quarta-feira, 8 de agosto de 2012

ABIYAN


Dentro dos cultos afros-brasileiros existe uma categoria de pessoas que são classificadas de Abiyans.

A palavra Abiyan quer dizer: Abi= "aquele que" e An= seria uma contração de "Onã", que quer dizer "caminho". As duas palavras aglutinadas formaram o termo Abiyan, que quer dizer "aquele que começa", "um novo caminho". E é isto, o Abiyan é uma pessoa que está começando um novo caminho, uma 
nova vida espiritual.

O Abiyan também pode ter fios de contas lavados, obrigação de bori e, até em alguns casos, ter orixá assentado.

O Abiyan é um pré-iniciado e não um simples frequentador, como muitas das vezes é classificado.

Um Abiyan pode desempenhar várias atividades dentro de um terreiro, como por exemplo, varrer, ajudar na limpeza, ajudar nos cafés da manhã e almoços comunitários realizados em dias de festas de orixá, lavar louças, ajudar na decoração do barracão, enfim, o Abiyan pode desempenhar várias tarefas sem maior envolvimento religioso.

O período de Abiyan é de muita importância pois, é nesse período que o recém-chegado no Candomblé passa a observar o comportamento e a conviver com os já iniciados.

Existem pessoas que passaram por um longo período sendo Abiyan, antes de se iniciarem no Candomblé. Portanto, vale ressaltar a importância deste período, ou seja, Abiyan e dizer que o frequentador em yorubá, chama-se Lemó-mú.

O PRECONCEITO VELADO – QUANDO EU TIVER UM FILHO, ELE SÓ ENTRA NO CANDOMBLÉ QUANDO CRESCER.



Em continuidade a série O PRECONCEITO VELADO, iniciada na semana passada, quando falamos sobre a importância das cerimônias públicas do Candomblé (As Festas), hoje abordaremos a frase em título, dita infelizmente, por muitos membros do Candomblé.

Em outros segmentos religiosos, as crianças tão logo nascem,
passam por preceitos que lhe conferem a sua entrada naquela religião, como exemplo, recordamos do batismo. No Candomblé, contudo, algumas pessoas acreditam que as crianças não devem ser iniciadas, sendo uma decisão que deve ser tomada por elas, quando do seu crescimento. 

Sobre isso, é importante lembramos que a decisão da iniciação é do Òrìsà, revelada por meio da consulta ao oráculo, por um sacerdote. No entanto, o Candomblé é uma religião que abraça em seu seio, crianças, jovens, adultos e idosos. Nesse sentido, podemos afirmar que as crianças e os idosos são peças fundamentais da nossa crença. As crianças são o futuro, serão elas que darão continuidade a missão dos nossos Ancestrais e, os idosos são o que chamamos de Bibliotecas Vivas, donos do conhecimento acumulado ao longo de anos, que nos orientam nos passos que devemos seguir.

Assim sendo, não podemos privar nossas crianças desta magnífica religião que é o Candomblé. Desde muito cedo elas devem ser orientadas sobre nossos costumes, participar do convívio do ègbé e, se por determinação do Òrìsà tiverem que ser iniciadas, que esse processo ocorra de forma sublime, para que no futuro, elas também saibam da importância de transmitir sua cultura aos seus filhos e netos.

Ao observamos atentamente a história dos nomes mais representativos do Candomblé, identificamos que grande parte desses ícones, entrou na Religião dos Òrìsàs, ainda criança. Recentemente, foi publicado o CD Cânticos que Encantaram Pierre Verger, no qual o venerável Ògán Erenilton da Casa de Òsùmàrè, ainda criança, já tocava junto aos grandes mestres do Atabaque. Mas imaginem se ele tivesse sido privado de sua mãe, a célebre Mãe Simplicia de Ògún desta convívio?

Nosso querido Sacerdote, Baba Pecê, foi iniciado ainda bebê e hoje, mantém firme as tradições religiosas do nosso povo, sendo um dos maiores defensores dos nossos costumes e da nossa ancestralidade. Isso, só reforça que, quando mais cedo nossas crianças aprendem nossos costumes, mais cedo saberão o poder magnífico dos nossos Òrìsàs, como respeitá-los e, principalmente, perpetuar essa linda e rica tradição. Faça parte deste movimento, compartilhe essa nota no seu mural!

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoado todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Porque Jogamos Água à Rua?


A misteriosa Religião dos Òrìsàs é norteada de costumes e dogmas, um deles é aquilo que chamamos de “despachar a rua”, que condiz em jogar três punhados de água, antes de entrar ou sair de casa. Mas porque fazemos isso? Primeiramente é importante recordarmos da importância da água na nossa cultura. No Candomblé não se faz nada sem água, ela que umidifica, resfria e fert
iliza. Nós mesmos, antes de nascermos, no útero de nossa mãe, ficamos o período gestacional na água do ventre materno, somente isso já seria o suficiente para sermos gratos à água diariamente, afinal, sem ela não existiríamos.

Há muitos momentos em que despachamos a porta. As ocasiões mais comuns são ao acordamos, ao sairmos de casa e ao retornarmos para casa. Mas não são somente nesses momentos. Por exemplo, há determinadas cantigas que retratam um momento de muita turbulência na vida do Òrìsà, podendo despertar sua cólera se entoadas em momentos inoportunos. Nessas situações, o Babalòrìsà ou Ìyálòrìsà, sempre atento, solicita à uma antiga egbon, que jogue água à rua, apaziguando o Òrìsà que foi recordado de um momento adverso em sua vida no Aye.

Em suma, em todos esses momentos, o objetivo é apaziguar. Há uma frase em yorùbá que diz “Somente a Água Fresca Apazigua o Calor da Terra”. Ao acordamos, despachamos a porta, recitando palavras que tem por objetivo, pedir que aquele dia seja de tranqüilidade e de harmonia. Quando estamos saindo de casa, jogamos água à rua, rogando à Èsù Oná (O Senhor dos Caminhos), que aquela água, apazigúe os caminhos que vamos percorrer e que, sobretudo, não nos deparemos com situações que nos exponha a riscos. 

Ao entrar na Casa de Candomblé, por exemplo, despachamos a rua, pedindo licença aos Donos da Porteira, reverenciando-os sempre. Em muitas casas de Candomblé a porteira está sempre aberta, isso não significa que não há dono, muito pelo contrário. Nesse aspecto, pedimos licença (Ago) aos Donos da Porteira, mostrando nosso respeito e, pedindo que a água resfrie a terra, até o momento em que, vamos nos purificar por meio do Omi Ero ou Omi Agbo, para poder então, partilhar do convívio no Terreiro de Asè.

Por isso, jamais se esqueçam, apazigúe a terra antes de caminhar sobre ela.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoado todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Sàngó e Yànsàn, uma única alma em corpos distintos.


É muito comum vermos nas obrigações de Sàngó, a presença imponente da rainha dos ventos, Yánsàn. Em Salvador, é muito comum ouvir os antigos membros do Candomblé, falarem que Sàngó e Yánsàn são uma única alma, quando mas por que isso?

Sàngó, almejava ser muito poderoso e respeitado, para tanto, resolveu consultar um Sacerdote, afim de saber o q
ue o grande Deus da adivinhação lhe recomendaria. O Sacerdote disse à Sàngó, que o mesmo deveria realizar um sacrifício, de modo que o mesmo conseguisse seus objetivos.

Após a realização da oferenda, Sàngó passou a falar com uma voz de trovão, bem como, começou a lançar da boca, grandes labaredas que incendiava onde fosse de sua vontade (Obá Onínálénu... - "O Rei que solta fogo pela boca..."). Esses poderes fizeram com que Sàngó fosse respeitado por todos, sendo chamado de Erujeje (o temido).

Yánsàn, ante ao poder de seu marido, interpelou o Deus da Adivinhação, à busca de tornar-se tão poderosa como Sàngó. O Deus da Adivinhação, por sua vez, aconselhou à Yánsàn, o mesmo sacrifício outrora indicado à Sàngó. Assim Yánsàn fez, adquirido os mesmos poderes.

O grande rei de Òyó, foi tomado por uma grande cólera ao descobrir que sua esposa havia adquirido poderes semelhantes aos seus, iniciando uma grande disputa entre as duas Divindades. Yánsàn recorreu à Olódùnmarè, para que ele, o grande pai da criação, desse fim ao impasse. Olódùnmarè determinou que a partir daquele dia, a voz de Sàngó soaria como o trovão e que provocaria incêndios onde ele bem entendesse, mas para que isto pudesse acontecer, seria necessário que Yánsàn, falasse primeiro, para que o fogo de suas palavras (o brilho dos raios - "Imana") provocassem o surgimento do som das palavras de Sàngó (o trovão), assim como o fogo que elas produzem sobre a terra (os incêndios provocados pelos raios que se projetam sobre a terra).

É por este motivo, até hoje, não se pode ouvir o estrondo do trovão sem que antes, um raio ilumine o céu. Quando isso ocorre, os membros do Candomblé, tem por costume, saudar Yánsàn e Sàngó (Epa Hey, Kawoooo).

Na Bahia, é comum se dizer que Sàngó e Yánsàn são uma única alma, em corpos distintos, alusão a história supra narrada. No terreiro de Òsùmàrè, anualmente ocorrem as festividades de Yánsàn e de Sàngó, em que alguns rituais como o do Ajere, recordamos dessa antiga história.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó