terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O ÒGÁN NO CANDOMBLÉ - PARTE 2



Em continuidade ao artigo iniciado ontem sobre Ògán, hoje vamos falar um pouco sobre a postura dessa importante figura no salão, durante as festividades. 

O Ògán sempre ocupou um papel de destaque durante as cerimônias festivas dos Òrìsàs, são eles que, por meio da sua arte musical contribuem para trazer os Deuses à terra. 

Conforme mencionado no artigo anterior, a Casa de Òsùmàrè sempre foi um importante seleiro dos chamados mestres, basta recordarmos os nomes como Paisinho, Manuel Alagbe e Erenilton.

Mas, fato é que, além do virtuosismo frente aos atabaques, ou o conhecimento de milhares de cânticos evocatórios, há um fator que faz com que um Ògán seja reconhecido pelas pessoas e, sobretudo, pelos Deuses, esse fator é a postura religiosa que o mesmo possui ao longo da cerimônia.

Um grande Ògán, que serve de exemplo para os seus discípulos, mais que um bom tocador/cantor, tem que ter uma postura condizente com o seu importante papel na comunidade-terreiro. 

Aqui em Salvador, os Grandes Mestres, sempre vão às festas muito bem alinhados. Os grandes Ògáns da Bahia fazem questão de estarem bem vestidos, eles dizem que antigamente, não se via um Ògán de calça jeans no Candomblé ou de camiseta.

Além das vestimentas, esses Ògáns são muito atentos ao andamento das festas, eles sabem o que cantar e quando cantar. Quando reunidos, eles formam uma espécie de irmandade, em que todos se entendem, se confraternizam, sem qualquer tipo de disputa ou briga.

Um grande Ògán, toca e canta para os Deuses e não para as pessoas que estão na festa. Um grande Ògán, sempre consulta o seu Sacerdote, para saber como será o andamento da festividade, para qual Divindade poderá prolongar-se um pouco mais nos cânticos, ou não. 

Um grande Ògán, procura permanecer o maior tempo possível no salão, evitando sair, principalmente quando o Òrìsà está na sala. Ele está sempre atento aos visitantes que chegam, comunicando o Sacerdote e, muitas vezes, os recepcionando. 

Um grande Ògán respeita incondicionalmente os Òrìsàs, ele sabe a hora que deve parar de cantar. Um grande Ògán procura aprender os cânticos do seu Asè, da sua raiz, evitando cantar algo que somente ele conhece, afinal, para ele o importante é ver o Òrìsà feliz com o conjunto e não com o solo.

Hoje é fundamental que os Ògáns procurem se unir e comungar com o Òrìsà. É fundamental que o Ògán respeite os seus mais velhos e a liderança do seu Terreiro. 

Aqui em Salvador, ainda temos momentos especiais, nos quais grandes e renomados Ògáns quando se encontram realizam festas históricas para os Deuses, mas isso só ocorre por um motivo, eles fazem pelos Deuses e não pelas pessoas.

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos.

Terreiro de Òsùmàrè

O ÒGÁN NO CANCOMBLÉ - PARTE 1


Quando iniciamos a série de postagens discorrendo sobre o papel, importância e postura do Iyawo dentro do Terreiro de Candomblé, recebemos dezenas de mensagens, pedindo para que abordássemos também a figura do Ogan, razão pela qual, estamos iniciando hoje essa série.

O Terreiro de Òsùmàrè, sempre foi um importante seleiro de renomados Ògáns. Grandes mestres surgiram aqui, tais como Posidônio, Paisinho, Januário, Manoel Alagbé e Erenilton, todos considerados e reconhecidos no chamado Candomblé da Linha 15 (berço de grandes Terreiros da Bahia), pela grande versatilidade frente aos atabaques e pelo grande domínio das antigas cantigas dos Òrìsàs. 

A “nova geração” de Ògáns da Casa de Òsùmàrè, segue o ensinamento e postura desses grandes mestres, perpetuando assim, essa importante história.

Além disso, e principalmente, esses e outros importantes Ògáns, foram e são reconhecidos pela postura e papel dentro da Casa de Candomblé. Quando falamos em Ògán, muitos pensam em tocadores de atabaque, mas o papel do Ògán em uma casa de asè abrange muitos mais que a parte musical nos terreiros. 

Os Ògáns são como uma espécie de guardiões do Terreiro. Além de contribuir com o zelo dos Òrìsàs, eles também zelam pelo Terreiro. Um grande Ògán, ao chegar à Casa de Candomblé, após se purificar por meio das folhas sagradas, se vestir adequadamente e, saudar o seu Sacerdote, busca realizar sua funções com esmero. 

Mas afinal, quais são essas funções?

Conforme mencionado, além do cuidado com os atabaques (manutenção), também é papel do Ògán contribuir para que tudo caminhe bem no Terreiro. Um grande Ògán, busca defender a sua comunidade, o seu asè de forma contundente, fazendo de tudo para que o mesmo seja preservado. 

Recordamos aqui, o saudoso Elemoso Agnelo, Ogan do Terreiro da Casa Branca, que de forma contumaz, lutou para reaver uma parte do terreno do seu Asè, que havia sido indevidamente tomado por um posto de gasolina.

Um grande Ògán, busca preservar as edificações do seu Terreiro, estando sempre atento para qualquer e eventual dano, como, por exemplo, a necessidade da troca de uma telha, ou um degrau danificado em uma escada.

Um grande Ògán, se dedica em diversos âmbitos do Candomblé, como aprender os toques, os cânticos, os animais, as folhas. Existem Ògáns que são exímios conhecedores de folhas e suas virtudes, que aprenderam desde como colher as sagradas ervas dos Òrìsàs até as suas propriedades medicinais e religiosas.

Cabe ao Ògán o cuidado especial e indispensável com os animais que serão ofertados aos Deuses, de modo que a oferta seja aceita de forma plena. Um grande Ògán, sabe como entregar um sacrifício (ebó), de modo que o mesmo seja conduzido conforme a necessidade específica de cada problema.

Todo esse conhecimento demora anos, cabendo ao Ògán estar sempre atento às palavras e conselhos do seu Sacerdote que conduz o seu aprendizado religioso. Amanhã, vamos falar sobre a postura de um Ògán no salão, durante as festividades religiosas.

Que Òsùmàrè Aráká continue sempre olhando e abençoando todos.

Terreiro de Òsùmàrè

O Candomblé é a Religião da Natureza! Mas Nós Sabemos Preservá-la?


O Candomblé é a Religião da Natureza! Mas Nós Sabemos Preservá-la?


Podemos afirmar que o Candomblé é uma religião que cultua a natureza, sendo que os nossos Òrìsàs possuem o domínio sobre cada elemento: água, terra, ar, fogo, etc. 

Nossos cânticos evocam os poderes das águas dos rios, lagos, poços e oceanos. Nós reverenciamos a chuva, tão sagrada e especial. Os Òrìsàs se comunicam por meio do brilho do raio, pelo som que brada do trovão. Òsùmàrè desenha o céu com as cores do arco-íris. 

Òsanyìn está vivo em cada planta, desde a mais singela à mais frondosa, onde habita Iroko Oluwere Baba Igi. Obaluwaiye está vivo no redemoinho, na sagrada terra em que os grãos de Òrìsà Oko se multiplicam, enfim, os Òrìsàs e a natureza se misturam, se confundem, se completam. 

Mas, apesar de tudo isso, estamos sabendo como preservar essa natureza tão rica e essencial para a sobrevivência da nossa religião?

No último mês, quando da realização de uma obrigação em uma cachoeira, nosso querido Pai Pecê, ficou assustado e muito decepcionado com a quantidade de materiais que agridem de forma brutal a natureza, depositados naquele local, como se fosse uma espécie de lixão. 

Naquele espaço, que temos como sagrado, onde a natureza deveria ser ovacionada pelo nosso povo, encontravam-se centenas de garrafas, plásticos, restos de velas e muitos, muitos alguidares, sendo que grande parte já quebrados.

Em verdade, a cena remetia-nos as imagens de um filme de terror ou de um filme futurista, no qual o único sinal de natureza é a existência de antigas fotos em museus, para que as crianças tenham ideia de um mundo já inexistente. Sequer era possível apreciar o espelho d’água, que insistentemente tentava burlar as barreiras criadas pelo lixo acumulado.

Somos Àbòrìsà (adoradores de Òrìsà), por consequência, adoradores da natureza, dessa forma, é inadmissível imaginar que alguém que adora e venera a natureza, possa igualmente agredi-la de forma tão agressiva.

É muito importante conscientizarmo-nos de que:

Alguidar não é oferenda! Garrafa não é oferenda! Plástico não é oferenda!


Existem centenas de alternativas sustentáveis que podem e, principalmente, devem ser utilizadas pelo nosso povo.

O antigo provérbio yorùbá já diz: Sem folhas, não há Òrìsà. As folhas são excelentes alternativas aos alguidares. Quando for à natureza, realizar qualquer tipo de oferenda, ao invés de utilizar alguidares ou terrinas de louça, utilize Ewé Lará (Folhas de Mamona) ou Ewé Agba-o (Folhas de Embaúba). Líquidos podem ser colocados em Ado (pequenas cabaças), ao invés de garrafas ou copos de vidro/plástico.

Dessa forma, você estará contribuindo para a preservação de um bem excessivamente precioso para a nossa religião. Tanto as folhas (mamona e embaúba) como as pequenas cabaças, são elementos que se decompõem de forma muito breve, não trazendo dano algum à natureza, muito pelo contrário. Além disso, não causam riscos às pessoas, como os pedaços de vidros e louças que podem causar ferimentos.

Em uma mata que há tempos não recebe a água das chuvas, uma vela pode causar incêndios. Por isso, é essencial que, a utilização de velas seja restrita ao espaço físico dos Terreiros. Nós somos os verdadeiros guardiões da natureza, por isso, devemos pensar e agir como tal.

Faça a sua parte, conscientize os seus filhos, netos e amigos da religião, para que protejam a nossa natureza. Se você for à mata, rio ou cachoeiras e deparar-se com materiais que degradam os nossos espaços sagrados retire-os jogando-os no lixo.

Em breve, nós do Terreiro de Òsùmàrè, vamos nos reunir para retirar o lixo de um importante espaço sagrado de Salvador (vamos comunicar com antecedência para que todos também possam participar), mas essa iniciativa deve ser multiplicada. 

Reúna a sua comunidade, escolha uma mata, um rio, uma cachoeira e recolha os materiais como garrafas, plásticos e alguidares. Convoque as pessoas por meio das redes sociais e contribua para a preservação e edificação da magnifica religião dos Òrìsàs. Registre a iniciativa por meio de fotos e nos encaminhe para que possamos divulga-las.

Não se esqueça, cada um de nós possui um importante papal na sociedade!

Que Òsùmàrè, o Pai da nossa Comunidade, cubra cada um com bênçãos e felicidades!

Terreiro de Òsùmàrè

A Ekede no Candomblé


Em atenção às dezenas de solicitações que recebemos após as postagens sobre os Ògáns, vamos falar sobre outra importante figura dentro dos Terreiros de Candomblé, as Ekedes (Èkèjí, Àjòyè, Ìyároba, Makota, a depender da tradição da casa ou nação).

As Ekedes são mulheres que não são incorporadas, mas sim, escolhidas pelas Divindades, para zelar por elas e pelo Sacerdote da Casa. São pessoas de grande importância na estrutura religiosa da comunidade, que são admiradas por todos.

Em grande parte das ocasiões, ao longo das festividades, algum Òrìsà escolhe entre as pessoas presentes, uma mulher para suspender/indicar como Ekede, é um momento de grande alegria para todos, onde os filhos da comunidade comemoram. Futuramente, essa mulher poderá, então, ser confirmada como Ekede.

Se fossemos “ranquear” a principal função de uma Ekede, poderíamos afirmar que é zelar pelo Òrìsà quando esse está incorporado em um filho/filha. Uma grande Ekede, sempre está muito atenta aos passos do Òrìsà, ela verifica se há a necessidade de enxugar o rosto da pessoa incorporada, analisa as paramentas, se estão machucando ou se, por ventura, estão se desprendendo das demais vestes.

As Ekedes, em verdade, começam a zelar pelo Òrìsà, antes mesmo da manifestação, sendo que elas verificam todas as roupas e ferramentas com antecedência, garantindo assim, que as Divindades sejam tratadas com muito carinho. Algumas, inclusive, se especializam como costureiras, bordadeiras, somente para ter o prazer de confeccionar as roupas dos Òrìsàs.

O que observamos, com bastante atenção, é que esse carinho/amor desprendido por muitas Ekedes as tornam referência em um Terreiro, sendo respeitadas e admiradas pela comunidade. Quando o Órìsà manifesta alguém, elas rapidamente aprontam tudo, garantindo tranquilidade aos Omo Òrìsà. Elas acompanham os Deuses ao longo das danças, se comunicam com eles e, por vezes, intermediam a sua vontade aos Babalòrìsà/Ìyálòrìsà, Ògáns e outras Ekedes.

Esse trato direto com os Òrìsàs as torna muito próxima deles, razão pela qual, as Ìyáwò e Egbon possuem tanto carinho e respeito por essas senhoras, por vezes, as chamando de mães.

As Ekedes, também, dispensam igual carinho e atenção aos seus Sacerdotes, zelam pelos seus pertences e ficam sempre atentas a qualquer pedido/necessidade. Muitas vezes, atuam como uma espécie de “relações públicas”, representando o Terreiro e recepcionando os visitantes mais ilustres.

As Ekedes, diferente das Ìyáwò e Egbon, não utilizam as saias de baiana com anáguas. A vestimenta das Ekedes varia entre as casa, mas aqui em Salvador, elas usam os chamados “vestidos nago” ou saia sem roda (anágua), permitindo dessa forma, uma maior flexibilidade para as suas atividades (veja a foto do título, com as Ekedes do Terreiro de Òsùmàrè). Aqui em Salvador, somente pela roupa já conhecemos quem são as Ekedes do Terreiro.

As Ekedes são pessoas de grande importância nas Casas de Candomblé, que por meio das suas ações, conseguem contribuir de forma significativa para que o período em que o Órìsà permanece incorporado, seja tranquilo e apaziguador, seja para o filho incorporado, para o Órìsà e, mesmo para toda a comunidade.

O que torna uma Ekede referencia para as demais e para o Terreiro, essencialmente é sua postura perante o Òrìsà e, perante o seu Sacerdote. Para uma grande Ekede, o seu objetivo principal é conseguir tratar o Òrìsà como carinho e amor, essas são as características que tornam uma Ekede em uma grande Ekede. 

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos!

Nunca Se esqueça de Render Homenagem à Èsù!


Hoje vamos transcrever uma antiga história de Èsù, que mostra a peculiar personalidade dessa Divindade, sobretudo quando as pessoas lhe esquecem de render homenagens.

Havia dois grandes amigos de infância, que num dia como hoje, segunda-feira, se esqueceram de prestar homenagem à Èsù. Os dois foram para a roça trabalhar. As roças eram separadas por um pequeno canteiro. Èsù estava bastante zangado, sendo que os amigos não lhe ofereceram nada naquela segunda-feira.

Èsù confeccionou um Filá (espécie de chapéu) com duas cores (preto e vermelho). Èsù preparou esse Filá de um modo que, quem estivesse à sua esquerda conseguiria ver somente a cor preta do Filá e quem estivesse à sua direita, conseguiria ver somente a cor vermelha do Filá.

Após confeccionar o Filá, Èsù o colocou na cabeça e foi exatamente ao canteiro que separa a roça dos dois amigos e ficou por lá, esperando que os mesmos passassem. 

Quando os amigos passaram (cada um de um lado do canteiro), Èsù os interpelou dizendo: “Bom trabalho senhores” e seguiu sem mais nada falar.

Feito isso, um dos amigos disse: “Quem é esse homem com o Filá vermelho”? O outro amigo, por sua vez, respondeu: “Você quis dizer Filá preto, pois ele estava com um Filá preto e não vermelho como você falou”.

Dessa forma, os antigos amigos começaram a brigar. Um afirmando que o outro era mentiroso. Eles brigaram muito, muito... Mas, tudo isso, só ocorreu porque eles não prestaram homenagem à Èsù.

Por esse motivo, jamais se esqueça de render homenagem ao Deus do Dinamismo! Laroye!!!

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos.

ÁGUAS DE OXALÁ - PARTE 2




Esse ritual anual de purificação, renovação, pode ser considerado um “rito de passagem”, o fim e o começo, um novo ciclo, reverencia a presença da água, fonte primordial da vida, que se apresenta em todos os rituais da Religião dos Orixás. 

A Água é enobrecida na abertura do calendário, com os ritos de Orixan’lá, como procedência de Orí no Ayê – Iyá Omí Olorí – mãe de Orí, uma antiga divindade das águas, a deusa que se assenta na fonte de origem, simbolicamente, um banco, cadeira de espelho no umbigo do mar, no seio das águas, lugar simbólico da transformação. Mãe Ancestral. A celebração do Orixá é precedida de uma meticulosa preparação, interação e durante 16 dias. 

Oxalá representa a pureza, Obatalá, O rei do Imaculado ou O rei do Branco, não existirá outra cor durante os 16 dias na liturgia das Águas se não, o “Branco,” dentro do terreiro e a todos que lá chegarem, a retidão e o silêncio tomarão conta do Axé, tudo deverá estar limpo, a preocupação com as roupas que deverão estar alvas, engomadas e perfeitas. 

Do portão de entrada do terreiro até a porta do barracão e demais dependências, será estendido sobre nossas cabeças uma peça ou mais de morim branco, cobrindo como um teto os Orís de todos. 

Na maioria das casas, o ritual começa na madrugada da sexta-feira com a confecção do baluwê (pequena cabana feita com bambús e de folhagens de coqueiros, pitombas, etc) o ajubó do Oxalá mais velho será posicionado sobre uma enorme bacia, outros assentamentos de Oxalá podem ficar ao lado acompanhando o velho Orixá, permanecerão até o 2º domingo das águas quando então Oxalufan volta para sua casa. 

Começará então a procissão de ir no rio ou na fonte pegar água fresca, cada um com seu pote, jarro ou quartinha sobre seus Orís para depois levarem até a cabana de Oxalá e lá a Iyalorixá ou Babalorixá estará esperando todos e em ordem hierárquica, receberá as quartinhas com água e lavará o Orí de cada um, colocando um Obí no Orí cobrindo-o com um ojá. 

Esse ritual é feito em todos que se encontrarem na casa, abians, iniciados e visitantes, sem excessão, o Orí se renova. Retorna-se ao rio ou fonte mais algumas vêzes dando seguimento ao osé de Oxalá. 

O ritual em algumas casas mais tradicionais é feito em quatro momentos e seguida de três domingos subsequentes com festas e grande orô. Os domingos de festa cumprem uma etapa fundamental das obrigações, o ciclo se realiza ao se reviverem durante os 16 dias o caminho mitológico do Orixá nos três domingos e tudo começa na saudação a Orixan’lá bem cedo em em frente ao seu Ojubó na cabana, todos prostados com o Orí sobre os punhos em formato de pilão, rezando e saudando o Orí ( Orí Aperê o). 

1º Domingo-Festa de Oduduwá (ancestralidade- A Terra).

O caminho do Orixá, a paz silenciosa toma conta de tudo, as roupas alvas, a alimentação sem sal por 16 dias o ajeum funfun estará presente. O ciclo do primeiro domingo se fechará num orô somente com Orixás funfun em roda e os omolorixás da casa no toque tradicional do batá em celebração a Oduduwa ao mais antigo Orixá funfun. 

2º Domingo- Festa de Oxalufan (ancestralidade- O Alá).

Continua o preceito e neste dia bem cedo antes do xirê, os assentamentos, cabaças e axés voltam para sua “Casa”, ao som de cantigas e revoadas de pombos brancos soltos por egbomis, um grande Alá acompanha o Orixá em seu retorno que passará para reverencias no Ilê Ibô Akú (casa de antigos ancestrais) e também na casa ou quarto de Yemanjá. Terminado a caminhada em sua casa ou quarto, o Grande Oxalufan descansará e as Iyás arrumarão seu ajubó entoando cantigas em tom baixo em respeito e devoção. Mais tarde na festa, o xirê se repetirá em roda, muito Ebô, o rítmo Igbí, Babá Daribô com seu Opaxorô nos brindará dançando ao som de cantigas toda sua odisséia. 

3º Domingo- Festa de Oxaguian (Ancestralidade- O Pilão).

Orisagiyan é o Elemoaxó funfun, cantigas mais aceleradas e a dança do Guerreiro do universo, do Pai Senhor da Guerra à Paz. Aparecem as contas com seguí, símbolo que o dignifica como único Orixá funfun Ajagunan. 

A raiz de inhame é o elemento que se apresenta da cozinha direto para o barracão, como prato do preceito, em bolas de inhame pilado, alimento de expansão do Axé, o simbolismo da Tradição dos Orixás. 

Cantigas lembraram os ritos do atorí e vários atoris são distribuidos pela Iyalorixá ou Babalorixá que dá início tocando em Oxaguian e depois vão tocando uns aos outros na roda de forma hierárquica em que do mais velho Oxalá ao mais novo iniciado da casa participam até que todos tenham sido tocados por Oxaguian. O ciclo e todas as festividades das Águas de Oxalá, de renovação da existência e expansão do Axé será encerrado formando novamente a roda e fazer o encerramento com a cantiga em reverencia Olodumare. 

Axé.

ÁGUAS DE OXALÁ - PARTE 1


Águas de Oxalá 

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. 

As Águas de Oxalá é uma festa anual em homenagem a Oxalá, no Ilê Opó Afonjá é descrita sem detalhes por Mestre Didi: Na quinta-feira à noite, antes de se iniciarem os preceitos desta cerimónia, das 7 horas da noite até à meia noite, todos os filhos da casa devem fazer um Bori, em muitas casas essa obrigação tem sido substituída por um obi, para poderem carregar as águas. 

Depois desse Bori ou obi, recolhem-se, até que são acordados, antes do nascer do Sol pela Yalorixá ou pelo Babalorixá para iniciarem o preceito das águas. 

Os filhos do Axé, trajados de branco, saem em silêncio do terreiro, em procissão, carregando potes e moringas, tendo à frente a Yalorixá tocando o seu adjá. 

No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é feita dentro do próprio terreiro. 

Esta festa trata-se de um ato de respeito, um pedido de perdão pelas injustiças ocorridas com Oxalá em sua visita ao Reino de seu filho Xangô (Ver a lenda da viagem de Oxalá ao reino de Xangô, em Ayrà). 

Na parte externa é feita uma caminhada pelas ruas de Salvador até Igreja do Senhor do Bonfim, esta grande homenagem é iniciada através de vários rituais iniciados no ano anterior e concretizados no mês de janeiro através da lavagem das escadas da Igreja em homenagem ao Pai Oxalá, chamada de Lavagem do Bonfim. 

Não se pode esquecer que a lavagem das escadarias é um ritual criado pelo sincretismo religioso forçosamente adotado pelos escravos para ocultar seus orixás dos senhores de engenho e que oxalá nada tem a ver com Jesus Cristo sendo então duas divindades de religiões distintas.