A assistência terapêutica dos espíritos e a medicina oficial da Terra
PERGUNTA: - Diversas vezes tendes afirmado que a principal finalidade do Espiritismo é "curar" o espírito. Assim, indagamos o seguinte: - Porventura os males do corpo físico não merecem que os bons espíritos nos ajudem a curar as doenças que afetam a nossa saúde?
RAMATÍS: - O Espiritismo não tem como finalidade principal e urgente curar as doenças do corpo. Embora, sem alarde, coopere nesse setor de ordem humana, o seu objetivo relevante é ensinar, é orientar o espírito, no sentido de libertar-se de seus recalques ou instintos inferiores até alcançar a "saúde moral" da angelitude.
Por conseguinte, não pretende competir deliberadamente com a medicina do mundo, conforme pressupõem alguns médiuns e neófitos espíritas.
Se esse objetivo fosse o essencial, então, os mentores que orientaram Allan Kardec na codificação da doutrina espírita certamente ter-lhe-iam indicado todos os recursos e métodos técnicos que assegurassem aos médiuns seguro êxito terapêutico no combate às doenças que afetam a Humanidade.
O Alto inspira e coopera nas atividades terapêuticas utilizando os médiuns, mas sem qualquer intenção de deprimir ou enfraquecer a nobre profissão dos médicos, cujos direitos acadêmicos devem prevalecer acima da atuação dos leigos.
Se assim não fora, então, a medicina teria de retomar à velha prática do curandeirismo supersticioso do tempo em que se exercia uma terapêutica empírica e um tanto rude.
Embora os espíritos benfeitores auxiliem por intuição os médicos dignos e piedosos, que se devotam a curar o ser humano, deveis considerar que os profissionais da Medicina também constituem uma legião de missionários dos mais úteis à humanidade.
Mesmo porque tais cientistas, além das suas funções comuns, ainda se dedicam a pesquisar elementos terapêuticos que vençam as moléstias rebeldes, de conseqüências fatais.
Além disso, a montagem de seus consultórios, dispensários ou laboratórios, que exigem gastos vultosos, confere-lhes o direito de se remunerarem de acordo com os seus préstimos e investimentos que são obrigados a fazer, em benefício dos próprios enfermos.
Eis por que o Espiritismo não é destinado a concorrer com os médicos terrícolas, nem tem a pretensão de sobrepor-se à sua capacidade profissional.
O alívio, o reajuste físico ou as curas conseguidos por intermédio da faculdade mediúnica têm por objetivo principal sacudir o ateísmo do enfermo, despertando-lhe o entendimento para os ensinamentos da vida espiritual.
Aliás, quando Jesus curava os doentes e iam ao seu encontro, o seu objetivo era curar os corpos para, indiretamente despertar ou "curar" as almas. E a mediunidade de cura tem, igualmente, essa finalidade.
Diversos espíritos e médicos desencarnados continuam, do "lado de cá", exercendo a sua função mediante assistência telepática aos seus colegas encarnados. E muitas vezes o êxito da sua atuação profissional teve a cooperação de um colega já desencarnado.
Deste modo, muitos médicos, embora inconscientes do fenômeno, agem também como "médiuns". E, neste caso, conseguem obter maior êxito e eficiência de resultados do que o médium leigo em medicina.
Mesmo porque o médico, ainda que não capte, com fidelidade, a intuição do espírito que o assiste, está habilitado a prescrever ao enfermo a medicação justa, devido aos seus conhecimentos fisiológicos e patológicos.
Além disso, os médicos, em geral, também são homens de consciência, pois, muitas vezes, sofrem angústia dolorosa ao perceberem que se está extinguindo a vida do paciente que se empenham em salvar com o mais devotado esforço que lhes é possível.
Razão por que, embora lhes cumpra o dever de se empenharem em salvar a saúde e a vida dos seus doentes, a sua função de benfeitores da Humanidade faz que eles sejam sempre assistidos pelo Alto.
Em tais condições, seria injusto que os médicos terrícolas tivessem de renunciar, cedendo à "competência gratuita" dos seus colegas já "falecidos". A mediunidade de cura mediante o Espiritismo, em sua profundidade, é uma cooperação de objetivo crístico condicionada à evangelização do homem.
PERGUNTA: - Em face de vossas considerações, não seria, então, mais sensato desistir-se de utilizar o receituário mediúnico ou espírita?
RAMATÍS: - Nosso intuito é esclarecer-vos quanto ao lamentável equívoco de muitos adeptos espíritas confundirem a finalidade precípua do Espiritismo, que é a de "curar o espírito enfermo", e não a de estabelecer-se na Terra uma organização mundial de assistência médica, de caráter espírita, destinada a cuidar, essencialmente, da saúde do corpo de seus habitantes.
Contudo, embora o receituário mediúnico não seja a razão primordial do Espiritismo codificado por Kardec, é, conforme já acentuamos, um veículo benéfico que instiga o homem a despertar sua consciência para os deveres e responsabilidades do espírito imortal.
PERGUNTA: - Todos os espíritos de médicos desencarnados apreciam receitar do Além, através dos médiuns receitistas?
RAMATÍS: - Nem todos os médicos desencarnados gostam de receitar medicamentos ou efetuar diagnósticos; muitos deles até se desinteressam completamente de exercer sua profissão já desempenhada na Terra, a qual nem sempre lhes foi de completo sucesso ou mesmo de simpatia.
Outros, embora se devotem a socorrer os encarnados sofredores, receiam assumir o compromisso de prescrever medicação pelos médiuns, porquanto, em geral, estes ainda são anímicos, inseguros ou ignorantes, com reduzida porcentagem dos que realmente se ajustam aos imperativos sensatos e lógicos do Espiritismo.
PERGUNTA: - Dizem alguns espíritos que há médicos materialistas bem melhor assistidos do que muitos médiuns de cura. Isso é verdade?
RAMATÍS: - O médico bondoso, honesto, criterioso e desapegado do preconceito acadêmico, quer e seja espírita, católico, protestante ou ateu, é sempre acessível às boas intuições e à a ajuda dos espíritos benfeitores, que então o orientam favoravelmente para tratar com êxito os seus pacientes.
O auxílio do Alto não se restringe exclusivamente aos espíritas ou médiuns, mas, em particular, a todas as criaturas de bom caráter e devotadas aos objetivos espirituais superiores. Por isso, o médico não precisa aderir ao Espiritismo, para só então merecer a assistência dos bons espíritos.
No entanto, os médiuns presunçosos, atrabiliários, avessos ao estudo ou mercenários, vivem cercados de almas inferiores e perturbados em suas intuições, o que os faz cometer os piores e ridículos desacertos.
Quer eles trabalhem junto à mesa espírita ou participem dos terreiros ruidosos de Umbanda, não passam de antenas vivas atraindo os espíritos gozadores, perversos ou mistificadores, enquanto os homens e os médicos bons e prestativos têm sempre a cooperação do Alto.
Infelizmente, certas criaturas mercenárias ainda usam a sua faculdade mediúnica para os negócios escusos, aliando a prática da caridade na seara espírita com a remuneração fácil da moeda do mundo!
PERGUNTA: - Mas não é justo o protesto dos médicos terrenos contra o receituário mediúnico e a intromissão dos espíritos desencarnados na esfera médica profissional? Porventura isso não é uma concorrência desleal, considerando-se que a profissão médica é fruto de estudos exaustivos e de inúmeras preocupações financeiras?
RAMATÍS: - Desde que a medicina acadêmica ainda não consegue curar todas as enfermidades do corpo físico e se mostra incapacitada para solucionar as doenças psíquicas de origem obsessiva, é evidente que os médicos não podem censurar os esforços do curandeirismo mediúnico, que tenta suprir as próprias deficiências médicas no tratamento das moléstias espirituais.
A medicina oficial, malgrado o seu protesto à intrusão do médium ou do curandeiro na sua área profissional, fracassa diante dos casos de obsessões, quando pretende tratá-los de modo diferente da técnica tradicional adotada pelos espíritas e médiuns.
Além disso, os brasileiros pobres vivem impossibilitados financeiramente de recorrer aos serviços médicos competentes, por não poderem indenizar as despesas do clínico, quanto mais submeterem-se a cirurgia onerosa.
Considerando-se que ainda não existe um serviço médico eficiente e devidamente difundido por todo o território brasileiro, em que perto de mil municípios não possuem facultativos de qualquer espécie, nem hospitais, não deve, pois, censurar-se o médium receitista, quando, em sua terapêutica censurada pela medicina acadêmica, ele procura atender aqueles que não podem ser tratados pela via oficial.
Não há dúvida de que também interferem os falsos médiuns ou' charlatões que enodoam o seu serviço com a cupidez do ganho fácil, assim como os médicos inescrupulosos negociam em detrimento do serviço sacerdotal dos seus colegas dignos.
Portanto, a prática do curandeirismo e o receituário mediúnico, no Brasil, não devem ser considerados como uma intromissão indébita ou leviana de seus praticantes, na esfera da Medicina oficial; mas, sim, um efeito decorrente da falta de amparo e de assistência social por parte das autoridades responsáveis pela saúde do povo, e, também, pela ineficácia de alguns medicamentos bombásticos e certos médicos inábeis.
PERGUNTA: - Malgrado os vossos louváveis conceitos no assunto, o receituário mediúnico é considerado medicina ilegal e passível das sanções do Código Penal. Que dizeis?
RAMATÍS: - Porventura seria sensato e humano abandonar-se o enfermo às suas dores atrozes, sem ministrar-lhe o cataplasma caseiro, o chá doméstico ou a infusão sedativa, só porque não se encontra presente o médico diplomado pela faculdade de Medicina?
Não seria o mesmo que deixar o cadáver insepulto, alegando-se a ausência da empresa funerária oficial?
Quando o vosso governo socorrer e higienizar as regiões insalubres do país, centuplicando os postos de socorro e suprindo a falta de médicos no seio das populações afastadas, não tenhais dúvida de que o curandeirismo e o receituário mediúnico tendem a regredir por falta de pacientes e do possível êxito mais amplo da Medicina.
Mas, até que isso se realize, os pobres, os doentes e os obsediados buscarão os médiuns, os curandeiros e os benzedores, a fim de serem aliviados de seus males físicos ou psíquicos.
Mesmo porque a índole fraterna e o sentimento generoso do brasileiro fazem-no um curandeiro em potencial, tal é a sua ansiedade de servir e aliviar a dor alheia. E, por vezes, o próprio médico eficiente e bom capaz de curar inúmeros pacientes, não se constrange de recorrer também à consulta mediúnica, quando exaure-se no sistema nervoso ou sente-se abalado por algum incomodo psíquico.
Mas isso não é nenhum desdouro para o médico pois é da crença e da confiança inata do brasileiro o seu tributo aos espíritos desencarnados, e, por isso, todos os procuram junto daqueles que revelam poderes mediúnicos.
Cremos, também, que ainda é bem mais ilegal e censurável a medicina praticada por certos médicos gananciosos e inescrupulosos, que fazem da dor alheia próspero negócio ou especulam o sofrimento à guisa de vantajosa transação bancária!
Certos facultativos não trepidam no comércio do "aborto" provocado; alguns pregam sustos dramáticos nos seus clientes ricos e ingênuos, transformando-lhes a febre inofensiva ou o resfriado comum num caso grave e melindroso; outros preferem o negócio da operação mutiladora sem motivos graves, ou a indústria do câncer justificado pela instrumentação moderna e aparatosa.
Em suma, se existem médicos criteriosos e dignos, que fazem da Medicina um sacerdócio abençoado, há também os inescrupulosos, que exploram a doença humana cobrando as taxas mais escorchantes, sob a garantia do seu diploma oficial. Portanto, bem pouco adianta proibir as atividades dos curandeiros sem diploma, se ainda existem os profissionais diplomados que operam em flagrante prejuízo dos seus próprios enfermos!
O médico ganancioso e desonesto frauda ou viola o juramento de sua profissão acadêmica, tornando-se também um delinqüente passível das penalidades do Código Penal, tanto quanto o curandeiro e o médium que praticam a medicina ilegal. Eis por e os espíritos benfeitores preferem antes ajudar o médium ou o curandeiro que serve gratuitamente ao próximo, em vez de assistirem o médico falacioso, cuia avidez pela fortuna fácil compromete a profissão sacerdotal da Medicina.
PERGUNTA: - Mas, apesar de tudo isso, não seria sensato e justo que o médico fosse o único responsável pelo tratamento das doenças dos encarnados, pois, além de amparado pela Lei, é realmente a pessoa mais competente e de curso terapeuta especializado para socorrer os enfermos nas suas complicações imprevistas?
No entanto, que podem fazer os médiuns receitistas, se, depois de receitarem os medicamentos, eles nada mais sabem, em favor dos enfermos, nos casos de emergência ou de reações perigosas que exigem o controle médico?
RAMATÍS: - Nem o médico nem o médium lograrão qualquer sucesso junto dos enfermos, se em virtude do cumprimento inapelável da Lei do Carma eles já estiverem condenados a abandonar o corpo físico na cova terrena.
Quando isso acontece, tornam-se inúteis todos os recursos terapêuticos da Medicina, assim como os próprios espíritos desencarnados também se desacertam nos seus prognósticos e no receituário através dos médiuns curadores.
Apesar da capacidade dos médicos, dos mais avançados aparelhamentos da medicina moderna e do progresso crescente da indústria farmacêutica do mundo, em cada vinte e quatro horas desencarnam em todas as latitudes geográficas da Terra milhares de pessoas de diversas idades e condições sociais, de ambos os sexos.
Os terrícolas em sua maioria, baixam à sepultura depois de intoxicados pela alopatia, perfurados pelas agulhas hipodérmicas, bombardeados pela eletroterapia, afetados pela radiografia ou então mutilados pela cirurgia, quer sejam crianças, moços ou velhos, mesmo depois de assistidos ela maior sumidade médica do mundo ou atendidos pelo mais famoso médium terapeuta.
Diante do sofrimento corretivo decretado pela Lei de Causa e Efeito não tenhais dúvida: - fracassa tanto o médico quanto o médium, pois a dor, nesse caso não é acidente nem doença, mas um recurso disciplinador para o espírito retornar à sua verdadeira rota espiritual e evitar maiores prejuízos para o futuro.
PERGUNTA: - Porventura o médico também não pode desempenhar junto ao doente as mesmas funções mediúnicas que caracterizam o médium? Ambos não são seres humanos, e, por isso, espíritos encarnados, com a vantagem de o primeiro possuir um curso especializado na arte de curar?
RAMATÍS: - O médico, em geral, firma o seu diagnóstico na dependência dos diversos exames de laboratório e através de aparelhamento especial, como o estetoscópio, o eletrocardiógrafo, o encefalógrafo ou as chapas radiográficas, podendo mesmo incidir em algum equívoco pela deficiência técnica dos mesmos, ou devido ao seu material em uso.
Não há dúvida de que também existem médicos intuitivos de muita sensibilidade, com um certo "quid" espiritual, que os torna antenas vivas aguçadas e lhes permite captar as sugestões mais certas dos espíritos terapeutas, sem precisar mesmo do exame sintomatológico habitual.
Mas o médium digno e experimentado em boa sintonia espiritual é um receptor sensibilíssimo do mundo oculto, alcançando louvável sucesso em suas atividades caritativas, embora sem expor as minúcias e os pormenores próprios da terminologia médica.
O médico ou o médium transformam-se em instrumentos abençoados, quando junto aos enfermos preocupam-se mais em aliviá-los de sua dor, do que auferir qualquer vantagem material. Em conseqüência, o médico também pode desempenhar junto aos enfermos as funções de médium e atender às intenções dos espíritos benfeitores, caso seja criatura afetiva, sensível, e mais um sacerdote do que um negociante.
PERGUNTA: - Desde que o Espiritismo não tem por objetivo essencial competir com a medicina terrena, mas é uma doutrina espiritualista com a finalidade de esclarecer o espírito do homem e não de curar o corpo carnal, qual é enfim, a razão do receituário mediúnico? O certo é que os médiuns, no Brasil, extraem diariamente milhares de receitas mediúnicas sob o patrocínio da doutrina espírita, embora ela seja eminentemente espiritual. Que dizeis?
RAMATÍS: - Repetimos, novamente, que as curas espíritas incomuns despertam e atraem para o Espiritismo os homens ateus, médicos ortodoxos, religiosos dogmáticos e até os indiferentes, que depois de abalados em sua velha atitude mental não podem deixar de respeitar e mesmo interessar-se pelos ensinamentos valiosos da vida imortal.
Muitas criaturas, depois de exaustas da sua "via-crucis" pelos consultórios médicos, hospitais cirúrgicos ou pelas estações terapêuticas, já decepcionadas e descrentes das chapas radiográficas, dos eletrocardiogramas, da radioterapia, da encefalografia, ou mutiladas pela cirurgia, aceitam incondicionalmente os princípios morais e espirituais do Espiritismo, depois de curadas extraordinariamente pela água fluidificada, pelos passes mediúnicos ou medicamentos receitados pelos espíritos desencarnados.
Quantas vezes o cientista que só confia na pesquisa de laboratório e na ciência oficial, depois de completamente ,desanimado dos recursos médicos do mundo, ainda consegue livrar-se da doença misteriosa que o tortura, eliminar o eczema da esposa querida, curar a asma crônica do seu progenitor ou debelar as convulsões deformantes do caçula, graças aos serviços do caboclo ingênuo, da velha alquebrada ou da preta-velha humilde?
Aliás, o homem cético, fanático ou indiferente ao seu próprio destino, é sempre um aprendiz em potencial para sofrer o curso doloroso através das instituições hospitalares e os consultórios médicos do mundo, a fim de convencer-se da precariedade dos aparatos científicos diante da sua desdita interminável.
Mas depois do "milagre" espírita que lhe restitui a saúde e a esperança de viver, ele sente-se obrigado a mudar de atitude sem deixar de reconhecer a intervenção sensata e amiga do mundo oculto sobre a vida humana.
Assim, embora o Espiritismo não seja um movimento com o intuito de competir com a medicina oficial, ele corresponde, no entanto, à promessa abençoada do Cristo, quando prometeu o envio do Consolador no momento oportuno para curar os enfermos de espírito, embora isso os homens ainda devam conseguir atraídos primeiramente pela cura do próprio corpo físico.
PERGUNTA: - Em virtude de se tratar de um tema de suma importância para esclarecimento de nossas palestras doutrinárias sobre a função educativa da dor no ser humano, poderíeis estender-vos mais um pouco quanto ao fato de as criaturas materialistas, religiosas fanáticas ou indiferentes se converterem ao Espiritismo após a sua cura por intermédio da receita mediúnica?
RAMATÍS: - Considerando-se que a gratidão deve existir mesmo no âmago da pior criatura, é evidente que a fann1ia de qualquer enfermo desenganado pela medicina do mundo, depois de salvo miraculosamente pela terapêutica mediúnica do Espiritismo, sente-se obrigada ao respeito e interesse pela doutrina que lhes traz a alegria e a saúde no seio do lar.
Deste modo, a cura mediúnica incomum termina por comprovar o poder dos espíritos desencarnados em atuarem no mundo material, quando vitalizam células, corrigem distúrbios nervosos, desentorpecem músculos atrofiados, eliminam infecções e até devolvem o raciocínio a criaturas alienadas. Os seus beneficiados sentem a responsabilidade espiritual pesar-lhes nos ombros, passando a exigir-lhes melhor compreensão moral dos seus deveres humanos no contacto diário com a Humanidade.
Embora nem todos os familiares dos enfermos beneficiados simpatizem, de início, com os preceitos espiríticos, muitas vezes, os mais sensíveis terminam aceitando a tese da reencarnação e a ação cármica da Lei de Causa e Efeito que rege os destinos da alma em prova educativa na matéria.
É por isso que os espíritas sempre louvam a dor e o sofrimento reconhecendo que a enfermidade os conduziu realmente à sombra amiga e confortadora da doutrina espírita, cavando-lhes fundo a personalidade humana, através da singeleza da água fluidificada, do passe mediúnico ou da receita dos desencarnados.
Eis os motivos por que os mentores espirituais ainda endossam o receituário mediúnico sob o patrocínio do Espiritismo, apesar das receitas inócuas, esdrúxulas ou completamente anímicas, produto da precipitação, ignorância ou puro animismo dos médiuns incipientes.
O bem espiritual já conseguido no serviço benfeitor do receituário mediúnico sob a égide espírita supera satisfatoriamente os equívocos e as imprudências de um mediunismo de urgência, mais preocupado pela cura do corpo físico, do que mesmo com a saúde do espírito imortal.
PERGUNTA: - Mas os médicos também não merecem censuras graves quando erram em prejuízo dos seus pacientes? Porventura não é algo criticável esse orgulho acadêmico de negar, "a priori" a possibilidade do mundo espiritual socorrer e curar os enfermos da Terra?
RAMATÍS: - Realmente, caso o Alto assim o queira, os enfermos podem curar-se facilmente das doenças tradicionais do corpo físico. Que seria dos animais, se o instinto ou a Natureza não os atendesse tão carinhosamente, amparando-os desde o nascimento até à morte e guiando-os mesmo para encontrarem o vegetal medicamentoso que lhes alivia as dores e lhes cura as doenças?
1 Essa proteção misteriosa e oculta que mantém a sobrevivência de todas as aves, animais e seres, que a tudo provê, atende e corrige, cuida desde o filhote do pássaro dentro de um ninho pendurado precariamente na forquilha do arvoredo, até do filho do elefante nascido nas furnas da floresta e já onerado por severos problemas de alimentação.
1 - Nota do Médium: É o caso dos cães, que, acometidos de cólicas intestinais, procuram um tipo de capim apropriado para aliviar suas dores, assim como os elefantes, que, pressentindo grave epidemia em sua espécie, viajam semanas a fio em busca de uma erva especial, cuja ingestão funciona à guisa de excelente vacina, livrando-os das doenças epidêmicas.
Por que o homem também não poderia gozar dessa graça sublime da Vida, desde pressentir o alimento ou o remédio natural que lhe seja mais útil e proveitoso para mantê-lo fisicamente sadio na face do orbe terráqueo? Mas, infelizmente, em face de sua anomalia psíquica, fruto do truncamento do sentido harmonioso e progressista da existência humana, a maioria dos homens é obrigada a socorrer-se doutra minoria, com a responsabilidade de velar pela saúde sempre perturbada. Paradoxalmente, esta minoria encarregada da saúde dos demais também não logra muito êxito quando precisa curar-se a si mesma!
Em conseqüência, não se pode culpar os médicos pejos seus equívocos no desempenho de sua profissão terapeuta porque, na realidade, os homens ainda não fazem jus à saúde física em absoluto, ante o desvio psíquico que exercem sobre si mesmos, no trato das paixões e dos vícios perniciosos e perturbam a contextura delicada o perispírito. Aliás, os fatos provam que é inútil a mobilização dos mais espetaculares e avançados recursos da terapêutica do mundo, caso o homem ainda não faça jus à saúde física, pois se a Medicina tem prolongado a vida, ela ainda não pôde vencer a morte!
PERGUNTA: - Entretanto, a medicina acadêmica, em face do seu progresso e recursos modernos, não deveria ser tão eficiente e sedativa como os tratamentos que, por vezes, os médiuns espíritas realizam com absoluto êxito? 2
2 - Nota do Médium: É o caso das operações espíritas, em que os pacientes sofrem as mais complexas intervenções cirúrgicas por parte dos espíritos desencarnados, sem manifestar qualquer dor ou reação incômoda. Aliás, em Congonhas do Campo, em Minas Gerais, tivemos oportunidade de assistir a diversas operações efetuadas pelo médium Arigó, sem que os operados manifestassem quaisquer sofrimentos, além do espanto e da surpresa.
RAMATÍS: - O tratamento médico do mundo terreno ainda é bastante contraditório, sendo exercido à base de substâncias indesejáveis, da mutilação cirúrgica, das cauterizações cruciantes e perfurações nos músculos ou nas veias pelas agulhas hipodérmicas porque os terrícolas ainda são criaturas cujo primarismo espiritual as torna passíveis de uma terapêutica severa e aflitiva. A medicina terrena não é culpada pela impotência em não curar todos os pacientes, ou pela impossibilidade de exercer a sua missão de modo suave indolor e infalível.
Tais contingências são uma decorrência psicomagnética oriunda dos recalques morais que residem no perispírito dos terrícolas, pois o corpo dos orgulhosos, egoístas, avarentos, vingativos, vaidosos, ciumentos, cruéis, hipócritas, maledicentes e lascivos ainda precisa sentir reações violentas e dolorosas, que repercutam no seu próprio espírito, de modo a condicioná-lo a uma reforma interior, que os sensibilize, no sentido de lhes despertar os sentimentos superiores, que são fundamentais para a sua evolução espiritual.
Mesmo as criaturas mansas de coração e até bondosas, mas que, no entanto, se encontram subjugadas por sentimentos atrozes, como sejam os cancerosos, não passam de almas delituosas no seu passado, e ainda em transe de purificação perispiritual.
Infelizmente, a Terra ainda é povoada por homens que matam pássaros à guisa de distração e "passatempo"; massacram os cães amigos e afogam os gatos nascidos em excesso, subtraindo-lhes o direito sagrado de viver.
Há, ainda, os que criam rebanhos de suínos, bois e carneiros, para arrancar-lhes a banha, a carne, o couro e a lã; depois, assam-lhes os restos mortais e os devoram epicuristicamente nos banquetes pantagruélicos!... Matam o cabritinho amigo na véspera de Natal ou alimentam de modo exagerado e mórbido os gansos, para enlatarem as pastas do seu fígado hipertrofiado!
E quando sua voracidade e sede de sangue não se satisfaz no extermínio dos "irmãos menores", eis que os terrícolas massacram-se entre si mesmos, transformando também em "pasta sangrenta", os mais jovens e os mais sadios, sob a metralha assassina! Criminosamente, escolhem a primavera para as ofensivas monstruosas ou transformam em fogo líquido milhares e milhares de crianças, moços, mulheres e velhos, sob o impacto da bomba atômica, embora estes últimos nada tenham a ver com essa luta fratricida! 3
3 - Nota do Médium: Em aditamento às palavras de Ramatís, podemos comprovar quão perverso e cruel ainda é o homem terreno. Vejamos a seguinte passagem descrita pelo testemunho do Dr. Paulo Nagai, médico japonês vitimado pela leucemia produzida pela radioatividade da bomba atômica lançada pelos americanos sobre Nagasaki.
Eis a sua observação, "in loco", de uma parte dos acontecimentos pavorosos da crueldade humana: "A pressão imediata foi tamanha que, no raio de um quilômetro, todo ser humano que se encontrava do lado de fora ou num local aberto, morreu instantaneamente ou dentro de minutos.
A 500 metros da explosão, uma jovem mãe foi encontrada com o ventre aberto e o futuro bebê entre as pernas. Muitos cadáveres perderam suas entranhas. A 700 metros, cabeças foram arrancadas, e, por vezes, os olhos saltavam das órbitas.
Alguns, em conseqüência das hemorragias internas, estavam brancos como folhas de papel, os crânios fraturados deixavam destilar o sangue pelos ouvidos.
O calor chegou a tal violência, que, a 500 metros, os rostos atingidos ficaram irreconhecíveis. A um quilômetro, as queimaduras atômicas tinham dilacerado a pele, fazendo-a cair, em tiras, deixando à vista a carne sangrenta. A primeira impressão não foi, segundo parece, a de calor, mas, sim, a de dor intensa, seguida de frio excessivo. A maioria das vítimas morria com rapidez. (Página 96 da obra Os Sinos de Nagasaki, autobiografia do Dr. Paulo Nagai).
No entanto, o Alto ainda se penaliza das criaturas humanas tão perversas e animalizadas, e, por isso, patrocina no mundo material a organização benfeitora da Medicina, que assim cumpre o sagrado dever de aliviar a dor humana tanto quanto possível, solucionando também os efeitos malignos das causas subversivas que o espírito enfermo verte para o seu corpo de carne.
Graças, pois, aos médiuns devotados e benfeitores, os homens ainda conseguem movimentar-se no mundo material apresentando certo equilíbrio fisiológico, apesar de seu constante auto-massacre mental e emotivo, em que o organismo físico funciona à guisa de depósitos de lixo e miasmas tóxicos drenados do perispírito.
O médico, portanto, não merece censuras porque também comete equívocos na tentativa justa de curar o seu paciente; mas este é que, em geral, por força da lei sideral que o disciplina sob o grilhão da doença, ainda não merece o alívio da dor ou a solução definitiva para a sua doença.
Certos de que sois convictos e cientes do processo cármico retificador do espírito, o qual se exerce através das reencarnações expiatórias no mundo material, tereis de admitir que, em face das tropelias, desmandos, crueldades das hordas famélicas e perversas do passado, esses mesmos espíritos belicosos precisam retomar sucessivamente à Terra, para a devida retificação de sua consciência espiritual ainda tão brutalizada.
E também é óbvio que ainda não merecem um tratamento suave, indolor e benfeitor por parte da medicina do mundo; e assim, os seus males físicos agravam-se tanto quanto eles mais procuram eliminá-los mediante drogas ou intervenções cirúrgicas. A nova existência, obedecendo aos princípios construtivos e justos das recuperações espirituais brinda-os também com a mesma crueza que adotaram em suas vidas anteriores no seio da Humanidade.
Tais espíritos ainda não merecem o socorro médico indolor, pois, em suas vidas pregressas, foram fanáticos inquisidores do Santo Ofício, torturadores do Oriente, tiranos na Pérsia, católicos no massacre de São Bartolomeu, perseguidores de cristãos nos circos romanos, bárbaros senhores de escravos, soldados sanguinários das hostes de César, de Tamerlão, de Atila, de Gêngis Khan, de Aníbal.
E há pouco tempo, assassinos dos judeus e dos povos indefesos sob o comando de Hitler. É evidente que esses impiedosos homens do passado encontram-se atualmente em provas acerbas, reencarnados na figura de cidadãos comuns, operários, médicos, militares, artistas, comerciantes, motoristas, advogados, enfermeiros ou participantes de diversas religiões e credos espiritualistas.
A sua dívida cármica é para com o orbe terráqueo, onde vazaram sua crueldade nas correrias turbulentas contra as populações e criaturas indefesas: e, por isso, a Lei inflexível, mas equânime, os obriga a pagar até o "último ceitil", colhendo os efeitos dolorosos das causas malignas semeadas no pretérito. Não há favorecimento sob a Lei Divina em abrir precedentes censuráveis, assim como a injustiça também é impossível se o processo é de angelização do homem.
Sem dúvida, a doença cruel é a terapêutica mais adequada para esses espíritos algo embrutecidos e refratários ao sentimento espiritual. Embora eles vos pareçam pacíficos e bondosos, ainda conservam no âmago da alma o potencial da violência e da falta de compaixão.
Assemelham-se às sementes virulentas que jazem humilhadas no solo ressequido, mas não tardarão em expelir com violência o seu tóxico logo que surja o clima apropriado. Deste modo, eles fazem jus à alopatia intoxicante, ao cautério cruciante, ao curativo doloroso e à cirurgia mutiladora, cumprindo a sua "via-crucis" como reparação às suas crueldades no passado.
Vivem de consultório para consultório, de hospital para hospital, decepcionados com a farmacologia do mundo, desiludidos pela terapêutica homeopática ou ervanária, assim como desatendidos pelos próprios espíritos desencarnados. Abatidos, cansados e profundamente humilhados pela vida que os maltrata, atingem a cova do cemitério e os seus corpos de carne transformam-se na "ponte viva", que depois intercambia para o subsolo os venenos do ódio, da raiva, da perversidade, da violência, do orgulho, da prepotência e cupidez gerados no barbarismo dos estímulos animais.
PERGUNTA: - Mas é evidente que muitos homens curam-se realmente pela homeopatia, pela terapêutica espiritista ou mesmo através dos préstimos do caboclo curandeiro, sem sofrimento ou aflição. Há alguma razão nessa diferença de cura, ou algum merecimento dos que assim são beneficiados?
RAMATÍS: - As pessoas de melhor graduação espiritual, ou que se encontram no fim de suas provas cármicas dolorosas pelos sofrimentos ou vicissitudes morais já sofridas nas vidas anteriores, realmente, são eletivas e beneficiadas pela homeopatia, irradiações fluídicas, passes mediúnicos ou água fluidificada, dispensando a medicina cruciante das reações tóxicas. Eis por que há tanta decepção e variedade quanto ao êxito do tratamento dos homens, na Terra, pois a terapêutica salvadora de determinada criatura é completamente inócua aplicada a outro enfermo nas mesmas condições físicas. 4
4- Nota do Médium: Vide o capítulo "O Tipo do Enfermo e o Efeito Medicamentoso", da obra Fisiologia da Alma, de Ramatís, onde o assunto é desenvolvido com minúcias mais elucidativas.
É o motivo por que também há grande sucesso na terapêutica médica e na terapêutica espírita mediúnica. No entanto, ambas também fracassam em certos casos, quando os pacientes não fazem jus à cura, qualquer que seja o tipo de tratamento.