Em continuidade ao artigo iniciado ontem sobre Ògán, hoje vamos falar um pouco sobre a postura dessa importante figura no salão, durante as festividades.
O Ògán sempre ocupou um papel de destaque durante as cerimônias festivas dos Òrìsàs, são eles que, por meio da sua arte musical contribuem para trazer os Deuses à terra.
Conforme mencionado no artigo anterior, a Casa de Òsùmàrè sempre foi um importante seleiro dos chamados mestres, basta recordarmos os nomes como Paisinho, Manuel Alagbe e Erenilton.
Mas, fato é que, além do virtuosismo frente aos atabaques, ou o conhecimento de milhares de cânticos evocatórios, há um fator que faz com que um Ògán seja reconhecido pelas pessoas e, sobretudo, pelos Deuses, esse fator é a postura religiosa que o mesmo possui ao longo da cerimônia.
Um grande Ògán, que serve de exemplo para os seus discípulos, mais que um bom tocador/cantor, tem que ter uma postura condizente com o seu importante papel na comunidade-terreiro.
Aqui em Salvador, os Grandes Mestres, sempre vão às festas muito bem alinhados. Os grandes Ògáns da Bahia fazem questão de estarem bem vestidos, eles dizem que antigamente, não se via um Ògán de calça jeans no Candomblé ou de camiseta.
Além das vestimentas, esses Ògáns são muito atentos ao andamento das festas, eles sabem o que cantar e quando cantar. Quando reunidos, eles formam uma espécie de irmandade, em que todos se entendem, se confraternizam, sem qualquer tipo de disputa ou briga.
Um grande Ògán, toca e canta para os Deuses e não para as pessoas que estão na festa. Um grande Ògán, sempre consulta o seu Sacerdote, para saber como será o andamento da festividade, para qual Divindade poderá prolongar-se um pouco mais nos cânticos, ou não.
Um grande Ògán, procura permanecer o maior tempo possível no salão, evitando sair, principalmente quando o Òrìsà está na sala. Ele está sempre atento aos visitantes que chegam, comunicando o Sacerdote e, muitas vezes, os recepcionando.
Um grande Ògán respeita incondicionalmente os Òrìsàs, ele sabe a hora que deve parar de cantar. Um grande Ògán procura aprender os cânticos do seu Asè, da sua raiz, evitando cantar algo que somente ele conhece, afinal, para ele o importante é ver o Òrìsà feliz com o conjunto e não com o solo.
Hoje é fundamental que os Ògáns procurem se unir e comungar com o Òrìsà. É fundamental que o Ògán respeite os seus mais velhos e a liderança do seu Terreiro.
Aqui em Salvador, ainda temos momentos especiais, nos quais grandes e renomados Ògáns quando se encontram realizam festas históricas para os Deuses, mas isso só ocorre por um motivo, eles fazem pelos Deuses e não pelas pessoas.
Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè