terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Etù a galinha D'Angola


A Galinha de Angola era uma ave muito feia e por isso, afastava as pessoas de perto de si, mesmo sendo muito rica. Ela vivia abandonada em uma grande floresta em meio a sua riqueza.

Cansada de ser desprezada, resolveu consultar o oráculo sagrado no Palácio de Obatalá. Quando lá chegou, o Sacerdote a colocou para fora, dizendo que ela deveria estar usando um Alá branco para entrar na casa do Grande Deus Funfun. Ainda mais triste, a Galinha de Angola resolveu ir para outra floresta e de uma vez por todas, deixar de conviver perto de
tudo e todos.

Após 21 dias caminhando, a Galinha de Angola parou em uma floresta, sem saber que era sagrada (Igbodu). Lá, ela encontrou um velho maltrapilho gemendo de dores. Esse velho disse:

“Pare! estou muito doente e não tenho dinheiro para me alimentar, me dê o que comer e beber, por favor,”!

A Galinha de Angola pegou tudo o que tinha e deu ao velho homem que, após saciar a sua fome e sede, caiu dormindo em sono profundo. A Galinha de Angola continuou preocupada com o velho e ficou ao seu lado enquanto ele dormia. Ao acordar, o velho perguntou-lhe, porque ainda estava lá, fazendo companhia para aquele velho maltrapilho.

A Galinha começou a dizer que não poderia abandoná-lo, pois ele estava precisando dela, dize sua história ao velho, falando que todos lhe achavam feia, com um aspecto repugnante e que não mais queria viver.

O Velho respondeu que o seu exterior não importava em nada, pois por dentro, ele era um dos seres mais belos que existia. Disse que aquela era uma floresta sagrada e que na verdade, ele era Obatalá. A Galinha de Angola ficou surpresa com a revelação, pedindo-lhe desculpas por entrar na floresta sagrada.

Obatalá pegou Efun e começou a pintar a Galinha de Angola, que ficou muito bonita. Além disso, Obatalá disse que, o maior símbolo para os iniciados era o Osù e modelou um na superfície da cabeça da Galinha de Angola, dizendo que, a partir daquele momento, ela seria o Animal mais Sagrado do Culto aos Òrìsàs, pois somente ela, traz o Grande Osù em sua cabeça.

Essa história é um grande ensinamento, pois mostra que não podemos julgar ninguém por sua aparência, mostra que não devemos jamais negar comida e bebida. Nossa religião oferta, ajuda e acolhe, essa é mensagem que devemos guardar.

Que nosso Pai Òsùmàrè Aràká continue olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè

O USO DO EKODIDÉ

Ekodidé 

Ekodidé, akodide ou okodide como é chamado pelo povo do santo é uma pena vermelha, extraida da cauda de um tipo de papagaio africano, chamado no Brasil de (papagaio do Gabão) ou papagaio-cinzento.

Pertence à espécie psittacus erithacus, denominado pelo povo Yorùbá como Odíde. Esta pena é utilizada nos ritos de passagem, na feitura de santo e por todos eleguns, que carregam em sua testa ou no centro da cabeça, simbolizando a realeza, honra, status adquirido pelo fato dele ter se iniciado para ser um novo sacerdote dedicado ao culto daquele Orixá, possibilitando a este individuo o dom da palavra e sabedoria no novo aprendizado desta cultura chamada de candomblé. 

Lenda do uso do Ekodidé 

“Uma sacerdotisa cujo nome era Omo Òsum (filha ou descendente de Oxum) servia a Òxàlá e estava encarregada de zelar por seus paramentos e particularmente por sua coroa. 

Alguns dias antes do festival anual, umas seguidoras de Òxàlá , invejosas da posição de Omo Òsum, decidiram roubar a coroa e joga-la nas águas. Quando Omo Òsum descobriu o furto, seu desespero foi profundo. 

Uma menina que ela criava aconselhou-a a comprar, no dia seguinte de manhã, o primeiro peixe que encontrasse no mercado. No dia seguinte, Omo Òsum não conseguiu encontrar nenhum peixe e foi somente na sua volta que encontrou um rapaz que trazia um grande peixe à cabeça. 

Chegando à sua casa, Omo Òsum não conseguia abrir o peixe. A garota apanhou um pedaço de faca muito usado – cacumbu – e facilmente conseguiu fender a barriga do peixe no interior da qual luzia a coroa. 

Chegando o dia da grande cerimônia, as invejosas sabendo que Omo Òsum havia miraculosamente encontrado a coroa, decidiram recorrer a trabalho mágico para desprestigiar Omo Òsum em frente a Òxàlá. 

Elas colocaram um preparado na cadeira de Omo Òsum , situada ao lado do trono de Òxàlá.



Todo mundo estava reunido e esperava em pé a chegada do grande Oba. Quando chegou, sentou-se e fez sentar-se todos os presentes. Em seguida pediu a Omo Òsum que lhe desse os paramentos. 

Quando ela quis levantar, foi incapaz de fazê-lo. Tentou veementemente várias vezes a conseguir, enfim, mas o preço do grande esforço foi desgarrar as partes baixas de seu corpo que começaram a sangrar copiosamente, manchando tudo de vermelho. 

Òxàlá, cujo tabu é o vermelho, levantou-se inquieto, e Omo Òsum, aturdida e envergonhada, fugiu. Segue-se uma longa odisséia durante a qual Omo Òsum foi bater à porta de todos os Orixás e nenhum deles quis recebê-la. 

Enfim, ela foi implorar ajuda de Oxum, que a recebeu afetuosamente e transformou o corrimento sangüíneo em penas vermelhas do pássaro odide, chamadas ekódidé ou ikóóde, que iam caindo dentro de uma cabaça, colocada para recebê-las. 

Diante desse mistério – awo – a transformação do corrimento de sangue em ekódidé, todos regozijaram-se, começando os tambores a rufar e a correrem de todas as partes para assistir ao acontecimento: Yèyè sawo: Mãe fez mistério (Mãe conhece segredo, é mistério). 

A festa se organizou e todas as noites Oxum abria as portas para receber os visitantes que, entrando, apanhavam um ekódidé e colocavam cauris (dinheiro) na cuia colocada ao lado. Todos os Orixás vieram tomar parte no acontecimento. 

Finalmente, o próprio Òsàlá foi atraído pelas festividades. Apresentou-se em casa de Oxum e, como os outros, saudou-a fazendo o dòdòbálè, apanhou um ekódidé e o prendeu em seus cabelos. 

Um cântico relembra para sempre essa circunstância: Òdòfin dòdòbálè k’obinrin – Òdòfin (Òrinsàlà) saúda prostrando-se frente à mulher. Mesmo o grande Orixá Funfun faz o dòdòbálè – alongando-se no solo, tocando-o com o peito em sinal de respeito e de submissão – diante do poder de gestação”.