Naquele mesmo dia, buscou providenciar para uma nova colocação, mas, em cada tentativa, encontrava sempre um dos seus admiradores e conhecidos que obtemperava:
— Ora, Azarias, você precisa ter mais calma! Lembre-se de que a sua mediunidade é um patrimônio de nossa Doutrina... .
— Sossegue, homem de Deus!... Volte a casa e nós todos saberemos ajudá-lo neste transe.
Na mesma data ficou assentado que os amigos do médium se cotizariam, entre si, de modo que ele viesse a perceber uma contribuição mensal de seiscentos mil réis, ficando, desse modo, habilitado a viver tão somente para a Doutrina.
Azarias, sob a inspiração de seus mentores espirituais, vacilava ante a medida, mas à frente de sua imaginação estava os quadros do desemprego e das imperiosas necessidades da família.
Embora a sua relutância aceitou o alvitre.
Desde então, a sua casa foi o ponto de uma romaria interminável e sem precedentes. Dia e noite, seus consulentes estacionavam a porta. O médium buscava atender a todos como lhe era possível. As suas dificuldades, todavia, eram as mais prementes.
Ao cabo de seis meses, todos os seus amigos haviam esquecidos o sistema das cotas mensais.
Desorientado e desvalido, Azarias recebeu os primeiros dez mil réis, que uma senhora lhe ofereceu após o receituário. No seu coração, houve um toque de alarme, mas o seu organismo estava enfraquecido. A esposa e os filhos estavam repletos de necessidades.
Era tarde para procurar, novamente, a fonte do trabalho. Sua residência era objeto de uma perseguição tenaz e implacável. E ele continuou recebendo.
Os mais sérios distúrbios íntimos lhe inquietavam o coração, mas o médium sentia-se obrigado a aceitar as injunções de quantos o procuravam levianamente.
Espíritos enganadores aproveitaram-se de suas vacilações e encheram-lhe o campo mediúnico de aberrações e descontroles.
Se as suas ações eram agora remuneradas e se delas dependia o pão dos seus, Azarias se sentia na obrigação de prometer coisa, quando os Espíritos não o fizessem. Procurado para a felicidade no dinheiro, ou êxito nos negócios ou nas atrações do amor do mundo, o médium prometia sempre as melhores realizações, em troca dos míseros mil réis da consulta.
Entregue a esse gênero de especulações, não mais pode receber o pensamento dos seus protetores espirituais mais dedicados.
Experimentando toda sorte de sofrimentos e de humilhações, se chegava a queixar-se, de leve, havia sempre um cliente que lhe observava:
— Que é isso, "seu" Azarias?... O senhor não é médium? Um médium não sofre essas coisas!...
Se alegava cansaço, outro objetava, de pronto, ansioso pela satisfação de seus caprichos:
— E a sua missão, "seu" Azarias?...
— Não se esqueça da caridade!...
E o médium, na sua profunda fadiga espiritual, concentrava-se, em vão, experimentando uma sensação de angustioso abandono, por parte dos seus mentores dos planos elevados.
Os mesmos amigos da véspera piscavam, então, os olhos, falando, em voz baixa, após as despedidas:
— Você já notou que o Azarias perdeu de todo a mediunidade?... — dizia um deles.
— Ora, isso era esperado — redargüia-se —, desde que ele abandonou o trabalho para viver à custa do Espiritismo, não podíamos aguardar outra coisa.
— Além disso – exclamava outro do grupo —, todos os vizinhos comentam a sua indiferença à família, mas, de minha parte, sempre vi no Azarias um grande obsidiado.
— O pobre do Azarias perverteu-se — falava ainda um companheiro mais exaltado – e um médium nessas condições é um fracasso para a própria Doutrina...
— É por essa razão que o Espiritismo é tão incompreendido! – Sentenciava ainda outro. — Devemos tudo isso aos maus médiuns, que envergonham os nossos princípios."
Cada um foi esquecendo o médium, com a sua definição e a sua falta de caridade. A própria família o abandonou à sua sorte, tão logo haviam cessado as remunerações.
Escarnecido em seus afetos mais caros, Azarias tornou-se um revoltado.
Essa circunstância foi a última porta para o livre ingresso das entidades perversas que se assenhorearam de sua vida.
O pobre náufrago da mediunidade perambulou na crônica dos noticiários, rodeado de observações ingratas e de escandalosos apontamentos, até que um leito de hospital lhe concedeu a bênção da morte...
O narrador estava visivelmente emocionado, rememorando as suas antigas lembranças.
— Então, quer dizer, meu amigo — observou um de nós —, que a perseguição da polícia ou a perseguição do padre não são os maiores inimigos da mediunidade..."
— De modo algum — replicou ele, convicto — O padre e a polícia podem até ser os portadores de grandes bens.
E, fixando em nós outros o seu olhar percuciente e calmo, rematou a sua história, sentenciando gravemente:
— O maior inimigo dos médiuns está dentro de nossos próprios muros!..."
(Recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 29 de abril de 1939)
Bibliografia:
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita. Programa V, Roteiro nº 26. FEB.
Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. Cap. XVII, Da Formação dos Médiuns. Cap. XVIII, Dos Inconvenientes e Perigos da Mediunidade.
Apostila do COEM (Centro de Orientação e Educação Mediúnica, Do Centro Espírita "Luz Eterna". Curitiba).
Nº 04 – 10a, 11a, 12a Sessão Teórica.
Xavier, Francisco Cândido. In: Novas Mensagens. História de um médium. Rio de Janeiro: FEB, 1978. p.39-48
Publicada por Curso de Introdução ao Espiritismoem 15:15
AO MÉDIUM EM DESENVOLVIMENTO
O neófito da mediunidade costuma exigir grandes sinais fenomênicos para vencer a inércia que obsta a comunicação ostensiva entre os dois planos existenciais.
Esquece, no entanto, que, sendo a mediunidade uma faculdade orgânica a ele pertencente e a educação mediúnica uma tarefa decorrente da própria vontade, faz-se indispensável a sua ação inicial em esforço próprio para o externar da mente comunicante do além.
Há os que se mostram indecisos, embora diante de indiscutível intercâmbio mental, a reclamar consubstanciação material do manifestante, olvidando a constituição semimaterial do invisível mundo.
São muitos os que se destemperam na dúvida e na inquietação, quanto à atividade medianímica, à semelhança de exigentes Tomés, buscando a palpação dos Espíritos, tornando-se cada vez mais questionadores, mesmo diante dos mais dilatados sinais da realidade extrafísica.
Ao médium educando, pede-se estudo e razão conjugados, mas também confiança e coragem, humildade e amor, caridade e desprendimento para a abertura consciente e indispensável ao desabrochar de suas faculdades psíquicas.
Não é pelas grandes e espetaculares manifestações fenomênicas que se transmuda o médium em colaborador com o Mundo Invisível e logra fortalecer a fé no trato com os Espíritos! Mas a partir da doação perseverante e incondicional à Causa do Cristo, fazendo em sua mente eco aos pensamentos daqueles que lhe procuram o concurso fraternal.
Hilário
* Página psicografada pelo médium Francisco Cajazeiras, do livro “Conselhos de Saúde Espiritual”, EME Ed.
AS comunicações Mediúnicas Introdução
Nos momentos iniciais da Codificação Espírita, quando começaram a chegar até Allan Kardec as primeiras mensagens do além-túmulo, algo despertou a atenção do Codificador: verificou Allan Kardec a grande diversidade de caracteres, de tendências e de estilos que estavam presentes nas comunicações mediúnicas. O Codificador, desde as horas iniciais, percebeu que muito cuidado deveria ser tomado por todos aqueles que passassem a se dedicar ao mister mediúnico, no sentido de tentarem identificar a natureza das diversas mensagens dos desencarnados. Kardec afirmava que, depois da obsessão, a identificação da natureza dos Espíritos comunicantes era o maior escolho da prática espírita. Além disso, vários outros aspectos deveriam ser levados em consideração no intercâmbio com os Espíritos desencarnados.
A Natureza das Comunicações
a) Grosseiras: são aquelas comunicações que contêm expressões que ferem o decoro ou agridem os princípios da moral. Repugnam a toda pessoa que tenha um mínimo de sensibilidade. São, às vezes, obscenas, insolentes ou arrogantes; quase sempre malévolas, denotando a presença de uma entidade de natureza inferior, Espíritos viciosos ou vingativos. São comunicações de fácil identificação;
b) Frívolas: estas comunicações não são de Espíritos necessariamente maus, mas de Espíritos vadios, levianos, inconseqüentes.
São comunicações que versam sobre assuntos insignificantes, vazios, inúteis, vinculados às puerilidades do dia a dia.
Algumas vezes, são entidades espirituosas, engraçadas, e que por terem uma conversação divertida, agradam às pessoas, tomando o tempo da reunião. O certo é que nada acrescentam de útil, pois partem de entidades que nada têm a nos ensinar e nada querem aprender;
c) Instrutivas: as comunicações instrutivas são aquelas que têm por finalidade veicular ensinamentos. São comunicações de almas elevadas, dotadas de altos valores morais e intelectuais e versam sobre temas científicos, filosóficos ou morais. Lembra Allan Kardec que, para uma mensagem ser considerada INSTRUTIVA, é imperioso que ela seja verdadeira, vincule pensamentos corretos e, de alguma forma, objetive o crescimento das pessoas ou da sociedade.
d) Sérias: são as comunicações que tratam de assuntos graves e de maneira ponderada. Excluindo-se as comunicações grosseiras, as frívolas e as instrutivas, todas as outras poderiam ser incluídas nesta categoria.
É importante frisar que nem toda comunicação séria é necessariamente verdadeira, pois, muitas vezes, Espíritos mistificadores se utilizam de um estilo grave, sério e ponderado para veicularem mentiras e discórdias, gerando embaraço para as pessoas e as reuniões.
Lembra Kardec a necessidade de examinar-se com atenção a linguagem do Espírito comunicante, ou seja, as características de sua mensagem, o conteúdo de suas idéias.
Objetivando facilitar esta tarefa, o Codificador vai apresentar no [LM-cap XXIV] algumas "regras" que, se bem examinadas, poderão contribuir na distinção que devemos sempre fazer entre uma comunicação de Espírito bom e de Espírito inferior.
Da Identidade dos Espíritos
a) A linguagem dos Espíritos superiores é sempre digna, elevada, nobre e sem qualquer mistura de trivialidade;
b) Os Espíritos bons só ensinam o bem. Todo conselho que não for estritamente conforme a mais pura caridade evangélica não pode provir de Espíritos bons;
c) Os Espíritos bons jamais se ofendem, somente os maus se melindram;
d) Os Espíritos bons só dão conselhos racionais. Toda recomendação que se afaste da linha reta do bom senso ou das Leis imutáveis da Natureza acusa a presença de um Espírito estreito. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom senso revela a fraude;
e) Os Espíritos levianos são reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação;
f) Os Espíritos superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade, eles possuem a arte de dizer muito em poucas palavras;
g) Os Espíritos bons jamais dão ordens: não querem impor-se, apenas aconselham e se não forem ouvidos se retiram. Os maus são autoritários, dão ordens, querem ser obedecidos e não se afastam facilmente;
h) Os Espíritos bons não fazem lisonjas. Os maus exageram nos elogios, excitam o orgulho e a vaidade e procuram exaltar a importância pessoal daqueles que desejam conquistar;
i) Desconfiai das comunicações que revelam um caráter místico e estranho ou que prescrevem cerimônias e práticas bizarras. Há sempre nesses casos legítimo motivo de suspeita;
j) Os Espíritos nobres dizem tudo com simplicidade e modéstia; nunca se vangloriam, não fazem jamais exibição do seu saber nem de sua posição entre os demais.
Perguntas aos Espíritos
A comunicação entre o Espírito encarnado e o Espírito desencarnado vem ocorrendo desde as mais remotas épocas. Na história de todos os povos encontramos provas irrefutáveis deste fato.
Estando o Ser Humano, encarnado na Terra, na faixa evolutiva própria de nosso planeta, não é de se estranhar que logo visse na possibilidade de comunicação com os "mortos" uma maneira de tirar algum proveito. A evocação era praticada por alguns povos da Antiguidade, sem o verdadeiro respeito, afeição ou piedade; era, antes, um recurso para brincadeiras e adivinhações, exploradas pelo charlatanismo e pela superstição. Por este motivo, o legislador hebreu, Moisés, 1500 a.C., para educar o seu povo, utilizou-se de uma Lei Disciplinar e proibiu a comunicação com os mortos.
Muitas religiões do passado, tinham no culto e comunicação com os mortos, a base de sua Doutrina. Entretanto, somente os ditos iniciados poderiam praticar o intercâmbio com os mortos, o povo em geral era proibido de conhecer ou exercitar esta prática. Na Idade Média, como em outras épocas, os feiticeiros e bruxos eram queimados em praça pública, como um exemplo para amedrontar o povo.
Allan Kardec [LM-cap XXVI] estuda detalhadamente a comunicação entre os "vivos e os mortos", e esta análise recebeu o nome de: "Perguntas que se podem fazer aos Espíritos". É importante, para todos nós, analisarmos alguns aspectos, do sábio estudo do mestre lionês.
Quando nos dirigimos a algum Espírito para perguntar-lhe algo, dois fatos importantes devem estar em nossa mente para que a comunicação seja eficiente. O primeiro deve ser a forma pela qual interrogamos. Esta forma deve obedecer uma clareza e uma precisão; quando vamos responder a uma pergunta, respondemos melhor se tivermos entendido claramente a pergunta. Outro aspecto também importante na forma, é obedecer a uma ORDEM lógica, quando estudamos os livros da codificação, nos encantamos com a ordem das perguntas colocadas por Allan Kardec, facilitando-nos a compreensão dos fatos.
Além da forma, o fundamento da questão é o outro fato importante. A natureza da pergunta pode provocar uma resposta exata ou falsa. Devemos nos lembrar que existem perguntas que os Espíritos não podem responder, por três motivos principais:
1 - não sabem a resposta;
2 - não querem responder; e
3 - não têm permissão para responder.
Quando insistimos nestas perguntas, os Espíritos sérios se afastam e os Espíritos inferiores podem, às vezes, responder.
Vamos analisar alguns pontos importantes, colocados por Allan Kardec:
a) Os Espíritos sérios respondem de bom grado às perguntas que têm por objetivo o nosso progresso e o bem da Humanidade, os Espíritos infelizes respondem a tudo.
b) Uma pergunta séria não nos dará a certeza de uma resposta também séria.
c) Não é a pergunta que afasta o Espírito leviano, mas o caráter moral daquele que pergunta.
Vejamos agora alguns tipos de perguntas:
Perguntas Sobre o Futuro: grande é a curiosidade do Homem em saber o seu futuro. Mesmo não vivendo de maneira adequada o seu presente e tendo motivos para arrepender-se muito de seu passado, o Homem quer conhecer o seu futuro. Este tipo de comportamento tem facilitado, desde as épocas mais remotas e até os dias atuais, o charlatanismo. Muitas pessoas aceitam de bom grado a "adivinhação do futuro", com o uso de artifícios variados, como jogo de cartas, de conchas, bolas de cristal, etc. O Codificador do Espiritismo deixa claro vários aspectos relacionados à previsão do futuro:
a) em princípio, o futuro é sempre oculto ao Homem; excepcionalmente permite Deus seja ele revelado.
b) o conhecimento do futuro pode ser extremamente prejudicial ao Homem.
c) o futuro depende forçosamente de nosso presente, e nosso presente não é fruto do acaso, mas sim da utilização de nosso livre arbítrio.
São características das predições falsas: feitas a toda hora e em qualquer local, feitas sempre que solicitadas, marcam o momento exato dos acontecimentos previstos, respondem a solicitações pueris.
Perguntas sobre Existências Passadas: a curiosidade do Espírito encarnado em saber o que foi em existências anteriores, não é menor. Espera que tenha sido um sábio, um grande cientista, um rei. A lógica nos mostra que a natureza não dá saltos e, sendo assim, estudando o nosso comportamento atual, nossas tendências e sentimentos, com certa facilidade poderemos imaginar o que fomos no passado. As perguntas sobre nossas vidas passadas dificilmente serão respondidas pela Espiritualidade Maior; quando isso ocorre, quase sempre se faz de modo espontâneo e com finalidade superior.
Perguntas sobre a Sorte dos Espíritos: todo aquele que se distancia, momentaneamente de um ente querido que desencarnou, fica ansioso para receber deste um conselho, um consolo, uma notícia. É comum pessoas procurarem os Centros Espíritas em busca de informações (o nosso Chico Xavier, se defronta com milhares de pessoas a procurá-lo em busca de boas notícias). Sobre isso, vejamos alguns aspectos importantes: muitas vezes o Espírito que desencarnou necessita de algum tempo para reequilibrar-se antes de comunicar; às vezes, a separação temporária é necessária e importante para ambos. A insistência em conseguir notícias poderá gerar sofrimento para o Espírito desencarnado, como também gerar a oportunidade de falsas notícias, trazidas por Espíritos levianos. A orientação é ter paciência, orar muito, pois, se for possível e útil, a notícia virá espontaneamente e em ocasião oportuna. O tempo e o espaço são grandezas insignificantes quando comparadas ao poder do amor.
Perguntas Sobre a Saúde: Qual o remédio a tomar? Qual exame a fazer? Operar ou não operar? São perguntas freqüentes à espiritualidade. Algumas pessoas se esquecem que a doença do corpo é, muitas vezes, o remédio para a cura do Espírito e querem, de qualquer forma, a cura do corpo sem saber que podem estar desprezando a cura do Espírito. Devemos lembrar sempre que a medicina da Terra não compete e não é inimiga da medicina espiritual, elas se somam e se completam. Se a medicina da Terra cresceu em conhecimento e recursos, é porque isso é necessário a todos nós. Da mesma forma, como aqui na Terra, algumas pessoas têm a capacidade de prescrever, orientar e esclarecer sobre este aspecto, também no Mundo Espiritual existem Espíritos capazes de desenvolverem tal tarefa. No entanto, se interrogarmos sem critério, seremos vítimas de Espíritos levianos. As orientações virão obedecendo nosso merecimento, nossa real necessidade e pela misericórdia do Pai.
Existem ainda neste capítulo do LM outros esclarecimentos, outros tipos de perguntas que merecem ser lidas e estudadas.
Evocações
Muitos médiuns interrogam quanto a prática das evocações nas reuniões mediúnicas.
Diz-se evocar um Espírito quando, em uma reunião, nós o chamamos para manifestar-se, não esperando que isso ocorra espontaneamente. Na época da codificação, este fato se fazia necessário, pois Allan Kardec elaborou detalhadamente todo o estudo que se fazia necessário para o conhecimento da Terceira Revelação, tudo isso com a permissão prévia da Espiritualidade Superior, e assim, naquela ocasião, as evocações eram fato comum.
Nas reuniões mediúnicas de auxílio a desencarnados, mais comuns nos dias atuais, evitamos as evocações, deixando a cargo da Espiritualidade Superior, que dirige os trabalhos, o planejamento da mesma, pois torna-se difícil, ou, às vezes impossível, sabermos qual o Espírito que pode ou não se manifestar. Vários fatores podem impedir a manifestação de um Espírito, tais como:
- falta de afinidade e/ou sintonia vibratória entre o Espírito desencarnado e o médium;
- falta de permissão da espiritualidade superior para tal (época inoportuna, falta de motivo útil, falta de preparo do Espírito comunicante, etc.);
- favorecimento das mistificações, etc.
Esclarecimentos sobre o assunto, dados pelo Espírito Emmanuel, orientam:
"- O Homem pode desejar isso ou aquilo, mas há uma Providência que dispõe o assunto ... qualquer comunicado com o Invisível deve ser espontâneo ... quando e como julgar melhor os Mentores Espirituais... não somos dos que aconselham a evocação direta e pessoal, em caso algum... podereis objetar que Allan Kardec se interessou pela evocação direta, procedendo a realizações dessa natureza, mas precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador..."
Como regra geral, as evocações devem ser evitadas nas reuniões mediúnicas.
A Caridade no Intercâmbio com os Espíritos Desencarnados
Na época da Codificação do Espiritismo, a mediunidade desempenhou basicamente a finalidade de esclarecimento aos Homens sobre a verdade dos ensinamentos de Jesus. Aos poucos, toda a Doutrina Espírita foi revelada. Após este período, além de exercer a função de esclarecimento, através de psicografia de livros doutrinários, a mediunidade veio ter também a missão da prática da caridade. Nas reuniões mediúnicas, os Espíritos desencarnados em sofrimento, doentes, revoltados, se comunicam buscando consolo, esclarecimento e carinho. Se no início do Espiritismo prevalecia o verbo receber, hoje prevalece ou deveria prevalecer o verbo doar, sendo que receber vem como conseqüência.
A prática da caridade necessita disciplina, como afirma Emmanuel. Assim, analisemos alguns aspectos necessários de serem obedecidos nas reuniões mediúnicas:
1 - Afastar a curiosidade no intercâmbio com os Espíritos desencarnados. Estamos reunidos para auxiliar, curiosidade não trará qualquer benefício;
2 - Manter respeito em todos os intercâmbios. Todos nós estamos situados no local característico de nossa evolução; o que nos parece absurdo hoje, era aceitável ontem e o que nos parece certo hoje, poderá ser motivo de arrependimento no futuro. Os Espíritos, muitas vezes, nos vêem como juízes; devemos fazê-los ver que somos, na verdade, irmãos e que também carregamos muitos erros e defeitos;
3 - Ter paciência, pois necessitamos de tempo para mudar situações alicerçadas por passado longínquo;
4 - Estudar sempre. O conhecimento doutrinário nos permite usar a palavra certa no momento adequado. Dedicação constante no estudo aumentará muito a nossa possibilidade de auxílio;
5 - Valorizar o trabalho em grupo. Seremos mais fortes, mais eficientes, quando somarmos nossas forças. A reunião mediúnica é um grupo de trabalhadores em constante sintonia; 6 - Lembrar que mais importante no intercâmbio com as pessoas, sejam elas encarnadas ou desencarnadas, é o trabalho com AMOR. A palavra consola, o conhecimento esclarece, mas é o amor que realmente conquista o Espírito necessitado, estimulando-o à reforma. Algumas vezes, diante do Espírito em grande sofrimento, as palavras e argumentos não serão suficientes. Nestes casos, só a vibração do amor verdadeiro poderá operar verdadeiros prodígios de consolo e de transformação espiritual, fazendo brilhar a luz do amor de Jesus no mais escuro dos corações.