ENIGMAS DA PSICOMETRIA
ERNESTO BOZZANO
Dai resulta que, sem a presença de um hábil pesquisador, pronto a interrogar-me sobre assuntos importantes, não me fora possível aludir a muitos incidentes curiosos e concludentes, e, sem embargo, visualizados.
Se, por exemplo, me apresentassem um objeto proveniente da rua da Esquadra, de há 150 anos, eu não diria talvez nada em vendo cabeças humanas à porta das prisões do Tribunal, e isto pela simples razão de tal espetáculo lhe parecer naturalismo. (Light, 1909, pág. 20.)
Pelo que toca às condições psicológicas que engendram nos sensitivos esses estado de identificação, pode admitir-se o fundamento das observações de Denton, mediante as quais o fenômeno deve ser atribuído à sensibilidade dos psicômetras, que provocaria a dominação e obnubilação do próprio espírito, sob as influências que os invadem.
Se quiséssemos investigar ainda mais profundamente a razão dos fatos, poderíamos advertir que eles se originam, possivelmente, de um fenômeno de sintonização entre o sistema de vibrações, constitutivo da personalidade do sensitivo, e o sistema de vibrações contido na aura psicometrada.
Dever-se-ia então supor que, assim como fazendo timbrar uma corda harmônica ao lado de outra no mesmo tensivo grau, esta lhe corresponde em ressonância, assim também, quando um sensitivo entra em relação com a aura de qualquer objeto -, o que significa que ele conseguiu sintonizar o sistema de vibrações da sua própria natureza com o contido na aura que lhe interessa, pois de outro modo impossível lhe fora percebê-la e interpretá-la -, ele vibra em uníssono com o sistema de vibrações da aura com que se relaciona, o que vale dizer que sente em si todas as sensações organopsíquicas, ou os estados da matéria que contribuem para especializar o sistema de vibrações contido na aura psicometrada.
Ele deve, portanto, sentir-se identificado com a pessoa viva ou morta, com o ser animal, organismo vegetal ou matéria mineral, a que se refira a aura contida no objeto.
IX Caso - Nos comentários dedicados aos casos precedentes, fiz alusão às faculdades psicométricas do senhor Kensett Style.
Agora, aqui reproduzo um primeiro episódio deste gênero, por ele mencionado em conferência que pronunciou em Londres, na sede da Aliança Espiritualista (Light, 1909, pág. 37.)
Ao psicômetra freqüentemente se deparam numerosas dificuldades a vencer.
Temos, em primeiro lugar, a dificuldade proveniente de diversas influencia contidas no próprio objeto, e que se podem dividir em paralelas e superpostas.
Chamo paralela a influencia que se apresenta quando o objeto pertenceu a duas ou mais pessoas, ou quando composto de duas ou mais coisas diversas e reunidas.
Vou citar um exemplo desta natureza:
Possuo uma espada de Derviche, que serviu na batalha de Omdurmann. Quando a tomei nas mãos e lhe toquei pela primeira vez o punho e a bainha, tive a visão de um fanático barbudo, tez bronzeada, envolvido em ampla capa, e que, à frente de uma horda de muçulmanos, concitava os seus comandados ao extermínio dos infiéis.
Estou em crer que deveria esperar algo de semelhante.
Mas, eis que tendo desembainhado a espada e palpado a lâmina, tive uma visão bem diferente: vi o semblante de um homem que parecia haver chegado ao extremo limite do esgotamento físico e que, revestido de antiga armadura, de origem européia, estava perdido em deserta, imensa e arenosa planície.
Ajoelhado, tinha ele diante de si um espadagão de punho duplo, evidentemente para substituir uma cruz, tal como se praticava na Idade Média, ao utilizar qualquer sinal simbólico, para melhor se concentrar na prece.
A mim me parecia que aquela criatura se perdera no deserto, separado dos companheiros de armas e, desesperançado já de qualquer socorro, preparava-se para morrer como cavaleiro cristão.
Este mistério foi pouco depois aclarado por um amigo, que descobriu na espada, quase imperceptível, a marca de fabricação, graças à qual pudemos assegurar-nos de sua proveniência francesa, da época dos Túdores.
Neste caso, estimamos nela uma relíquia da última Cruzada, composta em sua totalidade quase que só de franceses, capturados ou exterminados pelos sarracenos.
Evidentes eram na lâmina os sinais de seu encurtamento, feito por quem a recolhera, reduzindo-a ao tamanho das espadas comumente usadas pelos maometanos.
Nesta narrativa do Senhor Kensett Style encontram-se vários outros fatos do mesmo teor.
Como lhes explicar a origem ? Em primeiro lugar é evidente que, para esclarecer o episódio do cruzado (concordando com a origem da espada psicometrada), não seria possível nos afastarmos muito da hipótese que leva a considerar o objeto capaz de contar a sua própria história. Nestas condições, se, de um lado a análise dos fatos leva a eliminar a primeira forma desta hipótese, autorizando a crer que a aura do objeto seria diretamente registrada pela matéria, por outra lado ele nos obriga a substituir essa primeira forma por qualquer das duas variantes, segundo as quais os sensitivos entrariam em relação com uma ambiência metaetérica, ou com o éter do Universo, que, devendo ser de natureza onipresente e, por conseqüência, imanente na matéria dos objetos psicometrados, receberia e conservaria os sistemas de vibrações correspondentes aos acontecimentos sobrevindos a seus possuidores.
X Caso - Podendo a teoria que atribui aos objetos a capacidade de revelar a própria história ser tida como fundamental para explicação de fenômenos psicométricos, convém examiná-la sob todos os seus aspectos.
Reproduzo aqui, destarte, um novo exemplo no qual se observa outra modalidade da fenomenologia.
Tomei-o de uma série de experiências da senhorita Edith Hawthorne, publicadas em Light (1903, pág. 173) .
Diz a Srta. Hawthorne
No outono passado recebi de presente uma secretária antiga, cujas gavetas não revolvi, até quinta-feira última, 11 de março. Ali encontrei uma coleção de relíquias guardadas por um ancião, entre elas um pedaço de pano de linho antiqüíssimo, do tamanho de algumas polegadas.
Um tal ou qual escrúpulo me impediu de condenar ao fogo esse retalho, bem como outros artigos insignificantes - obreias, lacre, etc.
Não obstante, a idéia de psicometrar tais objetos longe estava do meu pensamento, e só me veio horas depois.
Por que - pensava - não tomar este retalho de linho, a ver se ele me revela algum pormenor de sua história?
Pois aqui tendes a história:
Desde o instante em que o tomei, senti-me transportada à Abadia de Westminster, precisamente a um compartimento sombrio no qual mal se respirava.
Havia ali uma espécie de exposição ceroplástica, reconhecendo eu a rainha Isabel numa das figuras, vestida com magnífica saia de veludo recamada de esplêndidos enfeites.
E a mim me parecia entrever também o linho, debaixo da saia.
Vi, depois, surgir um esquife; depois, um carro funerário, e finalmente a numerosa comitiva de um enterro, que se dirigia lentamente na direção de Whitechall.
Levavam os homens coletes de lã e chapéus da época dos Tudores; as mulheres, saia curta e coifa...
A seguir, encontrei-me de novo no interior da Abadia, em pequena capela na qual vibravam acordes de música instrumental muito simples, com predominância de gaitas de foles e instrumentos de madeira.
Já meu pensamento se concentrava na morte de um homem jovem.
Pouco depois, vi-me na Torre de Londres, atravessei a Torre Verde, entrei na salinha da Torre Beauchamp, em cujas paredes se inscrevem tantos nomes.
Ali, estava um homem revestido em manto de parada, com colarinho de pregas.
Rosto oval, pálido, cabelos castanhos, curtos; fronte estreita e alta, mãos brancas, esguias, de unhas bem-cuidadas.
Esse homem lia um livro em pergaminho, cujas letras maiúsculas de cada alínea eram ricamente coloridas.
A minha impressão era a de que se tratava de um homem de letras. Vi que retirava do gibão um rosário e beijava-lhe a cruz.
Ao vê-lo assim, afigurava que estivesse profundamente acabrunhado pela morte de alguém.
De seus lábios como que brotava uma prece, enquanto com a mão esquerda estendida, na direção da Torre Branca, parecia indicar que para ali se dirigia o pensamento.
Agora, outra representação se me desdobra à vista: na profundez da noite, distingo pequeno batel à flor de um rio...
Um homem munido de archote desamarrou a corda que prendia o barco ao barranco, e vogava para Londres.
De novo na Torre de Londres e precisamente no compartimento redondo da pequena Torre!
Várias mulheres em corpetes de lã costuravam e conversavam em tom geral de tristeza, como se tratasse de luto, antes nacional que privado.
Dali me transportei a Cheapide, onde as casas me fizeram evocar decorações teatrais.
Reconheci-me, então, na loja de um negociante de fazendas, às voltas com duas freguesas, e ouvi distintamente as palavras Bretanha e Saxe.
Logo imaginei que a fazenda que procuravam comprar provinha dessas duas regiões.
Ambas as freguesas pareceram-me tristes, mas não angustiadas. A seguir, vi-me num compartimento escuro e frio, saturado do cheiro de vinagre misturado com algumas plantas aromáticas, e tive arrepios de pavor ao pressentir a proximidade de um cadáver.
A cena mudou, ainda uma vez, e vi aparecer um carro fúnebre, sobre o qual se estendia, deitada, uma figura de cera principesca amortalhada, e toda uma multidão formigante, em torno. Finalmente, atravessei os subterrâneos da Abadia de Westminster, aonde me chegavam, de longe, as vozes solenes de um órgão e onde movimentavam algumas mulheres ocupadas na arrumação e limpeza de poeirentas roupas, que me fizeram espirrar fortemente. Aquela poeirada secular sufocava-me!
Sentia na boca um gosto de cânfora, sândalo e substancia outras anticépticas, cujo nome ignoro.
E aquela poeira formou diante de meus olhos uma sucessão de episódios históricos, muito fugazes, que não foi possível discernir bastantemente para poder descrevé-los.
Todavia, essa série de imagens gravou-me no espírito a convicção de que o antiqüíssimo retalho de linho havia pertencido às vestes de uma personalidade real e que por isso fora transferido a uma figura de cera.
Tudo isso assumia a feição de agradável lição da história e costumes ingleses; mas o valor das cenas entrevistas afigurava assaz duvidoso.
Em todo caso, não me encontrava em condições de resolver o problema, porque meus conhecimentos concernentes à Abadia de Westminster limitavam-se a uma rápida visita ao túmulo de Charles Dickens, em 7 de fevereiro do corrente ano.
Resolvi, portanto, proceder a pequeno inquérito nesse sentido e foi assim que soube que as figuras de cera lá existiam realmente, conservadas na Abadia, posto que não acessíveis ao público, e que provinham de um antigo costume, hoje esquecido, qual o do transporte processional da efígie do soberano falecido, revestida de sua real indumentária.
Uma vez elucidado este ponto, escrevi ao velho senhor que me havia presenteado com aquele móvel, a fim de saber se o retalho de linho psicometrado apresentava qualquer interesse histórico.
Eis a resposta obtida: Cara Srta. Edith: as suas induções são bem fundadas. Esse pedaço de pano tem, de fato, um valor histórico que não possa, contudo, precisamente determinar.
Antes do mais, diga-se, ele pertencia à minha irmã (hoje falecida), que o tinha em grande apreço, pelo haver recebido de pessoa relacionada com a Abadia de Westminster.
Muito grata ficaria eu se qualquer leitor destas linhas pudesse inteirar-me da época em que foi abolida a cerimônia do transporte das efígies reais em cera.
Nesta narrativa convém notar a convergência admirável de todas as visões da sensitiva, por lhe darem a conhecer que aquele retalho havia sido cortado das vestes de uma figura real, ceroplástica, existente na Abadia de Westminster.
Daí se infere que a maior parte das imagens visualizadas não representam, provavelmente, fatos específicos produzidos em relação com o objeto psicometrado, mas, unicamente, imagens pictográficas ou representações simbólicas, transmitidas à sensitiva pelo seu Eu subconsciente, com o fito de documentá-la sobre o que ela desejava evocar.
Assim, por exemplo, a figura do erudito que murmura uma prece apontando para a Torre Branca como lhe fazer compreender que era personagem real a pessoa por quem exortava assim, igualmente, as duas senhoras que numa loja compravam tecidos, pronunciando as palavras Bretanha e Saxe, como para identificar a procedência do pano psicometrado.
Estas duas visadas não podem ser tidas como reprodução de fatos antepassados, mas como verdadeiras imagens pictográficas e simbólicas, destinadas a informar a sensitiva de fatos em relação com o objeto psicometrado.
Se for verdade que este novo aspecto das manifestações psicométricas contribui, até certo ponto, para explicar o problema que vimos confrontando, não pode ele, por outro lado, modificar as conclusões por nós adquiridas no intuito de lhes explicar a gênese.
Com efeito, para nos inteirarmos desta forma de indícios psicométricos de natureza simbólica, é preciso, a despeito de tudo, recorrer à hipótese de uma influência pessoal depositada nos objetos pelas pessoas que deles se utilizam, ou à hipótese complementar dos sistemas de vibrações correspondentes aos acontecimentos através dos quais tenham passado os objetos.
Sem esta sanção, inexplicável fora à causa mediante a qual se estabelece à relação entre o sensitivo e as pessoas, coisas, ambientes metaetéricos ou éter do Universo.
E sem embargo, menos verdade não é que precisamos ter em conta o fato de as visualizações nem sempre corresponderem aos acontecimentos reais, inerentes ao objeto psicometrado.
Conseqüentemente, deveremos dizer, que, se na maioria dos casos a análise dos fatos demonstra a concordância da visão com os acontecimentos passados, há, contudo, exceções à regra, sob a forma de representações simbólicas, que tendem, igualmente, mas de modo indireto, a documentar o sensitivo sobre a história do objeto psicometrado . . .
XI Caso - Venho expor agora algumas variedades mais ou menos curiosas e misteriosas das relações psicométricas, a começar por aquela em que a relação se estabelece espontaneamente, logo que o sensitivo se encontra perto de um objeto que lhe interessa, mas, sem que de tal se precate e sem ter tido contacto com o referido objeto.
No episódio a seguir, o fenômeno se verifica com a recepção de uma carta, como se ela tivesse atuado psicometricamente a certa distância, originando a formação do rapport com a subconsciência do remetente.
Este caso é extraído do Jornal da Sociedade de Investigações Psíquicas (vol. 17, pág. 103).
Relata-o nestes termos o Rev. W. M. Lewis:
Há trinta anos, mais ou menos, que moro a seis milhas da cidade de David's Head (Pembrokeshire), onde sou pastor de uma igreja não reformista.
Achava-me em Londres, no mês de maio de 1890, quando, certa manhã, fui despertada pelo barulho peculiar do carteiro procurando introduzir a correspondência na caixa da portaria.
Ainda sonolento, tornei a adormecer, mas não por muito tempo.
Sonhei, então, que me encontrava em uma casa repleta de pessoas, atentas a um sermão do Rev. D. C. D., Presidente, a esse tempo, de um colégio no Breconshire.
A voz do pregador, aliás sempre fraca, mal se ouvia do lugar em que me detinha e eu me esforçava por apanhar-lhe algumas frases, sem o conseguir.
Para isso, o que mais concorria era o barulho que vinha do exterior, e, sobretudo, o som de uma charanga que acabou por tornar-se ensurdecente, a ponto de fazer calar o orador.
Procurei, então, acercar-me dele e exprimir-lhe o desejo de ir ouvi-lo no colégio de T..., pedindo-lhe me desse a conhecer os seus temas.
Esforçou-se em mos expor, mas os ruídos externos prosseguiam tão fortes que me não foi possível ouvi-lo.
Todas as circunstancia desse sonho me ficaram tão nitidamente gravadas na memória, que, ao vestir-me, nelas meditava intensamente, esforçando-me por coligir as causas do fenômeno.
Ora, ao descer ao pavimento térreo, verifiquei que a única carta trazida pelo carteiro era de meu filho, então residente no colégio de Aberystwith.
Abrindo-a, verifiquei surpreso que ela se referia exclusivamente ao pregador do meu sonho.
Meu filho aí contava que, precisamente no domingo anterior, a congregação tivera a honra de ouvir, na capela de que era ele titular, o Rev. D. C. D., cuja fama atraíra grande número de crentes e cujos sermões obtiveram memorável êxito em toda a região.
Eu ignorava absolutamente que o Rev. Presidente de T... tivesse a intenção de visitar Aberystwith e, assim sendo, achei muito notável a coincidência do meu sonho com a chegada da carta noticiosa daquele advento.
Contudo, eis aqui a circunstância ainda mais notável e insólita: eu disse que, no sonho, a voz do pregador se tornava ininteligível, devido ao barulho externo e ao som de uma banda de música.
Ora, quando de retorno ao lar, recebi a visita de meu filho em férias; ao contar-lhe o sonho tão idêntico ao texto da carta, disse-me ele: O que há de mais estranhável nesse sonho é que, no domingo da pregação do Reverendo em nossa Capela, mal apenas começava ele o sermão, quando passou na rua, que fica atrás da mesma Capela, todo o cortejo de um circo de cavalinhos; o barulho dos carros, cavalo e povo era tal, que, por algum tempo, nada se podia ouvir.
Devo frisar este detalhe: posto que tenha estado uma ou duas vezes na Capela de Aberystwith, a sala entrevista em meu sonho correspondia â que lá existe realmente.
O que correspondia à realidade era o barulho, de vez que este me chegava por detrás e não do auditório, tal como se verificou.
(Segue-se o testemunho de meu filho, na parte que lhe concerne.)
A circunstância teoricamente interessante do caso, aqui exposto, consiste no fato de ser a relação psicométrica estabelecida à pequena distância do objeto que lhe deu causa, sem qualquer contacto com o sensitivo.
Quanto ao incidente psicométrico em si mesmo, é evidente que ele se reduz a um fenômeno de relação telepática, sobrevindo entre o sensitivo e seu filho, por intermédio da carta deste.
As informações verídicas obtidas no sonho parece que foram hauridas na subconsciência do remetente.
XII Caso – Neste outro episódio por mim destacado do interessante livro A vista, a distância, no Tempo e no Espaço, de Edmond Duchatel (pág. 49), o mistério da ligação é mais difícil de explicar do que no caso precedente, pois aqui o sensitivo revela acontecimentos verificados distantemente do objeto psicometrado, como se este fosse suscetível de acolher as vibrações específicas dos acontecimentos que sucediam em seu próprio ambiente.
Eis como discorre o Senhor Duchatel:
Para dar idéia de uma consulta completa, transcrevemos a experiência de 13-9-1909, com uma bolsa de senhora, guardada na gaveta de um armário até dezembro de 1903, data do falecimento da sua dona, em virtude do qual passou, de mistura a objetos outros, para local diferente.
A identificação dos fatos pôde ser feita de modo quase absoluto.
Sentimentos de angústia (imaginária ou real), muita bondade, mas nada de ponderação; dores do lado esquerdo; impressão de chamas, de incêndio.
Cenas ocorridas diante do armário onde a bolsa estava encerrada:
Uma mulher de 25 a 40 anos se desvaneceu diante do armário; vê-se também nesse compartimento uma cena dramática, dois homens, tipo operário, trazem uma pessoa ferida (provavelmente um militar) a fim de ser pensado.
Retrato em ponto grande, de um oficial, na parede do quarto.
Uma porta do quarto condenado e anteriormente útil.
Vaga sensação de uma pessoa desaparecida, depois de haver muito sofrido com o desaparecimento de outra... Sensação íntima e profundíssima.
Em contacto com o objeto, uma carta de pêsames, começando por Cara filha, entre parênteses.
A bolsa fora tocada longo tempo por alguém de vida interior muito intensa - objeto assaz fluidificado...
Sem que se possa excluir a possibilidade dos objetos registrarem, a curta distância, as vibrações específicas dos acontecimentos desdobrados no ambiente em que se encontrem, é muito mais provável, no caso especial em apreço, que o sensitivo, por intermédio do objeto psicometrado, se tenha achado em relação com o meio em que permanecera o dito objeto.
Efetivamente, se, no que concerne aos incidentes dramáticos ocorridos diante do armário, é teoricamente possível admitir que as vibrações específicas projetadas em torno por esses incidentes hajam sido registrados pelo éter imanente na bolsa psicometrada, outro tanto não poderia dar-se com as outras revelações do sensitivo, tais como a existência de um retrato de oficial e de uma porta condenada, duas coisas inanimadas e inertes, que não deveriam, portanto, emitir vibrações específicas, sem contar que a expressão - porta condenada - implica uma informação de natureza negativa, isto é, inexistente e como fato em si, capaz de emitir vibrações informativas.
Por outro lado, essas revelações se complicariam de si mesmas, ao admitir-se a ligação do sensitivo com o ambiente de que provinha à bolsa, inclusive a pessoa que o habitava, provavelmente aparentada com a falecida dona daquele objeto.
XIII Caso - Estas considerações, nas quais tratamos de psicometria à distância, levam, naturalmente, a tocar no caso da psicometria de um meio ambiente, quando o sensitivo nele se encontre.
Os fatos desta natureza são assaz freqüentes na fenomenologia psicométrica.
É provável mesmo que eles se verifiquem, mais do que pudéramos supor, na vida prática diuturna.
Eis o que o respeito observa o Senhor Duchatel:
A sensibilidade do Senhor Phaneg é de tal natureza, que, penetrando em um quarto, experimenta estranha angústia, sempre que esse quarto foi teatro de acontecimentos mais ou menos trágicos, embora dele desconhecidos.
É possível que essa mesma sensibilidade seja peculiar, em menor grau, a muitas pessoas e de molde a explicar vagos temores, indisposições e mesmo pesadelos, que certos temperamentos sensitivos, principalmente mulheres e crianças, experimentam em alguns sítios, sem motivo apreciável e definido.
Tudo nos leva a crer que estas reflexões do Senhor Duchatel têm fundamento real na prática.
Lembro-me de que em meu livro, Os Fenômenos de Assombração, consagraram todo um capítulo, o VI, aos fenômenos de psicometria do ambiente, que apresenta grandes analogias com algumas manifestações de assombramento.
Deles não falarei, portanto, senão rapidamente, tanto mais quanto do ponto de vista teórico não suscitam considerações novas e nada apresentam de nitidamente característico.
De Light, extraio o seguinte caso (1904, pág. 131) , exposto pela percipientes, Sra. Katerine Bates, autora bem conhecida de várias obras apreciadas nos meios espiritualistas.
Diz ela:
Há alguns anos já que comecei a ser penosamente influenciada pela atmosfera psíquica das alcovas, o que constitui, para mim, que viajo constantemente, pernoitando aqui e acolá, um grave inconveniente.
Aconteceu-me, mais de uma vez, ter de deixar um quarto de hotel, belo e confortável, por outro pequeno e escuro, isto por se me tornar insuportável à atmosfera mental ou moral gravada no ambiente por qualquer dos seus ocupantes anteriores.
No meu caso, penso que, em regra, a aura por mim percebida não é a do último hóspede e ainda não me foi possível formular uma teoria satisfatória, relativamente ao princípio seletivo pelo qual são determinadas essas percepções.
Todas as vezes que consegui certificar-me de quem era a aura percebida - como no caso que passo a relatar -, verifiquei quase sempre que os últimos hóspedes não haviam deixado qualquer influencia perceptível e que as minhas faculdades psicométricas tinham desanichado auras de antigos hóspedes, os quais, contudo, nem por isso se distinguiam por seu relevo pessoal. Estou, assim, inclinada a crer que algumas faculdades do caráter são, mais que outras, registráveis, e que esse fato se liga à existência, nas mesmas qualidades, de um quantitativo maior de magnetismo pessoal, termo que emprego à falta de melhor expressão.
Esta hipótese é, com efeito, a única capaz de explicar, de qualquer forma, esse princípio seletivo, na percepção dos fatos. Quanto a mim, tenho notado que as impressões mais nítidas e mais profundas, recebidas em semelhantes circunstanciam, provém dos casos de ativa sensualidade.
Mas, ainda bem que os sensitivos são também aptos a perceber as impressões puras e elevadas, depositadas nos ambientes, notando-se, porém, que estas são de natureza muito mais genérica. Verdade é que, todas as vezes que consegui analisar psicometricamente um temperamento, foi antes graças aos defeitos, que as boas qualidades ao mesmo pertinentes.
Há alguns anos, achando-me na província, hospedada em casa de uma amiga, a Sra. M..., ocupava um espaçoso e belo quarto.
Desde a primeira noite, percebi que aquele cômodo estava misteriosamente saturado da influencia de um homem.
O que me revelava essa influencia era uma forte sensualidade, de criatura não má, mas apenas fraca e inteiramente entregue às circunstancia e aos seus pendores hereditários, à falta de poderes inibitórios.
Vários outros traços característicos do seu temperamento me foram revelados simultaneamente, mas, desses não me lembro assaz nítidos, de feição a poder descrever.
O conjunto das impressões foi, contudo, tão pronunciado, que me dispus a iniciar um inquérito a respeito.
Minha amiga tinha dois filhos no Exército: um, conheci-o eu, nada tinha de comum com o misterioso ocupante do meu quarto; outro, o mais velho, jamais o vira.
Duvidando que pudesse tratar-se dele, pedi, a pretexto qualquer, me fosse mostrada a sua fotografia.
O rapaz encontrava-se então nas Índias.
Analisando o retrato, senti-me liberta da ansiedade moral que me assaltava, convencida de que o meu enigma ficaria sempre insolúvel.
Minha amiga tinha idéias preconcebidas quanto às faculdades humanas supranormais, julgando-as puramente imaginárias. Eis por que me atirava indiretas irônicas, referentes ao inquérito que qualificava de uma das minhas habituais fantasias.
Então, disse-lhe: - Agora que tive a prova de que não se trata do seu filho, vou descrever minuciosamente o caráter do indivíduo que ocupou esse quarto.
Quando terminei minha exposição, a Sra. M... fitou-me grandemente admirada, e, retirando-se para o quarto contíguo, de lá regressou com o retrato de um cavalheiro para mim estranho, e mo entregou, dizendo: Confesso que você acabou de descrever exatamente este meu cunhado, que, de fato, muitas vezes ocupou esse quarto, se bem que meus filhos o fizessem depois dele.
Analisei, então, o retrato e reconheci nele o tipo de homem que se havia revelado de modo tão evidente pela psicometria.
Os casos desta natureza, nos quais as percepções dos sensitivos apenas são de natureza genérica e se limitam a impressões mais ou menos vagas, quanto ao temperamento individual do hóspede de um quarto, não se podem explicar facilmente por comunicações estabelecidas à distância, entre o sensitivo e a pessoa inculcada.
Aqui, deveríamos admitir que o sensitivo receba diretamente impressões da Influência deixada no local pela pessoa que ali esteve. Neste caso, para bem nos compenetrarmos dos fatos, preciso fora admitir que, mobiliário, paredes, assoalho, teto, todo o quarto enfim, possuem a virtude de receber e conservar os eflúvios vitais dos seres, ou as vibrações psíquicas correspondentes à atividade funcional de seus respectivos sistemas cerebrais.