segunda-feira, 9 de julho de 2012

A DEDICAÇÃO DO MEDIUM

Amigos, a Umbanda tem em seu mais profundo cerne a prática da caridade pura, o amor incondicional, a paz e a humildade. Ela também se propõe a produzir, pela modificação vibracional ou fluídica (conhecida popularmente como “magia”), modificações que permitam a melhoria de vida do ser humano. 

Através da caridade e dedicação espiritual o médium Umbandista vai adquirindo elevação e consciência do valor de seu domínio mediúnico como forma de comunicação com seres superiores, de outras esferas. 

As incorporações, os passes e descarregos feitos na Umbanda formam o conjunto de afazeres espirituais do dia a dia do médium. 

Portanto, o Médium é Patrimônio Maior desta Maravilhosa 

Religião Que É a Umbanda. 

Acontece que a mediunidade é uma faculdade e como toda faculdade psíquica precisa ser aprimorada e disciplinada. 

Na Umbanda, alguns critérios devem ser sempre observados: 

Quando um médium entra em trabalho, ele estabelece uma espécie de ligação com a espiritualidade. Esta ligação gera uma constante descarga fluídica no sistema nervoso do médium. Por este motivo é importante a disciplina da mediunidade. O médium precisa aprender a fazer e desfazer esta ligação para evitar o desgaste do sistema nervoso. 

Médiuns faltosos, ausentes das sessões de desenvolvimento, doutrinas, sessões de descarrego e passes estão sujeitos a sofrer as consequencias destes transtornos fluídicos como debilidade do sistema nervoso e patologias degenerativas. 

Disciplina se torna 

palavra chave, bem como obediência e respeito 

As facilidades do estabelecimento do contato mediúnico resulta do aprendizado moral e de um conjunto de pontos que alicerçam os degraus da evolução. 

Conselhos para os Médiuns 

Conserve sua saúde psíquica, vigiando seu aspecto moral 

1- Não alimente vibrações negativas de ódio, rancor, inveja, ciúme, etc.; 

2- Não fale mal de ninguém, pois não é juiz, e via de regra, não se pode chegar às causas pelo aspecto grosseiro dos efeitos; 

3- Não julgue que o seu guia ou protetor é o mais forte, o mais sabido, mais, muito mais do que o de seu irmão, aparelho também; 

4- Não viva querendo impor seus dons mediúnicos, comentando, insistentemente, os feitos do seu guia ou protetor. Tudo isso pode ser bem problemático e não se esqueça de que você pode ser testado por outrem e toda a sua conversa vaidosa ruir fragorosamente. Dê paz ao seu protetor no astral, deixando de falar tanto no seu nome.Assim você está se fanatizando e aborrecendo a Entidade pois, fique sabendo, ele, o Protetor, se tiver mesmo “ordens e direito de trabalho” sobre você, tem ordens amplas e pode discipliná-lo, cassando-lhe as ligações mediúnicas; 

5- Quando for para a sua sessão, não vá aborrecido e quando lá chegar, não procure conversas fúteis. Recolha-se a seus pensamentos de fé, de paz e, sobretudo, de caridade pura para com o próximo, entre em sintonia com o astral firmando as ligações com as entidades da sua coroa. 

Não mantenha convivência com pessoas más, invejosas, maldizentes, etc. 

Isso é importante para o equilíbrio de sua aura e dos seus próprios pensamentos. 

1- Faça todo o bem que puder, sem visar recompensa ou agradecimentos; 

2- Tenha ânimo forte, através de qualquer prova ou sofrimento, confie e espere; 

3- Faça recolhimentos diários, a fim de meditar sobre suas ações; 

4- Não conte seus “segredos” a ninguém, pois sua consciência é o templo onde deverá levá-los à análise; 

5- Não tema a ninguém, pois o medo é uma prova de que está em débito com sua consciência; 

6- Lembre-se de que todos nós erramos, pois o erro é humano e fator ligado à dor, ao sofrimento e conseqüentemente, às lições com suas experiências. Sem dor, lições, experiência, não há carma, não há humanização nem polimento íntimo, o importante é que não erre mais, ou melhor, que não caia nos mesmos erros. Passe uma esponja no passado, erga a cabeça e procure a senda da reabilitação: para isso, “mate” a sua vaidade e não se importe, de maneira alguma, com o que os outros disserem ou pensarem a seu respeito. Faça tudo para ser tolerante, compreensivo, humilde, pois assim só poderão dizer boas coisas de você. 

Zele por sua saúde física com uma alimentação racional e equilibrada 

1- Não abuse de carnes vermelhas, fumo, álcool ou quaisquer excitantes; 

2- No dia da sessão, não coma carne, álcool ou qualquer excitante. 

3- De véspera e após a sessão, evite manter contato sexual; O ato sexual promove grande escape de energia através do chakra genésico e conseqüentemente uma grande baixa energética na aura. Vale lembrar também que a troca de fluidos corporais também traz em si uma imensa carga energética que pode não ser benéfica. 

4- Todo mês deve escolher um dia para ficar em contato com a natureza, especialmente uma mata, uma cachoeira, um jardim silencioso, etc. Ali deve ficar lendo ou meditando, pois assim ficará a sós com sua própria consciência, fazendo revisão de tudo que lhe pareça ter sido positivo ou não, em sua vida material, sentimental e espiritual. 

Nino Denani - www.artefolk.com.br 

Bibliográfia: centroafricanoreinodeoxumpandá.com.br

MEDIUNIDADE DE PSICOMETRIA - PARTE 8

ENIGMAS DA PSICOMETRIA 
ERNESTO BOZZANO 


XIV Caso - Eis aqui outro exemplo duplo da psicometria de ambiente. 

Difere do precedente pela circunstância de as percepções não advirem de um ambiente fechado, qual uma alcova, mas aberto, qual um campo, e, de resto, concernentes a acontecimentos velhos, de vinte e dois séculos. 

A narrativa é extraída de um livro de Viagens na Itália, do escritor inglês George Gissing, intitulado By the Ionian Sea (pág. 83-85). 

Quando se verificou o incidente, achava-se o autor enfermo, na cidade de Crotona, onde Pitágoras fundara a sua célebre escola. 

Possivelmente, na febre que o assaltava, estaria a causa predisponente à emersão temporária das suas faculdades supranormais. 

Eis o que diz Gissing: 

Tornei-me momentaneamente vidente e confesso: experimentei uma sensação de bem-estar real, qual antes não conhecera, de perfeita saúde. 

Achava-me perfeitamente acordado e calmo, quando tive uma série de visões maravilhosas. 

Em primeiro lugar vi um grande vaso ornamentado de esplêndidas figuras; depois, um mármore sepulcral com baixos-relevos de beleza clássica, perfeita. 

Sucederam-se, então, outras visões desdobradas e desenvolvidas em dimensão e complexidade; presenciei cenas da existência social dos antepassados, vi ruas cheias de gente, cortejos triunfais, procissões religiosas, salões festivos e campos de batalha. 

O que mais me admirava era o colorido maravilhoso dos ambientes. Impossível dar uma idéia do esplendor desbordante das cores, que tonalizavam cada cena! 

Como poderia eu descrever com exatidão os detalhes de cada imagem visualizada? 

Coisas que não podia conhecer e que a imaginação também pudera jamais criar, apresentaram com absoluta expressão de viva realidade. 

Surpreendia-me, muitas vezes, a contemplação de certos costumes pitorescos dos quais eu nada lera, motivos arquitetônicos inteiramente novos para mim, traços característicos diversos e insignificantes dessa tão remota civilização, que eu não pudera ter apreendido nos livros. 

Lembro-me de uma sucessão de rostos admiravelmente belos; lembro-me, também, do sentimento de pesar que me assaltava quando alguma daquelas personagens se esvaecia a meus olhos. 

Para dar uma idéia das representações complexas que desfilaram a meus olhos, vou descrever uma visão histórica que, mais que todas, se me gravou na mente. 

Quando Aníbal, após a segunda guerra púnica, se transportou com seu exército para o Sul da Itália, fez de Crotona seu quartel-general. 

E quando, obediente às ordens de Cartago, abandonou a Itália, foi em Crotona que embarcou o seu exército. 

Aníbal tinha consigo um contingente de mercenários italianos e, no intuito de os impedir se alistassem nas fileiras inimigas, ordenou-lhes que o acompanhassem à África. 

E como eles se recusassem a obedecer-lhe, o general cartaginês os concentrou na praia, onde foram todos massacrados. 

Ora, eu vi a costa de Crotona e o promontório com o respectivo templo, não tais como se apresentam na atualidade, mas como deveriam ser há dois mil anos. 

O drama daquela carnificina se desenrolou a meus olhos nas suas mínimas particularidades. 

E tudo aquilo resplandecia a luz de um Sol maravilhoso, sob a cúpula de um céu transparente e de tal modo fascinante, que, só de os evocar, ainda me sinto deslumbrado de tanta luz e tanta cor. 

A alegria extática de semelhantes visões valia bem os dez dias de febre que elas me custaram, e, apesar do intenso desejo de as renovar, nunca mais pude obter algo de semelhante. 

O respiradouro pelo qual elas se haviam insinuado ficara fechado para sempre. 

Mas, seja como for, eu acreditarei, eu sentirei sempre que, durante uma hora, foi-me possível contemplar aspectos da vida social de tempos remotos, tão de minha predileção. 

Se me objetam que essas visões não correspondiam a qualquer coisa de real, eu responderia pedindo me explicassem por qual milagre cheguei a reconstituir, com a mais minuciosa perfeição, um mundo que apenas conhecia pelas suas ruínas atuais. 

Como se pode deduzir do seu relato, o autor está intimamente convencido de que as maravilhas visualizadas algo continham de verídico. 

A mim me parece que se não pode deixar de dar-lhe razão, considerando o que ele assevera, em relação aos detalhes históricos e motivos arquitetônicos pela primeira vez revelados no curso das suas visões, circunstância dificilmente conciliável com a hipótese alucinatória, máxime, se aproximarmos essas visões de outras análogas, que podiam ser e foram, de fato, verificadas. 

Timbrando a hipótese alucinatória, observarei que, se antes das investigações metapsíquicas, fora lícito aplicá-la a todo e qualquer fato inconciliável com a realidade conhecida, hoje isso não se justifica, diante da classificação de tantos fantasmas telepáticos, assombradores, premonitórios, incontestavelmente verídicos, bem como de tantas visões do passado, do presente e do futuro, rigorosamente autenticadas. Assim, pois, não é razoável a recusa absoluta de experiências que, como a precedente, conquanto não possam ser verificadas, contêm elementos que não conseguimos explicar por outras hipóteses. 

Em acolhendo a opinião de Gissing admitindo que as suas visões constituem, como tudo parece indicar, uma reprodução autenticamente psicométrica dos acontecimentos a que se reportam, não restaria então, para explicar os fatos, senão recorrer a uma hipótese já precedentemente enunciada, ou seja, aquela pela qual supomos que os sistemas de vibrações correspondentes à atividade dos seres vivos e da matéria inanimada são registradas em um meio etéreo. 

No livro da Senhora Elsa Barker, intitulado Letters from a Living Dead Man, a personalidade mediúnica que se comunica assim se exprime a respeito da antiga civilização grega: 

O éter que domina esta quase ilha gloriosa tem nele gravados, em séries ininterruptas, os fastos do seu passado: audácias de pensamento e audácias de execução. E os feitos antigos são de tal arte radiantes, que fulguram através da camada de impressões que se lhes sobrepuseram. 

Esta afirmativa de origem mediúnica identifica-se com a hipótese por nós proposta, isto é, que o éter espacial é o meio receptor e conservador das vibrações correspondentes à atividade do Universo. 

Dada a existência de uma categoria de fenômenos psicométricos com percepções provindas do ambiente, é força reconhecer que nenhuma hipótese se pudera imaginar mais convinhável do que esta, para lhes explicar a origem. 



XV Caso - Relatarei agora alguns casos de psicometria premonitória assaz freqüentes nesta ordem de fenômenos, limitando-me, todavia, a citar três exemplos, que não suscitam problemas especiais do ponto de vista psicométrico, mas provocam outros, e formidáveis, no tocante à sua gênese e ao problema filosófico do livre-arbítrio. 

Respigo o primeiro exemplo do Boletim da Sociedade de Estudos Psíquicos de Nancy (novembro de 1904), que inseriu o resultado de uma série de experiências feitas com o sensitivo Phaneg, pseudônimo de um escritor francês, autor de conceituada obra sobre Psicometria e um dos principais sensitivos que o Sr. Edmond Duchatel utilizou na sua sindicância. 

A Senhora X nos conta o seguinte, de sua experiência pessoal 

Entreguei a Phaneg uma jóia que constantemente trazia comigo, de há muitos anos. 

Logo que a teve em mãos, começou ele a descrever o castelo da Duquesa de Uzès, em Dampierre. Depois, acrescentou: percebo uma senhora morena, acamada numa alcova amarela. 

A seu lado está um médico que parece inquietar-se muito com o estado da enferma... 

Esteve a senhora doente, ultimamente? 

A minha resposta negativa, Phaneg acabou por dizer: Neste caso, a enfermidade que eu vi deve ainda reaparecer. Ora, quinze dias depois, a predição se realizou! Enfermei gravemente, a ponto de inspirar sérios cuidados ao meu médico assistente. 

O redator do Boletim assim comenta o caso: 

O Senhor Phaneg viu o clichê da enfermidade sem poder assinalá-lo no passado, quanto no futuro da consciente:' 

Também poderíamos acrescentar que ele extraiu a informação no subconsciente da senhora, cujo organismo podia achar-se afetado dos sintomas precursores da moléstia que explodiria quinze dias depois. 



XVI Caso - Maior dificuldade de solução é o que nos apresenta o problema de precognição, neste caso respigado da obra do 5r, Edmond Duchatel, intitulada: - A Vida no Tempo e no Espaço (pág. 51). 

Aos 31 de julho de 1909 apresentamos à Sra. L. Faignez um objeto que pertencera a outra senhora, cuja presença sabíamos, no momento, em Londres. 

Eis um extrato dos dizeres da psicometra: 

Esta pessoa está no interior e na região das montanhas. Neste momento prepara-se para sair. Ri (superficialmente), mas no imo do coração não está satisfeita. 

Ouço uma dama que lhe quereria dizer Bichette (é assim que a chama sempre) e perguntar-lhe por que suspira de quando em quando. 

A senhora que assim fala não é muito alta, nem robusta. Francesa, de boa aparência, uns 40 anos de idade. 

Não foi sem desencanto que apontamos estes informes, inexatos no momento da experiência, ou seja, em 31 de julho. Contudo, eles se verificaram nos princípios de setembro, isto é, 35 dias depois. 

A minúcia das descrições, inclusive o apelido familiar, permitiu identificar o quadro então descrito como atual, quando concernia ao futuro. 

Neste caso, do ponto de vista psicométrico, dever-se-ia dizer que o objeto apresentado à sensitiva serviu para colocá-la em relação com a subconsciência da sua dona, e que, até aí, nada há que aberre dos processos normais da psicometria. 

Nada obstante, é dificílimo conceber que a Senhora Bichette pudesse encerrar os detalhes de um episódio insignificante, a realizar-se 35 dias mais tarde. 

Procurei responder a esse formidável problema na minha obra Os Fenômenos Premonitórios e como as dificuldades não interessam a psicometria, recomendo essa obra aos que desejam aprofundar o enigma. De preferência me deterei num outro detalhe, relativo a psicometria em suas modalidades de manifestação. 

Nos dois casos precedentes, temos podido notar que os sensitivos vêem como presentes os acontecimentos futuros. 

Por causa desta particularidade, que é quase de regra nos fenômenos de que nos ocupamos, abriram-se e continuam a sustentarem-se longas discussões filosóficas, para mostrar que esse fato constitui prova favorável do ETERNO PRESENTE. 

Ocioso não é, portanto, notar que a confusão de tempo, nos sensitivos, prende-se a uma causa menos transcendental, isto é, que nos fenômenos de clarividência, em geral, é sempre o EU integral subconsciente (ou espiritual) que percebe; e nestas condições, não podendo ele transmitir ao EU consciente (ou encarnado) as suas percepções, porque elas são de natureza espiritual, recorre à forma sensorial das imagens pictográficas, que, por sua mesma natureza, não podem sugerir aos sensitivos qualquer idéia de localização no tempo. 

O fato nada tem de comum com a inconcebível hipótese do ETERNO PRESENTE. 

Ao demais, importa considerar que às vezes o EU integral, subconsciente, consegue transmitir ao sensitivo uma vaga idéia das localizações no tempo, recorrendo ao sistema de apresentação das imagens pictográficas mais ou menos distantes da visão subjetiva do sensitivo, de modo que, quando as imagens se mostram mais ou menos distantes, significam que o fato deverá realizar-se em data mais ou menos afastada. 

Daí ressalta que o EU integral subconsciente possui a noção das localizações no tempo - o que daria um golpe sério na hipótese do PRESENTE ETERNO. 



XVII Caso - Este, condiz com um vaticínio de morte, ligado à recente guerra. 

É um episódio notável, sobretudo do ponto de vista dos complexos problemas que suscita. 

Respiguei-o de uma conferência do Senhor Duchatel, publicada nos Anais de Ciências Psíquicas (1916, pág. 17). Diz o conferencista: 

Aos 8 de agosto de 1913, mediante a simples apresentação de uma carta, que ela nem se deu ao trabalho de fitar, a Senhora Feignez, depois de me traçar exatamente à fisionomia moral e física do Sr. Raimundo Raynal, declarou que ele morreria de morte acidental, dentro de dois anos, caso viesse a deixar Paris, e ferido em pleno rosto por um pedaço de ferro, sobre ou perto de um veículo, que não era de estrada de ferro. 

Tudo isso é vago, certo, mas também não podemos exigir, da mais autentica psicometria, a precisão que, todavia, ela nos depara, máxime em se tratando dos relatos de um simples guarda-florestal. 

A 17 de novembro ela declarou, á vista de uma segunda carta, que já havia predito a morte do rapaz e que ele não escaparia desse perigo, a menos que o impedissem de sair de Paris. 

Atribuo ao sujet o aditivo de uma exortação piedosa, quais costumam fazer os psicometra para consolo dos consulentes. 

Meu Deus! - disse - ele poderá, talvez, escapar desse perigo... Depois... além do mais, eu não sou infalível. 

E ajuntou que a morte sobreviria, de qualquer modo, causada por um pedaço de ferro. 

No dia 24 de novembro o Sr. H. L., amigo do falecido, impressionado com o vaticínio, levou 8 vidente uma outra carta de Raynal. 

A sensitiva imediatamente reconheceu pelo tato a pessoa de quem se cogitava e de novo lhe esboçou o seu retrato perfeito. Malgrado as negativas tendenciosas do Sr. H. L., para induzi-la em erro, reproduziu-se à visão e a confirmação da morte dentro de um ano, e sempre do mesmo modo. 

Ao dizer-lhe o Sr. H. L. que Raynal não poderia afastar-se de Paris, ela lhe declarou que ele a isso seria constrangido por uma força maior e mais: - que a sua ausência seria de um mês, que a sua morte não seria logo conhecida, e sim dentro de um mês e meio, mais ou menos. 

Mobilizado em 4 de agosto, o Senhor Raynal foi morto em 5 de setembro. 

No dia 19 a Sra. H... levou á Senhora Feignez a última carta de Raynal, a fim de obter detalhes da sua morte e eis o que conseguiu: 

A Senhora Feignez declarou que ele não sofrera um instante, sequer, ao tombar fulminado por uma bala, na vista direita; que essa bala só a ele vitimara, não em combate, mas em comissão, quando procurava desempenhar as ordens recebidas, tendo junto de si dois ou três camaradas, apenas. 

Finalmente, que, poucos dias antes, havia recebido uma carta postal que lhe eu escrevera. 

E acrescentou mais: a senhora há de lhe encontrar o cadáver, a sepultura... Havia que procurá-la não no campo, mas à margem direita de um caminho e a distancia de alguns metros de um molho de palhas. 

Ora, o Senhor Raynal, ciclista de ligação entre o General-de-Brigada e o seu Coronel, tinha, conforme as informações posteriormente obtidas, junto de si a bicicleta (veículo que não é caminho de ferro) e assim se verifica, a despeito da nebulosidade de certas instruções, a exatidão dos fatos. 

Raynal foi ferido precisamente no momento de reunir-se ao seu Capitão, por uma bala que lhe penetrou o olho direito (eis o pedaço de ferro) e, varando-lhe o cérebro, passou de raspão pela espádua do Capitão. 

Ele não sofreu um instante sequer... Assim foi. Morte fulminante. E a Sra. H... acrescenta: tinha recebido uma carta postal entre 4 e 6 de setembro; por conseguinte, alguns dias antes, e eu encontrei o corpo em Barcy, ao norte de Meaux, aonde cheguei depois de ter atravessado água. 

O corpo estava envolvido em palha, a sepultura não apresentava qualquer indício aparente, mas, aos primeiros golpes de picareta, quase à flor do solo, surgiu a sua caderneta militar. 

Finalmente, o corpo lá estava num campo, junto de um monte de palha. 

O Senhor Duchatel nota, a propósito deste caso: 

Aí temos um ator tombado no campo da luta! 

É uma morte que honra o teatro a que ele pertencia e do qual era uma das melhores esperanças. 

Pois bem! Até parece que o seu papel fora de antemão escrito e que ele soube interpretá-lo depois de escrito. 

Notareis que, na intercorréncia desses dois anos, algo se passou de mais grave, de muito mais importante, do ponto de vista geral, do que essa morte de Raimundo Raynal... Sobreveio esse evento formidável de que ele foi uma das primeiras vitimas, sem que o respeito uma só palavra se articulasse. 

E aquele pedaço de ferro? Deus meu! Pois não é ele anunciado Como, por exemplo, se tratasse de um brinquedo de criança? 

A sensitiva diz - é um pedaço de ferro, e, no entanto, ela ignorava a guerra! 

E viu, contudo, que, dentro de dois anos, aquela criatura morreria, sem saber que tal sucederia num campo de batalha! Enfim, acabou facilitando o encontro do corpo! 

Diante disso, estaremos inibidos de perguntar - tomando por paradigma este exemplo de um ator teatral - se o nosso papel não estará ¡á escrito e para um cenário preparado por alguém que ignoramos, mas cujos vestígios se encontram em alguma parte e são eventualmente perceptíveis por sujets extraordinariamente delicados e sensíveis? 

Pergunto-vos, pura e simplesmente, se nós não seremos atores; se, quando julgamos improvisar não fazemos mais que repetir, e ocorre-me o que seria até certo ponto uma solução: isto é, que por mais reduzido que fosse o nosso livre-arbítrio, ele não deixaria de existir, tanto quanto existiu o do ator Raynal. 

Entre os atores, há os que interpretam mal o seu papel; há os que representam fielmente; há os que nele empenham todo o seu ardor, sua estrela, seu ideal, fazendo de um papel insignificante uma criação artística inimitável; e há os cabotinos que rebaixam ao nível de rasas mediocridades as obras-primas de grandes pensadores. 

A propósito da comparação esboçada por Duchatel, frisarei que ela encerra provavelmente uma grande verdade. 

Em meu livro Os Fenômenos Premonitórios, me tinha concebido no mesmo sentido à conciliação das teses filosóficas do LIVRE-ARBITRIO e da FATALIDADE, consideradas em relação com a clarividência do futuro. 

E a fórmula a que cheguei foi esta: - Nem livre-arbítrio nem determinismo absolutos durante a encarnação do Espírito, mas LIBERDADE CONDICIONADA. 

Quanto ao problema suscitado pela previsão da morte em combate, na ignorância da guerra, observarei que estas lacunas tão misteriosas constituem a regra de todas as manifestações de clarividência do futuro. 

O sensitivo prevê admiravelmente as vicissitudes que aguardam uma criatura, mas quase sempre ignora os acontecimentos de ordem geral, tais como guerras, revoluções, cataclismos. 

A explicação deve filiar-se à circunstância de, na quase totalidade dos casos, socorrerem-se os videntes do EU integral subconsciente da pessoa que os consulta, de modo a não poderem logicamente perceber, como de fato não percebem, senão os fatos intimamente ligados à existência pessoal da criatura, com exclusão dos de ordem geral, mesmo quando formem uma parte integrante do seu futuro, como elementos causais. 

Até aí o mistério se nos afigura suscetível de aclaramento. 

Entretanto, o fato mesmo de admitir que os sensitivos extraem do subconsciente do consulente as suas percepções, levam, necessariamente, a perguntar corno os dados reveladores de futuros acontecimentos podem existir na subconsciência do indivíduo. 

A essa objeção, já respondi na minha obra Os Fenômenos Premonitórios (págs. 119 e seguintes). 

Basta. relembrar aqui que a única hipótese capaz de explicar o mistério seria a da REENCARNAÇAO. 

Deveríamos dizer, então, que, se a existência terrena não representa mais que o elo de uma cadeia indefinida de vidas sucessivas e se o Espírito, no ato de reencarnar, fixa, a título de expiação, de prova e aperfeiçoamento espiritual os acontecimentos capitais da existência terrena (acontecimentos que se apagariam da memória fisiológica, ao franquear a vida, mas ficariam registrados no subconsciente para daí emergirem e se definirem graças a um processo análogo ao das sugestões pós-hipnóticas), fácil se torna compreender como pode o vidente, por vezes, descobri-los nos escaninhos da sua ou da subconsciência de outrem. 

E, do mesmo passo, acontecimentos de outro modo havidos por fruto de cega fatalidade nos apareceriam como resultantes de atos livremente desejados. 

Infelizmente, a explicação reencarnacionista não impede que o problema da fatalidade ressurja sob aspectos diferentes. 

Se o EU espiritual de Raynal tinha fixado por si mesmo a morte violenta do soldado em ação, é força concluir que a guerra mundial também estava inexoravelmente resolvida de antemão. 

E assim, eis-nos resvalando no problema formidável da existência de uma fatalidade transcendente, na orientação das coletividades. 

Neste particular, advirto que, à vista dos fenômenos incontestes de clarividência do futuro, é difícil recusar ulteriormente a existência de uma fatalidade regendo 0 Mundo, ao menos nas suas grandes linhas diretivas. 

Um tal postulado, sobre ser inevitável, apresentaria reconfortante aspecto filosófico, pois implicaria a existência de ENTIDADES ESPIRITUAIS, prepostas a governança da Humanidade, e, por conseqüência, à existência de DEUS e sobrevivência da alma: Si divinatio est, dü sunt. E esta. conclusão, ainda hoje, parece incontestável. 

Mas, ainda assim, restaria resolver um problema originado do precedente, qual o interessante à questão moral: - a existência de Entidades que permitissem ou preparassem o desencadeamento de espantosas e sangrentas hecatombes, qual a que acabamos de assistir a poucos anos. 

Esta grave proposição identifica-se com a da existência do MAL - uma tese posta de milênios por todas as filosofias, inutilmente, sem conseguirem elucidá-la. Limitar-me-ei a transcrever aqui uma frase do Doutor Geley, que diz : a existência do Mal é a medida da inferioridade dos mundos.

MEDIUNIDADE DE CURA POR RAMATIS - PARTE 8

Os impedimentos que prejudicam os
efeitos das medicações espíritas 


PERGUNTA: - Em nossas pesquisas sobre o serviço mediúnico intuitivo na seara espírita, por vezes chegamos ao desânimo, tal a incerteza e a improdutividade de certos trabalhos, que não ultrapassam o nível comum dos próprios médiuns. Que dizeis disso? 

RAMATÍS: - Os médiuns, já o dissemos, atualmente ainda significam a cota de sacrifício atuando na vanguarda da divulgação da imortalidade da alma e do intercâmbio entre vivos e mortos. No futuro, o animismo improdutivo, as confusões freudianas, a associação de idéias, o histerismo, o automatismo psicológico e outros óbices indesejáveis, ainda existentes no intercâmbio mediúnico atual, hão de desaparecer em face do treino e da pesquisa dos próprios cientistas simpatizantes da doutrina. 

A mediunidade evoluiu e aperfeiçoa-se, possuindo um roteiro definido para os desideratos superiores, tal qual a inteligência do homem também progride pelo exercício e o esforço incessante nos diversos setores da ciência do mundo. Inúmeras realizações técnicas e científicas que hoje deslumbram o vosso mundo, também requereram centenas de experimentos para corrigir os hiatos e as imprevisões, que existiam antes dos admiráveis padrões modernos. 

Que seria da medicina terrena, caso os seus abnegados líderes, ante os seus equívocos iniciais, desistissem de prosseguir no estudo de tal ciência? Portanto, o pessimismo, a dúvida e a indiferença prejudicam o serviço dos médiuns incipientes. 

PERGUNTA: - Quais são as dificuldades mais comuns que os espíritos terapeutas enfrentam para atender ao receituário mediúnico sob a responsabilidade do Espiritismo? 

RAMATÍS: - Em geral, o público amontoa centenas de papeletas com consultas e pedidos, na mesa do centro espírita, à última hora; sua maior porcentagem, no entanto, só indaga coisas e doenças as mais triviais. O médium receitista então fica obrigado a um trabalho árduo e ininterrupto, que o esgota na sua resistência mental-física, como ainda lhe impede perfeita sintonia psíquica com o Além. O êxito do receituário mediúnico, em massa e em horário curto, exige rapidez de ação por parte do espírito terapeuta e do seu ajuste instantâneo e harmônico ao cérebro perispiritual do médium receitista. Qualquer vacilação ou interferência imprevista entre ambos pode resultar em alteração na prescrição das receitas. 

Malgrado a tradição terrena ensinar que os espíritos desencarnados possuem o dom da ubiqüidade e podem transladar-se facilmente no mundo espiritual, superando também os obstáculos da própria matéria e visitando, ao mesmo tempo, inúmeros enfermos eqüidistantes, eles não estão aptos para prever as surpresas espirituais ou as dificuldades magnéticas durante o exame psíquico, provocados pelos próprios consultantes. Sem dúvida, os médiuns criteriosos, sob o amparo dos espíritos terapeutas e experimentados no socorro dos encarnados, chegam a cumprir um receituário mediúnico útil e compensativo. 

Mas há casos em que os enfermos a serem examinados encontram-se tão fortemente impregnados de fluidos ruinosos, resultantes de sua emotividade descontrolada ou dos seus pensamentos nocivos, que os espíritos terapeutas não logram êxito na formulação do diagnóstico perispiritual e também falham na prescrição do medicamento. Também, infelizmente, às vezes, os médiuns cercam-se de influências tão perturbadoras, que isolam completamente a faixa vibratória dos seus guias terapeutas; então receitam medicamentos inócuos, remédios exóticos ou panacéias ridículas, pois ficam sob o forte domínio do animismo incontrolável, ou então podem sintonizar-se com as entidades do baixo astral. 

Acresce, ainda, que o seu subconsciente interfere, de modo vigoroso, durante o nosso labor e intercâmbio com os encarnados, obedecendo ao próprio automatismo de defesa da personalidade humana contra a intromissão de uma vontade alheia no seu comando pessoal. E se o médium for criatura bastante onerada com dívidas pretéritas, enfrentando constantemente as vicissitudes de ordem moral e física no mundo terreno, crescem essas dificuldades, pois há médiuns que ainda bebem alcoólicos, fumam, abusam da alimentação carnívora e movimentam-se à caça de prazeres fáceis! Malgrado a sua tarefa de divulgar a realidade da vida imortal, há também os que temem a morte tal qual o homem comum. 

A fim de atender na mesma noite a centenas de receitas e aos pedidos formulados nos centros espíritas, o médium receitista precisa escrever às pressas e se fatiga facilmente no desempenho dessa tarefa incomum. 

Qualquer demora na recepção espiritual ou preocupação íntima é suficiente para o desajuste vibratório com o seu guia. E os espíritos desencarnados, por sua vez, ante os numerosos pedidos, vêem-se obrigados a cuidar com mais atenção dos apelos dos casos mais graves, enquanto se limitam a prescrever medicação contemporativa aos demais consulentes, atendendo-os apenas com o fito de não lhes causar desânimo. 

Deste modo, quase sempre predominam no receituário mediúnico as indicações de remédios de ação geral ou paliativa, tais como os reconstituintes do sangue, extratos hepáticos, xaropes, vitaminas, fortificantes dos nervos ou recalcificantes comuns, que são prescritos para os casos menos importantes, dentro do horário premente e da capacidade física do médium. E quanto às inquietações psíquicas, os espíritos restringem-se a dar conselhos confortadores e advertência espiritual ou à promessa de breve socorro. 

No entanto, apesar de os adeptos e médiuns espíritas saberem que todos os fenômenos da Criação são disciplinados por leis sensatas e imutáveis, eles parecem admitir que os desencarnados são seres miraculosos, pois exigem que eles atendam a um receituário medi único vultoso e atropelado, no tempo limitado de uma sessão espírita. 

PERGUNTA: - Quais são essas dificuldades mais comuns, que os próprios consulentes opõem aos espíritos encarregados dos diagnósticos e das prescrições de medicamentos? 

RAMATÍS: - Muitas vezes, durante o exame perispiritual, as suas poses mentais descontroladas ou censuráveis dificultam aos espíritos terapeutas conseguirem um diagnóstico correto para prescreverem a medicação adequada. 

Envoltos por fluidos, às vezes detestáveis, de vícios desregrados, eles destroem as possibilidades de êxito do socorro do Além. 

Como decorrência, os espíritos terapeutas terão de fracassar ao tentarem formular o diagnóstico do enfermo através de um perispírito sujo e oleoso, cujos fluidos grosseiros formam uma espécie de cortina opaca, intransponível. É difícil, portanto, o êxito do receituário mediúnico para beneficiar criaturas viciadas e descontroladas, cujo perispírito se apresenta escurecido e perturbado na sua fisiologia "etereoastral", delicadíssima. E caso elas não purifiquem a sua atitude mental controlando as suas emoções indisciplinadas, tornam-se completamente impermeabilizadas aos passes espíritas, à água fluidificada, à homeopatia, logrando pouco êxito até no uso de medicamentos como xaropes, injeções, comprimidos ou antibióticos. 

A medicação mais recomendável é ainda o conselho espiritual dado a esses pacientes desgovernados no seu psiquismo. Mas isso os decepciona, pois eles aguardam dos espíritos a prescrição de medicamentos miraculosos, visto não se convencerem de que os males são oriundos de seus desequilíbrios psíquicos. Alguns deles, acostumados aos fluidos enfermiços, parecem agarrar-se à doença como recurso para fugirem de suas próprias responsabilidades na vida material. 

Aborrecem-se ante qualquer admoestação do Além, desatendem a todos os convites para refletirem seriamente sobre os seus deslizes morais; e por sua culpa retardam o seu reajuste espiritual e também a própria saúde física. Convencidos de que os espíritos desencarnados devem saber tudo e disporem de poderes ilimitados para lograr sucesso terapêutico, eles não admitem qualquer dúvida ou laconismo nas respostas às suas solicitações. A melhor falha do médium ou evasiva dos espíritos serve-lhes de motivo de crítica ferrenha ao fenômeno mediúnico e de comentários desairosos sobre os postulados do Espiritismo. Ignoram que o receituário mediúnico é apenas uma contribuição secundária da doutrina espírita, uma vez que, ajudando a manter a saúde física dos seus adeptos e simpatizantes, ela busca atraí-los para se integrarem aos seus postulados sublimes de redenção espiritual. 

Decerto, também há os que são resignados e otimistas, pois alguns chegam a demonstrar heroísmo ante a doença ou a perspectiva da morte, sem qualquer revolta ou desespero. 

PERGUNTA: - Poderíeis explicar-nos melhor o caso dessas criaturas paradoxais, que não se apavoram ante as enfermidades e se resignam ante a iminência da morte? 

RAMATÍS: - É um acontecimento resultante da interferência da "voz oculta" do espírito imortal, ou seja, de sua consciência espiritual a sobrepor-se à consciência humana e fazendo o homem pressentir as vantagens e o proveito do sofrimento ou da doença grave que o acomete. 

Malgrado não poder compreender a origem do fenômeno ou justificá-lo satisfatoriamente, algo, em sua intimidade, assegura-lhe certa purificação dos seus pecados pregressos e da sua breve ventura espiritual. Há leprosos que, embora vítimas de enfermidade tão trágica, são mais resignados e pacientes do que outros enfermos de moléstias menos graves, porque eles sentem no âmago de sua alma tratar-se de um processo redentor que os aperfeiçoa para a angelitude eterna. 

Apesar de esse fugaz pressentimento ocorrer apenas em alguns segundos da existência, ou quando o espírito deixa o corpo físico, à noite, durante o sono, fica-lhe na intimidade a lembrança inapagável dos. propósitos benfeitores da vida criada por Deus. As almas pacientes e dóceis, embora sejam incultas ou' desafortunadas, sentem mais facilmente a mensagem de que o sofrimento purifica, que as vicissitudes educam e os fracassos advertem, melhorando o discernimento da consciência. 

Depois da desencarnação física, invertem-se os conceitos tradicionais da significação da vida humana, pois a morte física, que tanto apavora os encarnados, significa a jubilosa "porta aberta" para os espíritos que do "lado de cá" aguardam ansiosamente o retorno dos seus familiares queridos. Daí o paradoxo de algumas criaturas traírem a estranha satisfação que lhes vai no imo da alma, mesmo quando gravemente enfermas ou às vésperas da morte, embora ignorem que é o espírito imortal obedecendo à sua natural tendência de "fuga" do aprisionamento incômodo da carne. Algumas chegam a censurar-se por esse estranho masoquismo, em que se sentem inexplicavelmente alegres ante semelhante "infelicidade". 

Mesmo que o homem se afunde no charco da animalidade e se acorrente às paixões carnais inferiores, o seu espírito nunca cessa de forçar os liames que o prendem à carne e o impedem de atuar livremente no plano sideral. À semelhança do que acontece ao imigrante saudoso, ele rejubila-se toda vez que surge a perspectiva de regresso à pátria dos espíritos. 

Não opomos dúvida ao fato de que os homens, em sua maior porcentagem, ainda preferem fechar os ouvidos aos apelos de sua consciência espiritual, no sentido de se libertarem dos gozos efêmeros da vida instintiva animal e do culto vicioso aos tesouros do mundo de César. Mas nenhum deixa de ouvir, em sua intimidade, a voz silenciosa do espírito imortal. Mesmo aqueles que descrêem de Deus ou da alma eterna não ficam surdos ao chamamento oculto da entidade angélica. 

PERGUNTA: - Porventura esse desejo oculto de libertação espiritual não deveria existir apenas naqueles que se recordam de suas existências anteriores, ou que possuem cultura espiritual suficiente para se reconhecerem imortais? 

RAMATÍS: - Embora os encarnados não consigam recordar os acontecimentos de suas vidas passadas, devido à forte interferência dos complexos biológicos da carne sobre a memória sideral, nunca se extingue neles a ansiedade pela libertação do seu espírito. 

Assim como o exilado compulsório não trocaria todas as comodidades e distrações no seu desterro, pelas maiores contrariedades em sua pátria querida, o espírito imortal também sente-se infeliz sob o domínio estúpido das paixões da carne. 

Há momentos em que o tédio, a melancolia, o desespero e até a revolta abatem o homem de tal forma, embora ele participe de todos os prazeres da vida, que, na sua angústia insolúvel, ele recorre ao suicídio, causando espanto àqueles que o julgavam plenamente venturoso. Na verdade, em face de qualquer descuido ou invigilância da personalidade humana, a consciência espiritual reage, no sentido de sua integração na vida superior do espírito imortal. 

Muitas vezes, esse "chamado" oculto e incessante traduz-se numa angústia indefinível, que é a luta rude entre o homem-espírito e o homem-animal; luta que, nos caracteres mais fracos, pode arrastar o homem ao suicídio. Inúmeros poetas, intelectuais, filósofos, escritores, cientistas e mulheres de elevada posição social fugiram do mundo pela porta falsa dessa tragédia, justamente por faltar-lhes a firmeza na espiritualidade consciente, que então lhes compensaria o amargor de suas decepções e angústias, por maiores que elas fossem. 

Mas, assim como o balão cativo não cessa de forçar as amarras que o prendem ao solo, o espírito também emprega todos os seus esforços para libertar-se dos grilhões da matéria. Embora a consciência humana não identifique esse oculto instinto moral do espírito para ajustar-se ao padrão superior de sua vida imortal, em certas criaturas o fenômeno se traduz por uma estranha satisfação íntima, que pode manifestar-se mesmo durante a dor ou até quando se aproxima a morte física. 

PERGUNTA: - E quais são os indícios que comprovam a ansiedade ou o esforço subjetivo do nosso espírito tentando abandonar o corpo carnal e, ao mesmo tempo, angustiando-se ante a perspectiva de breve libertação da matéria? 

RAMATÍS: - Essa ansiedade espiritual raramente é certificada pela consciência humana, ou seja, pelo homem encarnado. Às vezes, ele sublima-se mesmo em face da doença ou da morte, mergulhando na saudade dos momentos felizes que passou na infância, na mocidade e também nos estados de alma que o afastaram da vida material. Nessa associação de emoções diversas, o espírito sensibiliza-se de modo incomum e mistura a alegria à tristeza, o prazer à dor e a renúncia ao apego do mundo material. Algo estranho o influi; - a melancolia ou o júbilo oculto e incompreensível, que o domina, tece-lhe na intimidade o sonho de um mundo venturoso, em que ele recorda ter vivido ou pressente que existe e tornará a reviver. 

É uma saudade indefinível, que se sobrepõe aos maiores prazeres e gozos dos sentidos físicos do homem, e, em alguns, chega a manifestar-se num verdadeiro estado de êxtase, que extingue as barreiras egocêntricas da personalidade humana. Em tais momentos, processa-se vigorosa competição entre a mente em vigi1ia, que tenta heroicamente manter o seu comando diretor no organismo carnal, enquanto a consciência espiritual forceja por fugir da matéria e retomar ao seu mundo eletivo. 

PERGUNTA: - Mas, acaso não existem certas criaturas pessimistas que, durante sua doença, mal suportam seus sofrimentos e mantêm-se sob a mais extrema irritação e rebeldia? E ainda, outras, tão rebeldes à sua purgação cármica de aperfeiçoamento espiritual, que se tornam refratárias a qualquer esperança futura? 

RAMATÍS: - Sim. Há criaturas que se requintam no apego às minúcias mórbidas que lhes dramatizam exageradamente as enfermidades de pouca importância e as vicissitudes comuns da vida humana. 

Ante o primeiro sintoma enfermiço, elas esvaziam dúzias de frascos de remédios, friccionam-se com as pomadas mais excêntricas ou viciam-se aos medicamentos injetáveis, transformando o corpo em paliteiro de agulhas hipodérmicas. Escravizadas ao relógio, vivem atentas ao curso das horas a fim de engolir, em hora exata, o comprimido contra o defluxo ou a pílula para a boa digestão. Mesmo quando em completo repouso, recorrem à injeção antiespasmódica, ao tônico cardíaco ou ao controle da pressão sanguínea. 

Ante a sua imaginação mórbida desfila o cortejo de doenças modernas da civilização. O diabetes, o enfarte cardíaco, o câncer, as úlceras ou o artritismo, transformam-se em sombras a impressionar-lhes a mente angustiada. 

Habituam-se aos exames clínicos, às chapas radiográficas, às pesquisas de laboratório e revisão periódica do corpo físico. Trocam de médicos assim como as mulheres trocam de modas, enquanto exercem a função de cobaias para o experimento de todas as drogas farmacêuticas recém-fabricadas. 

Compungidas e ingênuas, comovem-se ao descrever suas próprias desditas e lances melodramáticos do socorro médico, que à última hora salvou-as do perigoso distúrbio estomacal, da grave intoxicação hepática ou de infeccioso surto intestinal. Movimentam-se pela superfície da Terra transportando vultosa bagagem de medicamentos destinados a atender a todos os eventuais sintomas enfermiços. 

A mentalização incessante da doença estigmatiza-lhes o senso estético e o gosto pela vida; ficam apáticas e insensíveis às belezas do mundo e aos fenômenos poéticos da Natureza. Sisudas, melancólicas e introvertidas, não se animam ante a clareira de luz solar na mata agreste, nem as emociona o vôo das aves ruflando suas asas coloridas no azul transparente do céu, nem as alegram as pétalas de flores silvestres que lhes caem sobre os ombros e os cabelos. 

Nada as dissuade do seu pessimismo pertinaz e do seu infortúnio excessivamente dramatizado. Olhos baços, fisionomia compungida e lábios contraídos num ríctus de perene amargura, esses infelizes doentes da alma gostariam de transformar o mundo num vasto hospital sem fim. Não ouse alguém subestimar ou duvidar do seu drama compungido, que considera digno da pena de um Victor Hugo ou Dostoiewski. Dramatizam, transformam a mais insignificante verruga, numa excrescência cancerosa, o espirro banal e inofensivo, em prenúncio da grave pneumonia, e o simples incômodo digestivo, em uma úlcera gástrica. Enfim, cultivam a doença assim como o jardineiro cultiva a flor. 

Infelizmente, a vossa humanidade ainda ignora que a maior parte das doenças do corpo tem sua origem em distúrbios agudos de ordem psíquica; pois, na realidade, a cupidez, a avareza, o ódio, a vingança, o ciúme, a ambição, o orgulho e outros tóxicos de ordem moral são a matriz das moléstias perigosas que resultam em cânceres, morféia, tuberculose e outras, de aspectos e conseqüências fatais. 

PERGUNTA: - Naturalmente, essas pessoas agravam os seus menores males porque pensam neles incessantemente e, então, dificultam a sua cura. Não é assim? 

RAMATÍS: - "Namora a doença e te casarás com ela", diz certo provérbio do vosso mundo, aludindo a esses enfermos que fazem da doença e da morte a única preocupação da vida. Eles ignoram os postulados sadios do espiritualismo emancipado, que explicam a função purificadora da enfermidade e que o fatalismo da morte física é indispensável para desatar as algemas carnais do espírito. Muitos deles transformam-se em assíduos consultantes das sessões espíritas, à cata de pormenores minuciosos de "sua doença", pois consideram que é muito mais grave a sua dispepsia comum, do que a tuberculose da vizinha. Facilmente tornam-se adversários gratuitos do Espiritismo, quando os espíritos só se limitam a dar-lhes conselhos de ânimo espiritual, em vez de atendê-los com a prescrição de remédios miraculosos ou diagnósticos exatos de sua doença. 

Certo é que, dia mais ou dia menos, algum espírito leviano ou médium anímico e imprudente acaba por fazer-lhes o diagnóstico certo ou errado, mas perturbador e trágico; o qual, então, se constitui na derradeira gota de água a entornar o copo de simples conjetura. 

O medo, o desespero, a amargura e os pensamentos negativos gerados pelo pessimismo aniquilam as forças defensivas da mente e perturbam o sistema endocrínico, alterando o quimismo hormonal responsável pelo equilíbrio fisiológico. A perturbação mental constante atinge o sistema nervoso vago-simpático, alterando-lhe o ritmo de comando orgânico e interferindo perniciosamente na rede de neurônios sensibilíssimos, que se entranham desde o encéfalo, por lodos os tecidos e vísceras do corpo humano. Estabelecido o clima negativo, favorável à enfermidade estigmatizada pela mente, em breve se materializa na carne indefesa a doença, que ainda não passava de simples conjetura. 

PERGUNTA: - Que dizeis de certos consulentes que, abusando do tempo precioso dos médiuns, depois atiram fora a receita espírita que lhes foi doada? 

RAMATÍS: - Realmente, certos consultantes depois de agraciados com o diagnóstico mediúnico ou favorecidos com a prescrição medicamentosa capaz de curá-los de grave enfermidade ou mesmo prorrogar-lhes a vida periclitante, põem "de molho" a receita espírita para só usarem-na em caso de falharem os recursos médicos que ainda pretendem experimentar. Alguns deles agem assim porque temem o ridículo de serem curados pelos "mortos" e depois tachados de ingênuos ante os demais companheiros. Outros são desconfiados, curiosos ou negligentes; existem ainda aqueles que subestimam a receita dos espíritos, porque esperavam um diagnóstico espetacular ou medicação miraculosa. Em caso contrário, eles a deixam esquecida na gaveta de qualquer móvel para usarem-na se falharem todos os recursos da medicina acadêmica. 

Quando se convencem de que estão realmente liquidados e a medicina do mundo se confessa impotente para curá-los, então se apegam à velha receita mediúnica ou consultam novamente os espíritos como derradeira tábua de salvação. Infelizmente, já deixaram de aproveitar o ensejo da hora psicológica oportuna do tratamento espírita pois, enquanto seriam curados fisicamente, também se devotariam em tempo ao estudo e conhecimento dos postulados salvadores do Espiritismo. Mesmo a prescrição dos espíritos não pode exorbitar das leis comuns da vida, nem produzir o milagre extemporâneo ou a cura espetacular, quando já está ultrapassado o prazo em que o remédio produziria seus efeitos benéficos. O enfermo que já esgotou todas as suas reservas vitais e intoxicou o seu organismo com o excesso da medicação alopata não deve exigir da receita espírita o "milagre" capaz de restituir-lhe a saúde completamente abalada. 

PERGUNTA: - Deduzimos das vossas palavras que a receita espírita não pode produzir o efeito desejado, caso os doentes deixem de usar a medicação logo em seguida à sua prescrição. Não é assim? 

RAMATÍS: - Evidentemente, os espíritos receitistas não podem ser responsáveis pelos fracassos terapêuticos de suas prescrições quando os pacientes demoram ou negligenciam o uso da medicação prescrita. O remédio prescrito mediunicamente deixa de produzir os resultados vaticinados pelos terapeutas do Espaço, caso não seja utilizado, no máximo, em dez dias, pois além desse prazo podem ocorrer reações orgânicas inesperadas, de efeitos mórbidos imprevistos. 

Os espíritos desencarnados não só auxiliam a cura dos enfermos, receitando-lhes os medicamentos apropriados, como também dinamizam-lhes as reservas vitais e as forças "etereoastrais" que circulam pelo perispírito. Esse reajuste dinâmico do perispírito às vezes é processado no momento em que fazem o diagnóstico. Mas a mente do próprio enfermo, em atuação descontrolada, pode alterar posteriormente a tonalidade do metabolismo e estabelecer novas condições mórbidas, que então desaconselham o uso do medicamento alguns dias depois. 

É evidente que os espíritos não podem prever nos enfermos desconfiados ou negligentes, que lhes subestimam o tratamento prescrito, as diversas mutações emotivas e suas atitudes mentais futuras, que os tornam impermeáveis ao tipo da medicação já receitada. A receita mediúnica não é panacéia tipo "cura tudo", que pode ser usada em qualquer condição ou a qualquer momento. 

Aliás, quer os consultantes cumpram religiosamente as prescrições medicamentos as que lhes fornecem os desencarnados, ou então as subestimem de modo leviano, o Alto sempre credita ao médium correto e serviçal o que lhe for devido pelo trabalho benfeitor realizado por ele. 

PERGUNTA: - No princípio de vossa explicação fizestes referência a uma consciência humana e a uma consciência espiritual. Tratando-se de um problema algo complexo, desejaríamos esclarecimentos mais amplos a tal respeito. Podereis atender-nos? 

RAMATÍS: - A consciência humana compreende o estado de vigília do espírito quando ele se encontra ligado ou imerso no corpo físico. A consciência espiritual, no entanto, age diretamente no mundo divino do espírito como entidade eterna, ou seja, no seu plano "real" e definitivo. É a consciência imutável do ser que preexiste além do tempo "vida humana"; e manifesta-se independente das limitações acanhadas do "eu" ou do "mim", que constituem a personalidade do "ego" deslocado do seio do Cosmo onde "espaço e tempo" são infinitos. 

A mente do homem não é a sua consciência eterna, mas, sim uma espécie de "estação receptora e emissora", de amplitude restrita ou limitada aos conhecimentos, fenômenos e fatos dos mundos planetários, nos quais ela exercita o seu discernimento mediante o processo mental de raciocinar, atendo-se às contingências ou fases da infância, mocidade e velhice no ambiente de um mundo provisório ou irreal, pois se transforma e desaparece num prazo determinado. 

Em tais condições, a consciência humana amplia-se, desenvolve-se pelo acúmulo das memórias daquilo que "ela vê, analisa e considera", em contado com os ambientes dos mundos planetários onde o indivíduo ingressa nas suas reencarnações. Conseqüentemente, as lembranças do que vai sendo averbado na tela mental não significam a "realidade" espiritual imutável, mas apenas um "acervo" mental de caráter transitório, pois as idéias ou conhecimentos "mais perfeitos", que vão surgindo na mente, apagam as suas antecedentes, "menos perfeitas". 

A mente humana raciocina à parte, sob uma condição relativa e transitória, muitíssimo pessoal em face da Consciência Infinita e Onisciente do Criador. Deste modo, ela, então, cria inibições, desejos, ansiedades, preconceitos, ideais, medos, concepções individualistas, que constituem o seu equipo próprio no desenrolar da sua existência. 

A sua personalidade é conformada à sua experiência pessoal no ambiente em que se encontra; mas, de nenhum modo, isso é o real. Assim, a capacidade e o entendimento de cada criatura que se move numa direção simpática a si mesma fortalecem e alimentam o "ego" inferior como uma consciência separada do Ego Espiritual. 

Assim se forja a consciência humana, pelo acúmulo de experiências e lembranças captadas pela mente em atuação no mundo material transitório e irreal. Lembra o perfume da flor, mas não é a própria flor. 

PERGUNTA: - Como compreendermos o sentido íntimo e exato da consciência humana, qual perfume e não como a própria flor? 

RAMATÍS: - A consciência de idéias, crenças, especulações ou desejos realizados não define, não é a realidade espiritual, pois o real, "no seu todo" não pode ser configurado por um seu efeito, que é apenas um reflexo limitado do mesmo todo. 

A mente humana pode conceituar em razão do seu próprio condicionamento e de sua sabedoria decalcada no ambiente do mundo planetário; mas não pode criar a realidade espiritual, que independe dela, pois o perfume (sendo um efeito) não pode gerar ou produzir a flor (a causa) que o gerou. Para melhor elucidação tomemos este exemplo: Admitindo-se que uma lâmpada de 50 watts pudesse conceituar mentalmente a figura da usina que lhe transmite a energia elétrica, naturalmente ela só poderia imaginá-la com os recursos que lhe fossem conhecidos; ou seja: só poderia configurar a usina comparando-a a uma outra lâmpada similar, porém, gigantesca e mais poderosa, de uns 500.000 watts, por exemplo; mas essa concepção imaginária não define o que, de fato, é a usina em sua realidade. Assim é, pois, a consciência humana, como personalidade forjada e configurada através dos elementos conhecidos da própria mente. Ao passo que a consciência espiritual e preexistente no homem é que constitui a consciência definitiva, o imutável, enfim - o real! 

Ao homem encarnado não é possível descrever o real que independe das formas do mundo físico e da mente humana, pois ele só conta com os conhecimentos que a sua própria mente assimila através de sua presença no mundo das formas materiais provisórias, do mundo irreal.