quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Albinos, as Pessoas Abençoadas por Òsàlá


Com efeito, podemos afirmar que a religião dos Òrìsàs, por meio das suas histórias, dogmas e costumes, consegue esclarecer tudo o que existe no mundo. 

Nessa oportunidade, vamos transcrever uma antiga história Nàgó, que nos explica o surgimento de pessoas albinas, que são consagradas à Òsàlá, mas que são dessa forma, por conta de uma magia inicialmente desenvolvida e praticada por Èsù, que a perdeu após uma disputa insensata com a grande Divindade Funfun.

Essa história nos ensina igualmente, que jamais devemos querer ser mais que os nossos mais velhos, que devemos respeitar a sua antiguidade, que não podemos aumentar a nossa idade de iniciação e que sempre devemos seguir as orientações dos nossos sacerdotes. Como costumamos dizer aqui na Casa de Òsùmàrè: “orelha não passa cabeça”.

Naquela época, Èsù queria ganhar notoriedade e, para isso, queria convencer a todos que ele era mais antigo que Òsàlá. Ao longo de muito tempo eles discutiram com o objetivo de provar qual dos dois era o mais antigo. Òsàlá afirmava que quando Èsù surgiu, ele já estava no mundo há muito tempo.

Diante desse cenário, as demais Divindades se reuniram, propondo que Èsù e Òsàlá se confrontassem, com o objetivo de provar qual era o mais antigo. Ambos foram consultar Ifá, o Deus da Adivinhação, para saber o que deveria ser feito. Òsàlá seguiu todas as recomendações de Ifá, por outro lado, Èsù as negligenciou.

Quando chegou a data do confronto, todas as Divindades se reuniram para presenciar Èsù e Òsàlá disputarem o posto de mais antigo. Òsàlá inicialmente tocou Èsù que imediatamente caiu, fazendo com que as Divindades exclamassem: “Epa Baba”. 

Èsù, insatisfeito, levantou-se e tocou a cabeça de Òsàlá, tornando-o um anão. As Divindades ficaram impressionadas e, também, exclamaram “Epa Èsù”. Ao longo de um grande espaço de tempo, Èsù e Ósàlá ficaram disputando, tentando mostrar quem tinha mais poder, quem tinha mais magia e, por consequência, quem era o mais antigo.

Num dado momento, Èsù tirou de sua cabeça uma pequena cabaça (Ado), na qual tinha uma poderosa magia. Èsù pegou a magia existente dentro dessa cabaça e soprou em direção de Òsàlá, fazendo surgir uma grande nuvem branca de fumaça. 

Quando essa nuvem se desfez, Òsàlá não era mais um homem negro, ele havia si tornado totalmente branco (albino). Èsù começou a dizer: “Eu sou o mais velho, Eu sou o mais antigo, Eu tenho mais poder que Òsàlá”.

Òsàlá de forma muito serena e calma, retirou do seu Filá, um grande poder, impregnado de Asè. Ele pegou essa magia (Afose), tocando-lhe a boca, dando força às suas palavras. 

Feito isso, ele disse: “Èsù, eu ordeno que venha até mim e me entregue a sua cabaça com a magia que existe nela”. Èsù, hipnotizado pela força da palavra de Òsàlá, foi em direção do mesmo, entregando-lhe a cabaça com a magia. 

Todos exclamaram: “Epa Baba”. Òsàlá pegou a cabaça e mostrou a todos que estavam presentes, afirmando que, a partir daquele dia, somente ele, Òsàlá, teria o poder de tornar as pessoas albinas e que essa magia, que outrora pertencia a Èsù, era agora de sua propriedade, que ele era mais velho que Èsù.

Todas as Divindades ficaram espantadas com a forma com que Èsù obedeceu à Òsàlá e, começaram a exclamar: “Alabalaasè” (ele é o senhor da força, do poder). As Divindades falaram: “Òsàlá é mais antigo que Èsù, Òsàlá tomou o poder de Èsù”.

Òsàlá disse que, todas as pessoas albinas que surgissem no mundo, seriam fruto da sua vontade e que, seriam consagradas à ele e abençoadas por ele.

Nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos que os leitores e admiradores da nossa Fanpage, tenham gostado de mais essa importante história da tradição dos Deuses Africanos, os Òrìsàs.

Que Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos.

Yewa Ajudou Ifá a Escapar da Morte



Com muita satisfação e orgulho, hoje vamos falar um pouco sobre um Òrìsà que possui uma ligação muito forte com a nossa casa, a importante Divindade de Egbado, o Òrìsà Yewa. Sobre isso, recordamos que uma das mais aclamadas Ìyálòrìsàs do Terreiro de Òsùmàrè, Maria das Mercês - Mãe Cotinha, era filha desse Òrìsà. 

Uma antiga história Nàgó, explica a razão de Yewa possuir o dom da vidência. Essa história, explica igualmente, a personalidade do Òrìsà de Mãe Cotinha (Yewa Abiyamo), que durante sua gestão no Terreiro de Òsùmàrè, tomava à frente de grande parte das decisões da casa, não se amedrontando com as dificuldades que surgiam. 

A vidência e coragem de Yewa de Mãe Cotinha são até os dias de hoje, versadas em meio às comunidades do Candomblé da Bahia. Certa vez, Yewa com sua acurada vidência, ao predestinar que o Terreiro de Òsùmárè seria invadido por policiais, orientou aos filhos da casa que preparassem um banquete com muito vinho e água ardente. 

Feito isso, alguns policiais chegaram à Casa de Òsùmàrè, com o objetivo de finalizar a cerimônia, conforme repressão existente à época. No entanto, eles foram convidados pela própria Yewa a comer e beber. 

Esses policiais comeram e beberam tanto que, ao final do banquete, eles não tinham sequer condições de montar em seus cavalos e, por fim, acabaram dormindo na Casa de Òsùmàrè. Ao acordar, eles estavam totalmente envergonhados e nunca mais voltaram a ousar acabar com alguma cerimônia na Casa de Òsùmàrè.

Isso não poderia ser diferente e as histórias relacionadas aos Deuses Africanos, nos ilustram o poder dessa grande Divindade. 

Yewa vivia às margens do rio que, futuramente receberia o seu nome, na cidade de Egbado. Todos os dias, Yewa caminhava rumo ao rio, com uma gigantesca cabaça, na qual ela carregava roupas para serem lavadas. Em uma dessas idas, quando Yewa estava cuidando das roupas, ele viu que havia um homem correndo em sua direção. 

Por ser muito destemida, mesmo sem saber de quem se tratava, Yewa permaneceu no mesmo lugar, não se amedrontando com o homem que corria em sua direção.

Quando o homem chegou, esbaforido com a corrida, Yewa viu que era Orunmila Elerin Ipin Ibikeji Olodunmare, ou seja, o Deus da Divinação, o Testemunha da Criação, o Segundo de Olodunmare. Orunmila disse à Yewa que estava correndo, pois Iku (a Morte) estava à sua caçada e temia por sua vida.

Yewa prontamente retirou todas as roupas que estavam na gigantesca cabaça, emborcando-a sobre Ifá e dizendo ao mesmo que, ele deveria ficar imóvel e sem falar nada, até que Iku fosse embora. 

Yewa sentou-se na cabaça e fingiu lavar as roupas, esperando que a morte chegasse. Yewa sabia que não corria risco, sendo que Iku não procurava por ela, mas sim por Orunmilá. 

Passado alguns minutos, Iku chegou ao local onde estava Yewa, indagando-lhe se havia visto um certo homem, informando as características de Orunmilá. Yewa prontamente disse que sim, que esse homem havia passado correndo, seguindo o curso do rio abaixo. Iku seguiu às margens do rio, no entanto, sem jamais conseguir encontrar Orunmilá.

Passado o susto, Yewa levantou-se e Orunmilá surgiu agradecendo a imprescindível ajuda de Yewa. Como forma de reconhecimento por ela ter salvado sua vida, Orunmilá fez uma magia, conferindo à Yewa, o poder da vidência, como ele mesmo Orunmilá o tem. Orunmilá leu ainda, a mente de Yewa, que almejava por um filho. 

O Deus da Adivinhação disse à Yewa que ela seria mãe em breve e, por fim, a levou para casa, tornando Yewa sua esposa.

Que Òsùmàrè Aràká continue sempre olhando e abençoando todos.