sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Òrìsà Usa Máscara?


Preocupados com o rumo das vestimentas do Candomblé, já publicamos no passado uma nota de forma abrangente sobre esse tema. Hoje especificamente, vamos abordar um pouco a questão de uma nova cultura, que emergiu nos últimos anos, o uso de máscaras nas vestes dos Òrìsàs. Antes de tudo, é importante frisamos que, em momento algum estamos querendo impor nossos costumes às demais c
asas. Mas, por outro lado, estamos expondo nossa opinião, haja vista termos centenas de casas descendentes da nossa e que, muitas vezes, não tiveram a oportunidade de presenciar uma cerimônia na Casa de Òsùmàrè e poder ver como vestimos nossos Deuses, sendo que não tiramos fotos de Òrìsàs.

Temos notado, principalmente, a utilização de máscaras em Obaluwaiye, o Grande Òrìsà da Terra, o que consideramos algo inconcebível, primeiramente por essa Divindade utilizar o Azen (dialeto fongbe). Mas afinal, porque não utilizar a máscara, como observamos em número crescente nos últimos anos?

Na cultura dos Òrìsà, as máscaras possuem um papel muito importante e muito específico, qual seja: Representar a Ancestralidade, seja feminina (Gélédé), seja masculina (Egúngún). Ao usarmos uma máscara, estamos privando as pessoas da nossa imagem, revelando a imagem do ancestral (Gélédé ou Egúngún). Assim sendo, ao vestirmos um Òrìsà com uma máscara, estamos fazendo o mesmo, ou seja, escondendo a imagem de um Deus (o Òrìsà), revelando a imagem de um Ancestral. Ao vestir o Òrìsà com uma máscara, apresentando-o em público, é como levar à sala, a imagem do próprio ancestral (guardada as devidas proporções). É importante recordarmos, ainda, que os Òrìsàs (a maioria), foram divinizados quando ainda viviam, ou seja, jamais serão ancestrais, mas sim, Seres Divinizados.

Novamente, esclarecemos que o Terreiro de Òsùmàrè não deseja em momento algum impor seus costumes religiosos. Entretanto, como uma Casa de Candomblé Tradicional e formadora de opinião, quer elucidar algo que muitas vezes ocorre pela falta de conhecimento e não por maldade.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoado todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Sasanyin


Na Casa de Òsùmàrè, há uma particularidade singular nas obrigações denominadas Oro, que de forma veemente remete-nos à liturgia Yorùbá, seguindo o mesmo Modus Operandi da terra na qual o Culto aos Òrìsàs nasceu, evocando por meio de rezas, cânticos, Orikis e Ofós, todos os elementos que posteriormente serão utilizados.

Assim sendo, à exemplo do que ocorre na África, todas as substâncias
chamadas transformadoras de Asè, basicamente elementos da natureza, como, por exemplo, as folhas, são evocados de maneira que seus poderes sejam “despertados” e potencializados, para que então possam ser utilizados. Esse ritual, de importância sem-par no culto aos Òrìsàs, denomina-se Sasanyin.

No Terreiro de Òsùmàrè, a Sasanyin precede a imolação. Os membros do egbe (comunidade), liderados pelo seu Sacerdote, entoam cânticos sagrados, objetivando emanar de cada elemento o seu poder mágico e, somente após terem sido devidamente consagrados e fortalecidos pela magia, são utilizados. 
Nesse âmbito, há uma infinidade de cantigas, que não somente enunciam o nome da folha em yòrúba e o seu poder, seja de cura, seja de transformação, mas também evocam os poderes da água, dos animais, etc.

Dessa forma, no Terreiro de Òsùmàrè, bem como na África, acredita-se que para sacralizar os objetos de culto, ou mesmo revitalizar os assentos dos Deuses com o sangue oriundo do reino animal, é necessário que antes, todos os demais elementos sejam “encantados”, por meio das Sasanyin. Essa ideia é fortalecida ao observar a cultura yorùbá, onde crê-se que antes de qualquer ritual, é necessário que todos os elementos sejam encantados por meio dos chamados ofo.

Na cultura yorùbá, os elementos sem encantamento são somente elementos comuns. Para conseguirmos extrair todos os poderes das folhas, elas deverão ser encantadas antes de serem manipuladas. O mesmo ocorre com os animais, com os Okuta (pedras) e tantas outras importantes sustâncias, como o mel, o azeite de dendê, Waji, Osun, etc.

Por essa razão, mantemos viva essa tradição da mesma forma como nossos antepassados faziam. Antes de usarmos, sejam as folhas, sejam os animais, nós os evocamos para que ele possam se comunicar com os Deuses.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

obrigação de sete anos


Na última década houve um exacerbado aumento de Sacerdotes no Candomblé, sobretudo, aqueles que se tornaram Ìyálòrìsàs/Babalòrìsàs, imediatamente após terem concluído sua obrigação de sete anos. Mas será que somente a obrigação de sete anos outorga a um iniciado o direito ao sacerdócio? A resposta é não, vejamos por que.

Criou-se nos últimos tempos, o indevido paradigma de que ao completar a obri
gação de sete anos, o iniciado poderá instaurar o exercício do sacerdócio. Fato é que o sacerdote não nasce quando do término da sua obrigação de sete anos, mas muito antes, quando do seu nascimento. Na rica e bela cultura dos Òrìsàs, acreditamos que trazemos para o Aye (terra), a missão de nossas vidas acordada ainda no Orùn (céu). Em linhas gerais, isso quer dizer que a pessoa traz a missão de se tornar um sacerdote já no seu nascimento, isso está cravado irreversivelmente no seu destino, eles são os Omo Bibi (os bem nascidos).

Dessa forma, as pessoas que são “consagradas sacerdotes”, somente por terem completado o ciclo de sete anos, mas que não traz impresso no seu destino essa missão, poderá causar sério prejuízo a si mesmo e, principalmente aos seus seguidores. 

Um Sacerdote de Òrìsà, além de obviamente zelar pela Divindade, zela pelos filhos dessas Divindades, ou seja, o sacerdote cuida de pessoas. É muito importante destacar esse ponto: “O Sacerdote cuida de Òrìsàs, de Pessoas. Ele cuida de Cabeças”. Nesse sentido, vale salientar que a obrigação de sete anos é um passo muito importante na vida de qualquer Omo Òrìsà e condição sine qua non para um futuro sacerdote, mas não é a obrigação de sete anos que tornará um Omo Òrìsà em sacerdote. Isso deve ser claro a todos.

Mas se não é a obrigação de sete anos que outorga o sacerdócio a um iniciado o que é então? Como dito acima, isso está impresso na memória ancestral daquele indivíduo, ele traz consigo essa missão do Orùn, que será revelada por meio do oráculo ou por voz pessoal do Òrìsà. Em uma primeira leitura, isso pode parecer utópico, no entanto, vamos lembrar a consagração sacerdotal de alguns dos mais importantes nomes do Candomblé.

A reverenciada Ìyálòrìsà do Opo Afonjá, Mãe Senhora de Òsun, recebera a navalha que fora de sua avó Ìyá Oba Tosí, ainda na sua iniciação, sendo que sua Ìyálòrìsà Mãe Aninha, anteviu que ela seria uma sacerdotisa. A querida Ìyálòrìsà do Gantois, Mãe Menininha, foi consagrada Ìyálòrìsà pelos Deuses, que a escolherem e a sentaram no trono do Ile Iya Omi Ase Iyamase, sem a interferência humana. Na nossa casa, o Terreiro de Òsùmàrè, nosso amado Pai Pecê, foi indicado como futuro Babalòrìsà logo no seu nascimento, sendo carregado no barracão pelo Òrìsà Ògún de sua Avó, a inesquecível Mãe Simplícia.

Não queremos em momento algum, dizer que a consagração dos sacerdotes deve ocorrer nos parâmetros mencionados, mas queremos sim dizer que é necessária uma consulta muito acurada ao jogo de búzios, questionando aos Òrìsàs se aquela pessoa realmente deverá ser consagrada sacerdote. É preciso saber se aquela pessoa realmente foi escolhida pelos Òrìsàs para ser um Babalòrìsà ou Ìyalòrìsà, isso é algo muito sério.

Aqui em Salvador, por exemplo, há muitos Egbon (Omo Òrìsà com suas obrigações de 7 anos completadas, mas não consagrados sacerdotes). Esses Egbon, antiguíssimos e de conhecimento requintado da Religião dos Òrìsàs não se tornaram Babalòrìsàs/Ìyálòrìsàs por um único motivo, a saber: Não carregam nos seus destinos essa missão. Esses antigos são felizes por serem Egbon, são felizes por zelar pelos Òrìsàs na casa onde foram iniciados. São felizes por serem consultados pelos mais novos, sobre as histórias do povo antigo. São felizes por dizer: “Eu sou egbon da Casa A ou B”. 

Quando questionados por muitos a razão de não serem Babalòrìsàs/Ìyálòrìsàs, eles imediatamente respondem: “Oh meu filho, eu não nasci com essa missão não, minha missão é ajudar a casa onde eu me iniciei”. Alguns inconformados reiteram: “Mas com tanto saber, você tinha que ser sacerdote”. Esses antigos Egbon, por sua vez, no elevado grau de sabedoria, acumulada ao longo de anos, finalizam a conversa dizendo: “Oh meu filho, saber é o de menos, é preciso nascer para ser”...

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Ori a Divindade que rege nossa cabeça


Não se fala nunca: Meus olhos são bons, se diz: Minha cabeça é boa!

Orí é sem dúvidas a Divindade mais importante para o Candomblé. Dizemos Divindade, pois Orí, que habita a cabeça do ser humano e que é a própria cabeça do ser humano, é considerado também um Òrìsà.

Orí é a primeira Divindade a ser louvada. Conforme excerto do Itan Ifá que ilustra essa postagem, Ori abençoa o homem antes de qualq
uer Divindade. Nenhuma Divindade abençoa uma pessoa sem o conhecimento de Orí.

Orí é a existência individual de cada ser humano. Quando uma pessoa é iniciada na Religião dos Òrìsàs, é no Orí, por meio do Òsù, que a Divindade que a rege será "posta". Essa ligação dar-se-á por meio do "gbéré". Esse vínculo é somente interrompido quando dá morte do iniciado, quando esse Òsù é retirado, para que a pessoa retorne ao Orun (Céu), da mesma forma que chegou no Aye (Terra). Uma antiga história africana ilustra a importância de Ori, na escolha que as pessoas realizam em suas vidas.

Não se fala nunca: Meus olhos são bons, se diz: “Minha cabeça é boa". 

Quando Olhos e Cabeça chegaram ao mundo, Olhos era o primogênito e Cabeça (Orí) o caçula. Um dia o seu pai, Olodúnmarè, o criador de todas as coisas, encheu uma cabaça de carne de carneiro e de massa vermelha feita com azeite de dendê. Ele a embrulhou em um belo pano de seda e, numa segunda cabaça, ele colocou ouro, prata e pérolas preciosas, envolvendo-a em trapos sujos. 

Olodúnmarè então convidou seus dois filhos para vir escolher cada um, uma cabaça a seu gosto. Olhos escolheu a cabaça envolvida no belo pano de seda, ficando admirado com o brilho. Orí (Cabeça) preferiu a outra, envolta em trapos sujos. Uma vez tirado o tecido de seda, Olhos abrindo a cabaça achou carne e massa, convidando seus amigos para comungarem daquela comida. Orí, por sua vez, desembrulhou a sua cabaça e depois de aberta achou uma camada de areia.

“Como! Pai colocou areia na cabaça! não tem nenhum alimento para que eu possa comer. Que seja! já que foi meu pai que me deu, vou conservá-la assim mesmo”, afirmou Cabeça. E levou-a com todo cuidado para casa. Uma vez em casa, Orí, intrigado, perguntou se a cabaça continha mesmo só areia. Abriu novamente e achou no meio da areia prata, depois achou ouro e muitas pérolas preciosas. “Minha cabeça vale muito mais do que os olhos do meu irmão”, afirmou Orí.

E assim, Cabeça ficou rico. Depois de algum tempo, Olodunmare chamou seus filhos para lhes perguntar: "Então! o que acharam nas suas cabaças?" Olhos respondeu: "Eu, o primogênito, achei somente carne de carneiro e massa". Cabeça respondeu: "Na minha cabaça tem tudo o que representa a riqueza". Então o pai disse: "Olhos, você foi muito ávido, a vista da seda te tocou e você quis tê-la, Cabeça, que refletiu, soube pegar a cabaça envolvida em trapos, mas cujo interior escondia uma riqueza. Doravante, é Cabeça que será o primogênito e você será o caçula. 
Tinha-se o hábito de chamar você (olhos) em primeiro lugar, a partir de agora será Cabeça (Orí) que será chamado primeiro. Orí sempre será louvado primeiro. Desde então, quando se tem sorte, se diz: "Meu Orí é bom" e não mais "meus olhos são bons". 

Além de nos mostrar a importância singular de Orí (Cabeça) em nossas vidas, mostra que jamais devemos nos encantar com tudo que aparece diante de nossas vistas.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Mantendo a série de postagens que tem por objetivo, elucidar o público sobre as ricas tradições do Candomblé, hoje vamos abordar um pouco sobre a história do nosso grande Patrono, Òsùmàrè.


Mantendo a série de postagens que tem por objetivo, elucidar o público sobre as ricas tradições do Candomblé, hoje vamos abordar um pouco sobre a história do nosso grande Patrono, Òsùmàrè.

A grande Divindade do Arco-Íris era um reconhecido Babalawo (Pai do Segredo). Diante de sua sapiência, prestava serviços somente ao Rei da cidade de Ifé, que de certa maneira o explorava de forma contumaz. Para
o Rei de Ifé, o fato de Òsùmàrè ser o seu Babalawo pessoal já era o grande pagamento pelos serviços que ele lhe prestara, afinal ele era o Rei e, muitos queriam estar no lugar de Òsùmàrè, razão pela qual dava pequenas esmolas ao sábio Babalawo, que em nada ajudavam em seu sustento. 

Assim, mesmo sendo o Babalawo do Rei, Òsùmàrè estava passando por grandes dificuldades e já não conseguia sustentar a sua família. Dessa forma, resolveu consultar Ifá (o oráculo sagrado) para outras pessoas e não somente para o Rei, assim ele conseguiria novamente poder oferecer uma vida melhor à sua esposa e filhos. Contudo, o Rei de Ifé não aprovou o que Òsùmàrè estava fazendo e, solicitou que fosse ao seu palácio. O Rei disse a Òsùmàrè que ele poderia estar feliz consultando Ifá para as outras pessoas, mas ele o Rei, estava insatisfeito e, por isso, não iria mais lhe “pagar” e não queria mais que ele fosse o seu Babalawo. Òsùmàrè ficou desesperado, pois ele sabia que bastava uma ordem do Rei e ninguém iria procurar pelos seus serviços.

No mesmo dia a Divindade da Riqueza e Prosperidade Olokun Seniade, ordenou que todos os Babalawos da cidade fossem até o seu reino, para saber o que deveria fazer para ter filhos. Apesar da grande experiência dos Babalawos que lá estavam, nenhum conseguiu responder à Olokun Seniade aquilo que tanto lhe tirava o sono. No entanto, alguém lhe disse que Òsùmàrè, o Babalawo pessoal do Rei de Ifé não estava presente, recomendando-lhe que procurasse a ajuda dele por desencargo de consciência.

Assim Olokun Seniade o fez, ordenou à um mensageiro que fosse buscar Òsùmàrè no palácio do Rei de Ifé. Chegando lá, o Rei afirmou que havia dispensado os serviços de Òsùmàrè, pois ele não lhe servia mais. O mensageiro de Olokun Seniade percorreu às ruas de Ifé, perguntando por Òsùmàrè, até que finalmente ele o encontrou, o levando até o palácio de Olokun.

Chegando lá, Òsùmàrè consultou Ifá e disse para Olokun que teria filhos bonitos e fortes, mas que para isso, seria necessário realizar uma determinada oferenda.

Como forma de gratidão e agradecimento, Olokun convidou Òsùmàrè para ser o Babalawo do seu palácio, que ele seria reconhecido e valorizado pelo seu grande conhecimento. Olokun presenteou Òsùmàrè com aquilo que tinha de mais precioso, as sementes do dinheiro (Owo Eyo – Búzios) e com um pano colorido.

Olokun Seniade disse à Òsùmàrè que, sempre que ele usasse aquele pano, as suas cores refletiriam no céu, nascendo dessa forma, o Arco-Íris.

Essa linda história ilustra algumas importantes lições, seja sobre nossas vidas, seja sobe as Divindades. Mostra que apesar das dificuldades que parecem insolúveis, sempre existe a possibilidade de uma reviravolta em nossas vidas. Mostra ainda a razão de o Arco-Íris representar o nosso Pai Òsùmàrè, bem como, a razão da utilização dos búzios por ele e seus filhos, um grande presente de Olokun.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Na postagem anterior da série “O Preconceito Velado”, falamos sobre a associação indevida do arquétipo da Deusa Yemoja, com a personagem Carminha da novela Avenida Brasil (associação essa, realizada pelos adeptos do Candomblé e não pela emissora, vale destacar).


Na postagem anterior da série “O Preconceito Velado”, falamos sobre a associação indevida do arquétipo da Deusa Yemoja, com a personagem Carminha da novela Avenida Brasil (associação essa, realizada pelos adeptos do Candomblé e não pela emissora, vale destacar).

Na ocasião, mencionamos que iríamos discorrer desta feita, sobre personagens que ridicularizam a imagem do Candomblé e que muitas vezes,
são aplaudidos por nós mesmos. Nesse âmbito referíamo-nos aos tantos e recorrentes casos que sempre emergem na televisão brasileira, deturpando e caracterizando de forma pejorativa a imagem dos adeptos das religiões de matriz africana.

Numa breve revisitação, por exemplo, aos programas de humor, lembramos do personagem Painho, vivido por Chico Anysio, dentre muitos.

Via de regra, são três os estereótipos mais impresso nessas tramas, a saber: O Babalòrìsà homossexual que assedia os filhos de santo e adeptos. As Ìyálòrìsàs charlatonas que usurpam os bens de seus clientes, ludibriando sua fé de forma grosseira e; o Omo Òrìsà, geralmente problemático com distúrbios de caráter que sempre leva consigo um fio de contas de Èsù, “mostrando assim a origem dos seus problemas”.

Há dessa forma, além do ataque torpe ao nosso povo, o preconceito maculado e pouco velado, diga-se de passagem. Vejamos. No caso dos personagens representando Babalòrìsàs homossexuais, em todas as situações o Babalòrìsà assedia os seus filhos, induzindo indevidamente os telespectadores de que os homossexuais são promíscuos, não respeitando sequer um fiel que lhe recorre em um momento de dificuldade. Além disso, induz o telespectador à acreditar que o sacerdócio masculino no Candomblé é reservado única e exclusivamente aos homossexuais, vez que não há personagens Babalòrìsàs heteros. Há nesse aspecto, o claro e evidente preconceito ao homossexual e o pré conceito estabelecido de que todos os sacerdotes do Candomblé são homossexuais. Sobre isso, é muito importante destacarmos. A Religião dos Òrìsàs abraça em seu seio todos os povos, de todas etnias e de qualquer opção sexual, ricos e pobres, não valorando nenhum mais do que outro. Para nós, todos são oriundos da mesma argila, do mesmo sopro divino que nos deu a vida.

A segunda imagem transparecida é da Ìyálòrìsà charlatona, que invariavelmente está à espera de um “Cliente” inocente para cair em suas artimanhas quimeras. Sempre acompanhada de um fiel escudeiro que lhe ajuda a impressionar o “Cliente”, com barulhos, fumaças e, muitas vezes investigando a vida do consulente, para depois subsidiar a “Ìyálòrìsà” em seu falso oráculo. Nesse caso, não vemos personagens que ilustram o contrário, uma Ìyálòrìsà com conhecimento, que aconselha seus filhos e orientando-os o caminho correto a percorrer. Novamente, é evidente a obscena caracterização do nosso povo.

Por fim, há o preconceito relacionado ao filho de santo, esse sim mais disfarçado/maculado. Sempre que há um personagem com problemas de caráter, drogas, etc... ele carrega consigo um fio de contas. Muitas vezes, a trama não faz menção alguma ao Candomblé, entretanto, está lá, no pescoço do personagem envolvido com a escória, o fio de contas – na grande maioria preto e vermelho, aludinho o Òrìsà Èsù.

Mas como evitar/extirpar esse tipo de imagem com a qual nos associam? Para isso é fundamental nos unirmos verdadeiramente – sair da teoria e entrar na prática. Na Internet, por exemplo, há centenas de correntes originadas pelo nosso povo, mas será que um dia vamos conseguir unir todas essas pessoas em um único objetivo, presencialmente? Será que um dia verdadeiramente vamos conseguir enaltecer a nossa Religião nas ruas com o nosso povo? Bom, isso será tema para uma futura postagem!

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó