domingo, 30 de dezembro de 2012

MENSAGEM DE FIM DE ANO



Motumbá meus amados leitores(as) sei que ando meio ausente do blog, mais é correria com meus animais de estimação, correia para o ILE ASÉ, mais hoje venho deixar aqui uma mensagem para o fim de ano.

MENSAGEM PSICOGRAFADA DE ANDRÉ LUIZ

Para ser feliz, próspero, vencedor, receber amores e dádivas, bênçãos e distinções, podes formular votos, tecer esperanças, alinhavar projetos, enumerar decisões, vestir cores certas, brindar à sorte. 

Porém, se no coração, o homem velho prossegue, se o ontem ainda te governa, se melhoras apenas te farão, mais forte no que te é dispensável,
então prosseguirás, ano após ano, imerso no mesmo tempo, estacionário,
por livre e espontânea vontade, de um eterno ano velho, passado.


Ter asas é Dançar na chuva... É plantar uma arvore... Ver a inocência nos olhos de uma criança... É ficar bem quietinho ao lado da pessoa amada... É subir uma montanha... É encontrar os amigos e não falar nada importante, Mas falar, falar muito... É cantarolar uma música antiga ... É arrumar as gavetas, e dar um monte de roupa para quem precisa... É andar sem rumo, só por andar... É falar sozinho... É sorrir para aquele velhinho lá da praça... É ficar sentado na cozinha, assistindo a mãe fazer bolo... 

Ah ! Ter asas é raspar a panela de brigadeiro com os dedo... É brincar 
É rir de si mesmo... É ter um lugar secreto bem lindo e fugir para lá de vez em quando... E ficar de bobeira... É tomar um banho de cachoeira, nadar em um rio... Ir para a praia, se cobrir de areia e pegar jacaré... Ter asas é viver intensamente as coisas simples e belas... Do dia a dia 

Ter asas é ficar em silêncio e ouvir dentro da gente, o deus emanuel 
É isso que desejo para o Ano Novo que está chegando... 

Que você tenha asas como das águias!!!! 

Que a lua e as estrelas emprestem um pouco do seu brilho, para iluminar o novo ano, e que deus nos dê "asas de águia" para voarmos bem alto na construção de um mundo melhor.

Esses são os sinceros votos da equipe BARA LONAN LEMBRANCINHAS.

FELIZ ANO NOVO

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Òsóòsì, Aplacou a Grande Mãe Ancestral



Aqui nesse espaço, já tivemos a oportunidade de discorrer diversas histórias relacionadas aos nossos Deuses, os Òrìsàs. 

Hoje vamos escrever uma das histórias daquele que é considerado o grande Patrono da Nação de Kétu, o grande caçador Òsóòsì.

Uma antiga história yorùbá, conta que Oduduwa, o grande rei da dinastia Nàgó, celebrava anualmente a "Festa do Inhame Novo", agradecendo a fartura das colheitas realizadas a cada ciclo. 

Nessa época, somente após a realização dessa grandiosa festa, é que era permitido o consumo daquilo que a terra oferecia ao povo. Fazendo um paralelo, essa festa é como o Pilão de Òsógiyán, que anualmente realizamos no Terreiro de Òsùmàrè.

Em uma dessas festas, o grande Rei Oduduwa, estava feliz e cercado por suas esposas. Todos os reis das cidades próximas a Ifé, chegavam e saudavam Oduduwa. 

No entanto, Ìyàmì, a grande mãe ancestral, descontente com aquele festejo, encaminhou à Ifé, um pássaro gigantesco, para amedrontar todos que se reuniam para comemorar a colheita dos inhames novos.

Quando aquele pássaro assustador começou a voar sobre Ifé, as pessoas entraram em pânico e começaram a correr amedrontadas. Oduduwa, por sua vez, mandou que trouxessem os melhores e maiores caçadores, para abater aquele pássaro que estava acabando com a sua festa.

Desse modo, da cidade de Ido, chegou Osotogun, o caçador de 80 flechas. Mesmo com todas as suas flechas ele não conseguiu atingir o pássaro encaminhado por Ìyàmì, acabando por falecer diante de todos. 

O mesmo aconteceu com o caçador de 40 flechas (Osotogi), que veio da cidade de More e com Osotadota, o caçador de 50 flechas, oriundo da cidade de Ilare. A medida que os caçadores morriam, a população ficava cada vez mais apavorada.

Por fim, Oduduwa mandou que chamasse de Irema, Osotokansoso, o caçador de uma única flecha. Ao saber que Osotokansoso estava à caminho de Ifé para caçar o pássaro que já havia matado três importantes caçadores, Ìyá Wunbanbá foi rapidamente consultar Ifá, para saber como seu filho poderia ter sucesso nessa empreitada.

Por meio do oráculo sagrado, Ifá disse que Osotokansoso estava caminhando para a morte, mas que, se a oferenda correta fosse realizada imediatamente, ele teria sucesso e seria reconhecido pelo povo pelo seu feito. 

Assim sendo, Ìyá Wunbanbá realizou a oferenda de uma Adiye, abrindo-lhe o peito e evocando as seguintes palavras: "Que o Peito dessa Adiye recebe essa oferenda". 

Nesse exato momento, Osotokansoso estava mirando sua flecha em direção ao poderoso pássaro. Contudo, Ìyàmì que comandava as forças do pássaro se distraiu para receber a oferenda feita por Ìyá Wunbanbá e, o caçador de uma única flecha, conseguiu aplacar aquele pássaro que aterrorizava Ifé, sendo aclamado por todos e por Oduduwa. Aquele que até então era desconhecido pela grande maioria, passou a ser popular, sendo chamado de Osowusi.

Esperamos, uma vez mais, ter contribuído para o esclarecimento e disseminação da Cultura dos Òrìsàs.

Que Òsùmàrè Araka, continue sempre olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

MENSAGEM DO DIA - FELIZ NATAL


Bom dia minha Gente! meu povo de fé e amados!!

Mais um Natal chegou , um dia que envolve o amor de nosso Senhor Jesus cristo!! que mais esse NATAL não seja em vão, que seja de nascimento de muitas coisas Boas em nosso ser, pois Natal representa nascimento, então que nasçamos para uma vida mais amorosa, mais tranquila, com mais solidariedade, mais amizade. 

Que os muros se quebrem e que se construam pontes, para acessibilidade de todos, que nossas mentes e corações sejam invadidos por esse amor infinito e único, chamado Jesus, esse que é razão dessas comemorações, esse que é razão de nossa existência, razão de tudo...

O meu desejo é que tudo o que este dia representa, tome conta de nós todos os dias de nossas vidas. Que uma onda de amor, respeito, tolerância, sensibilidade e fé, se propague e atinja em cheio os corações. 

Que haja reflexão, arrependimento. Que haja paciência, resistência, continuidade. Que a maldade alheia não nos confunda, não nos derrube. Que a fé seja diária. 

Que pensemos em Deus e na sua infinita sabedoria todos os dias, em todos os momentos. Que vivamos em paz com o mundo e com nós mesmos, porque dentro de nós existe um mundo e esse mundo necessita de paz para que possamos viver em paz.

FELIZ NATAL MINHA GENTE AMADA!!

2013 ESTAREMOS AQUI, JUNTOS E ESPERO QUE DIFERENTES , MELHORES COMO PESSOAS... 

MUITOS AQUI AINDA NÃO CONHEÇO PESSOALMENTE,APENAS UM CONTATO VIRTUAL,MAIS O AMOR, CARINHO E RESPEITO PODE TER ABSOLUTA CERTEZA QUE É REAL, QUE MAMÃE OXUM ESTEJA SEMPRE NOS ENVOLVENDO COM AMOR E DOÇURA QUE PROVÉM DELA!!

sábado, 15 de dezembro de 2012

UMA AMOSTRA DE AMOR AOS ORIXÁS

Motumbá meus irmãos e minhas irmas!

Hoje quero postar uma poesia simples mais de coração espero que gostem....



Quando os diferentes caminhos...
Se cruzam em um só no caminho de BARA...
Seja pelas forças dos ventos...
Ou pelas mansas águas doces...
Que caminham pelos rios...
Que descansam pelos lagos  de OBÁ...
Ou que despencam pelas cachoeiras de...
Águas que se encontram...
Num imenso e caloroso abraço...
Águas doces que se tornam salgadas...
Ao se tornarem uma só...
Na imensidão do azul do mar...
Águas que nos levam...
Em mares mais profundos...
Em horizontes nunca alcançados...
A desbravar um novo mundo...
Onde os ares da imensidão...
Nos fazem repousar...
Em lindos sonhos de paz...
Sonhos de criança...
Sonhos de menino-homem...
Sonhos de menina-mulher...
Sonhos que as aguas de OXUM...
Desaguam no mar de YEMANJÁ...
Sob o doce olhar de OXALÁ...
Salve! Oxala velho, OXALUFAN...
Salve! Oxalá novo, OXAGUIAN
Que passeiam pelo ar...
Sob os ventos de YANSÃ...
Eparrêi Senhora dos ventos...
Eparrêi Senhora das tempestades...
Que vossos fortes ventos...
Afastem de nós a maldade...
INTOLERÂNCIA E A DESIGUALDADE...
Assim como o fogo...
Que queima como justiça...
E os trovões gritam...
Num eterno brado de louvor...
Kawô Kabiecile...
O grande nome de XANGÔ...
Fogo que queima e funde...
Desde a mais simples madeira...
Ao mais fortes dos metais...
Onde as simples vigas...
São transformadas em armas forjadas...
Que incandescentes...
E manuseadas...
Se tornam fortes e imbatíveis...
Pelas mãos astutas de OGUM
Armas que se tornam flechas...
Lançadas por perfeitos arcos...
Que mesmo miradas...
Com uma única flecha...
Se alcança a vitória da caça...
Que nos sustenta em nossa fome...
Pelas forças de OXÓSSI que nos socorre...
Salve! a força das matas...
Salve! o segredo das folhas...
Salve! Euê-ô! Euê-ô! Euê-ô! OSSAIM...
Salve! A terra sagrada...
Que com sua força e vitalidade...
Nos livra das enfermidades...
Que como cobertos Mariwô...
Cobrindo nosso corpo da marca da dor...
Da marca da doença...
Salve! Pai OMOLU...
Salve! o grande Atoto!
Nosso grande interventor...
Como no céu aparece o Arco-Íris...
Representando a aliança das cores...
Saudando assim o grande OXUMARÊ Arroboboi...
Saudando também a grande EWÁ Hirró...
Com a alegria de IBEJI...
Que nos torna como crianças...
Ficando desta forma tão bela...
Como o príncipe LOGUN-EDÉ...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

13 DE DEZEMBRO DIA DOS MARINHEIROS



SALVE O POVO DA ÁGUA!!!

Eles chegam do mar e desembarcam em terra, sua alegria é contagiante, abraçam a todos, brincando sempre, com aquele jeito meio “maroto”, embriagado. São os Marinheiros, grupo de Espíritos que trabalham na Umbanda em prol da caridade.

Eles conheceram muito bem o mar e a navegação, pois participaram da descoberta de novos mundos através das viagens que empreenderam que duraram anos e anos.

As Entidade de Marinheiro trabalham na Linha de Iemanjá e também de Oxum, que compõem o chamado “Povo da Água”. Seus conselhos e mensagens são sempre cheios de esperança e de fé. Costumam trabalhar em grupos. São fortes, pois enfrentarem guerras e mares agitados, mas também conheceram a calmaria e a bonança.

Dão consultas, passes e também fazem trabalhos fortes de descarrego que envolvam grandes demandas. Em algumas casas, também costumam trabalhar nas giras de desenvolvimento de Médiuns.

Quando dão consultas, essa Falange costuma ir direto ao ponto, sem rodeios, mas também sabem como falar aos consulentes sem criar um clima desagradável ou de medo. Assim, conseguem atingir fundo as almas dos aflitos que costumam procura-los em busca de auxilio e de esperança.

Carregam consigo um sentimento profundo de amizade. Seus conselhos são sempre fiéis e certeiros, têm uma grande responsabilidade e assumem o compromisso de um trabalho bem-feito.

VAMOS REFLETIR?!!!!



Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis com o ambiente.

A senhora pediu desculpas e disse: - Não havia essa onda verde no meu tempo.

O empregado respondeu: - Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso ambiente.

- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

Realmente não nos preocupamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.

Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.

Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?

Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos.

Canetas: recarregávamos com tinta tantas vezes ao invés de comprar outra. Amolávamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.

Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Então, não é risível que a atual geração fale tanto em "meio ambiente", mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?

Agora que você já leu o desabafo, envie para os seus amigos que têm mais de 50 anos de idade , e para os merdas que tem tudo nas mãos e só sabem criticar os mais velhos.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Osanyin (Medicina) ou Orunmilá (Sacrifício)



Osanyin e Orunmilá eram inimigos e ambos divinizavam para o Rei. Mas tanto Osanyin como Orunmilá, queria provar quem era o mais poderoso dentre todos os Divinadores. 

Osanyin disse que ele era a própria Medicina e que ninguém era mais poderoso que a medicina e assim Osanyin desafiou Orunmilá (Sacrifício), dizendo que ele o Dono das Folhas, era o mais poderoso. 

Osanyin disse: “Se você Orunmilá é tão poderoso, não há porque recusar o meu desafio, vamos nos enterrar no chão e depois de 320 dias, as pessoas podem nos retirar”. Orunmilá aceitou o desafio, sendo acordada uma data para que os dois fossem enterrados, diante de todos da cidade.

Orunmilá ficou preocupado e buscou os Divinadores. Os Divinadores lhe disseram: “A pele que cobre o estômago, não deixa-nos ver os intestinos”. Você deverá realizar um sacrifício, com dois pedações de pano branco, com um rato gigante, com um grande caranguejo, com Ewure, Com Adiye e Eyele, você deverá ofertar 28.000 búzios do lado esquerdo, 28.000 búzios do lado direito e 28.000 búzios no centro. 

Os Divinadores informaram o que deveria ser ofertado e o que Orunmilá deveria levar consigo para ser enterrado. Orunmilá seguiu as orientações e realizou o sacrifício. Eles disseram que Orunmilá deveria preparar uma medicina (Oogun), que essa medicina ele deveria colocar debaixo de sua roupa, antes de ser enterrado. Ele deveria pegar os dois pedaços de pano branco e enrolá-los e também colocar debaixo da sua roupa, assim Orunmilá fez. 

No dia marcado, Orunmilá apareceu vestindo uma roupa bonita que lhe permitia esconder tudo o que os Divinadores mandaram ele levar. Orunmilá então foi enterrado. Tão logo ele foi enterrado, ele soltou o rato gigante que, começou a cavar até que formou uma pequena entrada de ar, fazendo com que Orunmilá não morresse sufocado.

Orunmilá fez o mesmo com o carangueijo, que começou a cavar em busca de água, quando achou, a água começou a gotejar no buraco, permitindo que Orunmilá a bebesse, não morrendo de cede. Isso aconteceu por longos 320 dias. 

Osanyin não sacrificou nada, ele também foi enterrado por longos 320 dias. Depois de 320 dias os moradores da cidade foram no local onde eles estavam enterrados, eles começaram a tirar a terra do buraco de Osanyin. Eles encontraras pedaços de louças, pedaços de ferro e trapos de pano, Osanyin havia morrido, seus filhos choraram a sua perda, falando: “Medicina Morreu, Medicina Morreu”.

Eles começaram a tirar a terra do buraco de Orunmilá. Quando Ornumilá ouviu o barulho, ele pegou os dois pedaços de pano branco que os Divinadores haviam mandado ele levar, ele desenrolou esses panos e se vestiu com eles. 

Quando acabaram de tirar toda a terra, Orunmilá surgiu com suas vestes brancas, as pessoas louvaram Orunmilá, Orunmilá era o mais poderoso. Seus filhos exclamavam: “Sacrifício Está Vivo, Sacrifício é mais poderoso que mediciona”!!!

Orunmilá imediatamente ordenou que lhe trouxessem um chocalho de Osanyin, um Pakun, um pássaro Kowe e um pássaro Awoko. Orunmilá preparou tudo, fez um poderoso encantamento e disse: “Utilizem esse chocalho, Osanyin irá responder”. Eles fizeram e Osanyin respondeu. 

Eles falavam e dançavam: Sacrifício é mais poderoso que Medicina!

Após esse dia, nunca mais ousou desafiar Orunmilá, o Grande Deus da Divinação.

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos!
Terreiro de Òsùmàrè

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Como Orunmilá, o Deus da Divinação, se Casou com a Filha da Deusa do Mar



Orunmilá queria se casar com a filha da Deusa do Mar. No entanto, ele sabia que outras 400 Divindades já havia tentado sem sucesso algum. Desse modo, ele consultou o oráculo a fim de saber como proceder. 

Na consulta, ele descobriu que deveria realizar uma oferenda para Èsù, sendo dois galos e 1 galinha (todos vivos), um rato, um peixe e duas bolsas grandes de esteira e búzios.


Orunmilá fez a oferenda e foi à casa da Deusa do Mar, levando consigo as duas bolsas de esteira. Quando ele chegou, Èsù piscou fazendo com que todos que olhassem Orunmilá o achassem um homem muito bonito.

Quando a filha da Deusa do Mar viu Orunmilá, se apaixonou por sua beleza, dizendo à sua mãe que, era com ele que ela queria se casar. A Deusa do Mar disse que 400 Divindades já haviam pedido para casar com sua filha, mas que ela recusou todos. 

Assim sendo, a Deusa do Mar queria saber como ele Orunmilá iria fazer para escapar da cólera das outras 400 Divindades. Orunmilá disse que a levaria embora e que ele resolveria como escapar das demais Divindades.

Conforme a Deusa do Mar havia anunciado, quando as 400 Divindades ficaram sabendo que Orunmilá iria se casa com a sua filha, elas ficaram inconformadas. 

Irritadas, elas cavaram um buraco esquerdo à casa da Deusa do Mar, cavaram outro ao lado direito e um à frente. Dessa forma, por onde eles saíssem eles ficariam presos.

Quando Èsù viu isso, ele pegou as oferendas que Orunmilá havia feito. Ele pegou os dois galos e jogou no buraco do lado esquerdo e outro no lado direito, fechando-os. No buraco feito à frente da casa da Deusa do Mar, Èsù jogou a galinha, fechando-o também. Assim Orunmilá e a Deusa do Mar, conseguiriam fugir.

Mas, precavidas, as 400 Divindades falaram ao barqueiro da cidade que, caso um Divinador tentasse atravessar o rio acompanhado de uma mulher, ele deveria chama-las imediatamente. 

Èsù avisou Orunmilá que por sua vez, pegou as duas bolsas feitas de esteira, colocando a sua futura esposa entre elas, formando um pacote único.

Ao chegar no barco, o capitão não chamou as 400 Divindades, pois ele só via Orunmilá e as sua grande mala. O capitão olhou para Orunmilá e perguntou a sua profissão. 

Ele disse que fazia bolsas de esteiras. Dessa forma, o capitão deixou ele entrar ao barco, levando-o para o outro lado da margem.

Ao chegar lá, Orunmilá desuniu as duas bolsas, fazendo surgir a filha da Deusa do Mar. Eles finalmente se casaram. Orunmilá cantava e dançava, dizendo que, não havia abismos ou dificuldades que o fizesse desistir do seu Destino.

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Respeito ao Òrìsà




Na postagem anterior, discorremos sobre a importância em se cuidar bem dos objetos, templos, comidas dos Deuses, etc. Em continuidade, vamos hoje abordar, algo ainda mais importante, que é cuidar e zelar pelo próprio Òrìsà quando manifestado em algum Omo Òrìsà.

Antes de tudo, devemos todos os dias agradecer por sermos abençoados por uma Religião, que permite presenciar fisicamente os Deuses nos quais acreditamos, os Deuses que tanto amamos. Apesar dessa "proximidade", não podemos jamais nos esquecer de que eles, os Òrìsàs, eles são Deuses.

A presença física do Òrìsà, por meio da incorporação, é algo muito importante e sagrado. É fundamental que não nos esqueçamos de que, aquela Divindade que está presente em um Terreiro, dançando e abraçando as pessoas, é a mesma Divindade para a qual realizamos sacrifícios, oferendas e, que muitas vezes, pedimos ajuda para que tenhamos sucesso, paz, harmonia e tranquilidade. É a mesma Divindade para a qual fomos iniciados, a mesma Divindade que nos encantamos ao conhecermos suas histórias e características.

Assim sendo, é fundamental tratarmos esses Òrìsàs como Deuses que são. Gestos simples, como prosternar-se ou abaixar-se diante do Òrìsà que irá lhe abraçar, não demonstra educação de Asè, demonstra sim, respeito por aqueles que verdadeiramente movem a nossa religião.

As Ekeji possuem um papel de fundamental importância quando o Òrìsà está presente fisicamente. As Ekeji cuidam e zelam pelos Deuses, enxugam, arrumam os adereços de suas vestes, etc. Mas esse carinho e atenção, todos devem ter. Pois os Òrìsàs são os grandes chefes do Candomblé. 

Mas o respeito é algo que deve existir mesmo quando não demonstrado. Algumas pessoas, desprovidas de fé, possuem o costume de dizer (ou imaginar) que uma determinada pessoa está de “Eke”, ou seja, fingindo a possessão. Isso é algo lamentável e deve ser reprimido. Devemos respeitar todas as Divindades que estão presentes e, jamais, desconfiar. Há também, pessoas que só acreditam nos Òrìsàs de “pé lavados”, ou seja, aqueles que dançam de forma mais harmoniosa. Sobre esses aspecto, todos nós devemos sempre nos lembrar que são Deuses e, Deuses não são julgados, mas sim julgam.

Quando for a um Terreiro de Candomblé, lembre-se: "Os Òrìsàs são os Deuses da nossa Religião", por isso, louve-os, aplauda-os, abrace-os, mas, sobretudo, RESPEITE-OS.

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos sempre
Terreiro de Òsùmàrè

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

CUIDE DE SEU ORIXÁ



Na Religião dos Òrìsàs, há um enorme conjunto de objetos, assentamentos e templos que devem ser cuidados, de modo que contribuam para o processo de revitalização da força, o chamado Asè. 

Fato é que o trato e cuidado, por exemplo, com as roupas que serão utilizadas pelas pessoas nos rituais festivos, são de grande importância, no entanto, perdem toda a valia, a partir do momento que o conjunto não recebe a mesma atenção dispensada que, por exemplo, as roupas.

Nós do Candomblé, ao pensarmos nos Òrìsàs, suas roupas, objetos, comidas e templos, devemos pensar que eles são Deuses e devem ser tratados como tal. 

Não é raro depararmo-nos com casas, nas quais as pessoas estão ricamente vestidas, mas que há tempos não entram no quarto do Òrìsà para trocar a água da quartinha ou trocar o Ojá que cobre a Divindade. Nesse sentido, não podemos em hipótese alguma, esquecermos que o Candomblé é uma religião com o poder da invocação e da sacralização. 

Dessa forma, é necessário que os Deuses sejam evocados e sacralizados e, reforçando, tratados como Deuses.

O trato com os assentamentos, como por exemplo, a reposição da água das quartinhas é algo muito importante. A água é um dos principais elementos que existe, muito provavelmente o principal. A água fertiliza, a água revitaliza, a água refresca e purifica. 

Mas quando um Omo Òrìsà vai ao quarto da Divindade para a reposição da água, além de cumprir esse importante ritual, ele em verdade, muito mais que ofertando, está recebendo. Nesse momento, no qual ele emprega um pouco do seu tempo para a troca de água das quartinhas, ele estará mais próximo do sacro, recebendo energias que são fundamentais para o processo de energização, não somente dele, mas de toda a comunidade. 

Mas, o simples ato de trocar a águas das quartinhas, permite algo mais. Nesse simples gesto, ele poderá perceber que um Ojá necessita ser trocado, ou ainda, que uma telha está desencaixada em razão da ação de algum galho de árvore, ou por conta da chuva. Isso fará com que outros membros da comunidade se mobilizem e, sejam igualmente energizados pelas forças das Divindades que os abençoaram, movimentando assim o Asè, imprescindível para nós. 

O mesmo cuidado deve existir com os Ojubó externos, que invariavelmente, sofrem com a ação do tempo, como a chuva e o vento. Obviamente que essas manifestações da natureza, são manifestações dos próprios Òrìsàs, apesar disso, o cuidado para que quartinhas estejam sempre bem cuidadas, mesmo quando expostas ao tempo, bem como, os Ojás que circundam as árvores é de responsabilidade de todos os membros do Egbe. Novamente, reforçamos que são objetos sagrados, de Deuses, que devem ser tratados de forma sagrada.

O Terreiro de Candomblé é um espaço sagrado e tudo que nele está, deve ser tido também dessa forma, assim sendo, todos devem estar atentos para que os espaços, objetos, assentos, estejam íntegros, pois isso interfere na harmonia da comunidade.

Imagine se você chega em casa e descobre que aquela caneca que você cuida há mais de 20 anos, que seu filho lhe presenteou, quebrou por descuido. Isso lhe causaria um sentimento de perda sentimental, correto. O mesmo ocorre com os objetos dos Deuses, muitas vezes, são objetos que existem a décadas, séculos, que devem ser tratados com amor e carinho, para não causar essa perda aos Deuses e para a comunidade.

Esse carinho que deve ser dispensado com os objetos e templos dos Òrìsàs, deve existir igualmente com a preparação das comidas dos Òrìsàs. Muitas pessoas afirmam que as comidas dos Òrìsàs devem ser preparadas da mesma forma como preparamos a comida para o nosso próprio consumo. Em verdade, o cuidado deve ser ainda maior, pois nós somos humanos e os Òrìsàs são Deuses. Por isso, além do corpo e coração purificados, quando da preparação das comidas, é essencial que exista o carinho, o asseio e a escolha dos ingredientes salubres.

Tudo isso contribui para a fortificação e revitalização do Asè da pessoa e da comunidade. É muito bonito nos depararmos com pessoas bem arrumadas (em conformidade a tradição), com boa educação, mas, sobretudo, é importante e empolgante observamos que as pessoas tratam os Òrìsàs como Deuses que são. Cuide de seu Òrìsà, pois você estará cuidando de si próprio.

Que Òsùmàrè Aràká continue sempre olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Aroni, A Divindade que Mora no Âmago da Floresta



Na magnífica Religião dos Òrìsàs, acreditamos que existe um conjunto de espíritos que moram no âmago da floresta. Esse conjunto de espíritos é chamado de Ajáà. Um desses espíritos e, talvez, um dos mais temidos é Aroni, que mora na parte mais escura da floresta, onde mesmo a luz do sol não consegue penetrar.

Acreditamos que ele guarda seus poderes em um pedaço de carvão vegetal, o qual ele usa para potencializar as propriedades mágicas das ervas. O conhecimento de Aroni acerca das propriedades mágicas e medicinais das folhas é gigantesco, prova disso, é que Aroni foi um dos mestres da botânica de Osanyin.

Aroni é temido até mesmo pelos Òrìsàs, primeiro pelo seu elevado conhecimento sobre a magia das folhas e, segundo, pelo seu aspecto inumano. Acreditamos que Aroni seja um espírito com cabeça e cauda de cachorro. Cremos, ainda que, em razão de Aroni sempre estar agachado à busca das ervas mais preciosas ele acabou ficando corcunda.

Existem histórias Nàgó que discorrem que quando alguém se atreve a entrar no âmago da floresta, sem oferecer as oferendas corretas e pronunciar os Ofós (palavras mágicas) corretamente, Aroni as toma para si. Nesse âmbito, Aroni pega essa pessoa que passa a morar com ele na parte mais escura da floresta e, com ele, aprende os segredos mais poderosos das folhas, sendo novamente devolvido para o convívio com a humanidade, somente após ter aprendido o uso e magias de todas as ervas.

Aroni fuma constantemente um cachimbo feito com a casca do Igbin, o qual ele também usa para potencializar as propriedades das folhas e encantar as pessoas que se deparam com ele.

Em verdade, a floresta é um lugar sagrado, mas muito perigoso e todo cuidado deve ser tomado ao adentrá-la, por isso, inúmeros preceitos são realizados para pode entrar na morada dessas Divindades. 

Esperamos uma vez mais, ter contribuído para o esclarecimento e disseminação da nossa rica e importante cultura.

Que Òsùmàrè continue olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O Culto aos Ancestrais e a Reencarnação no Candomblé



Em nossa postagem anterior, nós falamos um pouco sobre o culto a Ìyàmì, a grande mãe ancestral, hoje por outro lado, vamos discorrer sobre o culto aos ancestrais (Egúngún), por sua vez liderado por homens.

Na religião dos yorùbás, cremos que há vida após a morte e que os mortos podem retornar à terra através do Culto à Egúngún. 


De forma muito resumida, podemos afirmar que há o culto aos ancestrais “Lese Òrìsà” e o culto aos ancestrais “Lese Egúngún”. O primeiro é realizado nos terreiros de Candomblé – no Ilé Ibó Aku (casa de adoração aos ancestrais), em que os Sacerdotes de Òrìsà cultuam os ancestrais do terreiro, sem que exista a manifestação física desse ancestre. Esses ancestrais chamados de Esá são louvados e evocados em rituais como o Ipade e em cerimônias dedicadas à ancestralidade da Casa de Candomblé.

O segundo, por sua vez, ocorre nos chamados Terreiros de Egúngún, em que o Sacerdote do culto a Egúngún (Alapini, Alagbá e Ojé) cultuam além dos ancestrais daquele terreiro e da família, os ancestrais patronos de cidades inteiras, como ocorre, por exemplo, com Baba Ologbojo, patrono da cidade de Ogbojo na África, ainda hoje cultuado nos Terreiros de Egún da Ilha de Itaparica. Além disso, esses Sacerdotes, trazem à terra, esses Egúngún de forma física, ricamente vestidos com roupas coloridas.

Um Itán de Ifá, narra que na cidade de Oyo (África), existia um fazendeiro chamado Alapini. Esse fazendeiro tinha três filhos (Ojewuni, Ojesami e Ojerinlo). Certo dia, Alapini fez uma viagem e recomendou aos filhos que não comessem um tipo especial de inhame, haja vista ele deixar as pessoas com uma sede desmedida. Os filhos ignoraram a advertência e comeram em excesso o aludido inhame. Como já anunciado pelo Alapini, eles tiverem uma sede imensurável e beberam água até a morte. Quando do seu retorno, o Alapini deparou-se com seus filhos mortos e resolveu procurar um Babalawo. Através do jogo de Ifá, o Babalawo disse que no décimo sétimo dia da morte de seus filhos, o Alapini deveria ir até um bosque que havia perto do rio e pegasse um galho de Àtòrì. Nesse bosque ele deveria bater no chão três vezes o Isan (o bastão feito da árvore Àtòrì) e pronunciar certas palavras mágicas e chamar pelos nomes dos filhos "wa de" (venha), na terceira vez os filhos retornariam à terra e assim aconteceu.

Por isso, o sumo sacerdote do culto aos ancestrais é chamado de Alapini, pois o fazendeiro de nome análogo foi o primeiro homem a materializar um ancestral no aye. Diferente do culto a Ìyàmì, no qual, as mulheres são as grandes líderes, no culto à Egúngún, a liderança pertence aos homens. Há uma antiga história de Ifá, que nos explica a razão disso.

À época dos Òrìsàs, os homens eram os líderes de tudo. As mulheres, no entanto, resolveram punir os homens, mas sem nenhum critério ou limite, abusando desta decisão, humilhando-os. Yansan era a líder dessas mulheres revolucionárias que se reuniam em uma floresta. Oya havia domado e treinado um macaco marrom chamado Ijimere, utilizando para isso, um isan (galho da árvore "Àtòrì". Oya vestia o macaco com uma roupa feita de várias tiras de pano coloridas, de modo que ninguém via o macaco sob os panos. Conforme Oya batia o isan no solo, o macaco pulava de uma árvore para outra, movimentando-se de forma alucinante, como fora treinado por Oya. Deste modo, durante à noite, quando os homens por lá passavam, as mulheres que estavam escondidas, faziam o macaco aparecer e eles fugiam totalmente apavorados, pois acreditavam estar vendo um Egúngún. Cansados de tanta humilhação, os homens foram consultar Ifá através de um babaláwo, a fim de descobrir a causa de tamanha injúria. Através do jogo de Ifá, a farsa das mulheres foi desvendada. Ifá recomendou aos homens, alguns sacrifícios, sendo Ògún, o encarregado de reverter o cenário imposto pelas mulheres. Quando Ògún chegou ao local das aparições, vestiu-se com vários panos coloridos, ficando totalmente encoberto, escondendo-se atrás de uma árvore. Quando as mulheres chegaram, ele apareceu subitamente, correndo, berrando e brandindo sua espada pelos ares, todas as mulheres fugiram assustadas, inclusive Oya. A partir desse dia, os homens dominaram as mulheres e as expulsaram para sempre do culto aos ancestrais. No entanto, Oya Igbale, continua sendo a Divindade que os Egúngún respeitam.

Muitos desacreditam da manifestação dos ancestrais e isso aconteceu até mesmo com os Òrìsàs. Outra história de Ifá, narra que após o Alapini ter evocado presencialmente os seus filhos já falecidos, Sàngó mandou lhe chamar, pois não acreditava que os mortos podiam voltar do além.

Como Sàngó era o grande Rei de Oyo, o Alapini foi prontamente ao palácio, quando chegou lá, Sàngó disse que iria prender Alapini, pois ele dizia que tinha o poder de trazer os mortos do além e isso era uma grande mentira e que se ele realmente conseguia fazer isso, que fizesse diante dos olhos de Sàngó. Alapini respondeu que não poderia evocar os ancestrais diante de Sàngó, mas que sim era possível trazer os mortos do além. Sàngó então mandou que construíssem um quarto dentro do palácio e vistoriou toda a edificação, garantindo que não havia ninguém dentro dela. Sàngó pediu para que o Alapini entrasse no quarto e que se ele tinha realmente esse poder, ele evocasse os ancestrais lá dentro, pois Sàngó tinha certeza que não havia mais ninguém lá. Alapini pediu algumas coisas, como panos, espelhos e um Isan (a grande vara de atori). Sàngó pessoalmente entregou tudo ao Alapini, certificando-se que não havia truques. Feito isso, Sàngó trancou a porta e ordenou que Alapini evocasse os ancestrais. Pouco tempo depois, uma voz rouca começou a sair do quarto. Sàngó irritado, disse que se aquilo fosse um truque, o Alapini seria morto. Passado mais um tempo, o Alapini pediu que abrissem a porta, quando Sàngó abriu, saíram de lá o Alapini e Egúngún, vestido com os panos e espelhos preparados pelo Alapini. Diante disso e impressionado, Sàngó instituiu o culto aos ancestrais em Oyo (seu reinado) e, a partir desse dia, todos os Alaafin (rei de oyo), são empossados pelo Alapini, pois é ele que conhece a ancestralidade de Sàngó.

No Candomblé, o culto aos antepassados é tão importante que, mesmo antes de louvarmos os Òrìsàs, devemos render homenagens aos ancestrais, isso é ainda mais saliente nas casas antigas, em que já houve mais de um Sacerdote, sendo que o líder atual, sempre reverenciará aqueles que o antecederam. Nesse sentido, acreditamos que, quando uma Ìyálòrìsà ou Babalòrìsà falece, ele também servirá como conselheiro para os que o sucederão, no entanto, como ancestral, sendo muitas vezes consultado por meio do oráculo. Há um antigo provérbio yorùbá que diz: “Você só completará a sua missão, se cumprir a missão dos seus antepassados”.

Como exposto acima, no Candomblé nós acreditamos na vida além da morte, em verdade, cremos que a morte é o renascimento para todos. Nós cremos que, quando uma pessoa morre, ela parte para um dos espaços Orùn, a depender da sua conduta no Ayè (que também é considerado um dos Orùn, para os yorùbá).

Acreditamos na existência do Orun Rere (reservado para as pessoas que tiveram uma conduta exemplar no Aye), o Orun Alafia (local de grande paz e harmonia), o Orun Funfun (local da pureza), o Orun Baba Eni (local no qual cremos que residem os Sacerdotes), Orun Isalu (local onde as pessoas serão julgadas), Orun Apadi (local ruim, das coisas que não serão reparadas e que não serão restituídas à vida através da reencarnação), o Orun Buruku (o pior espaço, para onde vão as pessoas más) e o Orun Afefe (onde os espíritos permanecem e tudo é corrigido, e lá ficarão até serem reencarnados).

Desse modo, nós também acreditamos na reencarnação (Atunwa), mas como vimos, nem todos serão reencarnados. A viagem da vida (Ajolaiye) em sua amplitude, não é concedida a todos, mas quando isso ocorre, cremos que seja na mesma família. No Candomblé, quando existe a reencarnação, essa ocorre invariavelmente no mesmo seio familiar daquele que faleceu.

Nesse sentido, essa “sentença” de nascer na mesma família, serve como “premio” ou “punição”. Quando uma pessoa atingiu seu papel no aye, de forma benéfica, ele certamente contribuiu para a edificação de sua família, assim sendo, quando ele retornar para essa família, ele estará retornando para um ambiente que ele mesmo contribuiu para que fosse bom e isso será considerado um prêmio ancestral. No entanto, se ao invés disso, ele tenha causado problemas à sua família, ele retornará para um ambiente que ele contribui para que não fosse bom, sendo assim uma punição, no entanto, com uma oportunidade de virar o jogo.

Na África, essas crianças reencarnadas são descobertas pelo oráculo logo quando do seu nascimento, recebendo nomes que evidenciam isso, como por exemplo, “Babatunde” (o pai retornou).

Há um itan de Ifá, que discorre que uma pessoa só descansará eternamente no Orun, caso ela já tenha conseguido realizar todas as coisas boas que ela tinha que realizar no Ayé. Somente após isso ele poderá descansar, caso contrário, ela retornará ao Aye (Atunwa), para cumprir a sua missão. Isso tem como objetivo, atingir o equilíbrio máximo entre os Orun e Aye.

Nós da Casa de Òsùmàrè, esperamos ter novamente contribuído para o esclarecimento da nossa cultura.


Que Òsùmàrè Aràká, o grande patrono da nossa família, continue olhando e abençoando todos.

Terreiro de Òsùmàrè

Porque Obaluwaiye Usa o Azen



Obaluwaiye é, sem dúvidas, uma das Divindades mais adoradas no Candomblé da Bahia, prova disso, são as incontáveis manifestações dos filhos desse Deus no mês de agosto e as segundas-feiras de cada semana.


Apesar de toda essa devoção, muitas pessoas acreditam que Obaluwaiye usa o Azen (espécie de capacete feito de palhas da costa 
e búzios que lhe cobre todo o rosto), pelo fato dele ser um Òrìsà com algum tipo de deformação no rosto.

Esse equívoco teve origem em razão da própria história de Obaluwaiye, na qual conta que, em razão dele ter nascido com chagas, sua mãe biológica (Nàná) o teria abandonado ainda recém-nascido à beira de uma praia. Fato é que, ele realmente foi abandonado na praia e sofreu graves ferimentos no rosto por conta das aranholas que por ali estavam. 

Yemoja, a grande Deusa das águas, por sua vez, ao se deparar com aquela criança, a criou como se fosse seu filho. Essa história é, ainda hoje, narrada no Terreiro de Òsùmàrè, por meio de uma cantiga, que conta essa importante ligação de Obaluwaiye com Yemoja.

No entanto, muitos se esquecem de que Yemoja, por meio de uma erva sagrada, conseguiu curar todas as feridas oriundas das chagas e do ataque das aranholas, curando completamente as marcas que existiam no rosto de Obaluwaiye. Dessa forma, fica a questão: “se não há feridas para esconder, porque Obaluwaiye usa o Azen”?

Em verdade, além da sua inconteste ligação com a terra (afinal, Obaluwaiye é o dono da terra, à exemplo de Onilé) ele também é um dos donos do sol. No Candomblé, acreditamos que o brilho do sol que reflete do rosto de Obaluwaye é tão intenso, que é necessário que o mesmo seja coberto com o Azen. Além disso, o Azen devidamente preparado pelo Sacerdote ou pelo Asogba, tem o poder de controlar as forças de Obaluwaiye, que são intangíveis e perigosas.

Em razão disso, Obaluwaiye não usa outro tipo de adereço que não seja o Azen, sendo então, vedada a utilização de Ades e/ou máscaras. Isso explica, ainda, a razão do grande interdito acerca da Aranhola.

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos.
Casa de Òsùmàrè

ÌYÀMÌ




Hoje vamos falar um pouco sobre uma das mais importantes e perigosas Divindades do Candomblé, a grande mãe ancestral Ìyàmì. Essas grandes senhoras são, sem dúvidas, o maior símbolo do poder feminino da cultura yorùbá. 

Antes de tudo, é importante recordarmos que o culto às Mães Ancestrais, chegou ao Brasil, ainda à época da escravidão, sobretudo por meio de Maria Júlia Figueiredo, do Terr
eiro da Casa Branca do Engenho Velho, que possuía dois dos mais importantes títulos nas sociedades femininas yorùbá, o de Ìyálode (chefe entre as mulheres) e Erelu (supremo título feminino na sociedade Ogboni). É muito importante salientar o papel de Maria Júlia Figueiredo (Ìyá Omoniké), para a formação desse culto no Brasil, bem como os seus títulos honoríficos, trazidos da África, pois há quem erroneamente acredite que o conhecimento litúrgico acerca das Ìyàmì seja algo recente no Brasil.

Fato é que nas mais antigas e tradicionais comunidades de Candomblé da Bahia, o culto à Ìyàmì sempre existiu, no entanto, o respeito que existe em relação a essa Divindade fez e faz com que o seu culto seja restrito e não participado à maioria. A evocação dessa importante Divindade em rituais como o Ipade, bem como, os assentos mais que centenários existentes nos tradicionais terreiros, corroboram a constatação desse culto ter sido introduzido no Brasil, juntamente com o surgimento do Candomblé na Bahia.

Ìyàmì é tida como a perigosa feiticeira yorùbá, por isso recebe o nome de Ìyàmì Ajé (minha mãe a feiticeira). O medo e respeito acerca dessa divindade são tão significativos que, o seu principal nome (Osoronga), quase nunca é pronunciado nas Casas de Candomblé. Quando isso ocorre, a pessoa que está sentada se levanta, cruzando a barriga e nunca em sinal de respeito e reverência. O mesmo ocorre na cerimônia do Ipade, quando as filhas da comunidade cruzam a barriga e nunca, sempre que pronunciado o nome, por completo, da grande mãe ancestral.

O primeiro nome Ìyàmì, que significa “Minha Mãe”, antecede os diversos “apelidos” que são utilizados para mencionar a grande mãe ancestral, tais como o mencionado “Ìyàmì Osoronga” (que não deve ser pronunciado em momentos indevidos), “Ìyàmì Eleye”, “Ìyàmì Ajé”, “Ìyàmì Agba” dentre muitos nomes.

O poder de Ìyàmì é intangível e desmedido, ela é sem dúvida alguma, uma das Divindades mais poderosas do Candomblé e, essa é uma das razões para que as pessoas tenham tanto receio e medo em relação a Ìyàmì. No Ipade, Ìyàmì é louvada por meio de cânticos específicos que enaltecem as suas características e por meio de oferendas que apaziguam a sua cólera, fazendo com que exista o equilíbrio necessário para a realização das festividades.

Em momento algum podemos deixar de lado o perigo existente acerca de Ìyàmì, no entanto, não podemos igualmente deixar de recordar que Ìyàmì, é também, o próprio princípio genitor feminino, a representação máxima da ancestralidade feminina. Muitos dizem, de forma indevida, que Ìyàmì é uma divindade do mal. A verdade é que Ìyàmì jamais pode ser deixada de lado, isso sim desperta a sua cólera e seus aspectos mais perigosos.

Ìyàmì é o maior símbolo da ancestralidade feminina e a maior representação feminina é o ventre, simbolizado na cultura yorùbá pela cabaça (igba) e pelo ovo (eyin adiye). Ìyàmì é a grande dona do ventre, razão pela qual, muitas mulheres com dificuldade de engravidar recorrem a ela, para conseguir realizar o sonho da maternidade. Ìyàmì tem grande poder sobre toda a parte genitora, uma das reverências que as mulheres realizam para Ìyàmì, é justamente tocar a árvore sagrada dessa Divindade com a barriga, em sinal de respeito e clamando por proteção e filhos.

Os terreiros de Candomblé que colocam em suas portas ou assentos de Ìyámì, um pequeno alguidar com ovos e azeite de dendê, estão apaziguando a grande mãe e pedindo para que as intrigas, confusões e discórdias não adentrem ao terreiro. Como já mencionado, o ovo representa o ventre e, por consequência Ìyàmì, o azeite de dendê, diferente do que muitos acreditam, por sua vez, tem o poder de apaziguar, de trazer a calma (eró). 

Outro símbolo dessa poderosa Divindade é o pássaro, por isso, ela também é chamada de Ìyàmì Eleye (a mãe dona do pássaro, em especial, a coruja). Aqui em Salvador, é comum se ouvir das antigas egbon do Candomblé que, quando uma coruja (owiwi) canta, Ìyàmì está anunciando a sua chegada o que pode em muitos casos, ser um mau presságio. Quando isso acontece, elas imediatamente cruzam a barriga e nunca.

Muitas histórias discorrem sobre a ligação das Ìyàmì com os pássaros, com as penas das aves (Mãe poderosamente emplumada). Em uma antiga foto constante no terreiro da casa branca, Ìyá Júlia (Ìyá Lode, Erelu) aparece com uma pena de um pássaro na cabeça, mostrando novamente a sua ligação com o culto dessa Divindade. Ainda hoje, é comum veremos antigas egbon do Candomblé, carregando entre os cabelos, uma pena de pássaro.

Algumas historias de Ifá, ilustram que Ìyàmì tem o poder de se transformar em pássaro, empoleirando-se em algumas árvores como Iroko e Ajanrere. Esse, por sinal, é um dos motivos para que as pessoas não fiquem debaixo da copa de Iroko durante a noite, pois acreditamos que ela se esconde em seus grandes galhos.

Muito embora, grande parte do culto de Ìyàmì é destinada às mulheres, existe a dança de Gèlèdè, realizada por homens. Nessas danças, os homens prestam homenagem à Ìyàmì, com máscaras que simbolizam a própria imagem da Grande Mãe Ancestral. A dança realizada por homens, mostra de forma contundente que a mulher tem o poder da vida, pois todos são gerados no ventre feminino, todos nasceram de uma mulher, sendo fundamentalmente importante se curvar ante à poderosa mãe. No Brasil, a dança de Gèlèdè não perdurou, talvez pelo fato da supremacia da mulher nos terreiros e, ainda talvez, pelo forte culto à Egúngún, os grandes ancestrais masculinos, que diferente do culto à ÌYámì, tem quase que sua totalidade de rituais, liderados por homens.

Todas as mulheres e todas as Divindades femininas – principalmente Òsun, Oba, Yewa, Oya, Nana e Yemoja, possuem uma grande ligação com Ìyàmì. Cada uma dessas Divindades possui uma justificativa que ilustra sua ligação com Ìyàmì, mas o fato de todas serem mães e poderosas em suas sociedades, reflete de forma abrangente esses laços.

No Asè Òsùmàrè, à época das festividades de Òsun, existe um ritual carregado de simbolismo, na qual as mulheres do Terreiro carregam as águas para a árvore consagrada à grande e poderosa mãe. As mulheres do Terreiro, principalmente as Agba, dançam e cantam em homenagem àquela que representa o maior poder da mulher na sociedade Nàgó. Nessa ocasião, a nossa Agba, Mãe Walquíria de Òsun, que possui no Terreiro de Òsùmàrè, o título de Ìyálode, carrega a máscara consagrada à Ìyàmì, evidenciando-nos de forma contumaz a manutenção desse importante culto no Brasil.

Embora seja um ritual interno, realizado diante somente dos filhos da casa, é uma cerimônia muito importante para todos, pois revitaliza a importância da mulher e do poder feminino, remetendo-nos à mais pura essência da nossa cultura ancestral. É fundamental, ainda, pois apazigua os poderes dessas grandes mães, transformando sua energia num poderoso agente de proteção, seja para casa, seja para os filhos do egbe.

Obviamente, esse culto é cercado de segredos que não podem ser revelados aos não iniciados e, em momento algum, podemos esquecer que estamos escrevendo num ambiente que é aberto a todos. No entanto, mesmo com o cuidado de não participar o Awo (mistério) desse culto, nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos ter contribuído para o esclarecimento sobre essa importante Divindade do Candomblé, Ìyàmì Agba.

Terreiro de Òsùmàrè

O Filho de Osin, a Primeira Criança Surda e Muda



Uma antiga história, conta que Ifá havia orientado um poderoso Rei para fazer um sacrifício. Ifá disse que ele deveria realizar uma oferenda, para que a sua mulher que estava grávida, não tivesse nenhum tipo de problema com a criança que estava por nascer. Esse Rei (Osin), muito poderoso, ignorou as recomendações de Ifá e nada fez.

Passado algum tempo, a mulher de Osin, deu à luz, nascendo um menino. Esse menino foi chamado de “A Coroa Que Anda com Honra”. Ao longo do tempo, o Rei observou que a criança não falava nada, quando cresceu um pouco, descobriram que além de não falar, o menino também não escutava, tratava-se da primeira criança surda e muda que se tem conhecimento. O Rei fez de um tudo, mas o menino não falava e nem escutava.

O Rei levou a criança aos caçadores de búfalo. Quando lá chegou, os búfalos berraram diante do menino, mas ele não esboçava nenhum sinal. Eles, então, levaram a criança aos caçadores de elefante, mas nem assim o menino falava ou escutava. A tartaruga, então, disse que ele faria com que a criança falasse. O Rei prometeu que, se a tartaruga fizesse a criança falar, ele dividiria sua casa em duas e daria uma metade para ela.

A tartaruga consultou Ifá, que lhe disse que ela deveria preparar dois feixes de Atori com alguns elementos que ele lhe daria. Ifá disse que, ele deveria pegar bastante mel e levar em um caminho onde o filho de Osin sempre passava, explicando tudo que a tartaruga tinha que fazer, com aqueles Atori preparados. 

No outro dia, a tartaruga preparou os feixes de Atori conforme recomendação de Ifá, colocou ainda, bastante mel no caminho onde ele sabia que o filho de Osin passava e se escondeu atrás de uma árvore. Todos que passavam naquele caminho provavam o mel até que, passou o menino mudo e surdo. Quando o menino viu o mel, ele começou a provar se lambuzando todo. Nesse momento, a tartaruga pegou os Atori que estavam preparados e começou a golpear o menino, dizendo que ele era um grande ladrão e que deveria se envergonhar, pois era filho de um rei muito rico.

Após alguns golpes com os Atori preparados, o filho de Osin pela primeira vez em toda a sua vida, começou a chorar e depois disso, começou a falar. Tartaruga disse: “Você, filho de Osin, a partir de hoje pode falar e escutar e eu vou te levar para o seu pai”.

Quando chegou diante de Osin, a tartaruga falou: “Eis seu filho, poderoso Osin, falando e escutando”. Quando o menino começou a falar, Osin começou a chorar e disse: “Conforme eu prometi, metade da minha casa é sua”. A partir desse dia, o Rei Osin, começou a reverenciar a Tartaruga.

Que Òsùmàrè Àràká continue olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O Dia em Que Iroko Cresceu e Chegou Diante de Olofin, O Adahun, a Chamada dos Deuses!


Uma antiga história Nàgó, conta que Iroko era uma Divindade muito perigosa, que lutou muito, que sofreu, que se apaixonou e que em um certo momento resolveu deixar tudo para trás e ficou isolado no âmago de uma floresta africana, longe de tudo e todos.


Naquela época, existam dois amigos, mas que começaram a brigar e tornaram-se inimigos após terem comido o fruto da árvore da discórdia. Aquela briga, revoltou o grande Olofin, que resolveu mandar um grande temporal. Durante esse temporal ecoava um som, fazendo com que todas as Divindades fossem para o Orùn, esse era o som do Adahun. 

Todas as Divindades, à exceção de Iroko, que estava no âmago da floresta, foram para o Orùn e os demais habitantes, acabaram por morrer, por conta do dilúvio.

Òrìsà Nlá, o Santo dos Altos, foi até Olofin, dizendo que Iroko ainda estava na terra, pois ficou isolado no âmago da floresta. Olofin, então, mandou que chamasse Iroko por meio do som do Adahun e que não parassem até que ele fosse até o Orùn.

Após algum tempo, Iroko escutou o som e começou a crescer até chegar aos pés de Olofin. Nada no mundo, nunca havia crescido tanto ao ponto de chegar ao Orun. Embora o próprio Olofin tenha mandado chamar Iroko ao Orùn, ele não ficou contente em ter sua intimidade invadida por Iroko, sendo que ele cresceu tantos que ficou com sua copa nos pés de Olofin.

Em razão disso, Olofin quebrou os galhos da copa de Iroko, o cobrindo com uma grande núvem, dizendo que Iroko não poderia crescer mais do que aquilo, não permitindo assim, que ele novamente invadisse a sua privacidade.

Olofin entregou os galhos que quebrou à Òrìsà Nlá, juntamente com um pedaço de Alá branco (que representava a nuvem branca), dizendo que, a partir daquele momento esse Opá e o Alá, seriam as suas grandes representações.

Olofin disse à Iroko que, ele poderia sempre crescer e crescer, mas nunca ao ponto de chegar ao Orùn e que, a partir desse dia, um Alá deveria sempre estar envolto ao seu tronco, para que ele recordasse que a nuvem de Olofin o cobriu.

Olofin ordenou que Iroko voltasse à terra, mas para isso, fez as raízes de Iroko voltar do Orùn para o Aye, razão pela qual falamos que Iroko nasce do céu para terra.

Até hoje, no Terreiro de Òsùmàrè, entoa-se uma antiga cantiga que narra essa história e, por isso que, quando toca-se o Adahun, os Òrìsàs se apresentam.

Que Òsùmàrè Aràká, continue olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Importância da Folha de Teteregun



A Religião dos Òrìsàs é cheia de rituais e simbolismos. No entanto, a razão desses rituais nem sempre é de conhecimento da maioria dos adeptos.

Um dos rituais mais recorrentes no Candomblé, refere-se a folha de Teteregun, a qual é utilizada para molhar a cabeça dos Omo Òrìsà (filhos dos Deuses) e, em diversas outras ocasiões, pedindo-se sempre coisas boas.


Mas porque fazemos isso? Uma antiga história de Ifá, narra que, Teteregun não realizou uma oferenda prescrita por Olokun e, quem em razão disso, estava ficando completamente seca. Desse modo, Teteregun ficou desesperada e resolveu consultar o oráculo sagrado. Ifá, o Deus da Adivinhação, por meio do oráculo disse que Teteregun deveria realizar um sacrifício, sendo que esse sacrifício seria pegar água para Olokun, ao longo de alguns dias.

Logo ao amanhecer, Teteregun foi ao rio, quando Teteregun retornou já era noite, ela pegou toda água que trouxe e derramou no mar para Olokun. Teteregun fez isso ao longo de alguns dias, sendo que no último dia, Olokun molhou o corpo de Teteregun, dizendo que ela seria a folha encarregada de molhar o seco, que ela seria a folha com o poder de refrescar o calor, que ela seria a folha capaz de apaziguar a cólera, da mesma forma, como ela conseguiu apaziguar Olokun.

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos sempre

Terreiro de Òsùmàrè

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ajogun – Àqueles Que Lutam Contra A Humanidade





Nas últimas postagens, abordamos duas Divindades de suma importância, que estreitam os laços existentes entre o Orùn e o Aye (Ìyàmì e Egúngún). Hoje vamos falar um pouco sobre os “Ajogun”, que não são Òrìsàs (é importante que isso fique claro a todos), mas sim, espíritos malignos que tem como objetivo afetar a vida das pessoas no Aye. 

À primeira vista, muitos se apavoram em saber da existência de espíritos malignos que podem nos prejudicar. É fato que eles atrapalham a vida das pessoas, mas na concepção Yorùbá, esses espíritos fazem com que exista o equilíbrio natural, a simetria entre mundos e poderes. 

Isso é evidenciado, por exemplo, no jogo do Obì, no qual existe uma caída que reflete a harmonia perfeita, na qual duas faces internas do Obì caem voltadas para baixo e duas para cima, sendo que os sexos dos gomos do Obì caem divididos para baixo e para cima harmoniosamente. Na cultura dos Òrìsàs essa caída representa a simetria perfeita, pois o negativo e positivo estão em consonância, bem como o feminino e masculino.

Dessa forma, embora malignos e terríveis, a existência dos Ajogun motiva as energias positivas a circularem no mundo. Essas energias positivas são estimuladas por meio dos sacrifícios (Ebó) que são prescritos por Sacerdotes, que o revelam por meio do oráculo.

Os Ajogun são forças muito negativas, que tem como objetivo causar doenças, acidentes, brigas, discórdias. Por isso, quando há sacrifícios, é comum cantarmos pedindo para que a água (elemento mais puro e benéfico que existe) cubra e mate as discórdias (bomi pa ejo), cubra e mate as doenças (bomi pa arun), cubra e mate as maldições (bomi pa epe), etc. Em verdade, estamos pedindo para que a água cubra e mate os poderes malignos do mundo, os Ajogun.

Diferente das Divindades que moram nos espaços do Orùn, regressando ao aye por meio da manifestação, os Ajogun moram no Aye e não no orùn. Isso acontece, pois os Ajogun não conseguiram causar males no mundo dos Deuses. Ou seja, os Ajogun moram no aye, pois aqui, diferente do orùn, eles conseguem espalhar os males de forma indiscriminada.

Os Ajogun estão sempre à espreita, esperando um momento adequado para atuar. Por isso, é muito importante que as pessoas sempre se cuidem, por meio de oferendas, banhos e o que mais for necessário, conforme prescrição do Sacerdote.

Quando algo de ruim surge no mundo, por exemplo, uma nova doença, isso certamente foi motivado por Ajogun, entretanto, quando uma grande descoberta em benefício à sociedade surge, foi motivada pelas forças positivas que sempre prevaleceram, como os Òrìsàs.

Por diversas vezes, já discorremos sobre a importância da realização dos sacríficios prescritos, sobre a importância de não quebrar tabus (Ewó), uma das razões para termos falado bastante sobre esses temas, foi justamente para se entender que essas ações atacam os poderes dos Ajogun.

Quando, por exemplo, uma pessoa quebra um Ewó, ela está ajudando e dando forças ao Ajogun. O mesmo ocorre quando o sacerdote prescreve um sacrifício que é negligenciado, a pessoa está dando forças ao Ajogun.

Nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos uma vez mais, ter contribuido para o esclarecimento dos temas relacionados a nossa crença.

Terreiro de Òsùmàrè