Tendo assinalados alguns dos pontos débeis sobre os quais se funda a teoria de Kannauj, é justo considerar as razões que expõe o autor:
"Principalmente os seguintes pontos:
•Os detalhes "claros e obscuros" explicam a diversidade de cor de pele que encontramos nos distintos grupos ROM, porque a população original era mesclada. Havia provavelmente muitos rajputs em Kannauj. Esta gente não era aparentada com a população nativa, porém foram elevados à casta kshatrya por méritos. Portanto, eles devem ser a porção denominada "obscuros" da população".
Esta afirmação é demasiado simplista para ser de um estudioso! Está bem estabelecido o fato de que os ciganos se mesclaram com várias populações durante suas longas travessias. Exatamente como os judeus. Basta visitar Israel para notar que há judeus negros, judeus loiros, judeus altos, judeus baixos, judeus com aspecto de indianos, de chineses, de europeus, etc. A crônica mencionada pelo autor demonstra que a população de Kannauj não era homogênea, não pertencia a uma só etnia. De fato, havia rajputs, gujratis e muitos outros, se a cidade era tão cosmopolita como parece. Isto não prova que os ciganos tenham sido a população de Kannauj.
"•O fato que os escravos capturados provinham de todo tipo de classes sociais, incluindo nobres, explica como foi tão fácil para eles inserirem-se entre a gente importante e influente como reis, imperadores, e papas quando chegaram à Europa. Isto se deu porque entre os ciganos havia descendentes dos "nobres" de Kannauj. O indianólogo francês Louis Frédéric confirmou que a população de Kannauj consistia maiormente de "nobres", artistas artesãos e guerreiros."
Isto é pura especulação. Os ciganos normalmente se davam a si mesmos títulos nobiliárquicos ou de prestígio com o objetivo de obter favores, salvo-condutos, etc. Isto foi praticado até há um século atrás pelos rom que chegaram à América do Sul, os quais se proclamavam " príncipes do Egito" ou nobres de algum país exótico. As autoridades começaram a suspeitar quando notaram que havia tantos príncipes de países estranhos. Há um detalhe importante que o autor não levou em consideração: Ele afirmou que Kannauj era um prestigiado centro bramânico. Como é possível que não existia uma casta sacerdotal no povo rom? O que aconteceu com os presumidos "ciganos brâmanes"? Todos os povos hindus tem uma casta sacerdotal, e muitos outros povos as tinham, incluindo os medos e persas (os magos) e os semitas, exceto um: os israelitas do Reino de Samaria - depois que se separaram de Judá, perderam a tribo de Levi e como consequência, nenhuma tribo foi dedicada ao sacerdócio. Havia nobres, artistas, artesãos, guerreiros e todo tipo de categorias sociais entre os norte-israelitas, porém não sacerdotes. O que é também importante notar é que os nobres israelitas eram muito apreciados nas cortes dos reis pagãos, e como tinham um dom profético particular, muitos israelitas entraram na classe dos magos da Pérsia, assim como outros se dedicaram à adivinhação, à alquimia e coisas similares. Sem esquecer que a arte da magia mais comum entre os ciganos é o "tarô", uma invenção judaica.
"•Esta diversidade social da população original deportada pode ter contribuido para a sobrevivência da língua romani, quase mil anos depois do êxodo. Como mostra a sócio-linguística, quanto maior é o grau de heterogeneidade social em uma população deportada, mais forte e largamente poderá continuar a transmitir o próprio idioma ."
Esta afirmação não prova nada e é muito discutível, porque há muitos exemplos do contrário: a história prova que os hebreus foram levados ao exílio em massa, incluindo todas as categorias sociais, sem dúvida perderam o próprio idioma num tempo relativamente breve - o fato singular é que conservaram os distintos idiomas que adotaram na diáspora em lugar do próprio idioma original, por exemplo, os judeus mizraji ainda falam o assírio-aramaico, os sefaraditas ainda conservam o ladino (espanhol medieval) seis séculos depois de terem sido expulsos da Espanha, os ashkenazim falam o yiddisch, e os ciganos falam o romani, a língua que adotaram no exílio.
Outros exemplos de povos deportados ou emigrados de todo extrato social que perderam o próprio idioma em pouco tempo são os africanos da América, do Caribe e do Brasil, a segunda e terceira geração de italianos na América, Argentina, Uruguai, Brasil, etc., a segunda e terceira geração de árabes nesses mesmos países, etc. Outras comunidades conservam uma maior relação com o próprio o idioma, como os armênios, ciganos ou judeus. Não existe um parâmetro universal como o autor afirma.
"•A unidade geográfica do lugar de onde os ancestrais dos ciganos partiram é importante para a coerência do elemento indiano na língua romani, porque as principais diferenças entre os diversos dialetos não se encontarm no componente indiano, mas no vocabulário adquirido em solo europeu ."
Este fator não determina que a origem tenha sido na área da India. É certo que o idioma romani se formou inicialmente em um contexto indo-europeu, porém as mesmas palavras "indianas" são comuns a outros idiomas que existiram fora do sub-continente, quer dizer, na Mesopotâmia. As línguas hurríticas constituem a base mais factível da qual todas as línguas indianas surgiram (basta analisar os documentos do reino de Mitanni para compreender que o sânscrito nasceu nessa região). As línguas de raiz sânscrita já se falavam em uma vasta área do Oriente Médio, incluindo Canaã: os horeus da Bíblia (hurritas da história) habitavam no Negev, os jebuseus e heveus, duas tribos hurritas, na Judéia e Galiléia. Os norte-israelitas foram inicialmente estabelecidos pelos assírios em "Hala, Havur, Gozán e nas cidades dos medos" (II Reis,17:6) - esta é exatamente a terra dos hurritas. Depois da queda de Nínive sob a Babilônia, a maioria dos hurritas e parte dos norte-israelitas em exílio emigraram para leste e fundaram o reino de Khwarezm (Jorazmia), desde o qual sucessivamente colonizaram o vale do Indo e o alto vale do Ganges. É interessante notar que algumas palavras da língua romani pertencem ao hebreu ou arameu antigos, palavras que não poderiam ter sido adquiridas num período mais tardio em sua passagem através do Oriente Médio em direção à Europa oriental, senão somente numa época muito anterior da história, antes de sua chegada à India. Existe ainda um termo muito importante e que os teóricos que sustentam a origem indiana não levam em consideração: a denominação que os ciganos dão a si mesmos, "rom". Não existe nenhuma menção de nenhum povo rom em nenhum documento sânscrito. A palavra "rom" significa "homem" em idioma cigano, e há só uma referência a tal termo com o mesmo significado: em egípcio antigo, rom quer dizer homem. A Bíblia confirma que os antigos norte-israelitas tinham algumas diferenças dialetais com os judeus, e que eram também mais apegados à cultura egípcia assim como ao ambiente cananeu. A religião norte-israelita depois da separação de Judá era de origem egípcia: o culto do bezerro. Por conseguinte, não é difícil que a palavra egípcia que significava homem tenha sido usada ainda nos tempos do exílio em Hanigalbat e Arrapkha (territórios onde foram deportados), e após. Porém, como a origem não deve ser estabelecida através do idioma, não me extenderei na exposição deste argumento.
"•Este argumento contrasta definitivamente a teoria que sustenta que os rom provêm "de uma simples conglomeração de tribos dom" (ou de qualquer outro grupo). É útil mencionar aqui que Sampson havia notado que os rom "entraram na Pérsia como um único grupo, falando um idioma comum" ."
Concordo plenamente com este conceito. Porém é necessário ressaltar que a "teoria Dom" foi "a oficial" entre os estudiosos até há pouco tempo, e assim como esta foi desacreditada, qualquer outra que também insista com a origem indiana se baseia em falsas premissas que conduzem a uma investigação contraditória sem fim.
"• Provavelmente havia um grande número de artistas dhomba em Kannauj, como em todas as cidades civilizadas naqueles tempos. Como maior centro urbano intelectual e espiritual na India setentrional, indubitavelmente Kannauj atraía numerosos artistas, entre os quais muitos dhomba (quiçá, mesmo sem absoluta certeza, os ancestrais dos atuais dombs). Então, quando a população de Kannauj foi dispersa no Jorasán e áreas circunstantes, os artistas dhomba capturaram a imaginação da população local mais que os nobres e artesãos, o que explicaria a extensão do título dhomba em referência a todo o grupo de estrangeiros de Kannauj. Estes poderiam ter adotado este nome para si mesmos como o próprio gentílico (em oposição à designação mais generalizada de Sind[h]~, persa Hind~, grego jônico Indh~ com o significado de "Indiano" - do qual provem o nome "sinto", apesar da paradoxal evolução de ~nd~ a ~nt~, que deve ser postulada neste caso. De fato, em alguns dialetos romanís, principalmente na Hungria, Áustria e Eslovênia, parece apresentar-se esta evolução de ~nd~ a ~nt~)."
Visto que o autor não encontra uma explicação verossímil para o termo "rom", recorre a subterfúgios especulativos que são absolutamente improváveis. Isto se manifesta em suas próprias expressões: "provavelmente", "quiçá", "poderia", "parece", etc... Toda a estrutura sobre a qual se funda esta teoria fracassa pela impossibilidade de explicar os caracteres culturais e espirituais próprios dos povos rom e sintos, e essencialmente, a afirmação de que"poderiam ter adotado este nome (dhom) para si mesmos como próprio gentílico" se revela completamente errada. O autor se contradiz a si mesmo, porque anteriormente havia declarado que "muitos kannaujis eram nobres", e logo supõe que estes mesmos "nobres" tenham adotado para si mesmos o nome de uma "casta inferior" como eram os artistas Dhomba.
"•O fato de que a população proto-romaní provenha de uma área urbana e que eram maiormente nobres, artistas e artesãos pode quiçá ser a razão pela qual pouquíssimos ciganos se dedicam à agricultura até hoje. Ainda que "o solo da região fosse rico e fértil, os cultivos abundantes e o clima cálido", o peregrino chinês Xuán Zàng (latinizado como Hsuan Tsang) notou que " poucos dos habitantes da região se ocupavam da agricultura". Na realidade, a terra era cultivada maiormente para a produção de flores para fabricar perfumes desde a antiguidade (principalmente com propósitos religiosos) ."
Esta afirmação também não prova nada, mas confirma ainda mais a hipótese de que realmente não eram de orígem indiana: uma comparação cuidadosa com o povo judeu leva à mesma conclusão, porque os israelitas de todas as classes sociais foram deportados de sua própria terra, porém os judeus nunca se dedicaram à agricultura e viveram sempre em cidades onde quer que estivessem na diáspora. Os judeus se fizeram agricultores só recentemente, no Estado de Israel, porque era necessário para o desenvolvimento da Nação. Há suficientes evidências para provar que quando os ciganos chegaram à India já eram um povo com as mesmas características que ainda hoje tem, porque tanto os norte-assírios como os assírios-caldeus (babilônicos) praticaram a deportação seletiva de ambos os Reinos de Israel e Judá, como lemos: "E (o rei de Babilônia) levou em cativeiro a toda Jerusalém, a todos os príncipes, e a todos os homens valentes, dez mil cativos, e a todos os artesãos e guerreiros, não ficou ninguém, exceto os pobres do povo da terra. Assim mesmo levou cativos a Babilônia a Yehoyakin, a mãe do rei, as mulheres do rei, a seus oficiais e aos poderosos do país; cativos os levou de Jerusalém a Babilônia. A todos os homens de guerra.." (II Reis, 24:14-16); "Mas Nabuzaradán, general do exército, deixou os pobres da terra para que lavrassem as vinhas e a terra" (II Reis, 25:12). A mesma coisa haviam feito 120 anos antes os reis assírios no Reino de Israel, e os camponeses que eles deixaram são os atuais samaritanos, enquanto que a grande maioria dos israelitas hoje se consideram "perdidos", e tem-se verificado que a maior parte deles emigrou para a India.
"•Parece que um pequeno grupo fugiu da invasão navegando no Ganges e chegando até Benares, de onde devido à hostilidade da população indígena, se mudaram e se assentaram na área de Ranchi. Esta gente fala a língua sadri, um idioma indiano especificamente usado para a comunicação inter-tribal. É digno mencionar que o sadri parece ser a língua indiana que permite uma melhor comunicação entre seus falantes e o romanês."
Novamente o autor especula teorizando uma relação entre uma tribo indiana e os ciganos somente através de uma aparente semelhança linguística, porém nada que tenha que ver com a cultura e a espiritualidade romaní, nem seus costumes ou tradições, e nenhuma prova histórica. Os idiomas são um ponto de referência relativo e muitas vezes enganosos, porque podem ser adotados por povos completamente diversos da etnia original. Provavelmente o autor não conhece alguns casos enigmáticos como o seguinte: há uma província na Argentina, Santiago del Estero, onde ainda se fala uma língua indígena pré-colombiana: o quíchua, um dialeto do idioma dos incas. O fato curioso é que quase todos os que a falam não são indígenas, mas sírios-libaneses que se estabeleceram nessa província há apenas um século atrás! Num suposto evento desastroso do futuro no qual se percam todos os documentos referentes à imigração árabe, os estudiosos do século XXV seguramente especulariam afirmando que esses árabes são os últimos autênticos sobreviventes da antiga civilização inca...O que não serão capazes de explicar é por que esses "incas" tinham tradições ortodoxas num país católico romano, ainda que ambas as tradições sejam muito mais próximas entre si do que a cultura cigana às da India.
Outro exemplo similar nos dão os ciganos mesmos: na Italia norte- ocidental, o dialeto piemontês se fala cada vez menos entre os gadjôs, só as pessoas mais velhas ainda o conservam e já não é a língua principal das crianças piemontesas, que falam italiano. A conservação do dialeto depende exclusivamente dos sintos piemonteses, que o adotaram como a própria língua "romaní" e serão provavelmente os únicos que falarão esse dialeto ao final do presente século. Em uma situação imaginária como a descrita acima, os estudiosos do futuro chegarão à conclusão de que os autênticos piemonteses são os ciganos sintos dessa região...
"•Ademais, os falantes do sadri tem o costume, durante cerimônias especiais, de verter um pouco de bebida, dizendo: " por nossos irmãos que o vento frio levou para além das montanhas" (comunicação pessoal por Rézmuves Melinda). Estes "irmãos" poderiam ser os prisioneiros de Mahmud. Porém é necessário um estudo mais intensivo sobre o grupo de falantes do sadri."
Outra conjectura especulativa baseada sobre dados superficiais. As deportações eram frequentes naqueles tempos, e afirmar que se referem aos ciganos é mais que atrevimento. O que é mais significativo desta tradição sadri é que o "vento frio para além das montanhas" é dificilmente aplicável a uma deportação para oeste, para além dos rios, supostamente por um vento cálido; é mais bem coerente com uma deportação para o norte, para além do Himalaia, de onde sopra o vento frio.
"•A deusa protetora de Kannauj era Kali, uma divindade que é muito popular entre os ciganos."
Esta é realmente uma estranha afirmação para alguém que se considera um estudioso da cultura romani, porque efetivamente os ciganos não têm a menor idéia da existência da deusa hindú Kali, e não tem nenhuma "popularidade". Não sei se o autor inseriu esta falsa afirmação com o único propósito de reforçar sua teoria, porém prefiro crer em sua boa fé. Não há nenhum elemento em minha família que possa levar a pensar que tal tradição tenha existido algum dia, nem tampouco existe entre as numerosas famílias de rom e sintos que conheci em todo o mundo, desde a Rússia até a Espanha, da Suécia à Itália, dos Estados Unidos à Terra do Fogo (a terra mais ao sul no mundo), de todos os ramos ciganos, dos kalderash, lovaras, churaras, aos calé espanhóis, dos sintos estraxaria e eftavagaria aos kalé finlandeses, desde os matchuaia aos horahanés sulamericanos. Desafio a quem quiser perguntar a um cigano quem pensa que é Kali - sua resposta será: "uma mulher negra", porque "kali" é o gênero feminino de "kaló", que significa negro (não porque eles saibam que o ídolo hindu é também negro). Conheço a maioria das famílias ciganas mais distintas no mundo, e sugiro ao autor visitar os rom da Argentina, onde por algum motivo a cultura cigana kalderash (russo-danubiana) se conserva de modo mais genuíno que em qualquer outro país .
A devoção de alguns grupos para "Sara kali" na Camargue (sul da França) tem que ver com a tradição católica romana, não com o hinduísmo. De fato, há "virgens negras" em quase todos os países católicos (inclusive na Polônia). Sara "kali" se chama assim porque é negra, e por casualidade ou não, tem o mesmo nome que a mãe do povo hebreu, o que pode ser a razão pela qual os ciganos católicos a elegeram como a própria santa.
"•Ademais, o antigo nome da cidade era Kanakubja (ou Kanogyza em textos gregos), que significava "molestada, vírgem maculada". A origem deste surpreendente nome se encontra numa passagem do Ramajan de Valmiki: Kusmabha fundou uma cidade chamada Mahodaja (Grande Prosperidade); ele tinha cem formosas filhas e um dia, quando brincavam no jardim real, Váju, deus do vento, se enamorou delas e quis casar-se com elas. Desgraçadamente foi rechaçado e as molestou a todas, o que deu o nome à cidade. Em outra versão, Kana Kubja era o sobrenome de uma devota molestada de Krishna, a qual o deus lhe deu um corpo restabelecido e forte como recompensa pela unção de seus pés. De fato, "vírgem molestada" era um dos títulos de Durga, a deusa guerreira, outra forma de Kali. Em outras palavras, podemos fazer uma identificação: kana kubja ("vírgem molestada") = Durga = Kali. Rajko Djuric mencionou algumas similaridades com o culto romaní de Bibia ou Kali Bibi e o mito hindu de Kali."
Outra argumentação puramente especulativa sem qualquer apoio real. Histórias similares são muito comuns no Oriente Médio (recomendo ao autor ler "As 1001 noites" para uma melhor documentação). É perfeitamente sabido que os ciganos usualmente adotam lendas dos países onde tem sido hóspedes e as adaptam segundo sua própria fantasia. É também um fato que a maioria das lendas e fábulas etiquetadas como "ciganas" são por sua vez classificadas como "judias", e ambas se consideram a fonte original. Há também algumas lendas persas, armênias e árabes na literatura oral romani.
Pergunto-me por que o autor não menciona a popularidade que tem o Profeta Elias em muitos grupos Rom...quiçá porque não pode explicar a origem indiana de tal tradição. Elias era um Profeta do Reino de Samaria.
"•O tempo que os rom passaram em Jorasán (um ou mais séculos) explicaria os numerosos temas persas integrados ao vocabulário romani (uns 70 - além de 900 temas indianos e 220 gregos), porque o Jorasán era uma região de língua persa."
O mesmo parâmetro é válido para o exílio na India. Assim como tais palavras não provam uma origem persa, tampouco o vocabulário indiano prova uma origem indiana, porém só uma longa estadia. A exposição seguinte do autor está orientada puramente no aspecto linguístico, e ainda que seja uma argumentação coerente, não prova absolutamente a orígem em Kannauj, como veremos:
"Outro elemento surpreendente é a coincidência de três caracteres linguísticos que conectam o romanês com as línguas da área de Kannauj, ou só principalmente com estas, quer dizer:
- entre todos os idiomas indianos modernos, só o braj (chamado também de braj bhaka, um idioma falado por uns 15 milhões de pessoas na região a oeste de Kannauj) e o romanês distinguem dois gêneros na terceira pessoa do singular dos pronomes pessoais: yo ou vo em braj (provavelmente ou em braj antigo) e ov, vov ou yov, "ele" em romanês para o masculino. E ya ou va em braj e oy, voy ou yoy, "ela" para o feminino, enquanto que os outros idiomas indianos tem uma forma única, usualmente yé, vé, "ele, ela" para ambos os gêneros. Estes pronomes podem ouvir-se todos os dias nas ruas de Kannauj.
- entre todos os idiomas indianos modernos, só os dialetos da área de Kannauj, alguns braj e nepalês (O Nepal está a sómente sessenta milhas de Kannauj) tem a terminação dos substantivos e adjetivos masculinos en ~o (ou ~au = ~o) idênticos ao romanês, que é também ~o: purano "antigo, velho" (em outros idiomas taruna, sinto tarno, romaní terno). De fato, a evolução dialetal de ~a a ~o depende de regras complicadas que devem ser ainda definidas.
- E por último porém não menos importante, entre todos os idiomas indianos modernos, só o awadi (uma língua falada por uns 20 milhões de pessoas em uma vasta área a leste de Kannauj) apresenta como o romanês uma forma alternativa longa para a posposição possessiva. Não há só um estrito paralelo no próprio fenômeno mas também as posposições são idênticas em sua forma: agregado à forma curta (~ka, ~ki, ~ke) que é comum a todos os idiomas indianos, o awadi tem uma variante longa ~kar(a), ~keri, ~kere, exatamente como muitos dialetos arcaicos do romanês, como os da Macedônia, Bulgária, (~qoro, ~qiri e ~qere), Eslováquia e Russia (~qero, ~qeri, ~qere), forma que foi reduzida nos dialetos sintos ( ~qro, ~qri, ~qre). Ademais, uma missão recente em algumas aldeias da zona de Kannauj descobriu indícios de um idioma inexplorado similar ao romanês (tikni "pequeno", day "mãe" [hindi "parteira"], ghoro "jarra", larika "jovem" [hindi larhka] etc...). Isto justifica a afirmação do professor Ian Hancock que "o idioma mais próximo ao romanês é o hindi ocidental", comumente chamado braj, que divide a maioria de suas características com o kannauji moderno."