terça-feira, 21 de agosto de 2012

Você já ouviu falar em Orunmila?


Òrúnmìlà é considerado irmão de Olórun, antes de ser chamado de Òrúnmilá, a grande Divindade do Destino era chamada de Ela, a denominação Òrúnmìlà, advém de "Olórun Mo Ela", ou seja, "Olórun reconhece Ela". Abaixo, transcrevemos uma história que fala sobre o assunto:

"Ela era o irmão menor de Olórun, o Deus do céu, que era um comerciante que viajava largamente e negociava muito com escravos. Uma vez, Ela enviou suas crianças para bem longe para negociar com mercadorias e, quando elas alcançaram a fronteira entre o céu e a terra, os escravos de Olórun caíram sobre elas e as despojaram de suas mercadorias. 

Quando Ela ouviu isso, perguntou quem estava roubando as propriedades dele, que estavam com seus filhos? Pegou seu arco e suas flechas e partiu com outros filhos, seus empregados e seus escravos rumo à fronteira entre o céu e a terra. Quando se encontraram, começaram a lutar. 

Todo mundo na terra foi em ajuda de Ela, mas a batalha continuava. No sétimo dia caiu uma pesada chuva batendo em ambos os lados, e ambos se retiraram. No dia seguinte, os seguidores de Ela estenderam suas roupas para secarem e os seguidores de Olórun espalharam suas camisas e turbantes. 

Olórun sentou-se numa cadeira olhando para Ela à distância, e Ela ficou mirando para Olórun, seu irmão mais velho. Nenhum deles reconheceu o outro, afinal, Ela era muito jovem quando Olórun deixou sua casa, mas quando Olórun reconheceu seu irmão, foi até ele e o abraçou. Comeram e beberam juntos, e no dia seguinte, anunciaram que não haveria mais combates. 

Enquanto os seguidores de Ela ainda retornavam para a terra, encontravam gente que continuava a chegar a fim de ajudá-los, perguntando-lhe porque já voltavam tão cedo. E então replicavam: "Olórun reconheceu Ela ontem" ("Olórun Mo Ela Lana"), e, desde então, Ela foi chamado de Òrúnmìlà".

Òrúnmìlà é considerado o segundo de Olodúnmarè (Deus), como bem diz um excerto de um Òríkì: "Òrúnmìlà, Elérí Ìpín, Ibìkéjì Olódúnmarè" (Òrúnmìlà, o testemunha do destino, o vice de Olodúnmarè). Para se chegar à Olodúnmarè é necessária a intervenção de Òrúnmìlà ou Èsù (O Òrìsà do Dinamismo) e isso ocorre por meio da Consulta ao Oráculo.

De certo modo, todas as Divindades são dependentes de Òrúnmìlà, é através da consulta ao oráculo que sabemos o que os Òrìsàs desejam comer, vestir, falar, etc. Quando um consulente/omo Òrìsà quer saber como agradar seu Deus, é através de Orunmila, no Jogo de Búzios ou jogo de Ifá, que ele terá essa resposta. Òrúnmilá é o senhor que tudo sabe e que tudo vê, seja no Òrún (céu) seja no Àiyé (terra).

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó

Àbíkú PARTE I - CASA DE OXUMARÊ


Àbíkú PARTE I


Na incessante busca de esclarecer o nosso povo sobre os costumes da nossa religião, vamos falar hoje sobre Àbíkú.

Àbíkú é como chamamos as crianças que nascem para morrer. No Candomblé, acreditamos que quando uma mãe dá à luz a uma criança morta, ou quando uma criança morre precocemente ela é chamada de Àbíkú. 


Cremos que no Òrun, exista uma comunidade chamada "Egbé Òrun Àbíkú" (comunidade das crianças que nascem para morrer). O Egbé Òrun Àbíkú é liderado por Ìyájanjàsá e por Oloiko. Ìyájanjàsá é responsável pelo grupo de meninos que vivem no Egbé Òrun e Oloiko é responsável pelas meninas.

Acreditamos que essas crianças antes de virem ao aiyé (mundo) passam no Òrun pelo "Onibodé Òrun", que pode ser traduzido como "o porteiro do céu". Diante do Onibodé, elas fazem uma espécie de convenção, acordando quanto tempo elas passarão no aiyé até que voltem para o Òrun. Algumas dizem que voltarão ao Egbé logo que nascerem, outras assim que completarem sete anos de vida, outras logo após serem amamentadas e assim por diante.

Em função desse pacto, é fundamental que o sacerdote realize através da consulta à Ifá, oferendas que visem "quebrar" esse acordo que fora feito no Egbé Òrun junto ao Onibodé. É necessário, que ainda grávida, a mãe inicie os cuidados com a criança que está por vir ao mundo, os preceitos a serem realizados são determinados por Ifá. 

Durante toda a vida, o Àbíkú deverá realizar sacrifícios intentando intervir sua partida ao Egbé Òrun. A escolha do nome dessas crianças é realizada de modo que o significado "prenda-a" no aiyé. Em suma, são nomes que enaltecem a criança e que ilustram a importância da sua permanência no aiyé, tais como "Aiyélagbe" (não parta), "Dúrójaiyé" (fique para "gozar a vida"), "Dúrósomo" (fique para ter filhos), "Kòkúmó" (não morra mais) etc. 

Os Itans de Ifá nos ensina que, devemos pendurar nos tornozelos das crianças pequenos guizos chamados "saworo" para afastar as crianças que estão no aiyé, daquelas que ficaram no Egbé Òrun. Também são confeccionados òndè (espécie de patuá) que são carregados pelas crianças, a fim de afastar a morte. As mães também devem realizar sacrifícios de modo que não voltem a ter novos "Egbé". Para o Candomblé, uma mãe que tem filhos Àbíkú, foi estigmatizada por Eleriko e por isso também deve realizar oferendas específicas, objetivando "romper" esse carma.

Não devemos confundir "Àbíkú" (as crianças que nascem para morrer) com "Àbíasè". No candomblé, quando uma grávida está iniciando-se no culto aos Deuses Africanos, a sua criança quando nascer, será chamada de Àbíasè, ou seja, "a criança que nasceu no asè". Não se trata de uma criança "feita no Òrìsà" ou "Àbíkú", mas sim, uma criança que nasceu no culto e que num dado momento de sua vida, passará por rituais específicos de iniciação.

Na próxima abordagem sobre Àbíkú, vamos falar sobre a importância das oferendas para que os Àbíkú permaneçam no Aiye, prolongando ao máximo a sua partida para o Òrun.

Que Òsùmàrè Arákà esteja sempre olhando e abençoando todos!!!
Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó