Oxaguiã (do iorubá Òrìşà Ògiyán) ou Ajaguna e em algumas grafias Oxodiã ou Oxanguiã é um orixá funfun jovem e guerreiro, tido como o Oxalá moço ou menino, cujo templo principal encontra-se no Ejigbô.
Foi a esse local que este orixá chegou, depois de uma viagem que o fez passar por vários lugares; num deles, Ikiré deixou um de seus companheiros que se tornou o opulento Òrìşà-Ìkìrè.
Chegando ao ponto final de sua viagem, tomou o título de Eléèjìgbó, rei de Ejigbô. Porém, uma característica desse orixá era o gosto descontrolado que tinha pelo inhame pilado, chamado iyán, que lhe valeu o apelido de “Orixá-Comedor-de-Inhame-Pilado”, o que se exprime em ioruba pela frase Òrìşà-jẹ-iyán e pela contração Òrìşàjiyánou Òrìşàgiyán.
Comia inhame dia e noite; de fato, o inhame era-lhe necessário a todas as horas. Dizem que ele foi o inventor do pilão para facilitar a preparação de seu prato predileto. Também, quando um elégùn desse orixá é possuído por ele, traz sempre na mão, ostensivamente, um pilão com alusão a sua preferência alimentar.
Esse detalhe é conhecido no Brasil pelas pessoas consagradas a Oxaguiã que, quando estão em transe durante suas danças, agitam com a mão, infalivelmente, o pilão simbólico. Além disso, a festa que lhe oferecem todos os anos chama-se “o Pilão de Oxaguiã”.
Por ocasião das cerimônias anuais em Ejigbô, a tradição exige que os habitantes de dois bairros da cidade, Oxolô e Oke Mapô, lutem uns contra os outros a golpes de varas durante várias horas.
Esta flagelação expiatória realiza-se todos os anos em presença de Eléèjìgbò, enquanto as mulheres consagradas ao orixá cantam os oríkì e batem no chão com o ìşán, varinhas de atori (Glyphea laterifolia), para os mortos, e faze-los participar da cerimônia.
Elas exortam Oxaguiã a fazer reinar a paz e a abundância em sua cidade e a mandar chover regularmente. Os axés do deus são trazidos da floresta sagrada, onde se encontra seu templo.
Terminada a luta, forma-se um cortejo, precedido por Eléèjìgbò. A multidão entra dançando no palácio, onde os axés ficaram por algum tempo. Depois, retornarão acompanhados por Eléèjìgbò e seu séqüito até o templo de Oxaguiã, em sua floresta sagrada.
A multidão enche logo a clareira, levando gamelas com oferenda de alimentos, onde figura em lugar de destaque, a massa de inhame bem pisada nos pilões e que será comida em comunhão com o deus.
Oxaguiã no Novo Mundo
O terceiro domingo da festa de Oxalá (veja Oxalufã), finalizando o ciclo das cerimônias, é chamado de “Pilão de Oxaguiã” e evoca as preferências gastronômicas desse personagem.
Distribuições de comida são realizadas em seu nome, a fim de festejar a volta do pai. Nesse dia, uma procissão leva ao barracão pratos contendo inhame pilado e milho cozido, sem sal e sem azeite-de-dendê, mas com limo da costa.
Pequenas varas de arorí, chamadas ìşán, são entregues aos oxalás manifestados, às pessoas ligadas ao terreiro e aos visitantes importantes.
Uma roda se forma, onde os dançarinos passam curvados diante dos orixás, que lhes dão, à passagem, um ligeiro golpe de vara; por seu lado, os que foram assim tocados dão e recebem, ao rodarem, golpes de vara da assistência.
Há, sem dúvida, nessa parte do ritual, reminiscência da luta de Ejigbô, no dia da festa de Oxaguiã.
Mitos de Oxaguiã
Um certo Awoléjé, babalaô companheiro e amigo de Eléèjìgbò (Oxaguiã), havia-lhe indicado o que deveria fazer para transformar a aldeia de Ejigbô, recentemente fundada, em uma cidade florescente.
Em seguida, dirigiu-se para outro lugar. Em alguns anos, a aglomeração tornou-se uma grande cidade, cercada de muralhas e fossos, com portas fortificadas, guardas, um palácio para Eléèjìgbò, numerosas casas, um grande mercado para onde vinham de muito longe, compradores e vendedores de mercadorias diversas e escravos.
Eléèjìgbò vivia em grande estilo e era costume, quando se falava de sua pessoa, disigná-lo pelo termo bajulador Kábiyèsi (‘Sua Majestade Real’). Ao cabo de vários anos, Awoléjé voltou e, embora babalaô, nada sabia da grandeza de seu amigo, o ‘Comedor-de-Inhame-Pilado’.
Chegando ao posto da guarda, na porta da cidade, pediu familiarmente notícias do Ojiyán. Os guardas surpresos e indignados com a insolência do viajante para com o soberano do lugar agarraram Awoléjé, bateram-lhe”. cruelmente e o prenderam.
O babalaô ferido vingou-se utilizando seus poderes. Ejigbô conheceu então anos difíceis: não chovia mais, as mulheres ficaram estéreis, os cavalos do rei não tinham mais pasto e outros dissabores.Eléèjìgbò fez uma pesquisa e soube da prisão de Awoléjé.
Ordenou imediatamente que o pusessem em liberdade e pediu-lhe para perdoar e para esquecer os maus-tratos de que fora vítima. Awoléjé concordou, mas com uma condição: ‘No dia da festa de Òşàgiyán, os habitantes de Ejigbô deveriam lutar entre si, com golpes de varas, durante várias horas’.