segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O BOM YAWÔ HOJE


Ìyàwó, Iyawô, Yao ou Iaô palavra de origem yoruba, é a denominação dos filhos-de-santo já iniciados na Feitura de santo, que ainda não completaram o período de 7 anos da iniciação. Só após a obrigação de 7 anos ele se tornará um Egbomi (irmão mais velho). Antes da iniciação são chamados de abíyàn ou abian.
A pessoa passa a ser um Iaô após um período de vinte e um dias, recolhida no roncó (clausura
), quarto específico e apropriado para se fazer iniciações e obrigações, e passar por todos os preceitos necessários para ser um iniciado.
É durante os sete anos, que a pessoa vai aprender as rezas, as cantigas, os preceitos, os segredos só confiados aos iniciados do Candomblé.

COMPORTAMENTO DO BOM YAWÔ :

1- Não retrucar a mãe de santo. Você por acaso retruca seus avós?

2- Caso tenha algo para falar que não esteja concordando, discretamente peça um minuto da atenção da mãe de santo e exponha a situação civilizadamente, sem precisar que a torcida do Flamengo esteja assistindo. Dar um escândalo no meio do barracão não é postura de um filho de santo, e você ainda corre o risco de tomar um fora na frente de todo mundo.

3 – Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogãs, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é de bom-tom que os filhos se abaixem para dirigir a palavra à mãe de santo. Detalhe: Só atrapalhar a conversa caso seja EXTREMAMENTE necessário. Deve-se chegar junto à ela, mas não muito, e ficar abaixado esperando que ele pergunte o que deseja. Quando ele perguntar, comece sempre sua frase com “AGÔ”. “Agô, mas blá blá blá…”.

4 – Nunca, jamais, em tempo ou hipótese alguma, seja no seu barracão ou no barracão do alheio, deve-se sentar na mesma altura que sua mãe de santo. Ela já passou por vários sacrifícios para estar sentado confortavelmente ali. Você ainda está no meio do caminho. Portanto, pra que querer sentar aonde você não alcança?

5 – Yawo e abian não bebe nenhum líquido em copo de vidro dentro de seu barracão ou no barracão do alheio. Deve-se esperar o bom e velho copinho de plástico ou então a conhecida DILONGA, BAN ou CANEQUINHA DE ÁGHATA, como você preferir chamar. Copo de vidro só quem tem direito é egbomi, ekedi, ogan e zelador.

6 – Yawo e abian não come em prato de vidro ou louça. Apenas em pratinho de plástico ou ághata. Aliás, devemos lembrar que é de boa educação cada filho trazer seu devido pratinho de ághata e sua devida canequinha para seu uso pessoal no barracão.
7- Terminou seu ajeum? Pegue seu pratinho e sua canequinha, vá para cozinha e lave. Não cai a mão e nem coça, sabia? Infelizmente ainda não possuímos uma empregada que possa cuidar da limpeza geral enquanto nós descansamos.

8- Como dissemos no item anterior, não temos uma empregada para limpar tudo. Portanto, cada um deve se conscientizar e fazer a sua parte. Ficar protelando, esperando que algum irmão de santo se encha da bagunça e vá arrumar por você não tem cabimento. Cada um fazendo um pouco fica mais fácil e rápido.

9- Resolveu visitar a mãe de santo? Que maravilha! Ela adorará sua visita, ainda mais se você vier com uma modesta colaboração para o ajeum, pois como é do conhecimento de todos, a mãe de santo não é rica e nem tem obrigação de alimentar todo mundo. Madre Teresa de Calcutá já morreu, e definitivamente, ela não vira na cabeça da mãe de santo.

10-Ao chegar ao barracão, o procedimento correto é: a) Tomar seu banho e ir trocar de roupa; d) Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e pro pai de santo; e) Tomar a benção à TODOS os seus irmãos. Agora sim, caso não haja nada em que se possa ajudar (muito embora seja impossível, pois em uma casa de santo sempre tem algo a ser feito), você pode ir colocar seu tricô em dia

11-. Você trabalhou feito a escrava Isaura e se cansou? Acabou de fazer todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ e confortavelmente sentar-se nele. Como dissemos no item 5, cadeiras, sendo com ou sem braço, só ebomis, ekedes, ogãs ou zeladores que podem sentar. Existe uma variável do APOTI¹, que é a famosa ESTEIRA. Nela você pode se sentar, se espichar e até relaxar seus ossos. Ela é sua! Aproveite!

12- Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida uma refeição, você sai atacando o ajeum na frente de seus convidados? Acreditamos que não, né? Portanto, na casa de santo é igual. Antes os mais velhos devem se servir, pra só depois os abians e yawos se servirem. Isso é mais que uma regra, é etiqueta. E você não vai querer ser um deselegante, não é? Lembre-se: Estão sempre observando você…

13- Você gosta que fiquem pegando suas roupas emprestadas? Pois é, a mãe de santo também não gosta. Portanto, que tal ir comprar um belíssimo tecido de lençol e fazer uma baiana de ração básica pro dia-a-dia? Não sai caro e fica uma gracinha. E você finalmente pára de pegar a roupa do alheio emprestada. Não é maravilhoso? Todos na casa contentes e felizes com suas devidas roupas.

14- Quem traz dinheiro para o sustento da casa? Você é que não é. Portanto, trate muitos bem os clientes que vão para jogar ou se consultar, pois é deles que vem boa parte do dinheiro dali. Sorrir sempre e servir um copinho de café ou de água gelada não matam ninguém. Que tal tentar?

15- E vai rolar a festa! O povo do keto, do jeje, da angola e até da umbanda já mandou convidar. Mas, e o dinheiro para comprar o ajeum e o otí do povo? Com certeza o Carrefour não irá mandar as coisas de graça para o barracão, nem o homem dos frangos tão pouco irá dar os bichos e todo o material restante. Portanto, que tal se todos coçassem o bolso um pouco e ajudassem?

16- Você acha que só por este local ser uma casa de santo, a COPEL, LIGHT, SANEPAR,CEDAE, CEG, TELEGAS, entre outras, irão fornecer água, luz e gás de graça? É claro que não. Portanto, contribua sempre com a sua módica mensalidade. Economizar um pouco na Skol e no cigarro no final de semana já irá ajudar muito no barracão.

17- O mundo está em guerra, existe muita gente por aí passando fome. Portanto, por que desperdiçar comida? Fazer a quantidade exata só para quem trabalhou dignamente e contribuiu com este maravilhoso ajeum é o coerente, pois você não está no programa da Ana Maria Braga para comer de graça. Se você tem alguma sugestão, leve-a antes ao pai de santo. Espalhar a corrupção sobre a Terra era coisa da novela passada.

18- Ficou cansado depois da festa? Nada de ir pegando sua bolsa e ir saindo de fininho. Lembre-se da limpeza do barracão.

19- Roda de candomblé, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é lugar de ficar de cochicho e risinhos irônicos. Se você quer fuxicar, vá para um botequim.

20- Anágua encardida, só se for depois da festa do candomblé. Antes, NUNCA, JAMAIS, NEM PENSAR! Devem ser brancas como a neve, salve anágua de ráfia ou entretela.

21- Você, irmãozinho, que vê o mundo cor de rosa-choque com bolinhas amarelas, deve deixar esta sua visão progressiva e moderna do lado de fora do barracão. Ali dentro você tem que ver tudo branco. O mesmo vale para as coleguinhas que vêem tudo azulzinho. Casa de orixá é para louvar e cuidar do Orixá, e não para arrumar casório.

22- Vai rolar um churrasquinho de gato na casa do seu coleguinha no meio da semana, no mesmo dia de função do barracão? Então, peça para ele guardar uma garrinha de carne para você e venha cumprir suas obrigações junto a seus irmãos.

23- Se sua irmã de santo tem uma baiana mais humilde do que a sua nada de ficar xoxando. Lembre-se, o mundo dá voltas e o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Amanhã pode ser você com uma baiana de chita e ela com uma belíssima saia de rechilieu.

24- Caso assista fora do seu barracão a algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar xoxando e chamando de marmoteiro. Você não é o dono da verdade e nem ninguém o é. O que pode parecer maluquice pra você, pode não ser pro próximo. Além do mais, comentários sempre são feitos depois. Vai que tem alguém conhecido escutando?

25- Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre.

26-Respeito é bom e conserva os dentes. Portanto, deve-se pensar duas vezes antes de envolver a mãe de santo e irmãos mais velhos em determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e avacalhações são da porta do barracão pra fora. Além do mais, a próxima vítima pode ser você.

27- Roupa de barracão é saia comprida, camisú e pano da costa. Shortinhos e top’s devem ser usados somente pra ir ao baile funk.Roupa preta jamais nem na sua casa e nem na casa dos outros.

28- Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir. Nunca olhar no rosto da pessoa. Responder somente “sim” ou “não

29- Benção foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a benção, você está na realidade pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não à ela própria. Portanto, todos devem trocar a benção, mais velhos com mais novos e vice-versa.

30- Nunca deve fumar na frente da sua mãe de Santo…Principalmente no barracão.
APOT͹: A casa constantemente precisa de apotís. Nos grandes supermercados vendem higiênicos banquinhos de plástico. Coopere com a casa e leve o seu.

31- No barracão o yao não deve dormir em cama.

32- Se esta frio não deixe de levar seu cobertor, em qualquer situação leve sua toalha de banho ou deixe uma no barracão, depois de usá-la estenda..Ninguém tem obrigação de ficar recolhendo roupa de filho de santo que fica jogada pelos cantos. ( pior que ficam mofando)

33- Se você levou, uma roupa emprestada, que usou para lavar.Não esqueça de devolver.

34- Não deixem roupas que emprestaram do barracão jogadas pelo chão, é muito feio. Veja de onde foi tirada e recoloque no lugar assim que se trocar.

35- Vai ter festa que bom… 15 dias antes separe sua roupa engome o que for preciso…Deixe tudo ajeitado.No barracão pode não dar tempo de arrumar, nem de engomar então mãos a obra.

36- Se vc esta no barracão, dormiu lá..Antes de dar bom dia para alguém, vai direto ao banheiro lavar sua boca, para só então dar bom dia para as pessoas.

Cuidado com o que se fala - A Importância de saber o que pode e o que não pode ser dito.


A Religião dos Òrìsàs, sem dúvidas concentra uma gama inesgotável de conhecimento e conselhos. Um deles, é que devemos ter muito cuidado com o que falamos. Isso é muito forte na Cultura dos Òrìsàs, sendo que desde muito cedo, aprendemos que devemos falar pouco e observar muito. Abaixo, segue uma história que 
nos convida à essa importante reflexão.

Uma antiga história Nàgó narra que existia um Esquilo muito falante, que nunca soube guardar segredos. O grande Deus da Adivinhação, o avisou que ele deveria guardar para si o que via e ouvia, que deveria ter muito cuidado com o que falava para as pessoas, que não era tudo que se falava, que não era tudo que se comentava, que muito do que vimos e ouvimos devemos guardar para nós e não expor aos ventos. Mas teimoso, o Esquilo não seguiu os conselhos do Grande Sábio. Um dia, a esposa do Esquilo teve filhotes e, muito alegre ele não parava de falar à todos que passavam na estradinha na floresta: “Minha casa está cheia de filhotes, eu tenho filhotes!!! Eu tenho filhotes!!!”. O Esquilo repetia isso para todos os viajantes que passavam na estrada. Até que um deles, ao ouvir isso, entrou mata à dentro e achou a casa do Esquilo, roubando seus filhotes. Quando o Esquilo retornou, ele ficou apavorado, pois não encontrou mais os seus filhotes. Assim, ele procurou um Sacerdote, para saber o que deveria fazer para ter seus filhotes novamente. O Sacerdote lhe disse que nada poderia ser feito, que era tarde demais. Lembrou ao Esquilo que já havia lhe dito que deveria ter muito cuidado com o que falava e que sua boca havia sido a responsável pela morte dos seus filhotes.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Ògún Apaziguador?


Desde sempre, ouvimos histórias que contam sobre a personalidade enérgica e, muitas vezes violenta de Ògún. Dessa forma, poucas pessoas deixam de observar que mesmo o grande Guerreiro de Iré tem o seu lado apaziguador. Sabemos que as pessoas devem estar pensando, mas Ògún apaziguador? Sim, abaixo, transcrevemos uma antiga história Nago, que narra como Ògún amenizou o ânimo de du
as pessoas que brigavam por um peixe, tornando-se um homem próspero.

Ògún consultou o Orunmila, objetivando saber o que fazer para atingir a prosperidade. O grande Deus da Adivinhação, recomendou à Ògún que ele não se separasse de seu Alada (facão), pois esse facão lhe daria a prosperidade. Ògún foi orientado, ainda, que deveria comer bastante inhame. Ògún seguiu corretamente as orientações que lhe foram dadas, e não abandonou o seu facão. Após ter comido bastante inhame, Ògún ficou com muita sede e, resolveu ir ao rio para beber água. Ao chegar lá, Ògún viu dois homens brigando por um peixe que ambos falavam ter pescado. Ògún disse que eles deveriam resolver essa questão de forma civilizada, que ao chegar em casa, eles podiam dividir o peixe sem que existisse a necessidade de briga. Os homens não aceitaram a recomendação de Ògún, esclarecendo que um havia vindo do oeste e outro do leste. Ògún então, pegou o seu facão e dividiu o peixe em duas partes, entregando cada uma das metades a cada homem. Ao ver a habilidade de Ògún com o seu facão, os homens pediram à ele, que abrisse uma trilha com seu facão seguindo para o oeste e uma trilha seguindo para o leste. Assim Ògún fez e, foi recompensado pelos homens com grandes riquezas, pois evitou que ambos brigassem e construiu trilhas que beneficiaria a muitas pessoas de suas famílias. Desde então, quando Ògún partiu o peixe em dois, ele também chamado de Ògúndámeji.

Esse pequena história nos traz duas lições importantes. A primeira é que sempre devemos seguir as recomendações dos Deuses. A segunda, é que mesmo o enérgico Ògún pode ser apaziguador.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Porque Enfeitamos a Árvore de Iroko?



Já falamos sobre a roupa que veste Ògún, o Màrìwò. Hoje, vamos falar um pouco sobre a importante Árvore de Ìróko, na qual habita o Òrìsà do mesmo nome. É também, uma pequena homenagem a célebre Egbon Cidália de Iroko, que faleceu esse ano, e que teve um papel de importância singular para o Candomblé do Brasil.

Muitas pessoas que vão às festas de Iroko, observ
am com atenção os enfeites colocados nessa misteriosa árvore. Muitos acreditam que os enfeites são colocados para deixar a árvore mais bonita em suas festividades, mas a verdade é que, como tudo que há no Candomblé, os enfeites de Iroko não são colocados ao acaso.

Uma antiga história africana, conta que existia uma mulher chamada Oloronbi que não conseguia ter filhos. Ela sempre que passava diante de uma gigantesca árvore de Iroko dizia: “Oh Meu Pai, eu sou muito solitária, se o senhor me der um filho ou uma filha para eu não ficar mais sozinha nesse mundo, eu lhe darei uma cabra e azeite de dendê”.

Sempre que Oloronbi passava diante de Iroko ela repetia sua súplica. Iroko comovido com o sofrimento de Oloronbi, fez com que ele engravidasse. Oloronbi ficou muito feliz ao saber que estava grávida, mas esqueceu-se da promessa que havia feito a Iroko. Quando seu filho nasceu, ela todos os dias passava diante da árvore sagrada, sem sequer reverenciá-la. Iroko muito triste com o descaso de Oloronbi, resolveu tomar para si aquela criança, sendo que foi ele o responsável por ela ter engravidado. Desta forma, num dia em que Oloronbi parou diante da árvore de Iroko, à noite, para conversar, Iroko sem que ela percebesse chamou a criança para dentro do seu gigantesco tronco, cuidando dela.

Oloronbi ficou desesperada, pois não sabia o que havia acontecido com sua criança, procurando um Sacerdote de Orisa, para saber o que tinha acontecido. O sacerdote consultou o Deus da Adivinhação e disse que a criança de Oloronbi estava no tronco de Iroko, pois ela não realizou aquilo que havia prometido. O Sacerdote disse que ela mandasse fazer alguns bonecos e bonecas de madeira, como se fossem seus filhos e que, novamente parasse diante de árvore de Iroko, comentando que estava muito feliz por ter outros filhos e que, no momento em que Iroko fosse pegar os bonecos, ela teria a oportunidade de pegar sua criança e que no outro dia, fosse novamente diante da Árvore oferecer a cabra e o azeite que havia prometido, pedindo perdão a Iroko. 

Oloronbi fez o que o sacerdote havia recomendado, resgatando sua criança. No outro dia, Oloronbi ofertou a cabra e o azeite, enfeitando á arvore com os brinquedos, para que todos soubessem que se ela tinha conseguido uma criança, era pelas graças de Iroko.

Essa história mostra-nos duas coisas importantes, a primeira é que jamais devemos esquecer de nossas promessas e, a segunda é que jamais podemos ficar diante de Iroko a noite.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

O Preconceito Velado - A Profanação do Sagrado – Parte I



Nos últimos dias, estamos observando uma série de publicações com fotos no Facebook, das personagens Nina e Carminha, aludindo temas inerentes ao Candomblé. Uma delas, a que ilustra essa postagem, sugere que a personagem vivida pela atriz Adriana Esteves, seja uma filha da Deusa das Águas, obviamente de forma depreciativa à Deusa de Abeokut
a, haja vista o caráter infame da personagem da novela Avenida Brasil (da personagem e não da atriz, que fique claro).

Nesse sentido, essa “corrente” imprime ainda que de forma velada, o preconceito dos próprios adeptos do Candomblé acerca do arquétipo de Yemoja, contextualizado na alusão, de forma preconceituosa e errônea. Há ainda, a equivalência de Nina (Débora Falabella) à figura de uma Ìyálòrìsà, vez que a mesma (na foto) confirma o Òrìsà da desafeta.

Há aqui, em verdade, dois pontos importantes a serem destacados e, sobretudo, banidos. Ainda que seja uma “brincadeira” de gosto duvidoso, o primeiro é a profanação do sagrado. Vejamos; a comparação feita, é dizer de forma subliminar (ou não) que a Deusa do Mar, Yemoja, é desequilibrada e perigosa, sendo que esses são os traços intrínsecos da personagem Carminha, com a qual a mesma foi associada. O segundo ponto e mais lamentável, é a existência de pessoas que crêem nesse tipo de comparação, perfazendo sem dúvidas, um preconceito velado.

Sobre isso, é importante refletir. Podemos ser coniventes com esse tipo de visão? Nós mesmos, Candomblecistas, estamos divulgando isso na rede de forma alegre e, por vezes infantil. Nós mesmos estamos chamando Yemoja de louca, desequilibrada e perigosa. Vale salientar, que essa corrente viral não foi lançada pela emissora que transmite a novela, muito menos há esse tipo de correlação na trama em questão. Esse arquétipo foi atrelado à personagem pelas pessoas do Candomblé e não pelo autor, sendo que não há menção alguma a religião por parte das personagens.

Até quando vamos continuar profanando o Sacro? A mudança deve ocorrer de dentro para fora, nós Candomblecistas devemos ter uma conduta que enalteça nossa Religião, da forma como ela é. Não podemos ainda como se fosse uma brincadeira, em hipótese alguma, ridicularizar ou depreciar os nossos Deuses. É hora de acordarmos!

Na próxima postagem da série O Preconceito Velado - A Profanação do Sagrado – Parte II, vamos discorrer sobre personagem que ridicularizam o Candomblé e que muitas vezes, aplaudimos de pé.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

ERVAS DE NANÃ

ERVAS DO ORIXÁ NANÃ BURUQUE

Agapanto: É um vegetal pertencente a Oxalá, Nanã e a Obaluayê. O branco é de Oxalá e o lilás é da deusa das chuvas e do orixá das endemias e das epidemias. É também aplicado como ornamento em pejis, e banhos dos filhos destes orixás. Não possui uso na medicina popular.


Altéia – Malvarisco: Muito empregada nos banhos de descarrego e na purificação das pedras dos orixá Nanã, Oxum, Oxumar6e, Yansã e Yemanjá. Muito prestigiada nos bochechos e gargarejos, nas inflamações da boca e garganta.

Angelim-amargoso – Morcegueira: Pertence a Nanã e Exu. Muito usada em carpintaria, por ser madeira de lei. Folhas e flores são utilizadas nos abô dos filhos de Nanã. As cascas dizem respeito a Exu; elas são aplicadas em banhos fortes de descarrego, com o propósito de destruir os fluidos negativos.



Avenca: Vegetal delicadíssimo e mimoso. Tem emprego nas obrigações de cabeça e nos abô embora ela mereça ser economizada em face de sua delicadeza para ornamento. A medicina popular indica as folhas para debelar catarros brônquios e tosses.

Cedrinho: Este vegetal possui muitas variedades, todas elas pertencentes a deusa das chuvas. Sua aplicação é total na liturgia dos cultos afro-brasileiros. Empregado nas obrigações de cabeça, nos abô, banhos de corpo inteiro e nos de purificação. Excelente abô de ori, tonificador da aura. Em seu uso caseiro combate as disenterias, suas folhas em cozimento em banhos ou chá curam hérnias. É tônico febril rebeldes.

Cipreste: Aplicada nas obrigações de cabeça e nos banhos de purificação e descarrego. A medicina popular indica banhos desta erva para tratar feridas e o chá para curar úlceras.

Gervão: Além de ser folha sagrada de Nanã, também é Xangô. Sem aplicação nas obrigações rituais. A medicina caseira a indica no tratamento das doenças do fígado, levando suas folhas em cozimento adicionando juntamente raízes de erva-tostão. O chá do gervão também debela as doenças dos rins.

Manacá: Seu uso ritualístico se limita aos banhos de descarrego. Muito empregada na magia amorosa. Nesse sentido, ela é usada em banhos misturada com girassol e mil-homens. O chá de suas raízes é utilizado pela medicina caseira para facilitar o fluxo menstrual.

Quaresma – Quaresmeira: Esta arboreta tem aplicação em todas as obrigações de cabeça, nos abô e nos banhos de limpeza e purificação dos filhos da deusa das chuvas. Durante o ritual toda a planta é aproveitada, exceto a raiz. A medicina caseira a indica nos males renais e da bexiga, em chá.

Quitoco: Usada em banhos de descarrego ou limpeza. Para a medicina popular esta erva resolve males do estômago, tumores e abscessos. Internamente é usado o chá, nos tumores aplica-se as folhas socadas.

ORIXÁ NANÃ BURUQUE

A orixá Nanã Buruquê rege uma dimensão formada por dois elementos, que são: terra e água. Ela é de natureza cósmica pois seu campo preferencial de atuação é o emocional dos seres que, quando recebem suas irradiações, aquietam-se, chegando até a terem suas evoluções paralisadas. E assim permanecem até que tenham passado por uma decantação completa de seus vícios e desequilíbrios mentais. Nanã forma com Obaluaiyê a sexta linha de Umbanda, que é a linha da Evolução. E enquanto ele atua na passagem do plano espiritual para o material (encarnação), ela atua na decantação emocional e no adormecimento do espírito que irá encarnar. Saibam que os orixás Obá e Omulu são regidos por magnetismos “terra pura”, enquanto Nanã e Obaluaiyê são regidos por magnetismos mistos “terra-água”. Obaluaiyê absorve essência telúrica e irradia energia elemental telúrica, mas também absorve energia elemental aquática, fraciona-a em essência aquática e a mistura à sua irradiação elemental telúrica, que se torna “úmida”. Já Nanã, atua de forma inversa: seu magnetismo absorve essência aquática e a irradia como energia elemental aquática; absorve o elemento terra e, após fracioná-lo em essência, irradia-o junto com sua energia aquática.

Estes dois orixás são únicos, pois atuam em pólos opostos de uma mesma linha de forças e, com processos inversos, regem a evolução dos seres. Enquanto Nanã decanta e adormece o espírito que irá reencarnar, Obaluaiyê o envolve em uma irradiação especial, que reduz o corpo energético, já adormecido, até o tamanho do feto já formado dentro do útero materno onde está sendo gerado .

lEste mistério divino que reduz o espírito ao tamanho do corpo carnal, ao qual já está ligado desde que ocorreu a fecundação do óvulo pelo sêmen, é regido por nosso amado pai Obaluaiyê, que é o “Senhor das Passagens” de um plano para outro.

Já nossa amada mãe Nanã, envolve o espírito que irá reencarnar em uma irradiação única, que dilui todos os acúmulos energéticos, assim como adormece sua memória, preparando-o para uma nova vida na carne, onde não se lembrará de nada do que já vivenciou. É por isso que Nanã é associada à senilidade, à velhice, que é quando a pessoa começa a se esquecer de muitas coisas que vivenciou na sua vida carnal. Portanto, um dos campos de atuação de Nanã é a “memória” dos seres. E, se Oxóssi aguça o raciocínio, ela adormece os conhecimentos do espírito para que eles não interfiram com o destino traçado para toda uma encarnação.

Em outra linha da vida, ela é encontrada na menopausa. No inicio desta linha está Oxum estimulando a sexualidade feminina; no meio está Yemanjá, estimulando a maternidade; e no fim está Nanã, paralisando tanto a sexualidade quanto a geração de filhos. Nas “linhas da vida”, encontramos os orixás atuando através dos sentidos e das energias. E cada um rege uma etapa da vida dos seres.

Logo, quem quiser ser categórico sobre um orixá, tome cuidado com o que afirmar, porque onde um de seus aspectos se mostra, outros estão ocultos. E o que está visível nem sempre é o principal aspecto em uma linha da vida. Saibam que Nanã em seus aspectos positivos forma pares com todos os outros treze orixás, mas sem nunca perder suas qualidades “água-terra”. Já em seus aspectos negativos, bem, como a Umbanda não lida com eles, que os comente quem lidar, certo?

(Texto extraído do livro “O Código de Umbanda”, de Rubens Saraceni)



As Filhas de Nanã Buruquê

Deus gera em Si mesmo uma onda viva que estimula a evolução, e nela gerou dois Orixás, que são os regentes da irradiação viva que rege sobre a Evolução em todos os aspectos da criação e em todos os sentidos.

Então surgem Obaluaiyê e Nanã Buruquê, Orixás regentes da Evolução.

Obaluaiyê estimula a evolução e rege sobre as passagens de um estágio para outro. Já Nanã Buruquê atua como afixadora dos seres nos estágios em que estão, até que estejam livres das reações instintivas e dos sentimentos emotivos.

- Na Numerologia, Nanã Buruquê é número 6;

- Nanã Buruquê é aquática-telúrica;

- as filhas de Nanã são regidas pelos magnetismos venusiano (Vênus) e terráqueo (Terra);

- no positivo, as filhas de Nanã são calmas, conselheiras, orientadoras, religiosas, emotivas, muito simpáticas;

- no negativo, as filhas de Nanã são intratáveis, ríspidas, tagarelas, fuxiqueiras, vingativas e perigosas;

- as filhas de Nanã apreciam a boa mesa, companhias falantes e alegres, reuniões familiares e religiosas, pessoas que lhes dediquem afeto e respeito, e vestes multicoloridas;

- as filhas de Nanã não apreciam pessoas egoístas, mesquinhas ou geniosas. Não apreciam festas e reuniões agitadas, crianças peraltas, roupas espalhafatosas, desperdício, preguiçosos e exibicionistas;

- as filhas de Nanã se afinizam bem com as filhas de Yemanjá, Oxum e Obá, e com os filhos de Ogum, Xangô, Oxalá e Omulu.

(Texto extraído do livro “A Gênese Divina de Umbanda”, de Rubens Saraceni)

Pai Rubens Saraceni.