiva.
VIII Caso - Tomei-o do precitado livro, à pág. 98. Trata-se de um incidente típico de visualização paleozóica, com identificação da sensitiva com o animal evocado.
Eis o que diz o professor Denton:
E a sensitiva responde: - Oh! não; para nós ela seria muito desagradável, absolutamente intragável. E dizendo-o, fez com os lábios um esgar de nojo.
O professor Denton assim comenta o relatório:
Destaquei de uma tromba de mastodonte um pequeno fragmento e facetei-o de tal modo que ninguém poderia reconhecer o que fosse. Seu diâmetro regulava 3/10 de polegada por 2/10 de espessura. A tromba tinha sido encontrada em uma escavação, a trinta pés de profundidade, por pesquisadores de minério de chumbo, nos arredores de Hazel Green (Wisconsin).
A sensitiva, Senhora Denton, sem que pudesse ver o objeto e dele formar qualquer idéia, começou por dizer:
- Tenho a impressão de tratar-se de restos de um animal gigantesco qualquer, talvez pedaço de um dente.
Reconheço-me um animal monstruoso, de pernas vigorosas, a cabeça algo tolhida nos seus movimentos e um corpo colossal.
Dirijo-me agora para as margens de um rio, a fim de nele me desalterar. As mandíbulas pesam-me tanto que mal posso falar. Também poderia dizer que marcho a quatro patas.
Ouço urros que me chegam das selvas e como que me sinto impelida a corresponder-lhes. Tenho as orelhas enormemente dilatadas, orelhas que se diria serem de couro; e, quando movo a cabeça, elas castigam-me o focinho. A pequena distancia existem animais idênticos a mim, porém muito mais velhos.
Sinto-me embaraçada para falar com estas pesadas mandíbulas de cor escura. Vejo um de meus semelhantes muito velho, que mal se pode locomover, bem como outros muito novos e todos formamos um rebanho.
Verifico poder mover de modo estranho, isto é, para cima, o lábio superior... Curioso, isto! Aqui há uma planta mais alta que a minha cabeça; o seu tronco é da grossura do meu braço, muito fibroso, adocicado e tenro, de sabor que lembra o do milho verde, porém mais doce.
Pergunta o professor Denton: É esse o sabor que a planta teria para uma criatura humana?
E a sensitiva responde: Oh! Não; para nos seria muito desagradável, absolutamente intragável. E dizendo fez com os lábios um esgar de nojo.
O Professor Denton assim comenta o relatório:
A completa identificação dos sensitivos com a coisa ou animal psicometrados, cuja influencia os penetra, constitui fato dos mais notáveis em nossas experiências.
Ele esclarece com luzes novas alguns dos problemas mais misteriosos da natureza.
Algumas formas de demência também apresentam essa condição do Espírito, a revelar-se dominado e quase suplantado pelas influencia que o invadem, a ponto de perder a consciência de si mesmo para transformar-se num instrumento inconsciente.
Posto seja o indivíduo quem fornece, sempre, as faculdades psíquicas, a influencia invasora dele se apossa e o governa, aniquilando-lhe à vontade.
Bem fundadas me parecem estas considerações do professor Denton, e nos casos precedentemente examinados já se nos deparou, com a Srta. Edith Hawthorne, o mesmo fenômeno de identificação da sensitiva com a delicada mentalidade de um pombo-correio.
Com a Sra. Elisabeth Denton, temos a identificação com as camadas de matéria, na análise psicométrica de uma rocha.
O Senhor Kensett Style, que fortuitamente descobriu em si mesmo faculdades psicométricas muito notáveis, diz a respeito
Quando comecei as minhas experiências, via as coisas como se as fitasse das alturas de uma torre ou de um balão.
Dessarte, não era sem maiores dificuldades que conseguia distinguir os detalhes...
À medida que me exercitava em novas experiências, dir-se-ia que me aproximava gradualmente das coisas, até o dia em que, com grande surpresa, me vi transformar na mesma pessoa que se procurava descrever. Devo confessar que as primeiras experiências eram para mim muito mais interessantes do que as últimas, pois eu contemplava, então, as coisas com olhos de uma criatura do século XX, garantida pelos conhecimentos atuais, ao passo que agora as vejo com olhos de quem, vivendo na época a que a transporta o objeto, não pode bem julgar o ambiente em que ele evolve.
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