segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Porque Obaluwaiye Usa o Azen e Porque Existe o Ewó com a Aranhola?


Porque Obaluwaiye Usa o Azen e Porque Existe o Ewó com a Aranhola?

Obaluwaiye é, sem dúvidas, uma das Divindades mais adoradas no Candomblé da Bahia, prova disso, são as incontáveis manifestações dos filhos desse Deus no mês de agosto e as segundas-feiras de cada semana.

Apesar de toda essa devoção, muitas pessoas acreditam que Obaluwaiye usa o Azen (espécie de capacete feito de palhas da costa 
e búzios que lhe cobre todo o rosto), pelo fato dele ser um Òrìsà com algum tipo de deformação no rosto.

Esse equívoco teve origem em razão da própria história de Obaluwaiye, na qual conta que, em razão dele ter nascido com chagas, sua mãe biológica (Nàná) o teria abandonado ainda recém-nascido à beira de uma praia. Fato é que, ele realmente foi abandonado na praia e sofreu graves ferimentos no rosto por conta das aranholas que por ali estavam. 

Yemoja, a grande Deusa das águas, por sua vez, ao se deparar com aquela criança, a criou como se fosse seu filho. Essa história é, ainda hoje, narrada no Terreiro de Òsùmàrè, por meio de uma cantiga, que conta essa importante ligação de Obaluwaiye com Yemoja.

No entanto, muitos se esquecem de que Yemoja, por meio de uma erva sagrada, conseguiu curar todas as feridas oriundas das chagas e do ataque das aranholas, curando completamente as marcas que existiam no rosto de Obaluwaiye. Dessa forma, fica a questão: “se não há feridas para esconder, porque Obaluwaiye usa o Azen”?

Em verdade, além da sua inconteste ligação com a terra (afinal, Obaluwaiye é o dono da terra, à exemplo de Onilé) ele também é um dos donos do sol. No Candomblé, acreditamos que o brilho do sol que reflete do rosto de Obaluwaye é tão intenso, que é necessário que o mesmo seja coberto com o Azen. Além disso, o Azen devidamente preparado pelo Sacerdote ou pelo Asogba, tem o poder de controlar as forças de Obaluwaiye, que são intangíveis e perigosas.

Em razão disso, Obaluwaiye não usa outro tipo de adereço que não seja o Azen, sendo então, vedada a utilização de Ades e/ou máscaras. Isso explica, ainda, a razão do grande interdito acerca da Aranhola.

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos.
Casa de Òsùmàrè

ORIXÁ OXAGUIAN - QUALIDADE AJAGUNÃ





Oxaguiã (do iorubá Òrìşà Ògiyán) ou Ajaguna e em algumas grafias Oxodiã ou Oxanguiã é um orixá funfun jovem e guerreiro, tido como o Oxalá moço ou menino, cujo templo principal encontra-se no Ejigbô. 

Foi a esse local que este orixá chegou, depois de uma viagem que o fez passar por vários lugares; num deles, Ikiré deixou um de seus companheiros que se tornou o opulento Òrìşà-Ìkìrè.

Chegando ao ponto final de sua viagem, tomou o título de Eléèjìgbó, rei de Ejigbô. Porém, uma característica desse orixá era o gosto descontrolado que tinha pelo inhame pilado, chamado iyán, que lhe valeu o apelido de “Orixá-Comedor-de-Inhame-Pilado”, o que se exprime em ioruba pela frase Òrìşà-jẹ-iyán e pela contração Òrìşàjiyánou Òrìşàgiyán

Comia inhame dia e noite; de fato, o inhame era-lhe necessário a todas as horas. Dizem que ele foi o inventor do pilão para facilitar a preparação de seu prato predileto. Também, quando um elégùn desse orixá é possuído por ele, traz sempre na mão, ostensivamente, um pilão com alusão a sua preferência alimentar. 

Esse detalhe é conhecido no Brasil pelas pessoas consagradas a Oxaguiã que, quando estão em transe durante suas danças, agitam com a mão, infalivelmente, o pilão simbólico. Além disso, a festa que lhe oferecem todos os anos chama-se “o Pilão de Oxaguiã”.

Por ocasião das cerimônias anuais em Ejigbô, a tradição exige que os habitantes de dois bairros da cidade, Oxolô e Oke Mapô, lutem uns contra os outros a golpes de varas durante várias horas. 

Esta flagelação expiatória realiza-se todos os anos em presença de Eléèjìgbò, enquanto as mulheres consagradas ao orixá cantam os oríkì e batem no chão com o ìşán, varinhas de atori (Glyphea laterifolia), para os mortos, e faze-los participar da cerimônia. 

Elas exortam Oxaguiã a fazer reinar a paz e a abundância em sua cidade e a mandar chover regularmente. Os axés do deus são trazidos da floresta sagrada, onde se encontra seu templo. 

Terminada a luta, forma-se um cortejo, precedido por Eléèjìgbò. A multidão entra dançando no palácio, onde os axés ficaram por algum tempo. Depois, retornarão acompanhados por Eléèjìgbò e seu séqüito até o templo de Oxaguiã, em sua floresta sagrada. 

A multidão enche logo a clareira, levando gamelas com oferenda de alimentos, onde figura em lugar de destaque, a massa de inhame bem pisada nos pilões e que será comida em comunhão com o deus.

Oxaguiã no Novo Mundo

O terceiro domingo da festa de Oxalá (veja Oxalufã), finalizando o ciclo das cerimônias, é chamado de “Pilão de Oxaguiã” e evoca as preferências gastronômicas desse personagem. 

Distribuições de comida são realizadas em seu nome, a fim de festejar a volta do pai. Nesse dia, uma procissão leva ao barracão pratos contendo inhame pilado e milho cozido, sem sal e sem azeite-de-dendê, mas com limo da costa. 

Pequenas varas de arorí, chamadas ìşán, são entregues aos oxalás manifestados, às pessoas ligadas ao terreiro e aos visitantes importantes. 

Uma roda se forma, onde os dançarinos passam curvados diante dos orixás, que lhes dão, à passagem, um ligeiro golpe de vara; por seu lado, os que foram assim tocados dão e recebem, ao rodarem, golpes de vara da assistência. 

Há, sem dúvida, nessa parte do ritual, reminiscência da luta de Ejigbô, no dia da festa de Oxaguiã.

Mitos de Oxaguiã

Um certo Awoléjé, babalaô companheiro e amigo de Eléèjìgbò (Oxaguiã), havia-lhe indicado o que deveria fazer para transformar a aldeia de Ejigbô, recentemente fundada, em uma cidade florescente. 

Em seguida, dirigiu-se para outro lugar. Em alguns anos, a aglomeração tornou-se uma grande cidade, cercada de muralhas e fossos, com portas fortificadas, guardas, um palácio para Eléèjìgbò, numerosas casas, um grande mercado para onde vinham de muito longe, compradores e vendedores de mercadorias diversas e escravos. 

Eléèjìgbò vivia em grande estilo e era costume, quando se falava de sua pessoa, disigná-lo pelo termo bajulador Kábiyèsi (‘Sua Majestade Real’). Ao cabo de vários anos, Awoléjé voltou e, embora babalaô, nada sabia da grandeza de seu amigo, o ‘Comedor-de-Inhame-Pilado’. 

Chegando ao posto da guarda, na porta da cidade, pediu familiarmente notícias do Ojiyán. Os guardas surpresos e indignados com a insolência do viajante para com o soberano do lugar agarraram Awoléjé, bateram-lhe”. cruelmente e o prenderam. 

O babalaô ferido vingou-se utilizando seus poderes. Ejigbô conheceu então anos difíceis: não chovia mais, as mulheres ficaram estéreis, os cavalos do rei não tinham mais pasto e outros dissabores.Eléèjìgbò fez uma pesquisa e soube da prisão de Awoléjé. 

Ordenou imediatamente que o pusessem em liberdade e pediu-lhe para perdoar e para esquecer os maus-tratos de que fora vítima. Awoléjé concordou, mas com uma condição: ‘No dia da festa de Òşàgiyán, os habitantes de Ejigbô deveriam lutar entre si, com golpes de varas, durante várias horas’.